Eu estava sem reação. Nem ao menos conseguia decidir se a abraçava ou a afastava. Apenas fiquei ali, parado, sentindo os braços longos e elegantes em torno do meu corpo e a empolgação que ela irradiava.
Minha mente se concentrava em uma única questão: O que diabos a Nana fazia na minha casa? Ela não devia estão bem longe nos EUA?
Não fazia sentido pra mim.
-Nana... O-O que está fazendo aqui? – é tudo que consigo dizer quando ela se afasta me olhando com um sorriso enorme e cheio de saudade.
Me sinto culpado por estar mais preocupado com a presença dela na minha vida que com saudadas.
-Qual é SeungCheol? – toca meu rosto – Não está nem um pouco feliz em me ver?
Apesar de tudo tento entrar na mesma empolgação da garota. O que é um tanto difícil.
-Claro que estou. – dessa vez eu a abraço e ganho um selar demorado – Eu só fiquei um pouco surpresa em te encontrar na minha casa. Pensei que fosse um ladrão.
-Ladrão? – os dedos dela passam por minha nuca me dando um beijo que tento corresponder da melhor forma que posso no momento, tem um sorrisinho disfarçado quando se afasta e morde o lábio caminhando pela sala olhando tudo – Sinceramente... Pensei que a casa de um homem solteiro fosse pior. Sabe? Mais bagunçada e suja.
Acabei sorrindo de verdade dessa vez se lembrando a quem devia esse milagre.
-Digamos que não tenho todo credito. Recebi uma ajudinha.
-Ownt. – passa por mim mais uma vez tocando meu rosto indo a cozinha abrir a geladeira de novo – Que bom que encontrou alguém que faça a limpeza. – sorri e se senta no sofá agora já se sentindo completamente em casa – Vamos precisar quando nos casarmos.
Engasgo com a própria saliva.
-Ca-Casar?!
-Sim. – o rosto se ilumina – Por que mais acha que sua noiva estaria aqui?
Merda!
-Ah... - coço a nuca nervosamente – Claro... Casar... Por que mais estaria aqui...
Isso era muito estranho pra mim, apesar que saiba que aconteceria mais cedo ou mais tarde eu preferia o nunca.
Conheci Nana quando ela tinha sete anos. Eu estava com seis, mas isso não impediu nossos pais de arranjar aquele casamento. Apesar de não gostar de falar sobre isso, minha família era o que podia se chamar de rica. Meu pai era dono de uma empresa com uma rede de hotéis, nada muito grande, mas ainda assim deixava a família viver com certo luxo que minha mãe tanto amava. E me fazer casar com a filha de um joalheiro abastado era o plano perfeito a longo prazo.
Para eles.
Naquele tempo não pensaram que o querido filho e futuro presidente da empresa fosse se tornar um mero policial. Desde que escolhera aquela profissão meu pai se recusar a falar comigo, e até mesmo minha mãe seguia isso, raramente me ligando, nunca visitando. A parte boa é que me deixavam em paz para ser o que gostava. Mas parecia que os velhos ainda tinham a esperança que a “ovelha negra” da família voltasse para casa.
O casamento arranjado era a prova dessa ponta de esperança. Esperava que aquilo podia me colocar de “volta ao meu juízo” como meu pai dizia. Coitado. Eu já era uma causa perdida ele só não sabia disso.
-Por que tem uma mancha no seu tapete? - a voz de Nana me traz de volta ao presente – Isso é vinho? – aperta os olhos encarando a mancha – Por que estava tomando vinho?
Cenas da noite anterior passam por minha mente. Jeonghan, os sorriso dele, os pedidos, ou melhor, ele a espera de meus pedidos e minhas reações. Sinto as bochechas arderem. Como contaria a minha noiva o que aconteceu? Como contar a ela que eu havia transado com um belo aluno de artes que me desenhara nu? E o pior. O como explicaria que aquela havia sido uma das melhores noites de minha vida, se não a melhor?
-Eu...
-Andou arrumando namorada SeungCheol? – ela ri com minha cara de surpresa – Qual é SeungCheol? Somos dois adultos, temos nossas necessidades. Não tinha nenhuma fantasia de que você me esperaria por cinco anos. Não se preocupa que eu também tive minhas aventuras amorosas. Só espero que de agora para frente nós nos demos bem. – vem até onde estou apertando minha bochecha e percebo que ela já andara o apartamento todo enquanto eu ainda estava parado no mesmo lugar – Precisa se comportar agora, mocinho. A partir desse momento é um homem comprometido.
Abro a boca pra responder, mas é quando meu celular toca. Tiro do bolso olhando para a mensagem de Jeonghan.
“Onde está você? Já está se arrumando?”
-Quem é? – Nana tenta ler e me desvio dela rapidamente.
-Coisa de trabalho. Desculpa é confidencial. – guardo o celular no bolso antes que ela possa insistir – Preciso de um banho. Fique à vontade, como já está.
Corro para o quarto pegando uma troca qualquer de roupa e me enfio no banheiro. Uma vez na segurança do pequeno cômodo volto a pegar o celular.
“Desculpa, JeongHannie. Não vou poder ir. Tive uma emergência na delegacia.”
Envio, a resposta vem rápido.
“~carinha triste~ Está tudo bem? Algo com os anjos?”
Sinto um aperto no peito. Odiava mentir para ele. Odiava não ser capaz de ir naquele encontro que apostava que seria ótimo.
A Nana tinha que aparecer logo agora? Solto um suspiro pesado de frustração.
“Está tudo bem. Não, não é nada do anjo. Não sei se fico feliz o triste por não ser.
Desculpe mesmo JeongHan.
Podemos marcar outro dia?”
Dessa vez a mensagem demora um pouco para ser respondida.
“Claro, nos vemos qualquer dia desses.
Devia trabalhar menos.
Quem sabe não consiga uma folga e podemos viajar. Só nós dois. Ren tem uma casa de campo linda. O que acha?”
Adoraria fazer aquilo. Em um campo com JeongHan, sem os problemas da cidade grande, sem as preocupações e as mortes diárias pela violência, mas não podia. Não enquanto não se livrasse de Nana. Até lá se afastaria do loiro, mesmo que não quisesse.
“Podemos combinar isso com certeza.”
Mesmo que talvez não tivesse essa oportunidade queria me iludir um pouco.
A resposta vem mais rápido dessa vez.
“Com certeza. ~emoji de coração~ Vamos marcar outro dia para conversar. Boa sorte nas investigações e não trabalhe tanto. Precisa errar de vez enquanto, detetive.”
Sorri com aquilo. Jeonghan sempre me dizia para deixar o trabalho de lado e começava a achar que ele tinha razão. Desde que se formou na academia militar não havia parado nem um minuto se quer. Como policial de rua e depois como detetive, sempre ocupado com tantos casos e problemas dos outros. Era reconfortante dar um resultado de um mistério a uma família que procurava por justiça. Mas ao mesmo tempo era cansativo e sentia estar cada vez mais perto de seu limite como ser humano.
“Vou fazer isso. Um dia vou ter férias por um longo tempo.”
A conversa terminou pouco depois com Jeonghan mandando um beijo e dizendo que queria sonhar comigo. Aquela conversa por mensagem de texto me deixa com um sorrisinho bobo no rosto e mesmo depois que termino meu banho, me visto e saio do banheiro ainda o tenho. Pelo menos até chegar à sala e encontrar Nana sentada na banqueta do balcão batendo o salto no chão. Seus olhos se levantam me estudando.
-Por que está vestido de mendigo. Não vou sair com você assim.
-Sair? Achei que iríamos ficar por aqui. Não está cansada da viagem? Podemos pedir algo gostoso e conversar sobre... Tudo.
-Claro que estou, mas isso não me impede de ser levada para jantar. E podemos conversar lá. – se levanta me empurrando de volta para o quarto – Agora se vista como gente e estou te esperando aqui. Vamos jantar fora.
O jantar se passa de maneira até agradável eu diria. Apesar de ser um casamento arranjado desde que nos conhecemos decidimos nos dar bem. Mesmo naquele tempo que os dois ficaram revoltados. Não importava pra gente.
Nana por um longo tempo teve uma paixão por um garoto de sua turma e eu como bom samaritano ajudava eles a se encontrar escondido dos pais dela, e dos meus. Nunca pensei que aquela garota fosse voltar decidida a ceder aos pedidos do pai. Parece que a vida adulta mudava muito as pessoas, apesar de não ter me mudado.
Ela conta sobre o intercâmbio. Sobre como era viver em um país diferente e as dificuldades que tivera. Chega a contar até mesmo sobre um envolvimento com um estrangeiro por lá, mas quando pede detalhes sobre o que eu fiz com minha vida amorosa nesse tempo me limito a ficar calado. Não estava nem um pouco a fim de falar com ela sobre isso.
Quando finalmente o jantar terminou tive esperança que ela me pedisse para leva-la ao hotel que estava ficando ou a casa dos pais quem sabe. O que não aconteceu. Em vez disso fomos “passear pela cidade”. De acordo ela Nana ela estava com saudade dos ares do país natal. Já era tarde e meus planos iniciais de passar pelo prédio de Jeonghan pelo menos pra dizer um olá ia para o buraco a cada minuto que passava de braços dados com minha "noiva".
-Você está diferente...
-Estou? - paramos e automaticamente minha mão vai a sua cintura.
-Eu não sei bem o que é. Mas está. Sei que nunca consideramos a possibilidade de ficarmos juntos de verdade, sei que gosta da sua vida e eu realmente gosto da minha, acontece que quando a gente cresce percebe que não pode mais agir como uma adolescente inconsequente. Eu sei que esse casamento é o melhor para nossa família e sei que sabe disso também. – na verdade pra SeungCheol não fazia diferença alguma as condições financeiras do pai – Mas antes, mesmo que por obrigação digamos que você era mais... Entusiasmado em estar comigo. Por um tempo chegamos a nos dar realmente bem. Mas agora... - ela morde o lábio pintado com um batom rosa claro como se decidisse seu próximo passo – Pode me beijar SeungCheol? Como já fez antigamente?
Meus dedos se apertam involuntariamente em sua cintura com aquela frase e pelo jeito ela entende aquilo como um sim dando um passo à frente. Estávamos muito perto. Podia sentir o cheiro do perfume europeu dela, provavelmente valia muito mais que meu trabalho de um mês.
Nana era bonita. Não tinha como negar. Uma mulher que qualquer homem iria querer como esposa. Na verdade eu mesmo fiquei feliz com isso por um tempo, como ela mesma disse, nos demos bem. Chegamos a nos empolgar bastante com isso e para alegria de nossos pais uma pequena paixão se acendeu entre a gente. E, por Deus, nos divertimos muito um com o outro. Porém agora... As coisas pareciam um pouco fora do lugar. Não era mais como antes.
Ela tinha razão. Eu estava diferente.
Me permiti me aproximar dela tocando seu rosto com carinho. Eu só tinha que fazer aquilo e ela não teria o que reclamar de mim para seus pais, com isso os meus também me deixariam em paz não era? Provavelmente.
Quando nossos lábios se encontram ela suspira segurando delicadamente minha roupa, mas pra mim tudo que consegui pensar naquele momento foi em Yoon Jeonghan. O sentimento de estar o traindo, mentindo não me abandonava.
Durante todo o resto daquela semana tive minha vida virada para baixo pelo furacão Nana. Saíamos para jantar todas as noites. Ela sempre tinha um monte de perguntas pra me fazer. Algumas eu respondia, outras me desviava. Continuava pedindo beijos e com o tempo aprendi que se a beijasse logo seria mais fácil me livrar dela logo e era o que fazia. Quando chegou a quinta ela me mandou uma mensagem chamando para almoçar. Como de costume disse que não podia, estava ocupado em um caso, mas para minha surpresa, e total desespero, quando saí pra pegar um copo de café dei de cara com minha querida Nana saindo da sala do delegado.
Foi quando eu descobri algo muito aterrorizante.
Ela não somente conseguiu que eu pudesse ter algumas horas para almoçar com ela naquele dia, como também o final de semana inteiro de folga pra mim.
Lembrei da proposta de Jeonghan sobre pedir folga para uma viagem e agora eu tinha elas. Mas em vez de viajar com ele iria acompanhar Nana em suas compras no shopping no sábado. E hoje, sexta-feira, teríamos mais um jantar. Ela até mesmo havia separado algumas roupas pra e deixado sobre a cama obviamente não gostava muito das que eu escolhia sozinho.
O jantar é o mesmo tédio de sempre. Nana não conseguia me surpreender. O que por várias vezes faz minha mente vagar para Jeonghan. Talvez estivesse ficando louco, mas aquela forma do garoto de cabelos longos agir, sem regras, sem pistas do que seria sua próxima ação, ou quando mudaria sua personalidade completamente me deixava completamente louco, sempre queria ver mais dele. Podia ser pelo fato de sermos completamente oposto enquanto eu levava um vida de regras, Jeonghan simplesmente vivia sua vida da melhor forma possível. Enquanto eu tive uma vida super protegida com meus pais me sufocando com tanta atenção, ele perdeu tudo inclusive a família que amava e até mesmo sua própria inocência de criança naquele cenário horrível de sua infância. Havia aquela parte grande de mim que queria o livrar de tudo. O proteger do mundo. Das maldades presentes nesse mundo.
-SeungCheol... – a mão sobre a minha me chama atenção – Não acha que está bebendo muito?
Olho para a taça a caminho dos lábios. Sinceramente não fazia ideia de quantas daquela havia tomado naquela noite. Só que minha mente estava meio entorpecida o que deixava aquela jantar um pouco menos... Pior, menos pior por que não chegava a ser melhor, e eu não via isso como algo ruim. Com um suspiro deixo a taça de lado.
-Desculpa. Estou com muita coisa na cabeça e estava tentando me distrair com álcool.
-Não precisa disso. – ela sorri acariciando minha mão e seguro seus dedos – Se estiver achando isso tudo chato. Se está cansado, vamos pra casa. Podemos só ficar lá... - dá um sorrisinho cúmplice - Como queria naquele dia.
Olho pra ela sem acreditar. Estava querendo aquilo desde que ela chegou e só agora depois de uma semana quase ela inventava disso?
-Serio isso?
-Claro. Por que não. – acena chamando o garçom e pede a conta, pagamos e saímos do restaurante – Sei que te arrasto pra todo lado SeungCheol, mas é que quero te levar pra minha vida. Sabe que de inicio não queríamos isso, mas já que somos obrigados por que não fazemos da melhor forma possível?
-Eu juro que tento Nana, mas é que...
-Não diga nada. – entra no carro e fecho a porta pra ela correndo até o outro lado sentando atrás do volante – Gosto de estar com você. Só quero que goste também. Não pode fazer isso?
-Eu gosto de estar com você também Nana. Só acho que isso está meio rápido.
-Acabou de me desanimar... – dá um riso soprado se afundando no banco.
-O que quer dizer?
-Nada... – a voz parece decepcionada o que me provoca um arrepio na espinha com medo do que quer que ela estivesse planejando.
Parecia que eu estava adivinhando.
A primeira coisa notei de estranho quando entramos foi que a mancha de vinho no tapete havia desaparecido. Ela estava lá quando saí. Isso queria dizer que alguém esteve na minha casa depois o que não era nem um pouco confortável. Nana estava quieta do meu lado, mas se moveu deslizando os dedos por meu braço até que eles se entrelaçassem com os meus.
-Queria fazer uma surpresa pra você... – sorri timidamente.
-Limpando meu tapete?
Nana ri.
-Não seu bobo. – me puxa para o quarto o que quase me faz engasgar – Isso.
O quarto estava cheio de rosas vermelhas, chocolates, balde de gelo com champanhe, velas com uma luz sutil pelo cômodo. Quando que transformaram meu apartamento em um motel sem eu nem saber?
-Como... – ainda estava chocado.
-Eu disse. Queria fazer uma surpresa pra você. – solta minha mão soltando o vestido que cai aos seus pés, usava um belo lingerie por baixo e se aproxima – Achei que já estava na hora de fazermos isso. Vamos no casar SeungCheol... – toca meu rosto deixando um beijo em meu queixo – Precisamos nos aproximar de alguma forma. E já que pareço não conseguir fazer isso te arrastando pra cima e pra baixo... Achei que, pelo menos, na cama pudéssemos no entender.
Aceito o beijo dela. Mas não posso evitar que minha mente pense que naquele mesmo lugar, contra a porta, dias antes tive aqueles beijos com Jeonghan. Juro que tento limpar minha mente e fazer o plano dela dar certo, mas não consigo. Estava confuso demais com aquilo e tudo que conseguia pensar era que estávamos indo rápido de mais, por mais que soubesse que não era verdade. Eu quem estava sendo o erro daquela equação e não o tempo.
Seguro seus ombros a afastando.
-Desculpa Nana. – ela morde o lábio com os olhos cheios de lágrima – Desculpa, mas não posso.
-Vai mesmo fazer isso? - parece ressentida o que me deixa mal.
-Desculpa... – ela ri se afastando e pega o vestido no chão passando por mim em direção à sala – Nana.
-Olha... – passa o vestido pela cabeça o puxando pra baixo de qualquer jeito – Eu acho que entendo parte do que está passando. Acho que sou um erro em sua vida. Fico pensando sem algum dia vai gostar de mim ou se vamos terminar como esses muitos casais que se casaram na mesma situação que nós.
-Não é isso Nana é que... – ela tinha razão – Só me desculpe acho que não estou no clima hoje.
Nana ri cheia de sarcasmo pegando a bolsa sobre o sofá.
-E quando vai estar? – vem até mim me dando um beijo na bochecha – Estou indo. Amanhã vamos ao shopping. Não se esqueça. Precisamos ao menos manter as aparências para nossos pais já que não podemos fazer funcionar de verdade. Eu suspeito que o meu tenha colocado algum espião atrás de nós por isso precisamos nos “dar bem”. Até lá. Até que decida o que quer da sua vida.
Ela sai batendo a porta com força. O barulho do painel de segurança sendo ativado me faz suspirar e cair deitado no sofá. Minha vida estava uma loucura. Parecia que tudo e todos caminhavam enquanto eu ficava parado ali, sempre no mesmo lugar a espera de um milagre que me impulsionasse para frente. E não era só na vida amorosa. O resumo de tudo é que estava me sentindo muito inútil naqueles últimos dias.
-Acha que este está bom? - Nana sai do provador pela vigésima vez com uma roupa diferente e como de todas as outras vezes se examina na frente só espelho - Hey! SeungCheol. Está me ouvindo?
-Sim. - coço os olhos, já estava sonolento de tanto seguir Nana de baixo pra cima nas ultimas horas - Esta ótimo. - realmente estava.
Duvidava que alguma roupa ficaria ruim nela. O tempo todos podia ver os olhos dos outros homens sobre ela, sejam simples clientes do shopping ou os funcionários das lojas, eles sempre a tratavam de forma diferente. Fazendo a expressão decepcionada quando ela dizia "estou com meu noivo" com um enorme sorriso no rosto. Isso me fazia pensar por que ela não podia escolher qualquer um deles como noivo. Qualquer um menos eu.
Havia recebido uma ligação de minha mãe na noite anterior depois que Nana saiu. Cheguei a pensar que a garota havia me entregado para meus pais, mas ela só queria falar sobre o casamento. Ate que tentei argumentar sobre aquela ideia maluca e ela nem quis saber sobre cancelamento. Apenas convidou para um jantar na casa deles onde estariam presentes os pais de Nana pra tratar os assuntos da festa. Um fato que eu já sabia que aconteceria.
Estava a ponto de explodir já e tudo que minha querida noiva queria era experimentar roupas e fingir que éramos um jovem casal feliz e perfeito da alta sociedade.
-Vou levar essa.
Me controlo pra não soltar um sonoro "amém" e apenas me apresso em pegar as peças que ela estendia pra fora do provador e corro pra pagar. Quanto antes saísse da loja menos tempo demoraria naquele lugar.
Uma vez fora da loja Nana segura minha mão sorrindo ao faze-lo. Tinha um pouco de pena dela, ela parecia toda empolgada com o que acontecia e eu todo alheio. Aperto seus dedos e lhe dou um sorrisinho que que faz seu sorriso aumentar e ela deita meu ombro.
Quase tenho um ataque cardíaco ao ver um par de olhos negros se apertando enquanto olhava a cena.
-J-JeongHan?
Pude ver os olhos de JeongHan na mão de Nana em meu braço. Minha pele formigou pra me livrar daquele toque e desfazer o olhar de magoa de JeongHan, mas não podia fazer aquilo, não assim do nada, sem que Nana desconfiasse.
-Quem é? – Nana olha para o de cabelos longos com um sorriso e ele retribui escondendo a expressão que vi um pouco antes.
-Ah. – limpo a garganta – Esse é Yoon JeongHan. Acabamos nos conhecendo durante um caso na delegacia.
-Oh... – Nana solta meu braço correndo até o estendendo a mão – Sou Nana, noiva de SeungCheol.
Os olhos dele ficam frios novamente me encarando apertados. Quase dei um passo pra trás diante daquilo, havia algo nele naquele momento que me deixava com medo.
-Noiva? - sorri - Não me contou que tinha uma noiva.
-Pois é, eu...
-Por que não vem na praça de alimentação com a gente. Sinto que vou morrer se não comer algo agora. Podemos nos conhecer melhor enquanto comemos.
-Claro. – Jeonghan sorri pra ela, mas não tira os olhos de mim – Eu adoraria conhecer vocês melhor. - sinto o toque naquela palavra.
Sentamos em uma mesa grande e fiquei calado enquanto os dois conversavam. Tentei permanecer atento o tempo todo para o caso de Jeonghan soltar algo que não devia. Não queria arriscar tem Nana histérica contando para todo mundo inclusiva para nossos pais sobre o que eu andava fazendo. Não que fosse da conta deles. Eu só não queria mais aquele problema na vida, não antes de me livrar do problema chamado casamento.
Por mais que tenha ficado apreensivo as conversas giraram em torno do tema arte. Jeonghan sabia um monte sobre arte e Nana que passara uma boa temporada na Europa desfilando pelos maravilhosos museus de lá tinha muito a compartilhar. Cheguei a pensar que eles haviam se dado bem e que eu não teria problemas. Pelo menos até Nana me dar um beijo no rosto se levantando.
-Preciso ir ao banheiro. Rapidinho eu volto. – olha para o loiro – Cuida dele pra mim. Não deixa que olhe para as garotas.
-Pode deixar. – o sorriso dele para ela é simpático, mas assim que ela vira as costas se tornam frios para mim – O que exatamente está acontecendo aqui? Por que nunca disse nada sobre casamento?
-Desculpa eu... Eu nem me lembrava ok? Esse casamento foi arranjado quando éramos pequenos eu pensei que já tinham desistido disso já que tecnicamente meu pai me deserdou quando virei policial.
-Isso não justifica. Quando planejava me contar que havia desmarcado o encontro pra ficar se esfregando com aquelazinha?
-Eu não tinha escolhas. Ou eu desmarcava ou ela descobria. Me desculpe mesmo, se muda alguma coisa eu queria muito mais passar esse tempo todo com você que um dia só com ela, mas não pude fazer nada.
Jeonghan ri. Não um sorriso bonito como sempre, era uma risada que mostrava o quanto estava irritado com aquilo tudo. Seria aquilo uma expressão diferente da personalidade dele.
-Precisa terminar com ela.
-Eu...
-Precisa contar a ela. Se não é o que quer precisa contar a ela o que aconteceu entre a gente. Com certeza ela vai pedir pra cancelar tudo depois de ouvir.
Sabia que isso aconteceria, mas a custa de que? Seria o maior escândalo entra a família. Isso se a família dela não espalhasse aos quatro ventos sobre o assunto.
-Desculpa Jeonghan. Eu não posso ainda, estou trabalhando nisso. Mas preciso sair da forma certa. Não posso simplesmente jogar tudo sobre ela.
Ele se debruça sobre a mesa ficando bem próximo de mim.
-Não quero saber de como vai fazer isso. Mas é melhor não demorar. Vai por mim. Não vai querer ficar com ela por muito tempo. – a expressão assustadora some e ele sorri, Nana se senta em seu lugar e percebo o motivo da mudança, como ele conseguia fazer aquilo? – Bom... Foi ótimo te conhecer e rever você detetive, mas preciso correr pra casa. Tenho um trabalho pra entregar na segunda. Estou ficando sem tempo. E também Ren disse que precisava de mim hoje com as coisas dele. – pega a bolsa na cadeira do lado – Espero que tenham um bom encontro. Felicidade para os dois no casamento. – me lança um sorriso arrepiante antes de ir embora.
Fico olhando para ele se afastar ajeitando os cabelos. Parecia tão natural na forma como se movia e se portava, ninguém imaginava o quanto mudava de um momento para outro.
-Gostei de Jeonghan, você devia ter alguns amigos como ele. É muito solitário. Jeonghan é um bom garoto.
-Sim... Ele é. – o que mais podia dizer? – Vamos pra casa?
-Ai que sim. Acho que estou cansada de tanto andar. – se levanta pegando a bolsa e faço o mesmo com as sacolas dela – Olha. Ele esqueceu isso.
Pega um caderno grande, eu sabia bem que o que era aquele caderno. Era onde tinha meu desenho. Se ela visse aquilo... Arranco o caderno da mão dela quase que brutalidade quando ameaça abri-lo.
-Nossa. O que foi isso.
-Nada. Só acho que não devíamos mexer no que não é nosso. – faço o caderno desaparecer dentro de uma sacola onde estavam algumas camisas para mim – Acho que temos o endereço dele na delegacia vou telefonar pra ele na segunda-feira e dizer pra ir lá buscar.
-Boa ideia.
Me jogo no sofá finalmente me vendo livre da minha noiva.
Depois que ela disse que estava cansada e que queria ir pra casa ainda teve tempo pra mais um vestido e um par de sapatos altíssimos. E quando a deixei na porta da casa dos pais dela saí correndo com medo deles aparecer na porta. Já bastava eu estar aguentando a noiva, não queria os sogros também.
Deitado em meu confortável sofá ligo a TV olhando para as imagens sem realmente vê-las. Meus olhos vão para a sacola sobre a mesinha de centro.
O caderno.
Dou um pulo pegando ele. A curiosidade para ver o desenho feito por ele fica grande, por mais que soubesse que não devia mexer no que era dele e esperar ele tivesse pronto para me mostrar abri a primeira folha.
Havia uma casa grande e bonita, cheia de plantas e bem cuidada. Um garotinho estava no balanço e uma mulher sentada na grama.
Empolgado passei as folhas, mas elas não tinham nada da felicidade que vi na primeira. As cenas retratadas nos desenhos seguintes me provocaram arrepios. Tinha várias versões de um Jeonghan criança. Alguns com hematomas, outros com marcas de algum tipo de chicote talvez nas costas. Os cabelos escuros pareciam sujos e precisando de cuidados, o ambiente escuro usando muito grafite para pintá-los. Haviam outras crianças também. Todas presas. Celas. Um cômodo parecendo uma sala de cirurgia abandonada, com vários materiais cortantes na beira da maca, parecendo brilhar naquele cenário escurecido.
Minhas entranhas se contorcem ao ver o desenho do anjo. Exatamente como aqueles que eu já vira várias vezes. As asas enfeitando suas costas, os vestidos brancos marcados pelo sangue que escorria desde seu pescoço manchando toda a frente do vestido. Não tinham rostos, apenas borrões no lugar. O que me deixa intrigado.
Passo as folhas rapidamente. Aquela cena se repetia e em vários ângulos cada um parecendo mais apavorante que outro. E então paro em minha própria foto. Acho que vendo tanto mal naqueles desenhos esperava ser retratado como um também, mas era apenas eu. Eu deitado na cama com o lençol, exatamente como estava naquela manhã. Junto com a primeira foto parecia as únicas representações normais do caderno.
***
Os passos eram ouvidos ecoando pelo porão. Não podia continuar daquela forma. Estava perdendo tempo e já não tinha muito. A cada instante sentir que estava mais perdido. Aquele maldito detetive não desistia nunca. Odiava a forma como ele era persistente. Bufando para na frente de uma das celas olhando o pequeno anjo encolhido no fundo dela. As asas já cicatrizadas pareciam uma bela obra de arte. Mais uma vez havia conseguido, sorri. Era uma pena que talvez não o fosse usar. Situações desesperadas pediam medidas desesperadas e era o que faria se precisasse.
Não podia mais prolongar por muito tempo.
O pequeno anjo o olha em pânico. Os olhos se arregalando e tenta gritar sendo impedido pela mordaça. As correntes que o prendia impedia que tirasse aquilo de sua boca impedindo os barulhos.
Mas não o impede de ouvir o barulho de um carro se aproximando. Quem diabos podia estar vindo naquele lugar. Não era possível. Ninguém ia aquela casa destruída a anos. Ninguém além de si mesmo e seus anjos. Corre até um dos armários alcançando a pequena pistola que guardava ali para emergência. Odiava arma de fogo, mas sabia que elas eram as mais eficientes em algumas situações. E essa pedia eficiência.
De seu esconderijo entre as várias paredes meio queimadas pelo incêndio que acontecera ali anos atrás vê o policial entrando. Olha por toda parte, mesmo que um pouco apreensivo. Testa vários pontos do chão só andando quando percebe que não tem risco de desabar. A sala alguns quartos são examinados de forma rápida. Maldito curioso. Ele chega à porta do porão. Podia sentir o perfume vindo do policial de tão perto que estavam. Levanta a pistola com cuidado para não fazer barulho apontando para ele no instante em que o celular toca.
O policial se afasta da porta levando o aparelho ao ouvido com um sorriso.
-Oi meu amor. – ri – Desculpa. Sei que não devo te chamar assim perto das pessoas, mas estou no meio de um monte de nada. – chuta um pedaço de tijolo que se desprendera da parede – Serio isso? – o sorriso se amplia – Com certeza eu vou. Não eu não preciso fazer isso não. Era só um palpite que eu tinha e resolvi investigar, mas olhando de perto. Acho que não tem nada. Me espero que estou chegando. Um beijo. Hey não me mandei tomar no cu seu filho da puta.
Ele ri colocando o celular no bolso e desaparecendo pela porta arrancada.
Parado próximo a uma janela observa o policial entrar no carro e acelerar na direção da saída. Realmente precisava apressar com seu final antes que fosse tarde demais.
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