A casa dos Guerra estava tranquila naquela manhã. Pelo menos, até aquele momento.
− Lucas Gusman Guerra, eu não vou te chamar de novo. Da próxima eu entro com um balde de água e jogo na sua cabeça. – Alicia socou a porta do quarto do filho adolescente, que resmungou – Anda, menino. Seu pai tem horário para chegar na escola, ele é professor!
− Gata, a ideia é fazer nosso filho adolescente não nos odiar, sabia? – Paulo passou pela esposa, Anne em seu colo e Isis segurando sua mão – Falem bom dia para a mamãe, princesas.
− Você fica com a parte fácil, que é acordar elas. – Alicia abraçou Isis e beijou o rosto de Anne – A senhorita não está muito grande para ficar andando no colo do papai, hein? Afinal, hoje já começa no terceiro ano.
− Deixa eu carregar ela enquanto eu posso, Alicia. A Isis tem 11 anos e já se acha uma mocinha, e o Lucas virou um aborrecente chato de 15 anos que tem vergonha da gente. A Anne é a única que deixa eu tratar ela como um bebê.
− Ela faz isso porque te amolece e depois você não é duro no castigo, Guerra. – Alicia revirou os olhos, observando a família descer as escadas da casa em que agora viviam – Lucas...
− Calma, dona onça, já acordei. – o garoto abriu a porta do quarto, bocejando.
− Ai, que saudade de quando você era um garotinho fofinho que me enchia de beijos e dizia que eu era linda.
− Ainda posso fazer isso, mãe. – Lucas a abraçou apertado, beijando sua bochecha. Já estava mais alto do que a mãe, e quase passando o pai – Bom dia, mulher mais linda e reclamona do mundo.
− É filho do seu pai mesmo, não tem jeito.
− Pai, a mamãe anda duvidando de novo da minha paternidade. – Lucas gritou, recebendo um beliscão.
− Ah, filho, já desisti. Um dia o padeiro ainda aparece aqui dizendo que você é filho dele. – Paulo dramatizou da cozinha, fazendo a família rir – Muito bem, trio de monstrinhos... Comendo que eu ainda preciso deixar sua mãe na loja.
− Vocês podiam comprar dois carros, sabiam? – reclamou Lucas – Dinheiro para isso, nós temos.
− É, mas o planeta Terra continua pedindo socorro, Lucas. Carros são menos poluentes do que 20 anos atrás, mas ainda assim emitem poluição, geram trânsito... Se o trabalho da mamãe é caminho do trabalho do papai, podemos ir juntos e preservar o meio ambiente. – bronqueou Isis.
− Graças a Deus, um deles saiu inteligente e certinho. – Paulo sussurrou para Alicia, que riu.
− Sua irmã está certa, Lucas. Mas o papai tá com a cabeça nas nuvens, porque hoje eu vou com vocês para a escola.
− Ah, é verdade. Primeiro dia de aula. – lembrou o Guerra – O conselho diretor da escola tem que estar presente para dar as boas-vindas aos alunos e professores.
− Qual a vantagem de ter meus pais, meus padrinhos e todos os meus tios no conselho diretor, se eu ainda assim me encrenco? – reclamou Lucas.
− A vantagem é que você anda na linha, Lucas. – ralhou Alicia, virando a xícara de café – Deus sabe o que os genes do seu pai e o meu combinados fariam com você se não tivesse supervisão constante.
− Ele seria que nem eu. – riu Anne, a boca toda suja de Nutella.
− Princesa, tente fazer menos artes com o Heitor, por favor. A professora do ano passado quase não aguentou. – pediu Paulo, se arrepiando ao imaginar como seria dar aula para a dupla dali alguns anos.
Em oito anos, a vida da família Guerra só havia melhorado. Mesmo com as peraltices de Lucas, e depois de Anne, e a difícil missão de criar três filhos, Paulo e Alicia continuavam juntos, felizes e vencendo. A LIOA Toys se tornou um grande sucesso, tendo aberto até uma filial, que era cuidada por Laura, e Paulo hoje era coordenador do oitavo e nono ano do colégio, além de professor de matemática dos respectivos anos.
Lucas estava ingressando o primeiro ano do Ensino Médio, cheio de ansiedade, enquanto Isis cursava o sexto ano e Anne se preparava para ingressar o terceiro. O último fato, particularmente, estava causando emoção aos seus pais. Há 30 anos eles tinham estado no mesmo lugar que a caçula, e sua vida mudou para sempre.
No fundo, torciam para que a dele tivesse a mesma sorte.
− Muito bem, todo mundo indo se trocar. Saímos em 15 minutos. – avisou Alicia, vendo os três filhos saírem correndo.
Paulo sorriu, caminhando para a esposa e a abraçando pela cintura. Trocaram um beijo delicado, se encarando.
− Obrigada pro ter cumprido nossa promessa, Guerra, sempre.
− Eu que te agradeço por isso, Gusman Guerra. – sorriram de novo, se beijando mais uma vez.
− Ah, vocês são tão fofinhos. – ouviram na porta, e se viraram encarando os três filhos ali – Eu nem tenho nojo de ver vocês se beijando.
− Eu também não. – riu Isis, abraçando a caçula.
− Eu não posso ter nojo porque eu faço igual. – Lucas deu de ombros, e Alicia arregalou os olhos.
− Você faz o que, Lucas Gusman Guerra? – ela saiu marchando, vendo o filho agarrar as duas irmãs e sair correndo, com Paulo indo atrás do cortejo, todos gargalhando.
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