Lucy
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– Eu sei – disse, me deu um selinho e desejou boa noite. Assim que ele sumiu pela porta já vestido, meu coração finalmente voltou a bater normalmente. Coisa que não durou muito, porque um barulho vindo do corredor encheu o quarto. Natsu tropeçara em algo. Espero ter sido a única a ouvir.
Sabe aquelas manhãs em que você acorda com medo de sair da cama? Essa era uma daquelas manhãs. Se era porque eu tinha algo a esconder, ou porque eu tinha medo que já soubessem, era algo a quem da minha capacidade de decisão. Por isso quando desci as escadas para tomar café, não pude evitar que minhas mãos tremessem.
– Bom dia, loirinha – a voz de Natsu surgiu em meu ouvido e eu pulei de susto.
– Você me assustou – reclamei, em face disso ele apenas riu.
Todos já estavam sentados à mesa em uma conversa animada que cessou com a nossa entrada no recinto. Minha mente culpada já pensou que aquilo fosse porque eles haviam ouvido, mas eles apenas pararam para desejar bom dia. Eu tenho que me acalmar, eu tenho que me acalmar, eu tenho que me acalmaaar!
– Bom dia – desejei a todos e puxei uma cadeira para mim.
– Antes de vocês chegarem eu estava contando uma história do Natsu pequeno – Igneel comentou casualmente, mas podia-se ver um sorriso de vou-te-fazer-passar-vergonha-filho surgindo em seu rosto. Eu já comentei que estou amando essa família?
– Recontando, Igneel. Eu creio que você já contou umas sete vezes só na minha presença – Ingrid provocou, aparentemente o que se dizia sobre irmãos era verdade. Não importava a idade, eles sempre iriam provocar um ao outro como crianças.
– Mas Lucy ainda não ouviu. E você tem que admitir, é uma história engraçada – Igneel afirmou. Natsu que estava quieto até aquele momento decidiu se pronunciar:
– Ah, não. Você não vai contar aquela história, vai?
– Que história? Eu quero saber – pedi tanto pela curiosidade como para não perder o costume de irritá-lo.
– Para entender a história, você tem que saber que eu possuo um box de Supernatural e que eu estritamente proibi que Natsu mexesse nele. Afinal, não é apropriado para crianças de cinco anos. Eu tinha acabado de sair de casa após o almoço para voltar à empresa e deixei Natsu sozinho. A babá disse que chegaria em dois minutos, então não vi problemas. Só que essa peste tinha uma má fama com praticamente todas as babás da cidade, foi muito difícil encontrar uma que aceitasse o trabalho depois que os boatos de que meu filho amarrou a babá na cadeira por duas horas começaram a se espalhar.
– Em minha defesa, eu assistia a muitos filmes de ação naquela época e me achava o próprio Super Homem – Natsu resmungou enquanto eu já ria da história – eu só queria praticar minhas habilidades.
– Continuando... A babá nunca veio, mas eu não sabia disso. Então meu filho ficou sozinho durante cinco horas e honestamente eu não sei como a casa não pegou fogo. Quando eu cheguei, toda a casa estava contornada de sal, inclusive as janelas e parte da sala. Você pode pensar que foi uma infestação de formigas, mas na verdade o que aconteceu foi que Natsu assistiu vários episódios de Supernatural e ficou com medo. Espalhou sal pela casa inteira para espantar os demônios e fantasmas e se escondeu embaixo das cobertas na sala, onde o encontrei. Nunca ri tanto na minha vida – Igneel concluiu enquanto eu gargalhava até a barriga doer.
– Eu tenho quase certeza que você tem um bloquinho chamado “As vezes em que eu fiz o Natsu passar vergonha vol.3” para escrever esse tipo de coisa, pai – Natsu falou não parecendo achar graça nenhuma, aquilo só fez com que eu risse mais.
– Papai, conta daquela vez que o onii-chan foi ao shopping e... – Wendy começou a dizer mas Natsu tampou sua boca com as mãos.
– Chega, já deu – Natsu exclamou e em seguida me arrastou da mesa enquanto eu ainda segurava um pão – vamos Luce, se você continuar sentada aí as histórias não vão parar nunca.
– Mas eu quero saber – retruquei – e ainda estou comendo.
– Não dou a mínima – afirmou de forma baixa.
Depois do almoço, todos foram para a piscina e por sorte eu havia trazido um biquíni comigo. Estava um pouco constrangida de usá-lo porque não era exatamente o que se classificaria como decente. A verdade é que eu não achei que fosse vesti-lo. Mas era isso ou zero piscina, e a temperatura beirando os 30° do lado de fora fazia com que eu ansiasse por um mergulho naquela água.
– Lucy, meu bem, você aceita uma água de coco? – Grandine ofereceu e eu aceitei de bom grado. Sentei-me na borda da piscina aproveitando minha bebida e observando Igneel, Wendy, Natsu e Meredy se divertindo na água. Acabei me distraindo. Tudo ia maravilhosamente bem, ate que eu sinto coco, Lucy, biquíni, tudo indo para água. Aquele infeliz cor de rosa tinha me puxado para dentro da piscina.
– Eu vou te matar – gritei assim que emergi. Nossos rostos estavam a centímetros um do outro.
– Você deveria arrumar isso aí primeiro – falou apontando para baixo e eu percebi que a parte de cima do meu biquíni tinha ficado mais reveladora do que o necessário. Eu imediatamente ajeitei tudo no lugar e o encarei com um olhar que denotava ódio.
– Você é o pior de todos, Dragneel.
– Mas você gosta – repetiu sua frase clássica. Ele era tão cafajeste.
Acabei relevando meu ódio momentâneo e passei a brincar junto com os demais Dragneel. Já com os dedos da mão enrugados cheguei à conclusão que era dada a hora de abandonar a água, além do mais minha barriga dava sinais de vida. Fui tomar um banho e colocar roupas secas e quando retorno à pequena varanda nos fundos da casa, onde a piscina ficava, pude notar os dois primos conversando no banco. Fiquei com medo de estar interrompendo algo e esperei ouvir algo que denotasse isso para que eu me retirasse.
– Quem diria, priminho? Você, o grande Natsu Dragneel, que pega, mas não se apega, completamente apaixonado – Meredy afirmou, rindo do rosado.
– Eu já te disse, somos amigos – ele defendeu sua honra.
– Só amigos? O resto das pessoas dessa casa podem não ter ouvido, mas eu estava dormindo ao lado. Além do mais, te vi saindo do quarto de Lucy – Meredy começou – sei o que vocês estavam fazendo ontem. Vai ter a cara de pau de me dizer que são só amigos?
Diante dessa revelação eu corei até o último fio de cabelo. Meredy tinha nos ouvido ontem. Aquilo podia ser considerado, no mínimo, desastroso. Além de vergonhoso em muitos níveis. Mas o que veio a seguir realmente teve uma importância catastrófica.
– Tá, nós fazemos sexo e somos amigos. Eu não gosto da Lucy desse jeito. Nós não nos gostamos desse jeito. Por isso é perfeito, a gente transa como alguém joga tênis, sem complicações. Por exemplo, você pode ter um parceiro de tênis, um parceiro que maravilhoso de tênis, mas isso não significa que vocês tenham que passar o fim de semana no mesmo lugar e sair para jantar. Vocês apenas jogam juntos – Natsu respondeu à prima de forma simples. Mas talvez ele não o tivesse feito se pudesse ouvir um pedaço de mim desabando enquanto eu compreendia aquelas palavras.
– Como quem joga tênis? Natsu, eu nem sei o que isso significa! – Meredy se alterou – você realmente diz qualquer coisa para não admitir que gosta dela! Que está apaixonado!
Aquilo fora mais do que o suficiente para mim. Eu me retirei do lugar que estava e pretendia me dirigir ao quarto, mas isso não foi possível porque Wendy apareceu antes que eu pudesse subir as escadas.
– Lucy, mamãe está te chamando para tomar café.
Engoli em seco, mandando as lágrimas ficarem exatamente onde estavam. Me virei para a garota e exibi um sorriso, seguindo-a em direção à mesa. O único problema é que eu não conseguia fazer a merda de um pedaço de pão descer por minha garganta, quando tentei realizar tal ato. Apenas olhar para Natsu era dolorido demais.
– Acho que perdi o apetite – falei deixando o guardanapo sobre a mesa – me desculpe, Grandine.
– Lucy, está tudo bem? – perguntou a senhora de cabelos azuis.
– Está tudo bem, acho que passei muito tempo no sol – disse como desculpa. Eu precisava fazer o que tinha que ser feito. E isso era ir embora imediatamente daquela cidade. No meio do caminho até o quarto, ouço uma voz me chamar. A voz dele.
– Está tudo bem com você, mesmo? – perguntou Dragneel.
– Por que não estaria? Volte para a sua família – soltei com o tom mais neutro que pude obter naquele momento.
Assim que fiquei sozinha, coloquei qualquer roupa mais adequada para sair e enfiei o restante das coisas na mala pequena. Depois de chamar um táxi, fiz o caminho de volta até a cozinha a fim de dar a notícia de que eu iria embora. Foi nesse momento que percebi que não tinha me lembrado da mamãe até então. Isso só fez com que um sentimento de culpa engrossasse a onda de coisas que eu já sentia.
– Eu só passei para avisar que estou indo embora. Meu pai me ligou e poderemos nos ver hoje à noite. A viagem dele terminou mais cedo, espero que entendam – falei.
– Lucy – Natsu exclamou surpreso – não acredito que você vai embora assim, do nada.
– Pois é, meu pai ligou de última hora.
– Tem certeza de que não quer ficar mais, meu bem? – Igneel perguntou.
– Faz muito tempo que não o vejo, então terei que ir mesmo. Muito obrigada por tudo, vocês são incríveis – concluí, sendo apenas a última parte verdadeira.
– Imagina, foi um prazer nosso te receber – Grandine respondeu – mas deixe que o Natsu te leve até a estação.
– Não precisa mesmo, eu já chamei um táxi.
– Eu posso te levar, Luce – o dito cujo se pronunciou. Ouvi-lo me chamando por aquele apelido foi como uma facada.
– Está tudo bem, o táxi já deve estar aqui.
Despedi-me de todos e saí antes que Natsu fizesse menção de se levantar para me abraçar ou qualquer coisa do tipo, porque aquilo eu não poderia suportar. Peguei o primeiro trem que saia de Acalypha para Crocus. Quando cheguei o crepúsculo já havia tomado o céu.
Peguei outro táxi e fiz apenas uma parada antes de adentrar o cemitério municipal de Crocus. Caminhei por entre as lápides à procura do túmulo de minha mãe. Finalmente o achei e quando o fiz, comecei a chorar desesperadamente. Coisa que manejei não fazer por mais que quisesse a muito. Sentia falta dela mais do que normalmente hoje, me sentia despedaçada por dentro. Sentia um peso enorme me esmagando o peito. E ao mesmo tempo sentia um enorme pedaço dele faltando. A parte que faltava tinha ficado em Acalypha, na casa dos Dragneel e não iria voltar a preencher aquele espaço, por simplesmente não querer.
Não sei quanto tempo se passou até que eu pudesse conter meu choro convulsivo, só sei que já estava escuro e os postes já tinham sido acesos. Depositei os lírios brancos, os favoritos de minha mãe, sob a lápide e finalmente conversei com ela em meus pensamentos. Mamãe, hoje foi um dia muito difícil para mim. Papai não está comigo dessa vez, e me desculpe, mas nunca achei que pudesse vir aqui sozinha. Por isso não era para eu estar aqui esse ano. Entretanto, algo aconteceu. Eu sempre soube que se eu quisesse um grande amor teria que apostar alto, teria que apostar meu coração, talvez até tivesse que apostar meu bem estar se tudo desse errado. E deu.
Se lembra do Natsu, aquele garoto irritante que conheci na Fairy Tail? Me apaixonei por ele, achei que pudéssemos ter um futuro e me decepcionei. Ele nunca achou que passássemos de amigos. E agora me vem à mente que isso sempre fora o combinado. Eu que, tolamente, achei que isso pudesse mudar. Dói tanto mãe. Só peço forças para poder superar tudo isso, para aprender a vê-lo como meu amigo. Obrigada por me ouvir. Queria que você estivesse aqui, para me consolar como só você sabe. Te amo.
Depois disso, ao invés de ir para minha casa em Crocus ver Virgo, decidi voltar para Magnólia. Apenas avisei a ela meu paradeiro para que não ficasse preocupada, já que tinha falado para ela que estava em Acalypha ontem. E Kami sabe como as coisas mudaram drasticamente em menos de 24 horas. Queria ficar um pouco sozinha, quem sabe assistir aos meus filmes de comédia romântica com pipoca para acompanhar. Talvez até rever How I met your mother. Tudo para não pensar nele. Minha atenção voltou à realidade quando olhei no visor do celular e havia várias mensagens de Natsu. Será que eu respondo?
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Natsu
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Lucy saiu como um furacão daqui de casa. E eu nem sabia o motivo para tanta pressa. E o pior, ela estava muito esquisita. Mesmo não querendo, revirei minha cabeça atrás de algo que eu pudesse ter feito à ela. Nada, não havia nada. Depois que ela deixou-me, pude perceber o porquê de eu tê-la trazido, em primeiro lugar. Quando esse “feriado” de três dias chegou, eu achava que na verdade eu estava a chamando para vir porque ela iria ficar sozinha e eu só queria ajudar. Mas agora vejo que era eu quem não queria ficar sozinho, ficar sem ela. Meredy estava certa, eu dizia qualquer coisa para não admitir que estivesse apaixonado. E o que eu disse para ela foi uma mentira deslavada.
Eu estou declarando derrota. Não pude passar três dias sem Lucy Heartfilia ao meu lado.
Decidi mandar mensagens quando fazia uma hora que ela havia partido.
Natsu: Lucy, já chegou em Crocus?
Natsu: Luce, você estava muito esquisita. E não me venha dizer que não. O que aconteceu?
Natsu: Lucy, me responda, por favor.
Natsu: Se você não responder, eu vou atrás de você.
Ela ignorou todas. Agora eu só preciso saber onde ela está. Luce, o que aconteceu com você?
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Continua...
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