Huening Kai piscou os olhos rapidamente, ainda meio atordoado com o barulho irritante do despertador. Sua cabeça latejava levemente, e ele se sentia exausto, como se não tivesse dormido nada. Olhou ao redor e viu o diário aberto ao lado de si, com algumas páginas amassadas. Ele havia caído no sono enquanto tentava ler... mas a sensação de inquietação ainda o acompanhava.
Ele sentou-se na cama, esfregando os olhos. O ar no quarto ainda parecia denso, quase pesado, como se a presença dos quatro garotos ainda estivesse lá, observando. Olhando para o diário, Huening Kai sentiu um misto de medo e curiosidade. Havia algo que ele precisava descobrir, mas ao mesmo tempo, ele sentia uma sensação crescente de perigo. Será que os fantasmas estavam dizendo a verdade? E se ele estivesse se metendo em algo muito maior do que poderia lidar?
Suspirando, ele levantou-se da cama, largando o diário na escrivaninha ao lado. Precisava se concentrar na escola, mesmo que sua mente estivesse a mil. No fundo, uma parte dele sabia que o mistério ainda o esperava.
Após um banho rápido e colocar seu uniforme, desceu as escadas e cumprimentou a mãe com um leve aceno, pegando um pedaço de pão antes de sair correndo pela porta.
O caminho para a escola parecia diferente naquele dia. O ar estava frio, mais do que o normal para aquela época do ano. Huening Kai observava o caminho à sua frente, mas sua mente estava a quilômetros de distância, perdida nos eventos estranhos da noite anterior.
Ao chegar na escola, encontrou seus amigos no pátio, como sempre, rindo e conversando. Mas Kai sentiu-se desconectado, como se estivesse vendo tudo de longe. As risadas e as vozes pareciam abafadas, como se ele estivesse preso em uma bolha.
— Ei, Kai! — chamou um de seus amigos, acenando para ele. — O que você tem? Tá meio esquisito hoje.
Huening Kai forçou um sorriso, tentando afastar os pensamentos perturbadores. — Nada... só não dormi bem.
— Bom, você parece que viu um fantasma, cara! — disse outro, rindo.
O comentário fez o coração de Huening Kai acelerar por um segundo. Ele riu nervosamente, tentando disfarçar. Se ao menos eles soubessem...
As aulas passaram como um borrão, com Kai mal conseguindo se concentrar em qualquer coisa. Sua mente voltava constantemente ao diário e às sombras que o assombravam. Ele precisava descobrir o que estava acontecendo, mas não sabia por onde começar.
Quando a última aula finalmente acabou, Huening Kai decidiu que não podia mais esperar. Ele voltaria para casa e terminaria de ler o diário, custe o que custar. Havia algo naquele livro que ele precisava entender, algo que poderia ser a chave para libertar os garotos... e talvez a si mesmo.
Com essa decisão tomada, Kai sentiu um arrepio correr por sua espinha. Estava entrando em um território desconhecido, e, no fundo, sabia que as respostas que procurava poderiam não ser tão fáceis de aceitar.
Ao chegar em casa, Huening Kai largou a mochila no chão e subiu rapidamente as escadas, seu coração acelerado com a ideia de finalmente desvendar o mistério do diário. A sensação de estar sendo observado havia diminuído durante o dia, mas algo dentro dele dizia que as coisas estavam longe de terminar.
Ele entrou em seu quarto, fechou a porta e foi direto para o diário sobre a escrivaninha. Respirou fundo antes de abrir as páginas novamente. As palavras pareciam pulsar na folha, como se estivessem esperando que ele voltasse para terminar o que havia começado.
Enquanto ele folheava as páginas, algo estranho começou a acontecer. O ar ao seu redor ficou levemente mais frio, mas desta vez, a sensação não era ameaçadora. Era quase... reconfortante. Um arrepio percorreu sua espinha, mas não era de medo. Era como se uma presença suave estivesse próxima, observando, cuidando.
Ele parou de ler por um segundo e olhou ao redor. O quarto estava vazio, mas Huening Kai sabia que alguém estava ali. Ele podia sentir, embora não pudesse ver.
— Quem... quem está aqui? — perguntou em um sussurro, mais para si mesmo do que para esperar uma resposta.
Um silêncio envolveu o quarto por um momento. E então, ele sentiu. Uma leve brisa acariciou seu rosto, algo sutil, mas que fez seu coração bater mais rápido. A sensação era familiar, quase como uma lembrança distante de alguém que sempre esteve ao seu lado. Ele se lembrou do que os garotos haviam dito na noite anterior – que precisavam dele, que estavam conectados de alguma forma.
— Soobin? — ele arriscou, sentindo a presença mais forte. — É você?
Por um instante, nada aconteceu. Mas então, uma leve ondulação no ar fez as cortinas balançarem suavemente, e o frio aumentou ligeiramente, como uma resposta silenciosa.
— Você estava me seguindo? — Kai perguntou, sua voz cheia de incerteza, mas com um toque de esperança.
De repente, uma leve pressão em seu ombro, quase imperceptível, fez com que ele olhasse para o lado. Não havia ninguém, mas ele sabia que Soobin estava ali, de alguma forma. Aquela presença protetora, calma e firme, era inconfundível.
— Por que você... está cuidando de mim? — sussurrou Huening Kai, tentando entender. — Eu nem te conheço direito...
Mas no fundo, ele sentia que não era verdade. Havia algo sobre Soobin, algo familiar. Talvez fosse por isso que ele se sentia tão conectado a esse fantasma em particular. Mesmo que não soubesse explicar, havia uma sensação de segurança sempre que Soobin estava por perto.
As páginas do diário começaram a se mexer sozinhas, e Huening Kai observou com os olhos arregalados enquanto uma nova página se abria diante dele. Lá, em uma caligrafia cuidadosa, havia uma anotação que ele ainda não tinha lido.
"Eu sempre estarei com você, Kai. Mesmo na escuridão, eu serei a luz que te guiará."
Seu coração saltou ao ler aquilo. Era como se Soobin estivesse se comunicando diretamente com ele. As palavras eram simples, mas carregavam um peso emocional que fez seus olhos se encherem de lágrimas.
— Soobin... — Kai murmurou, sentindo uma mistura de conforto e tristeza.
O quarto permaneceu em silêncio, mas a presença de Soobin nunca foi tão clara. Huening Kai percebeu que, desde o momento em que havia encontrado o diário, não estava sozinho. Soobin estava lá, velando por ele de longe, guiando-o, protegendo-o.
Huening Kai respirou fundo e passou as mãos pelo diário, decidido. Ele não estava apenas tentando resolver um mistério; estava ajudando alguém que, de certa forma, já havia ajudado muito a ele. Soobin e os outros precisavam de descanso, e Kai sabia que faria de tudo para libertá-los.
Mas havia uma ligação especial com Soobin. Ele sentia isso no fundo de seu coração. Talvez, mais do que os outros, Soobin estivesse preso à sua história de uma forma que nem ele compreendia. E agora, Huening Kai tinha a responsabilidade de descobrir o que os conectava... e, quem sabe, trazer paz para ambos.
Com um último olhar para o quarto, sabendo que Soobin ainda estava por perto, Kai voltou ao diário. Desta vez, com uma nova determinação, ele começou a ler, pronto para enfrentar o que quer que viesse a seguir.
Huening Kai continuou lendo o diário, passando pelas histórias dos quatro amigos, suas aventuras e momentos de alegria. Mas, de repente, as palavras começaram a desaparecer. As últimas páginas estavam completamente em branco. Ele franziu a testa, virando as páginas lentamente, tentando entender por que, de repente, a narrativa havia parado.
— Por que elas estão em branco? — ele murmurou para si mesmo, sentindo que havia algo faltando.
Ele fechou o diário e olhou ao redor, sabendo que Soobin, ou talvez os outros fantasmas, estavam ali perto. Era hora de obter respostas. Se eles queriam sua ajuda, ele precisaria saber toda a história, e não apenas partes fragmentadas.
— Eu preciso saber o que aconteceu com vocês — disse em voz alta, esperando que, de alguma forma, os fantasmas o ouvissem. — Por que as últimas páginas estão em branco?
Por um momento, o quarto permaneceu em silêncio, mas logo uma leve corrente de ar percorreu o ambiente, e Huening Kai soube que os garotos estavam por perto. Ele sentiu a presença de Taehyun, Beomgyu e Yeonjun se aproximando, enquanto Soobin mantinha-se próximo, como sempre.
— Não está tudo no diário, Kai — uma voz suave ecoou no ambiente. Era Taehyun, sua presença quase tangível. — Algumas coisas... não conseguimos lembrar completamente.
— Ou talvez apenas não queremos lembrar — Beomgyu acrescentou, sua voz carregada de uma tristeza que Huening Kai nunca tinha ouvido pelo mesmo antes.
Kai olhou para o canto do quarto, onde as sombras dos quatro garotos começaram a tomar forma. Eles não eram totalmente visíveis, mas suas silhuetas eram claras o suficiente para que ele soubesse quem era quem.
— Então, o que aconteceu? — Kai perguntou, olhando diretamente para Soobin. — Vocês falaram sobre um pacto, sobre estarem presos. Como isso tudo começou?
Soobin, que sempre parecia ser o mais calmo e controlado, hesitou por um momento. Seus olhos tristes se voltaram para o diário.
— Não foi algo que planejamos... — Soobin começou, sua voz baixa e cautelosa. — Tudo começou como uma brincadeira. Nós éramos inseparáveis, e sempre fazíamos promessas uns aos outros. Mas houve uma vez... uma noite em que fizemos uma promessa que não deveríamos ter feito.
— Que tipo de promessa? — Kai perguntou, seu coração acelerando.
— Um pacto de que seríamos amigos para sempre... na vida e na morte — Yeonjun respondeu, sua voz ecoando com um peso que parecia preencher o quarto. — Na época, parecia algo inofensivo. Era apenas uma brincadeira para nós. Mas algo... algo deu errado.
Taehyun suspirou, cruzando os braços enquanto olhava para Kai.
— Não entendíamos as consequências do que estávamos fazendo. E quando... — Ele hesitou, como se a memória fosse dolorosa demais. — Quando morremos, descobrimos que estávamos presos. Algo nos segurava aqui, e achamos que tem a ver com o pacto que fizemos naquela noite.
Kai franziu a testa, tentando processar tudo aquilo. Um pacto de amizade que os ligava na morte? Era difícil acreditar que uma promessa pura entre amigos pudesse resultar em algo tão sombrio.
— E agora? — Kai perguntou, tentando juntar as peças. — Vocês acham que eu posso ajudar a quebrar esse pacto? Que eu posso libertá-los?
— Não temos certeza, mas sentimos que você é a nossa última esperança — Soobin respondeu, com uma voz calma, mas carregada de esperança. — Desde que você encontrou o diário, algo mudou. Achamos que você pode nos ajudar a encontrar o que está faltando... o que nos mantém aqui.
Huening Kai olhou para o diário novamente, sabendo que as respostas estavam de alguma forma conectadas àquelas páginas em branco. Mas, por enquanto, ele queria aliviar a tensão. Tudo aquilo era pesado demais, e ele sentia a necessidade de tentar uma abordagem diferente.
— Vocês costumavam brincar juntos, certo? — Kai perguntou, se levantando e pegando a caixa de brinquedos que havia recebido. Ele sorriu, tentando desviar da tristeza que parecia estar impregnada no ar. — Por que não fazemos isso agora? Vocês não disseram que gostavam de jogos?
Os garotos trocaram olhares surpresos. Beomgyu foi o primeiro a sorrir, uma leve risada escapando.
— Isso parece... divertido. — Beomgyu deu de ombros, parecendo aliviado por um momento de leveza.
— Brincar? Agora? — Taehyun olhou para Beomgyu e depois para Kai, arqueando uma sobrancelha. — não sei se consigo ainda jogar, devo ter esquecido metade de como jogar.
— Aposto que vocês ainda sabem jogar — Kai respondeu, rindo. — Vamos, não pode ser tão difícil. Escolham um jogo.
Ele abriu a caixa e tirou alguns dos jogos de tabuleiro antigos, colocando-os sobre a cama. Embora os fantasmas não pudessem tocá-los fisicamente, Kai sabia que sua presença influenciava os objetos ao redor. Talvez, apenas talvez, eles pudessem se envolver de algum jeito.
Soobin sorriu suavemente, sua figura vagamente visível na luz do quarto.
— Acho que poderíamos tentar, pelo menos uma vez.
Com isso, Huening Kai começou a arrumar o tabuleiro para uma partida
Huening Kai terminou de arrumar o tabuleiro, escolhendo um jogo simples, que não exigisse muito planejamento ou regras complexas. Ele olhou para os quatro fantasmas à sua volta, que agora pareciam mais relaxados, quase animados para o que estava por vir. A tensão no ar, que antes pesava como uma sombra invisível, começava a se dissipar.
— Prontos? — Kai perguntou, sorrindo enquanto segurava os dados.
Beomgyu, que sempre parecia ser o mais animado entre eles, se inclinou para ver melhor o tabuleiro, mesmo que ele não pudesse tocar fisicamente as peças.
— Eu nasci pronto, Kai! Vamos nessa!
— Como se você fosse ganhar — Taehyun provocou, cruzando os braços com um sorriso desafiador.
— Quer apostar? — Beomgyu retrucou, rindo.
Kai jogou os dados e moveu as peças pelo tabuleiro. Enquanto ele explicava as regras e avançava com o jogo, os fantasmas se envolveram de uma maneira surpreendentemente natural. Eles comentavam sobre as jogadas, provocavam uns aos outros e riam de maneira leve, como amigos de longa data que haviam esquecido, mesmo que por um momento, o peso de suas circunstâncias.
— Não acredito que você escolheu essa peça, Taehyun — Beomgyu disse, rindo enquanto observava a peça avançar pelo tabuleiro. — Você sempre escolhe os personagens mais fracos.
— Não subestime minha estratégia — Taehyun respondeu, sorrindo com confiança. — Eu posso ser quieto, mas sou imbatível nos jogos.
Kai riu alto ao ver a interação entre eles. Era estranho como, apesar de serem fantasmas, eles pareciam tão... vivos. Suas piadas e provocações faziam com que o clima sombrio que antes envolvia o quarto se transformasse em uma atmosfera de pura diversão.
— E você, Soobin? Não vai dizer nada? — Kai perguntou, notando que Soobin observava o jogo com um sorriso leve nos lábios, mas sem se envolver tanto quanto os outros.
— Só estou esperando o momento certo para entrar em ação — Soobin respondeu, sua voz calma e serena. — Às vezes, os que falam menos são os que mais surpreendem.
— Claro, claro... — Beomgyu revirou os olhos, mas estava claramente se divertindo.
A cada rodada, a tarde passava de forma leve e despreocupada. Kai se sentia estranho por estar se divertindo tanto com os garotos, considerando que sabia que eram almas presas, buscando descanso. Mas, ao mesmo tempo, aquela interação fazia com que tudo parecesse mais normal, como se fossem apenas amigos passando o tempo juntos.
— Olha só! — Kai exclamou, movendo sua peça para a frente e ganhando uma vantagem no jogo. — Acho que vou ganhar!
— Não tão rápido, Kai — Yeonjun disse, com uma risada brincalhona. — As coisas podem mudar num piscar de olhos.
Mesmo com todas as provocações, as risadas ecoavam no quarto, preenchendo o espaço com uma energia positiva que, para Huening Kai, parecia curar, ao menos temporariamente, a tristeza que cercava aqueles garotos. Ele podia ver que, mesmo sendo fantasmas, eles ainda eram jovens, com sonhos e desejos que foram interrompidos muito cedo. E talvez, naquele momento, brincar fosse uma maneira de lembrar quem eles eram antes de tudo dar errado.
As horas passaram sem que Kai percebesse, e quando ele finalmente ganhou o jogo, houve uma explosão de risadas e zombarias.
— Eu disse que ia ganhar! — Kai declarou, rindo enquanto recolhia as peças do tabuleiro.
— Você teve sorte, só isso — Taehyun respondeu, rindo. — Mas foi divertido.
— Faz tempo que não me divirto assim — Soobin comentou suavemente, olhando para os outros com um sorriso que, apesar de ser leve, trazia um tom melancólico.
— Eu também — Beomgyu disse, assentindo. — Isso foi... bom.
Kai olhou para eles, sentindo uma mistura de alegria e tristeza. Ele sabia que aquele momento de diversão não mudava a realidade de que os garotos ainda estavam presos, suas almas incapazes de descansar. Mas, ao menos por aquela tarde, eles puderam sentir um pouco da normalidade que perderam.
— Podemos fazer isso de novo — Kai sugeriu, se levantando e guardando as peças. — Quando quiserem.
Os garotos assentiram, e mesmo sem palavras, Kai pôde ver em seus olhares que eles estavam agradecidos por aquele momento.
— Obrigado, Kai — Soobin disse, sua voz suave, mas cheia de sinceridade. — Isso significou muito para nós.
— Você nos ajudou a distrair sobre isso tudo - Yeonjun diz sorrindo
Kai sorriu, sentindo uma conexão com aqueles garotos que ele mal conhecia, mas que agora pareciam tão próximos.
— Eu estou aqui para vocês — ele respondeu, olhando para o diário sobre a cama. — E, juntos, vamos descobrir como libertar vocês desse lugar.
Os quatro fantasmas sorriram de volta, e, por um breve momento, o quarto pareceu mais quente, mais acolhedor. Mesmo sem saber como, Kai sentia que aquela tarde de diversão não era apenas uma pausa nas preocupações. Era um passo importante para o que estava por vir.
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