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História 4 Weeks of Pleasure - Vocês são ridículas! Isso é absurdo. - História escrita por jpreponschilling - Spirit Fanfics e Histórias
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História 4 Weeks of Pleasure - Vocês são ridículas! Isso é absurdo.


Escrita por: jpreponschilling

Capítulo 15 - Vocês são ridículas! Isso é absurdo.


Por Alex

Desenhei sua boca com meu indicador e ela me mordeu.

- Ai.

- Foi só uma mordida de leve.

- Doeu.

- Frouxa. - Ela tinha uma risadinha safada e sedutora.

- A gente vai começar isso de novo?

- Se você quiser. - Ela estava passando os dedos pelo meu estômago e eu quis querer. Mas eu estava fraca, cansada e sonolenta.

Piper beijou meu queixo e meu pescoço. Eu a abracei com força e a espremi contra os travesseiros.

Você quer ser uma mulher forte, resistente e potente. Mas tem hora que a natureza diz não, agora não dá. E aí você faz o quê?

- E então? O que você aprontou hoje? - Eu precisava mudar de assunto. Fazê-la pensar em algo que não fosse sexo e dar a minha amiga pelo menos alguns minutos para se recuperar e ver se ela conseguiria enfrentar mais uma batalha.

- Arrumei mais da sua zona. Estou bem perto de acabar, ouviu? Vou querer meu vídeo.

Já tinha notado que ela fazia isso. Falava do vídeo quando queria falar de sexo. Isso ia ser difícil.

- Vai ter. A casa está incrível, Piper. Eu juro que tenho aquelas fotografias emolduradas da França há anos e nunca as tinha pendurado.

- Você não sabe usar um martelo? - ela riu.

- Eu acho que nem tenho um martelo.

- E não tem mesmo. Tive que pegar um emprestado com a Nicky. Que tipo de pessoa não tem ferramentas em casa?

- Ah! E quem está proferindo preconceitos, agora? - belisquei seu nariz e ela se contorcer entre meu braço e os travesseiros tentando fugir de mim.

Ela era linda daquele jeito. Sem qualquer maquiagem. O cabelo despenteado. Vestindo uma de minhas camisas sociais.

Obviamente, ela também era linda quando se produzia. Mas era gostoso vê-la assim: sem escudo ou armadura. Vulnerável.

- E parece que você fez amizade com os vizinhos.

- É. Mas ainda não comprei os presentes de agradecimento que você pediu.

- Já tinha me esquecido disso. - Piper revirou os olhos para mim. - E se eu fizesse uma festa? Uma pequena reunião com os vizinhos, sabe? O que acha?

- Sei lá - deu de ombros. - A casa é sua.

- É, mas é você quem já conheceu a comunidade inteira. - Apertei meus dedos em sua cintura e a reação foi um pouco mais exagerada do que eu antecipei - Você sente cosquinhas! - Ah, eu estava maravilhada com a ideia de torturá-la.

- Não, não sinto. - Ela estava com a mandíbula travada e segurava minhas mãos com uma força animalesca, mas eu mexi os dedos de novo e ela deu um pulo.

- Para, Vause! Para! - ela reclamava e tentava se mexer enquanto eu a mantinha esmagada embaixo de mim.

- Peça pinico! - expliquei - Peça e eu paro.

- Nunca! Pare ou eu jogo o cachorro em cima de você!

Parei, rindo.

- É, você já mostrou que é profissional em fazer isso.

- Ha-ha-ha. seu sorriso com a língua estirada me fez rir mais ainda.

- Acho que vou convidar os vizinhos, então,

- Eu posso fazer isso. À medida que sua zona vai ficando sob controle, eu tenho cada vez menos pra fazer.

- Tudo bem. Obrigada. Sexta-feira, pode ser?

- Não. Pode ser no sábado.

Eu ri e beijei sua bochecha. Ela não conseguia parar de ser mandona.

- Tem planos para sexta?

- Na verdade, tenho.

Toda a brincadeira se diluiu e eu me peguei engolindo a seco. Era o que eu imaginava desde o começo: ela estava só brincando comigo?

- Tem um encontro, é? - Tentei dar um tom jocoso a minhas palavras, mas senti o incômodo impresso em cada sílaba. Ela me beijou devagar, provocando com sua língua, e eu me acalmei.

- Vou ajudar Lorna com uma coisa.

- Sexta à noite?

- É.

- Ah. Tudo bem.

- O que foi?

- Nada, é só que. Acho que seria interessante te levar para um encontro decente algum dia, sabe? - Ajeitei seus cabelos atrás da orelha.

- A gente dá um jeito.

- É - Beijei sua boca mais uma vez e desejei boa noite antes de apagar a luz.

- Alex? - ela me chamou, no escuro, depois de alguns segundos de silêncio.

- Sim?

- Posso te perguntar uma coisa? É... sobre um assunto delicado.

- Pode. Claro.

Ela acendeu a luz e eu fiquei preocupada.

Piper se sentou na cama eu me apoiei sobre um cotovelo. Ela tinha a testa nas mãos e parecia seriamente perturbada.

- Ei! O que foi? - Acariciei seu braço e me levantei para abraçá-la, mas ela me manteve a uma certa distância.

- Eu não sou uma pessoa decente. E você é.

- Piper, está tarde para discussões filosóficas - sorri, tentando incentivá-la.

- É que eu não sei o que fazer com uma coisa e... E pensei que talvez você pudesse me dar uma sugestão.

- Tudo bem. O que é?

- É sobre o cara com quem eu fiquei. - Ela falou rápido, como quem arranca um curativo, e depois ficou em silêncio esperando minha reação.

Engoli a seco. Não era um assunto que me agradava, mas ela parecia realmente precisar falar sobre aquilo.

- O que tem ele?

- O que eu faço? Digo alguma coisa para a mulher dele ou fico quieta e não me meto no que não é da minha conta?

- Eu não sei, Piper. Eu não conheço.

Não sabia o que dizer.

Odiava o homem.

Muito.

E não era só porque ele era um crápula casado que traía a mulher.

Mas porque ele tinha ficado com Piper. Com a minha Piper. Tinha colocado suas mãos nojentas nela e beijado sua boca e... E mesmo que ele fosse o solteiro mais solteiro da história do Universo eu ainda o odiaria. Ele ser casado só facilitava a questão.

- Acho que isso foi uma má ideia, não é? - Ela se esticou para apagar a luz e eu segurei sua mão. Um relacionamento com Piper era como uma pescaria: você não pode afastar o peixe. Ela estava se abrindo para mim. Estava pedindo meu conselho e minha ajuda. Se eu a afastasse agora, ela pode nunca mais voltar

- Você é uma pessoa decente. Mesmo que duvide disso às vezes. E é a pessoa mais inteligente que eu conheço.

- Está tentando me seduzir com elogios, Vause?

- É verdade. Seja lá o que for melhor, eu tenho certeza de que você vai descobrir. E vai fazer a coisa certa.

- Você tem confiança demais em uma pessoa que passou a vida inteira fazendo a coisa errada.

- Você não fazia coisas erradas, Piper. Você fazia o certo para o que você queria. Você sempre quis se proteger e sempre conseguiu. Se quiser proteger outra pessoa, vai descobrir a coisa certa também.

Ela segurou meu rosto entre as mãos e pôs seus lábios nos meus de um jeito tão espontâneo e gentil que eu senti meu corpo inteiro se arrepiar.

Talvez aquilo fosse realmente possível.

Talvez ela estivesse realmente apaixonada por mim.

(...)

Por Piper

Sequei o cabelo, enrolei uma toalha no corpo e abri a porta do box.

Alex estava nua, escovando os dentes.

- Você precisa ficar nessa indecência?

Ela mordeu a escova, andou na minha direção e arrancou minha toalha.

- Ei! reclamei, me tapando, enquanto ela enrolava minha toalha ao redor do próprio corpo.

- Que foi? - Sua dicção estava estranha por causa da pasta na boca

- Você não disse que eu devia vestir algo?

- Sim. Mas não o meu algo. - Tentei puxar a toalha de volta ela lutou por alguns segundos antes de ceder. Estava claramente só tentando me provocar. Se realmente quisesse a toalha, teria puxado mais forte do que eu e teria ficado com ela. Por alguns segundos, é claro: até eu enfiar o pé contra sua virilha e pegar de volta o que me pertencia.

- Quando é a audiência da ação de danos morais?

- A que você descobriu algo que não quer me dizer? - ela estava vestindo a calça por cima da calcinha.

- É - sorri satisfeita. - Quero saber quanto tempo você ainda vai fingir que não precisa implorar.

- Depois de amanhã. E eu não vou implorar porque eu descobri o que é.

Me aproximei dela e fechei um pouco os olhos, analisando a veracidade de suas palavras. Tenho certeza de que vi um sorriso em seus lábios.

- Não, você não descobriu - decidi.

- Ainda não - completou, vestindo a blusa. - Mas vou descobrir.

- Não vai, não - cantei. Eu ia sair do quarto para buscar minhas roupas quando Vause puxou minha toalha mais uma vez. Ia me virar para gritar e lhe dar um tapa, mas, quando dei por mim, ela tinha as mãos na minha cintura e estava me jogando na cama.

Vi quando ela abriu a calça e desceu. Mordi minha língua.

- Você vai se atrasar.

Arreganhou minhas pernas com força e lambeu as pontas dos dedos e passou na minha vagina para lubrificá-la.

- Não vou, não.

Eu ainda estava seca quando ela se encaixou encontrando nossas intimidades.

Mas a sensação da sua camisa de cetim por cima dos seus perfeitos seios contra os meus nus logo estava me estimulando loucamente.

Foi rápido e gostoso tê-la se esfregando gemendo com força. Ela gozou primeiro, mas não parou de estimular meu clitóris com os dedos até que eu a acompanhasse.

Depois se limpou na minha toalha e vestiu a calça.

- Tchau, querida.

Já estava na porta quando deu a volta.

- Esqueci de perguntar! - disse tocando a testa. - Vamos ter uma pequena comemoração no escritório. Vai ser amanhã à noite. Vem comigo?

Mordi o lábio e diz que sim.

Ela sorriu, piscou para mim e se foi.

(...)

- Ta. Então a gente fala com a Shelbi.

- Você parece mais confiante hoje. O que aconteceu, Greenpeace? - A pergunta foi boba e retórica, mas o jeito como ela prendeu a respiração me assustou. - O que foi?

- Nada... Não foi nada.

- Lorna! O que foi?

- É que eu conversei com as meninas. Elas também acham que é melhor falar com ela.

Meu coração foi até a garganta e disse "Piper, eu acho que vou ficar aqui, hoje".

Respirei fundo e deixei meu mais temível sorriso de fúria transparecer.

- Quem são as meninas? O que você disse? E o que elas disseram?

- Calma. Não é o que você está pensando - ela disse, levantando as mãos.

- Você não sabe no que eu estou pensando. – Meu corpo inteiro estava rígido e travado. E quando eu falei, meus dentes se recusavam a se separar mais do que poucos milímetros - Responda as perguntas.

- Foi só com a Nicky e a Red. Acabei de passar por lá. E não falei nada sobre você. É só que... Nós todos sabemos que ele faz isso e aí... Achei que era uma boa ideia perguntar o que elas achavam.

- Lorna, se você contou que...

- Não contei nada. Palavra.

Não que eu me incomodasse se elas soubessem. Não devia nada nenhuma das duas. Mas agora que eu tinha que fazer aquilo do jeito certo para Shelbi, todas as decisões ficavam em um território completamente novo e inexplorado para mim. Eu não sabia o que fazer e não queria que nada desse errado.

- Tudo bem. Então, nós vamos até lá falar com ela.

- E, as meninas acham que ela devia ouvir isso de mulheres.

- Pare de chamá-las de meninas, Lorna. São duas mulheres adultas.

Ela deu de ombros e sorriu.

Eu abri a última caixa que faltava e era a mais incompreensível de todas. A marcação dizia "Lembranças de A.A".

Só faltava aquela. Só aquela e eu poderia dizer a Vause que tudo tinha acabado, apagar o vídeo e ir embora. Senti um aperto no coração, mas sacudi ele para longe e abri a caixa.

- O que é isso? - Lorna enfiou as mãos no conteúdo da caixa e começo a puxar itens aleatórios.

- Estamos arrumando e não bagunçando ainda mais. Se não se incomoda. - Puxei a caixa de música e um pequeno porta-retrato de suas mãos e a vi movendo os lábios rapidamente em uma clara ridicularização do que eu tinha dito.

la começar a tentar desvendar onde colocar cada coisa quando uma foto chamou a minha atenção.

Alex estava sem blusa e com top em uma praia. A data na foto dizia que tinha sido tirada há alguns anos. Antes de nos conhecermos. Havia uma mulher nos seus braços, na foto. Tinha os longos cabelos escuros e os olhos verdes. Sorria como se não tivesse nenhuma preocupação na vida, enquanto Alex lhe fazia cosquinhas.

Meu estômago se apertou e se comprimiu.

- Quem é? - Lorna quis saber por cima do meu ombro.

- Não sei - respondi baixinho.

- Tem alguma coisa aqui dentro. - Ela estava sacudindo a caixa de música.

- Cuidado com isso! - A tomei de suas mãos desajeitadas e abri o fecho com um cuidado exagerado. Tinha uma pequena caixa de veludo lá dentro, e uma embalagem de anel sem nenhuma marcação.

Lorna arregalou um par de olhos curiosos para mim, mas ela não sabia que eu não precisava de qualquer incentivo: ia abrir aquilo de um jeito ou de outro.

O anel que estava lá dentro era deslumbrante. Repleto de diamantes que formavam algo entre uma espiral e uma elaborada rosa sobre o aro de ouro.

- Olha! Tem uma inscrição aí.

Girei o anel contra a luz e vi a inscrição, em uma caligrafia elegante, que dizia "A. Vause".

Ela não falava sobre sua família. Eu sabia que algo horrível tinha acontecido, ou, pelo menos, algo bem ruim. Mas não sabia exatamente o quê. Agora o passado de Vause começava a tomar forma. Será que ela tinha sido casada?

(...)

- Não adianta se preocupar com isso agora. - Lorna me arrastava pelo meio da rua até a casa de Shelbi.

Eu não estava exatamente preocupada. Eu sabia que ela não era mais casada. Sabia que não era casada há anos. Mas ela não tinha me dado nenhum sinal verbal sobre seus sentimentos e sempre que conversávamos sobre seu passado ela se fechava.

Não podia culpá-la, afinal, eu não era exatamente um livro aberto. "E, além do mais", minha mente recitou, "daqui a alguns dias você vai embora e nunca mais vai vê-la de novo".

- Vamos terminar logo com isso.

- Qual é o plano?

- Plano?

- É. A gente não pode simplesmente entrar lá e ir falando. Tem que ter um plano.

- Não tem plano, menina. Isso aqui não é um episódio de Scooby Doo. A gente vai entrar lá e vai conversar com ela. Só isso.

- Será que vocês podem sair do meu gramado?

Virei para observar. Era a coroa estranha do outro dia. A dos bolinhos. Eu tinha perguntado o nome dela?

- Vai cuidar da sua vida, Madeleine! - Ótimo. Lorna também não gostava dela.

- Mas você é grossa, hein, Lorna?

- Só com quem merece!

- Pois então você devia manter sua boca suja longe de mim.

- Qual o seu problema? - perguntei. - Você fica o dia todo na varanda esperando alguma oportunidade para gritar com as pessoas?

- Só quero que saiam do meu gramado. - Ela nos enxotou com um gesto.

- Se for me tratar como um bicho eu vou acabar te mordendo. - Ameacei.

- Mas olha para isso. Você achou uma amiga tão grossa quanto você, Lorna. Já dizia o ditado que cobras só andam em par.

- Como é? - Eu dei alguns passos ameaçadores em sua direção e notei que Lorna, ao invés de me impedir, estava me acompanhando. Se continuasse assim a bruxa ia apanhar...

- Só quero que vocês saiam da minha propriedade. - Ela estava dando alguns passos para trás e eu não parei de avançar.

- Já teríamos saído se a senhora não tivesse nos chamado. - Exagerei na entonação do "senhora" para que ela se sentisse umas oitenta vezes mais velha. Depois de tantos dias de meiguice, a Piper Vadia estava voltando com força. Era bom saber que ela não tinha me abandonado.

- Se continuarem aqui eu chamo a polícia.

Lorna hesitou ao meu lado e eu senti que ela me observava.

- Por que não faz isso? Eu aproveito e presto queixa de calúnia contra a senhora.

- Calúnia? Mas que diabos você está fazendo?

- Está me acusando de invadir propriedade privada quando só viemos até aqui porque a senhora nos chamou. Isso é calúnia, querida.

- Vocês estavam aí antes... - Ela tentava ser firme. Mas não há firmeza diante da minha fúria.

- Não me lembro dos fatos assim. E você Lorna? - Ah, por favor, garota, colabora!

- Eu me lembro das coisas do jeito que Piper falou. - Apontou para mim. Isso! Essa é a minha menina!

- A casa de vocês duas é pro outro lado. O que estão fazendo aqui?

- Estamos indo visitar a Shelbi, não que seja da sua conta. - Ela tinha as mãos na cintura.

- Vão tricotar com a esquisita, é?

- É o que? - Lorna voltou a avançar e dessa vez fui eu quem a acompanhei.

- Não me teste, velha.

Ela colocou a mão contra o peito, chocada.

- Saiam da minha propriedade! – gritou antes de se enfiar na casa e bater a porta.

- Mas será possível que ninguém nessa vizinhança tem um emprego? E qual é a da maluca? - perguntei, apontando o polegar para a casa atrás de nós enquanto continuávamos pela rua.

- Sei lá. Ela já foi casada com um cara rico. Ou oito. E agora está acabada, mal amada e...

- Mal comida. - Completei.

Lorna riu contra as mãos. Respirei fundo e coloquei os ombros para trás.

- Pronta? - Já estava com a mão na campainha.

- Pronta.

(...)

- Tem certeza de que não querem mais alguma coisa?

Shelbi não parava de nos oferecer comida, bebida e sabe-se Deus mais o quê.

Lorna sorria enquanto eu encarava minhas unhas. Nós queríamos começar a conversar sobre algo que envolvesse nosso objetivo, mas nenhuma de nós duas tinha coragem de quebrar o gelo.

A boa e velha Piper Vadia contaria tudo antes de dar dois passos dentro da casa. Ou teria mandado uma mensagem de texto dizendo "Seu marido escroto deu em cima de mim e eu transei com ele sem saber que ele era casado. Descobri agora e estou te contando. Boa sorte". Mas dar a notícia de um modo que não magoasse Shelbi além do necessário ou que a fizesse ter vontade de se matar exigia um tato que eu não tinha.

Fiquei ali analisando minhas francesinhas e pensando em por que diabos eu tinha decidido que aquilo era uma boa ideia.

Não havia nenhum cenário em que aquela coisa toda fosse acabar bem. Nenhum.

- Muitas coisas para fazer hoje? - Lorna tinha as mãos no joelho e eu me perguntei se ela estava se preparando para levantar e correr.

- Só o de sempre sorriu, servindo-se de algo da bandeja. - E vocês duas?

- Ah, só... - nos entreolhamos -, o de sempre também. - Lorna repetiu constrangida. - E o Eric? Onde está?

- No escritório. Teve que encontrar uns clientes. - Ela tinha um sorriso orgulhoso na boca. Parecia que ter se casado era a maior conquista da sua vida. Senti uma pena imensurável. Mas não era hora de me doer com os pormenores. Eu estava ali para fazer uma coisa e, pelo amor que eu sentia pelo meu pai, eu iria fazê-la!

- Ele é um cara legal, não é? O Eric?

Lorna... Que merda é essa, menina?

Você não começa a contar sobre a traição de um cara dizendo que ele é legal.

- Ah! Ele é ótimo! Vocês precisam ver o que ele me deu de Natal no ano passado. - Ela levantou correndo do seu jeito urgente e eu enfiei minhas unhas no joelho de Lorna.

- "Ele é um cara legal?" Você perdeu o juízo? - sussurrei.

- Não! Mas você não estava dizendo nada. - Ela gesticulava enfurecida.

- Melhor do que elogiar o cara! Você esqueceu o que a gente veio fazer aqui?

- Piper, a gente precisa puxar o assunto de algum jeito!

- E dizer "Poxa! Seu marido é bem legal" - fingi uma voz sonsa

- "Sim! E, por sinal... Ele está te traindo" é uma boa ideia? Esse é o seu plano?

- Eu não tenho um plano! - rosnou - Porque isso não é "um episódio de Scooby Doo", lembra?

- Tá, tá, tá.

Shelbi estava voltando, mas Lorna não tinha calado a boca.

- Eu queria ter um plano! Mas você tem que fingir que sabe de tudo. Mesmo quando não sabe - chiou.

- Psss! - abanei a mão para que ela se calasse e ela encarou Shelbi, que retornava afobada, com um sorriso vazio.

- Olhem que coisa linda!

Ela abriu uma caixa preta da Cartier e, descansando sobre a almofada de veludo, estava a bijuteria de vidro mais falsa que eu já tinha visto na minha vida.

- Não é perfeito? E é Cartier - ela sussurrou a palavra arregalando os olhos com ares de mistério e sacudiu os ombros empolgadamente.

Eu tentei dissimular o desconforto e abrir um sorriso de falsa admiração.

Uma coisa que quem me conhece percebe com facilidade é que eu tenho vários sorrisos: O sedutor, o eu quero alguma coisa, o saia do meu caminho e até mesmo o que demonstra uma gratidão que eu não sinto. Todos esses eu sempre fui capaz de simular com uma atuação digna de um Oscar.

Já o meu sorriso de falsa admiração ou o de falsa alegria pela felicidade alheia... Bem... Nunca tive muita prática com nenhum dos dois.

Shelbi estava contando como não sabia onde usar uma peça tão cara, Lorna estava impressionada que o crápula do marido traidor fosse capaz de tamanha gentileza e eu tinha enfiado minha testa na mão e estava encarando o chão pela simples falta de saber o que fazer comigo mesma.

O cara tinha comprado uma coisa de vidro colorido para enrolar no pescoço em alguma zona de livre importação, vulgo, mercadinho chinês da esquina. Tinha colocado em uma caixa usada para relógios e eu estava ali tendo que engolir a vontade de gritar que aquilo era mais falso que o meu sorriso.

Lorna olhou para mim e abriu a boca em admiração como quem diz "Não é que ele não é de todo mal?", e eu revirei os olhos diante de sua inocência.

- Vocês terminaram? Eu vou tirar logo a bandeja do caminho e deixar tudo limpinho. Eric fica nervoso quando chega cansado e a casa está suja.

Eu olhei para a sala que brilhava impecável. Eu posso ter milhões de defeitos. Bilhões até. Mas eu sempre fui limpinha. Quase ao ponto de ser fresca. E a sala de estar de Shelbi era deslumbrante até para os meus padrões.

Onde estava a sujeira?

Ela tirou a bandeja e eu perguntei se ela precisava de ajuda.

- Não querida, eu resolvo. Sente aí - gesticulou, e eu parei o movimento a meio caminho de me levantar.

Lorna me deu quatro tapas na coxa. Com força.

- Ai! - Ela estava me batendo? Ela ficou louca?

- Você viu o tamanho daqueles diamantes?

Ai, meu deus...

- Piper! - continuou -, talvez a gente esteja vendo isso do jeito errado. E se eles se amam, mas... Sei lá... Ele pula a cerca de vez em quando e ela não liga. Por que a gente vai se meter?

- Garota! Presta atenção! - Tive vontade de estalar os dedos no meio da cara dela para ver se a trazia de volta a realidade - Aquela porcaria é falsa.

- Você tem certeza? - Tinha mais do que dúvida em seu rosto. Tinha descrença. Ela não acreditava em mim.

- Eu posso não ter berço nobre, mas se tem uma coisa de qualidade que eu aprendi a reconhecer nessa vida é um diamante. E, meu bem, naquela caixa não tinha nenhum.

- Mas como você sabe que...

- Nenhum! repeti para que ela se calasse.

Shelbi estava de volta com um pano nas mãos e Lorna se sentou contra o encosto do sofá encarando a mesinha de centro e desejando que eu estivesse errada.

- O que está fazendo? - A anfitriã estava limpando o lugar onde a bandeja havia estado há alguns segundos.

- Limpando - sorriu. - Só para o ambiente ficar fresquinho e agradável para as visitas! Hi-hi! - Seu risinho era quase tão ridículo quanto toda aquela situação, e eu tentei não perder a paciência.

- É por causa do Eric, Shelbi? É por causa dele que você é tão preocupada com limpeza?

- Também. Seu sorriso ficou mais discreto, e ela levantou um ombro quase como se estivesse se desculpando - Ele é tão bom para mim que eu tento fazer o que posso por ele. Para lembrá-lo por que ele se casou comigo. - Seu riso agora ficou estridente e eu me senti profundamente triste por ela. - Juro por Deus que não mereço aquele homem.

Basta.

Olhei pra Lorna e senti que já bastava para ela também.

- Querida, senta aqui. Percebi que, talvez pela primeira vez em minha vida, a palavra "querida" tinha sido dita com carinho. Não havia sarcasmo ou insulto. Eu só queria que ela ficasse bem. Ela se sentou em uma cadeira na minha frente e eu tomei sua mão nas minhas. Não sabia por que estava fazendo aquilo. Mas é assim que as pessoas fazem nos filmes, não é? Quando tem algo ruim para contar? Elas te abraçam e seguram sua mão como se o simples toque humano fosse capaz de atenuar qualquer dor. - Eu e Lorna viemos até aqui porque precisamos te contar uma coisa.

Ela me observou com olhos curiosos e com seu eterno sorriso no rosto. Parecia que sua expressão facial não conhecia dia ruim.

Eu, por outro lado, me sentia como uma cirurgiã que tinha acabado de sair da sala de operações, sendo que seu parente mais próximo tinha morrido nas minhas mãos. E agora, eu precisava dizer isso para ela.

Vamos lá, Piper, comece dizendo que o sangramento foi muito grave e que você fez o que pôde.

- Eu não te conheço muito bem, Shelbi. Nem você, nem o Eric. Mas sei que você é uma pessoa boa e, se a vida fosse justa, só coisas boas acontecem a pessoas boas. Mas a vida é uma vadia miserável e ela não liga para ninguém. E coisas ruins acontecem com pessoas boas.

- Vocês estão me assustando! - ela riu, como se fosse uma brincadeira e apontou o indicador para mim e para Lorna como se estivesse esperando que, a qualquer momento, eu anunciasse que era uma pegadinha.

- A gente só quer que você saiba que a gente está aqui. - Lorna se aproximou e estava alisando o braço de Shelbi. Ótimo. Então, eu tinha acertado na coisa do contato humano. - Você não está sozinha.

- Eu sei. Vocês são ótimas! Mas qual o problema? - Ela estava estranhamente descontraída e eu percebi que ela era como eu.

Ela era exatamente como eu. Como Lorna. Como qualquer mulher do mundo.

Ela não era imbecil. Não era alguma ridícula superficial que adorava onomatopeias. Ela só tinha uma história de vida, uma que eu desconhecia, que a tinha trazido até ali. E, assim como qualquer uma de nós, Shelbi tinha escolhido a maneira como a lidar com sua vida.

E ela tinha escolhido ser desatenta. Era tola por opção. Prestar atenção poderia doer. Então, do mesmo jeito que eu não me aproximava de ninguém para evitar me machucar, Shelbi não queria prestar atenção aos arredores.

- Querida, nós achamos que Eric não é um homem bom.

- Pff... Bobagem! - Ela soltou nossas mãos e agora eu começava a ver sua expressão mudando.

- É verdade, Shelbi.

- Você acabou de se mudar para cá, como pode querer julgar meu marido? - Ela estava olhando para mim e seu eterno sorriso tinha sumido.

- Mas e eu? - Lorna quis saber. - Eu moro aqui há bem mais tempo e concordo com ela.

- Achei que vocês duas se detestavam. E aí vêm aqui com essa conversa... Olha, se é algum tipo de brincadeira, eu não estou achando graça.

- Eu sei que isso é horrível de ouvir, Shelbi. - Toda sua postura corporal indicava que ela queria se proteger. - Mas Eric não é o bom marido que você pensa. - Eu conseguia parar uma sala de audiência inteira para indicar novas provas, eu conseguia chocar e interessar um júri, eu conseguia dizer para o meu chefe que ele tinha que aumentar meus honorários, em determinada situação eu tinha até mandado um procurador federal calar a boca. Mas eu estava ali, sem saber o que dizer. Respirei fundo. Diga de uma vez. - Ele te trai, Shelbi.

- Vocês são ridículas! Isso é absurdo - disse se levantando.

- É verdade, Shelbi. Ele já deu até em cima de mim. - Lorna estava tentando fazê-la acreditar.

- De você? - Havia algo depreciativo no jeito como ela se referiu a Lorna. Sua expressão se aproximava de algo que eu acho que era o mais perto que Shelbi já tinha ido da fúria. - Você acha que eu vou acreditar que o MEU Eric ia precisar sair de casa para buscar uma que nem você?

Lorna mordeu o lábio e estava tentando superar a ofensa.

- Shelbi. Nós só achamos que você merecia saber. Não mate as mensageiras.

- Ele deu em cima da Piper, também! Ele dá em cima de todo mundo! - Lorna devolveu e eu respirei fundo. Aparentemente, sua tentativa de superar a ofensa falhou grotescamente.

Por favor, menina, não piore tudo.

- Sabe qual é o problema de vocês? Falta de amor e carinho na vida. - Shelbi estava começando a flutuar entre um grito e um choro, e eu me lembrei de como detesto gente descompensada. Já cruzei com muitas mulheres como vocês na vida! Mulheres que acham que, para valorizar o que tem, precisam desvalorizar o que a outra tem.

- Tudo bem, Shelbi. - Estava tentando não odiá-la. Lembrava de quando vi Vause na cama com outra mulher. Eu também tinha me descompensado, não tinha? Dor faz isso com a gente. E Shelbi estava machucada. - Você está magoada, mas nós estamos aqui para te ajudar. - Era estranho como eu realmente queria ajudar. Eu queria que ela soubesse que eu entendia o que ela estava fazendo. Eu entendi o escudo, a arma dura. Eu entendia o conceito de "se proteger acima de todas as outras coisas". Mas eu também entendia como ser forte, algo que ela desconhecia. Só queria lhe emprestar minha força. Queria lhe emprestar um pouco do meu foda-se, para que ela pudesse aceitar a situação e lutar de volta.

- Não quero ajuda. Não quero nada. Não quero ouvir nem mais uma palavra.

O problema de mentir para si mesmo é que você fica além da razão: não ia adiantar continuar a conversa. Não agora.

- Certo, então. Nós só viemos te dizer isso. E foi dito: agora você já sabe. Lide com isso como quiser.

- Vou lidar com isso como quiser, sim! Fora da minha casa! As duas!

Lorna estava cravada no sofá com uma atitude de mulher ofendida que queria continuar a briga.

Eu me levantei e forcei seu braço para que ela me acompanhasse.

- Certo, Shelbi. Estamos indo.

- Não acredito que fui tão simpática com vocês! - Ela estava emitindo sons estranhos e eu achei melhor sair dali de uma vez.

A porta estourou audivelmente atrás de nós e eu puxei Lorna para a calçada.

- É. - suspirei - Isso definitivamente não saiu como a gente esperava.

- Estão arruinando a vida de mais alguém? - A voz irritante da coroa saiu da janela da sua casa e eu vi seu rosto excessivamente maquiado rindo para nós com desprezo.

- Ah, cala a boca! - exclamei e ouvi Lorna fazendo eco a minhas palavras.

 


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