História 1095 dias sem você - Lágrimas em seus olhos

"Nós descobrimos quem você é" 

 

A frase ecoou e tornou a se repetir na mente de Song, o tempo parou por alguns segundos e seus olhos pesaram. Estava ansioso, e o frio que se alastrou em seu estômago era incômodo, olhou para os amigos com uma linha fina na boca e respirou fundo buscando se acalmar, embora seu coração latejasse e quase rasgasse seu peito. Com um meneio de cabeça simples pediu para que Jimin abrisse o notebook outra vez, e quando o médico o fez apenas tomou seu lugar em frente ao computador. Seus olhos rapidamente rolaram a página de cima a baixo, uma notícia sobre um soldado desaparecido a três anos atrás, cobriu a boca com as mãos emocionado quando leu seu próprio nome na tela, e mesmo que embargada sua voz soou entre os amigos. 

 

— Jeongguk… — sua voz era quase um sussurro. — Jeon Jeongguk…  eu me chamo Jeongguk, hyungs? — o rapaz se virou para olhar os amigos atrás de si, que apenas concordaram. 

 

— Sim, Jeongguk-ah. — Jimin respondeu igualmente emocionado. 

 

O homem colocou as mãos nos ombros do amigo o confortando, enquanto por si mesmo ele continuava a ler a notícia sobre seu desaparecimento. 

 

"Jeon Jeongguk, um jovem soldado de apenas 22 anos desaparece em terrível acidente de avião na tarde de 6 de março do ano de 2014. Equipes de resgate fizeram buscas no local onde os destroços foram encontrados e em toda a região onde o soldado cumpria sua missão, no entanto, o Jeon não fora encontrado. Outras vítimas foram encontradas, algumas já sem vida, um funeral fora realizado para confortar as famílias e homenagear os homens que arriscaram suas vidas para ajudar e proteger a pátria." 

 

Jeongguk piscou algumas vezes, seus olhos ardidos e continuou rolando para baixo a página, até encontrar uma foto, uma foto que mostrava exatamente seu rosto, sofreu um solavanco no peito ao perceber o quanto havia mudado, mas ao mesmo tempo conseguiu se reconhecer facilmente, usava uma farda e uma boina sobre os cabelos aparentemente curtos, estava sorrindo e seus olhos tão brilhantes. 

 

Ele era feliz? 

 

— Isso explica sua habilidade com tiro. — Namjoon comentou, também tocando um dos ombros do amigo. 

 

Jeongguk sorriu pouco, o misto de emoções que estava sentindo quase o enlouquecia e o nó em sua garganta apenas aumentava, ainda mais quando outra foto surgiu, uma parecida com a anterior, mas pelo contrário estava ao meio de várias coroas de flores e caixões, era um funeral, seu coração parou por alguns segundos. 

 

— Eles acham que eu morri. — a constatação escapou de seus lábios fechando sua garganta e tornando difícil respirar. — Ninguém espera por mim… hyungs… 

 

O choro do rapaz veio com força logo a seguir, seus olhos se fecharam fortemente e suas mãos cobriram seu rosto, seus ombros sacudiram, no entanto ninguém nada disse, pelo contrário, Jimin fora o primeiro a passar os braços em volta do corpo do amigo e abraça-lo, Namjoon também fez o mesmo, e por longos minutos fora somente o que fizeram, abraçaram Jeongguk até que se acalmasse. 

 

E quando se afastaram Jimin segurou uma de suas mãos o reconfortando. 

 

— Jeongguk-ah, não pense assim. Tenho certeza que há muitas pessoas que o amam e que ficaram muito felizes em saber que você está vivo, eu sei como é perder alguém, como é querer que esse alguém passe pela porta da frente outra vez, então acredite, mesmo que não estejam te esperando por pensar que você está morto, saber que você não está será a melhor coisa que poderia acontecer. 

 

— Ele tem razão. — Namjoon ficou ao lado de Jimin fitando as orbes negras brilhantes. — Seus pais, seus amigos, seus irmãos, seu amor… todos vão ficar muito contentes, pode ter certeza disso, então não precisa ter medo, vamos estar com você. 

 

Jeongguk olhou para os amigos e sorriu, um sorriso triste e feliz ao mesmo tempo. 

 

— Obrigado, hyungs. 

 

Os mais velhos deixaram o rapaz sozinho a pedido seu, Jeongguk queria ficar sozinho para ler e reler outra vez toda e qualquer notícia a seu respeito na internet, achou mais uma página utilizando seu nome, onde outra foto aparecia, mas nessa ele não estava sozinho, haviam mais três homens consigo, todos sorriam para câmera e usavam fardas. Os olhos do jovem se voltaram para baixo onde havia o nome e posição de cada um dos homens: Da esquerda para direita, Park Bogum, Jeon Jeongguk, Choi Jinsung e Jung Hoseok. Esses seriam seus amigos? Todos pareciam bem próximos na fotografia. 

 

Rolou a página e acabou encontrando homenagens feitas para si, textos, lamentos, orações, e até algumas poesias, de pessoas que pareciam amá-lo. 

 

Leu os comentários mas nenhum deles continha o nome de um dos rapazes na fotografia. 

 

"Jeongguk era uma ótima pessoa" 

 

"Um bom amigo" 

 

"Um homem de virtudes" 

 

"Irei sentir sua falta, foi ele quem me treinou quando cheguei, ele quem me ensinou a atirar, era um bom homem" 

 

"Tão bonito, um desperdício" 

 

Sua testa franziu com o último comentário, e quando pensou em fechar o notebook para pensar um pouco, um comentário bem ao final chamou sua atenção. 

 

"Meu único filho se foi, me pergunto como viver todos os dias, meu filho, minha alegria, o meu amor. Ainda me lembro da primeira vez em que o peguei em meus braços tão frágil e pequeno no entanto, eu sempre soube que ele se tornaria um grande homem, e ele se tornou, tenho muito orgulho do meu pequeno menino, appa vai te amar para sempre Jeongguk, e vai pedir para deus não demorar muito, quero estar ao seu lado o mais rápido possível, mas enquanto isso não acontecer eu vou cuidar do que você mais ama, eu prometo.

 

Com todo o amor do mundo de seu appa, Jeon Minsuk"

 

O Jeon rolou a página em busca de mais, ou de uma foto de seu pai, seus olhos arderam outra vez, e quando percebeu chorava novamente. Jimin e Namjoon tinham razão, Jeongguk tinha muitos motivos para se alegrar. 

 

— Appa, estou aqui. — ele sussurrou, encostando a cabeça contra a madeira fria da mesa. — Eu vou voltar. 

 

[...] 

 

Taehyung corria de um lado para o outro na casa procurando por seu livro de estudos, estava ansioso, era a primeira viagem que faria com outros colegas da universidade para participar de um seminário, não conseguia ficar quieto e mesmo que ainda faltasse um dia sua mala já estava quase toda pronta. Suspirou aliviado ao achar o livro atrás da cômoda, haviam brinquedos de Soobin pelo chão e acabou pisando em um no processo, o menino estava cada vez mais esperto e bagunceiro, já corria por toda a casa e subia nas janelas usando o sofá como apoio, deixando o Kim quase louco, não fosse por Yoongi e Hoseok com certeza já teria perdido o juízo. 

 

Já se fazia um ano desde que Taehyung escreveu no diário feito por Jeongguk, a última vez fora quando retirou sua aliança e a guardou na caixinha junto com outras lembranças que guardava do Jeon, fotografias, cartas, bilhetes, presentes e sua aliança estavam ali na gaveta ao seu lado da cama, mas a placa de identificação do soldado ainda continuava em seu pescoço, não viu problemas em usá-la e Hoseok também não parecia se incomodar, naquele momento sentiu vontade de escrever no diário outra vez, então o retirou da gaveta, e pegou uma caneta. 

 

"Já faz bastante tempo. hoje senti uma vontade grande de falar com você, para dizer… bem, eu não sei. Eu apenas queria conversar com você, então estou aqui. Soobin já sabe falar quase tudo, sabia? Ele é um menino inteligente e também corre como ninguém, depois que ele viu um cachorrinho na televisão ficou me dizendo que queria um "Auau" mas sinceramente? Não sei. Talvez eu compre um quando ele tiver pelo menos oito anos, estou ansioso, vou fazer uma viagem amanhã, e eu estou eufórico, é uma boa oportunidade de crescimento para mim, vou poder cuidar melhor de Soobin se tudo der certo, queria poder te perguntar de volta tudo que estou te dizendo Jeongguk… torça por mim, de onde estiver, darei o meu melhor" 

 

O Kim largou o diário na gaveta e fechou a mala sobre sua cama seguindo em direção a sala mas não havia ninguém, foi até a cozinha sem sucesso e depois ao banheiro, não havia ninguém, a casa estava silenciosa demais, olhou ao redor e chamou pelo filho e por Hoseok, abriu a porta da frente esperando encontrar o homem e o menino do lado de fora mas também não havia ninguém, seu coração sobressaltou no peito, e antes mesmo que pudesse trancar a porta da frente para ir procurá-los ouviu o portãozinho se abrir e logo Hoseok surgir com Soobin no colo, ambos cantavam uma musiquinha infantil juntos quando o Kim correu em direção aos dois. 

 

— Ficou maluco? Onde foram? — o Kim pegou o filho dos braços do Jung e o abraçou. — Não pode sair assim sem me avisar. 

 

— Ei, amor, por que está assim? 

 

Hoseok tocou levemente o rosto do Kim fazendo-o olhar para si. 

 

— Eu fiquei preocupado… nunca… nunca mais sumam assim… — e quando deu por si seus olhos já ardiam. 

 

Hoseok rapidamente entendeu do que se tratava e puxou o namorado para um abraço, ambos formaram uma conchinha em volta de Soobin. 

 

— Me desculpe, não queríamos te assustar.

 

— Eu só… eu pensei tantas coisas… me desculpe. 

 

— Tudo bem. É que Soobin e eu queríamos te dar uma coisa para te dar sorte na sua viagem, por isso fomos até uma lojinha aqui perto. 

 

O Jung revelou rompendo o abraço e fitando o bebê. 

 

— Vai Bin, mostra pra ele. 

 

O bebê então sorriu com seus pequenos dentinhos e colocou uma das mãozinhas no bolsinho do casaco que usava retirando um saquinho vermelho. 

 

— Surpresa! — o menininho gritou e levantou as mãozinhas. — Pra você papai. 

 

Taehyung sorriu e segurou o saquinho nas mãos, emocionado. 

 

— Chama-se omamori, serve para proteção, e espero que te dê boa sorte também. — Hoseok disse. 

 

O Kim segurou um dos lados do rosto de seu filho e beijou, logo após estendeu uma das mãos ao Jung e quando ele chegou perto o suficiente lhe deu um beijo, deixando suas testas encostadas por um tempo. Soobin ficou entre os dois outra vez e os olhava, puxando a gola da camisa de Hoseok, provavelmente irritado.

 

— Acho que ele está bravo. 

 

Ambos acabaram sorrindo mas não se separaram. 

 

— Amo vocês. — Taehyung respondeu, abrindo espaço para que Soobin pudesse se mexer. 

 

— Também amamos você. 

 

A família passou a tarde na residência do Jung, ajudando-o a colher os morangos de sua fazenda, ele não estava brincando quando disse que faria isto, e Taehyung fora quem o ajudou a realizar esse sonho desde menino antes de seguir carreira no exército o Jung sonhava ser fazendeiro, mas plantar e vender morangos também era o suficiente. 

 

Soobin corria livremente pelo gramado vez ou outra roubando um morangos dos cestinhos no chão, Hoseok e Taehyung estavam lado a lado realizando a tarefa quando o mais velho quebrou o silêncio. 

 

 A tempos vinha planejando algo, o Jung sempre quisera formar uma família, ter filhos, se casar… apesar de ter tido fama de namorador quando mais jovem, sempre fora homem de um amor só e com Taehyung sentia que havia encontrado o para toda a vida. 

 

— Tae. — chamou a atenção do namorado que colhia um pequeno morango vermelhinho. 

 

— Sim? 

 

— Já pensou em ter mais filhos… bem, digo… no futuro. 

 

A pergunta fez o Kim estremecer um pouco, na verdade não havia pensado nisso, ter outro filho… mas, poderia ser que Hoseok quisesse ter um? Consigo? 

 

— Quer ter um filho comigo? — a pergunta saiu mais rápido do que pode pensar. Seu rosto esquentou rapidamente e desviou o olhar do Jung para os morangos. — Desculpe… sua pergunta me pegou de surpresa. 

 

— A sua também. — Hoseok respondeu e riu um pouco antes de passar as mãos contra os cabelos. — Sim, claro que eu gostaria de ter um filho com você… mas isso, no futuro. 

 

Os ombros do Kim caíram, relaxando, por um momento pensou que o Jung fosse pedir para que tivessem um filho agora, e não estava preparado para ser pai outra vez. 

 

— Bem, eu não havia pensando nisso… mas agora… sim, eu gostaria. — Taehyung respondeu, fitando com ternura o namorado. — No futuro. 

 

— Quando você voltar da sua viagem, tenho uma surpresa, ok? Espere até lá. 

 

— O que? Não é justo! Agora vou morrer de curiosidade. — o Kim formou um biquinho nos lábios fingindo estar indignado e o Jung apenas o puxou para os braços sentando no gramado com o homem entre as pernas. 

 

Ele o abraçou por trás e o Kim sorriu. 

 

— Espere e verá, curioso. 

 

Passaram a tarde assim, colhendo morangos e conversando, e quando a noite chegou o Kim ficou para dormir, e de dependesse do Jung não demoraria muito mais para que Soobin e Taehyung passassem todas as noites consigo. 

 

[...] 

 

Jeongguk estava ansioso, como nunca esteve na vida, havia se passado uma semana desde que descobriu quem de fato era, e seus amigos prometeram que o levariam até sua cidade natal e que o ajudariam a procurar sua família, o Jeon não tinha palavras o suficiente para agradecer, principalmente a todo o apoio emocional que estavam lhe dando, o Park e o Kim tiveram apenas que resolver algumas coisas no hospital antes de marcar a viagem portanto tiveram que esperar mais alguns dias e nesses dias o moreno sequer conseguiu dormir, e quando o dia da viagem chegou o mais novo mal conseguia respirar, estava a ponto de surtar a qualquer momento. 

 

— Se acalme, Kook. — Jimin disse enquanto colocava a última mala no carro. Jeongguk gostava do apelido. — Aguente firme porque são algumas boas horas de viagem. 

 

— Parece que meu coração vai explodir, hyung. 

 

O rapaz sorriu, juntando as mãos suadas sobre o colo. 

 

— Ainda acho que deveríamos sei lá, pelo menos mandar uma mensagem nas redes sociais. — Namjoon disse, se encostando no carro. 

 

— E deixar todo mundo ansioso e talvez até matar alguém do coração? É melhor fazer isso pessoalmente, onde vão poder abraçar o Kook e enchê-lo de beijinhos.

 

Jeongguk sorriu, e Namjoon revirou os olhos antes de dizer um "todos a bordo" e entrar no carro seguido pelos dois homens. 

 

O que Jeongguk mais fez nessa semana de espera foi pensar, estava preocupado, ainda não se lembrava de nada, mas como Jimin disse, seu sonho no rio claramente fora uma projeção do dia em que desapareceu, entretanto isso era a única exceção, não se lembrava de mais nada, sequer do rosto de seu próprio pai, por mais que repetisse o nome do homem e dos amigos na mente nada vinha, então não parava de pensar em como seria? como reagiram? sobre o que conversariam? O que sentiria no momento em que os encontrasse? Teria medo? Na verdade, já estava com medo. 

 

Mas tentou se acalmar o máximo que pode enquanto imaginava apenas em sua cabeça como seria voltar para casa após três anos.

 

[...] 

 

Taehyung estava na rodoviária, seu ônibus já estava pronto para sair enquanto se despedia do filho, do Jung e de Yoongi. O homem beijou o menino várias vezes e o abraçou na mesma quantidade, seria a primeira vez que ficariam tão longe um do outro e se sentia triste demais, abraçou Hoseok fortemente e sentiu as primeiras lágrimas saírem. 

 

— Ei, não chore. — o Jung pediu, secando suas lágrimas. — Vamos estar aqui te esperando. 

 

— Te desejo boa sorte, senhor Kim. — Yoongi falou, um pouco acanhado ao lado do Jung. 

 

— Cuide bem de Soobin, ok? — o Kim pediu. 

 

— Pode deixar. 

 

Taehyung puxou o garoto para um abraço e antes que mudasse de ideia e desistisse da viagem apenas virou as costas e subiu no ônibus mandando beijinhos e tchauzinhos para os três da janela. Procurou um lugar para se sentar próximo a janela e continuou a se despedir até que o ônibus saísse do local e pegasse a estrada, suspirou e se recostou no banco, seria uma viagem um pouco longa e ficou feliz por ter trazido seus fones de ouvido. 

 

O rapaz acabou adormecendo metade do percurso, ainda com música em seus ouvidos, e quando despertou notou que estava ficando sem bateria e que haviam parado em um posto de gasolina para abastecer e também ir ao banheiro, aproveitou para avisar ao Jung sobre seu celular e perguntar como estavam nessas três horas de viagem longe dele. 

 

Quando voltou para o ônibus ficou olhando pela janela a paisagem, no intuito de não adormecer novamente. 

 

Haviam algumas montanhas e florestas, foram mais duas horas viagem até que o Kim visse uma plaquinha indicando que estavam entrando na cidade, as primeiras construções puderam ser vistas por ele, a cidade parecia estar comemorando algo pois haviam enfeites por todo lado e música logo na entrada, quanto mais o ônibus seguia mais alta a música ficava e logo pode-se notar várias pessoas também, todos ficaram curiosos e alguns levantaram de seus assentos para ver, Taehyung continuou olhando pela janela e pela quantidade de pessoas na rua o trânsito estava lento. Demoraria um pouco para chegar no hotel e precisava carregar seu celular o mais rápido possível. Sua atenção fora chamada assim que seu celular vibrou, era uma ligação de Hoseok, ele ponderou um pouco antes de atender, mas o fez.

 

— Hobi… oi… estou ficando sem bateria mas já cheguei na cidade! 

 

— O quê? Não estou te ouvindo… tem música  ai? 

 

— Acho que é um festival! 

 

Taehyung aumentou o volume de voz e mesmo assim o Jung não compreendeu muito bem. 

 

— O que disse? Tae… a ligação está péssima. 

 

— Festival! Estou passando por um… — o Kim se aproximou um pouco mais da janela e olhou ao redor, seus olhos percorreram todo o lugar. — Isso, é mesmo um festi… 

 

As palavras sumiram de sua boca assim que seus olhos naturalmente abaixaram um pouco mais e ele pode visualizar um carro, as janelas do carro estavam abertas e nele continham três homens, seus olhos passaram lentamente de um a um, e quando chegou aos fundos, nos bancos de trás, fora como se o mundo todo ao redor do Kim ficasse mudo, ele já não ouvia mais nada, nem mesmo a voz do Jung contra o celular o chamando a todo momento, suas mãos tremeram contra o aparelho e em uma fração de segundos o homem do banco traseiro se voltou para a janela e o encarou do outro lado. 

 

— Jeongguk… — o Kim voltou a falar, em um quase sussurro. 

 

O celular lentamente caiu de suas mãos e fora diretamente para o banco onde estava sentado, as últimas palavras que o Jung ouviu fora o nome do amigo e logo após o celular do Kim desligou pela falta de bateria. Ambos se encararam sem desviar o olhar nem por um segundo, Jeongguk parecia tão surpreso quanto o Kim no momento, pois aquele homem que o olhava como se o conhecesse era exatamente como em suas pinturas. 

 

Antes que pudessem perceber o trânsito se ajustou e o ônibus voltou a andar, Taehyung piscou os olhos como se tivesse sido liberado de um transe e sentiu o coração sobressaltar, seu único impulso fora correr para o fundo do ônibus e continuar olhando pela janela, ele ainda estava lá, não era um sonho. 

 

Sua respiração tornou-se rala e seu peito passou a subir e descer sem parar, principalmente quando o perdeu de vista. 

 

Se desesperou, e olhou em todas as janelas procurando-o novamente, não poderia estar delirando, certo? 

 

Não se conteve em correr até o motorista e pedir para que parasse o ônibus, o homem até tentou negar, mas o jovem chorava desesperado, não pode negar. 

 

O Kim não se importou com nada, apenas saltou os degraus do ônibus e correu, olhando para todos os lados. 

 

Não poderia ter enlouquecido, não era um sonho, ele o viu, tinha certeza, mas onde ele estava? 

 

Procurava o carro prateado por todo lugar mas haviam vários e muitas pessoas atrapalhavam seu caminho, esbarrou em algumas no processo mas não parou de seguir em frente. 

 

E quando seu desespero se tornou maior, apenas colocou as duas mãos em forma de concha na boca e gritou a todo pulmões. 

 

— Jeongguk-ssi! Jeongguk! — olhava ao redor procurando por algo com as vistas embaçadas.  — Jeongguk-ah! Onde você está!? 

 

As pessoas olhavam para si assustadas, mas não se importava em parecer um louco. Acabou tropeçando e parando um pouco para puxar o ar para os pulmões, quase não conseguia respirar. 

 

— Jeonggukie... — murmurou, choroso. — Deus… me diga que não enlouqueci… deus… por favor… — soluçou e cobriu o rosto com as mãos, desabando. 

 

Chorou como uma pequena criança, não conseguia acreditar que mesmo após anos sua mente ainda pregaria esse tipo de peça, seu peito doía o suficiente para fazer seus joelhos fraquejarem, abraçou o próprio corpo com os olhos fechados. 

 

— Por quê? Por quê? Meu deus… — murmurava. 

 

Jeongguk também havia pedido para os amigos encostarem o carro, ele saiu e correu o mais rápido que pode, mas o homem que viu não estava em nenhum lugar, Jimin e Namjoon tentaram o acompanhar, mas acabaram chegando um pouco depois do rapaz, que virou uma esquina e acabou encontrando o homem misterioso que sempre apareceu em suas pinturas. 

 

Ele estava chorando e seu coração rapidamente se apertou com isso, sua vontade era de tocá-lo de alguma forma, mas ao invés disso apenas apertou os passos e parou a frente do homem ainda com os olhos fechados e rosto avermelhado. 

 

O Jeon não sabia o que sentir, seu coração estava acelerado, e seu estômago gelado, quem era aquele homem? E porque chorava tanto? 

 

Uma de suas mãos se levantou e seus dedos se esticaram na intenção de tocá-lo, mas logo os recolheu, e fechou as mãos em punhos ao lado do corpo. 

 

Tinha que ter coragem o suficiente. 

 

Então engoliu a seco e partiu os lábios. 

 

— Quem… é você? 

 

A voz suave soou e fez Taehyung paralisar, ele prendeu a respiração e seus olhos se abriram, Jeongguk estava bem a sua frente.

 

Os cabelos negros estavam rebeldes e quase encostavam em seus ombros, ainda sim era Jeongguk. 

 

Os joelhos do Kim cederam e ele foi ao chão, assustando o Jeon que se ajoelhou rapidamente e tocou seus ombros, instantaneamente o rapaz sentiu os dedos formigarem e uma descarga elétrica passar por seus corpos o fazendo se afastar, já o Kim estremeceu e usou suas últimas forças para levantar ambas as mãos e tocar o rosto do rapaz que agora o encarava assustado. 

 

O Kim mal conseguia enxergar e respirar pelas lágrimas, mas ao tocar o rosto de Jeongguk soube que não estava sonhando, sua testa franziu e seus olhos ficaram cada vez mais pesados… 

 

— Jeon...gguk… — mas um nome soou de seus lábios antes que seu corpo perdesse as forças e que ele caísse de encontro ao peito do Jeon. 

 

— Ei...ei…meu deus… você está bem? — Jeongguk se assustou mas abraçou o corpo do rapaz desconhecido. 

 

Logo Jimin e Namjoon chegaram e visualizaram Jeongguk abraçado com um homem no chão. 

 

Jeongguk nem sabia o porquê de estar chorando, somente quando sua voz chorosa soou que fora possível notar. 

 

— M-me...ajudem.