Ele o beijou. Em uma fração de segundos os lábios conectados um ao outro fizeram com que um suspiro baixinho deixasse o Kim, estava frio ao redor, mas naquele pequeno espaço onde os corpos estavam colados um ao outro e as bocas se moviam em uma dança morna, estava quente. Taehyung não sabia explicar a sensação, estava beijando outro homem, após dois anos, se fosse qualquer um, se fosse qualquer outro homem, o Kim com certeza não se permitiria este momento, mas por se tratar do Jung, e somente por se tratar dele, era por isso que seu coração batia rapidamente e suas mãos nos ombros do rapaz tremiam um pouco, ele não era qualquer pessoa, não, nenhum dos dois era. Haviam um bilhão de sentimentos envoltos em um único beijo, em um único toque, em uma única pessoa. Romperam o beijo quando o ar lhes faltou, o peito de ambos subia e descia rapidamente, as respirações se mesclavam e os olhos de Hoseok ainda estavam fechados, era quase como estar vivendo em um sonho, portanto as mãos na cintura do Kim tornaram-se mais firmes, e ainda com os olhos fechados e as testas encostadas, ele sussurrou algo baixinho.
— Posso voltar amanhã, pela manhã?
Taehyung esboçou um mínimo sorriso, de certa forma também estava feliz.
— Sim.
O Jung então abriu os olhos, suas mãos ainda formigavam quando sorriu, fazendo com que as maçãs de seu rosto saltassem, Taehyung desviou o olhar no momento, envergonhado de repente, o que o mais velho considerou algo fofo.
Então, em outro ato de coragem, se aproximou rapidamente do Kim deixando um selar quente em uma de suas bochechas antes de virar as costas e correr pelo mesmo caminho por onde voltou minutos atrás, desta vez Taehyung entrou na casa. E assim que a madeira fria tocou suas costas cobriu o rosto com as mãos, o que estava fazendo? Seu coração estava muito agitado agora, sentia que poderia desmaiar a qualquer momento de tanta emoção. Se lembrou das palavras bonitas que o Jung lhe disse, e de seus toques, era quase como um adolescente, no momento.
Lentamente fora retirando as mãos de frente ao rosto, e pode observar um filete prateado em um de seus dedos, seu coração recebeu um solavanco, e como um banho em água fria seus joelhos cederam e ele foi ao chão, tocando o piso gelado com a ponta dos dedos, toda a felicidade de antes agora não parecia o suficiente para amenizar a culpa que estava sentindo.
Ele estava errado? O que estava fazendo? O que todos pensariam? O que sentia pelo Jung? O que Jeongguk pensaria? Jeongguk… ah, Jeongguk.
O Kim percebeu que seus olhos transbordavam quando sentiu as lágrimas salgadas encostarem nos lábios.
— Jeongguk… desculpe. — pediu baixinho, sentindo-se mal.
Da mesma forma que se sentiu quando o Jung o beijou tempos atrás, mas agora era diferente, o Kim se desculpava, não somente por ter correspondido ao beijo e sim, por ter gostado dele e de todas as palavras e sentimentos que o mais velho tem sobre si, ele gostou, afinal, também era uma pessoa com sentimentos e emoções, e pensou por alguns segundos quando estava nos braços do Jung que… tudo bem, amar e ser amado outra vez.
Após se acalmar, o Kim se levantou do chão frio. Seguiu a passos lentos para o quarto e observou Soobin adormecido, certificou-se de que o menino respirava, uma mania boba que sempre tinha, e sorriu um pouco melhor, seu filho estava bem, então tudo acabaria bem. Puxou a cadeira em frente a penteadeira, e buscou pelo diário negro que guardava na gaveta, boas páginas dele estavam preenchidas por sua letra, as vezes se perguntava o porquê de ainda escrever para Jeongguk, talvez por ser um alento a seu coração machucado.
Os dedos tremeram um pouco ao segurar a caneta e borrar o papel com a tinta negra.
"Preciso te contar um coisa importante. Quando eu te conheci eu pensei que nunca mais nos veríamos novamente, então eu não dei muita importância. Mas, nos vimos novamente e eu fui inocente ao pensar que talvez o destino pudesse existir, Jeongguk. Quando pousei meus olhos em você pela primeira vez eu nunca imaginei que o teria para mim, você era bom demais para mim, e eu só fui tendo mais certeza disso com o decorrer dos nosso tempo juntos. Nosso primeiro beijo, a primeira vez em que saímos juntos, as conversas e as cartas que você me enviou, eu ainda tenho todas, as vezes eu as leio quando sinto saudades, e eu sinto saudades o tempo todo. A primeira vez em que você segurou minha mão, ou a primeira vez em que nos amamos, as juras e nossos sonhos, tudo ainda está aqui, dentro de mim e sempre vai estar"
"Nós temos um filho! Um filho Jeongguk, o nosso menino. E eu sou tão grato a você e a deus por ter me permitido isso, ser pai, ter uma parte de você para sempre comigo eu… isso é incrível. Você sabe quantas vezes eu desejei acordar e que tudo não passasse de um pesadelo? Ou quantas vezes eu olhei para Soobin e imaginei você o embalando e o acalmando em uma crise de choro qualquer, todos os dias, eu imaginei como seria a nossa vida se você não tivesse…
O Kim parou de escrever por um momento. Escrever a palavra morte era quase impossível para si, mesmo após anos, ainda era difícil demais dizer isso de Jeongguk, que ele estava morto.
"Desaparecido. Eu passei muito tempo sem saber o que fazer… e tive muito apoio, somente por isso eu consegui me manter, do contrário já teria desistido, porque você não sabe a dor de estar ao seu lado em um dia e no outro descobrir que você nunca mais irá ver aquela pessoa, é angustiante, torturante, cruel demais… estou falando dos meus sentimentos, nosso filho fora minha única alegria depois de tanta dor, ele me tornou mais forte."
"Mas a coisa que eu preciso te contar não é isso, e sim, que… Hoseok e eu nos beijamos outra vez. E eu me senti bem, Jeongguk. Fora uma das poucas vezes em que eu me senti vivo após você partir, o outro único momento fora quando Soobin nasceu. Mas, eu não estou dizendo isso para te magoar, e nem mesmo porque deixei de te amar, deus, ele sabe como eu te amo. Eu sempre vou. Mas não vou mentir, eu gosto do hyung, ele é alguém com quem posso contar, tão amoroso, está sempre pronto para me acalmar e eu gosto disso… da paz que ele me transmite.
"Ele se declarou. E eu gostei de ouvir de sua boca que ele me amava. Você pode me julgar, estou fazendo isso agora mesmo, pode me odiar se quiser, eu mereço e eu aceito, mas eu quero ser sincero, ele mexe comigo, de uma forma que me faz pensar… será tão errado assim eu voltar a sorrir? Está tudo bem se eu sorrir agora? Se eu deixar outra pessoa entrar na minha vida? Se eu deixar outra pessoa tocar meu coração? Está mesmo tudo bem agora? Então… porque eu me sinto tão amargurado e culpado? Talvez porque ele seja um amigo seu, eu sei, me perdoe… talvez eu até deseje que você me odeie, acho que isso tornaria as coisas mais fáceis."
"Eu sinto muito. Eu sinto mesmo. Eu nunca serei capaz de esquecer você, você é uma parte tão linda de mim, e eu te amo tanto, sei que isso mais se parece com uma carta de despedida, talvez seja. Mas, Jeongguk eu estou cansado, de chorar, de me sentir sozinho, de não ter alguém com quem conversar sobre coisas bobas ao chegar cansado do serviço, alguém para me abraçar quando eu chorar, alguém para cuidar de mim também… entende? Por bastante tempo eu pensei que nunca mais seria capaz de desejar ter outra pessoa ao meu lado, e foi assim, eu juro. Eu nunca quis outra pessoa, sempre foi você, eu esperei, eu fui paciente, eu aguentei o máximo que eu pude, mas eu também desabei, também chorei noites a fio, levei flores até sua lápide e arranquei a grama ao redor com raiva, eu faria tudo, daria tudo, enfrentaria tudo para poder ver o seu sorriso outra vez, para poder te olhar uma outra vez, eu deixaria tudo por você e pelo nosso filho, mas você não está aqui. Sabe o quanto isso dói e corrói? Me mata."
"Eu te amo. Isso não tem nada haver com falta de amor. Esses dois anos foram os mais longos e difíceis da minha vida, eu vivi como uma montanha russa, subindo e descendo, ou somente descendo… mas eu sobrevivi, então eu sinto orgulho de mim. E eu acho, eu realmente acho que eu mereço viver, Jeongguk. Não apenas sobreviver como eu fiz durante esse tempo. Eu sei, posso parecer egoísta falando agora mas eu pensei muito, e eu quero te dizer, quero que seja o primeiro a saber que eu estou pronto agora, eu estou pronto para seguir. Então está tudo bem eu me apaixonar outra vez, não é? Eu posso mesmo ser feliz assim? Sinceramente… Eu acho que sim."
"Então o que eu quero te dizer é que… eu vou dar uma chance agora, uma chance para mim, uma chance para ser feliz outra vez, de verdade, me desculpe se eu estiver sendo egoísta, mas acho que no fim todo mundo deseja isso também, a felicidade. Eu não amo Hoseok-hyung, mas ele me faz querer amá-lo, então, vou corresponder aos seus sentimentos agora, e espero que ele também seja feliz"
"Me desculpe por te magoar tanto assim, espero que um dia você possa me perdoar, mas agora, eu sinto que eu preciso seguir"
O Kim largou a caneta sobre o papel borrado, só então percebeu que era por algumas lágrimas suas, sentia-se mais leve, como se um peso enorme saísse de suas costas, todos seus sentimentos postos no papel, cobriu a boca com as mãos e soluçou, seu choro era intenso, fechou o diário para não danificar ainda mais as folhas e se permitiu chorar, toda sua dor guardada e também seus sentimentos, Taehyung se sentia um pouco mais forte.
Acabou adormecendo sobre a penteadeira ainda sentado na cadeira, Soobin no berço já balbuciava algumas palavras quando o Kim se arrastou até o menino e o pegou no colo, seu embrulho quentinho sorriu assim que o viu, se seu nariz rapidamente se afundou nas dobrinhas do pescoço do bebê, enquanto o abraçava.
— Bom dia meu amor.
O homem levou Soobin até o banheiro e lhe deu um banho, o bebê brincava com a água em sua banheirinha enquanto o Kim ensaboava suas costas e seus cabelos. Tratou de secar o filho e vesti-lo, provavelmente estava faminto, era fim de semana então os dois teriam um tempo para eles, estava feliz, pegou na geladeira uma mamadeira e esquentou entregando a Soobin morna, sentou-se com a criança no colo que teimava em segurar o objeto nas mãozinhas mesmo que Taehyung já o estivesse fazendo, sorriu faceiro quando o bebê desistiu e deixou que o amamentasse se encantando com a cena, sempre era maravilhoso ver seu filho bem.
Quando o menino terminou o sentou de frente para si, beijando uma de suas bochechas.
— Hoje vamos ficar bem juntinhos Bin.
Tornando a beijar a outra bochecha do bebê que sorriu, encantando ainda mais o mais velho, um pai coruja era o que ele era. Enquanto brincava com o filho no sofá algumas leves batidas na porta da frente assustaram o kim, que inicialmente pensou se tratar de Yoongi, talvez tivesse esquecido algo, pegou Soobin no colo e caminhou lentamente até a porta a destrancando e somente quando pousou os olhos sobre Hoseok que fora se lembrar do que haviam combinado antes.
— Ommo. — sua boca se abriu em total surpresa.
— Pi… pino.. pi! — Soobin falou entre os dois, chamando a atenção do pai.
Taehyung havia se esquecido completamente e somente agora havia se conta de que ainda não havia sequer escovado os dentes ou tomado banho, e que provavelmente seus cabelos estavam desengrenhados no momento, corou, e cogitou entre dar passagem ao Jung e fechar a porta em seu rosto, ficou com a número um.
— Vim cedo demais? — Hoseok perguntou, olhando o Kim de cima a baixo. — Você precisa de ajuda? — ofereceu.
— Bem…
— Pino… piiiii! — Soobin gritou, puxando a camisa do pai para baixo.
— Parece que alguém está animado. — Hoseok sorriu. — Oi amigão, está dando muito trabalho para o seu papai aqui?
O bebê se encolheu nos braços do pai, inicialmente estranhando o Jung, suas sobrancelhas se franziram e um biquinho se formou.
— Desculpe, ele fica meio arisco quando não conhece a pessoa muito bem..
— Nã, tudo bem. Logo vamos estreitar nossos laços, me dê ele aqui, e pode ir tomar o seu banho.
Por um instante Taehyung cogitou cheirar abaixo dos braços, poderia estar fedendo tanto assim?
— Seus cabelos e seu rosto amassado. — o Jung respondeu, o fitando.
— B-bem… obrigado então. — o Kim sentia até mesmo as orelhas queimarem no momento.
Apenas passou o filho para Hoseok que prontamente o segurou, Soobin não fez birra nem se debateu, mas ainda tinha um biquinho fofo nos lábios e olhava curioso para o Jung.
— Eu volto logo. — Taehyung disse mais uma vez, e correu em direção ao quarto.
Hoseok e Soobin ficaram se encarando na sala. O Kim rapidamente ligou o chuveiro, e até mesmo se assustou com sua imagem no espelho quando viu, normalmente não ligava muito para sua aparência, mas agora estava envergonhado, se lavou rapidamente e escovou os dentes, não queria abusar e ainda teria de preparar algo para comerem, estava mesmo descuidado aquela manhã, assim que terminou de se vestir correu em direção a sala e não encontrou ninguém, seus cabelos molhados respingavam quando chegou até a cozinha e encontrou Hoseok e Soobin cozinhando.
Na verdade Soobin estava sentado na bancada ao lado do Jung que o surpervisionava enquanto amassava um pouco de arroz na esperança de fazer alguns bolinhos.
— Desculpe mas acabei tomando a liberdade de mexer em suas coisas… pensei que você pudesse estar com fome.
E estava, a barriga de Taehyung borbulhava quando se aproximou do homem e pegou Soobin no colo.
— Muito obrigado.
Taehyung ficou em silêncio enquanto observava Hoseok preparar os onigiris, e enrola-los um a um nas algas que encontrou na geladeira. Assim que acabou o Jung colocou os bolinhos a frente do mais novo o incentivando a comer.
— Não é o que chamamos de refeição mas acho que vai ajudar.
— Obrigado pela comida. — Taehyung agradeceu e rapidamente colocou um dos bolinhos na boca mastigando. — Está… bom… — ele disse entre mordidas, fazendo o soldado sorrir.
Soobin segurou uma das mãos do pai abriu a boquinha indicando que também queria um pouco, Taehyung o deu.
— Ele é maravilhoso. — Hoseok comentou. — E fofo. — balançando os cabelos do menino.
— Coma também. — Taehyung pediu e levou um dos bolinhos até a boca do Jung, o surpreendendo.
Ele segurou o bolinho em seguida e comeu, quando acabaram, os dois foram para sala, Soobin ficou ao chão brincando com seus brinquedos, o Kim jogou a cabeça contra o encosto do sofá e suspirou, sequer se dando conta de que estava sendo observado o tempo todo, e quando se deu, engoliu em seco.
O Jung desviou o olhar e juntou as mãos em frente ao corpo, sequer havia conseguido dormir a noite, e estava ansioso demais para saber como as coisas seriam em diante, não queria apressar o Kim, mas desejava respostas para tudo o que aconteceu, então apertou os joelhos fortemente e olhou para o homem ao seu lado.
— Taehyung… nós… o que aconteceu bem, o que nós somos… agora? — uma gotícula de suor escorreu por seu rosto embora fizesse frio, estava nervoso.
E essa pergunta também pegou o Kim desprevenido, mas tratou de se acalmar e respirar fundo, precisava dar uma resposta.
— Eu aceito… os seus sentimentos.
Fora impossível para o Jung esconder a surpresa e logo após a felicidade, precisou conferir mais uma vez.
— Está falando sério?
— Claro.
— Taehyung… não… você tem certeza?
Hoseok estava tão inseguro que sua voz chegou a tremer, então o Kim tocou uma de suas mãos buscando tranquiliza-lo.
— Eu quero ser feliz, Hoseok… Então, cuide bem de mim, de... nós.
O Kim sentiu as bochechas esquentaram rapidamente e toda sua coragem se esvair, desviando o olhar para a mão que segurava mas, quando sentiu o aperto tornar-se um pouco mais forte em suas mãos fitou novamente os olhos negros do Jung.
— Vou cuidar.
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