Asas ensombraram os sonhos febris de Vrocke Vilgerdarson.
Ouviu um crac, o som de pedra que se quebra, tão sonoro e cortante como se o mundo se rasgasse ao meio.
Caminhava por um longo corredor sob grandes arcos de pedra, e seus pés nus deixavam pegadas sangrentas na pedra.
— Rhaegar foi o último dragão — o vento soprou como se contasse um segredo.
A frente havia uma porta, minúscula na distância, mas mesmo de longe viu que estava sarapintada de vermelho.
Em volta de si, estandartes com símbolos de um dragão com três cabeças arrebentavam com a brisa ao mesmo tempo que ardiam em chamas.
— O último dragão. — ouvira um sussurro.
Vrocke sentiu a escuridão atrás de si, e a porta vermelha parecia mais longínqua que nunca. Acelerou seus passos. Não podia olhar para trás ou estaria perdido. O homem sentia uma respiração gelada atrás de si, aproximando-se pesadamente. Se o apanhasse, teria uma morte que seria mais que morte, uivando para sempre sozinho na escuridão.
Fantasmas alinhavam-se ao longo do corredor, vestidos com as vestes desbotadas de reis. Nas mãos traziam espadas de fogo pálido. Tinham cabelos de prata, cabelos dourados e cabelos brancos de platina, e seus olhos eram de opala e ametista, de turmalina, ouro e jade. "Mais depressa", gritaram, "mais depressa, mais depressa".
Suas pernas o obrigaram a correr, com os pés derretendo a pedra onde a tocavam.
"Mais depressa!", gritavam os fantasmas como se fossem um só, e Vrocke gritou e atirou-se em frente. Uma grande faca de dor rasgou-lhe as costas, e sentiu a pele abrir-se. Cheirou o fedor férreo de sangue ardendo e viu a sombra de asas.
E Vrocke Vilgerdarson levantou voo.
— ...último dragão.
A porta erguia-se na sua frente, a porta vermelha, tão próxima, tão próxima, o corredor era um borrão à sua volta, o frio ficava para trás. E agora já não havia pedra, e ele voava pelo mar de Kattegat, cada vez mais alto, com o azul escuro ondulando por baixo, e tudo o que vivia e respirava fugia aterrorizado da sombra de suas asas.
Conseguia sentir o cheiro de casa, conseguia vê-la, logo ali, por trás daquela porta, campos verdejantes e grandes casas de pedra e braços que o mantivessem quente, logo ali.
Escancarou a porta.
E viu um homem de cabelos prateados, montado num garanhão tão negro como a sua armadura. Fogo cintilava, vermelho, através da fenda estreita da viseira de seu elmo. "O último dragão", sussurrou, tênue, a voz de Vrocke.
"O último, o último". Ele ergueu o polido visor negro do homem, com as mãos abraçando o calor que dali emanava.
O rosto que estava lá dentro era o dele.
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