Eu estou acostumado a ser o centro.
Filho único de uma mãe coruja e de um pai que... Bem, sempre quis ter um filho para lhe ensinar sobre a vida. Então fui muito mimado e tive todas as minhas vontades feitas, como aula de violão, futebol, natação, inglês e até mesmo balé. Certificaram-se de que eu fosse inteligente e me saísse bem em tudo, o que contribuiu para minha ampla gama de conhecimentos gerais – sem querer me gabar, mas sou algo a se considerar.
Tudo em minha vida sempre foi normal. Não sou uma daquelas pessoas com histórias trágicas ou traumas/feridas profundas que marcam sua personalidade. Talvez não tenha grande maturidade por conta disso, porém mantenho meu otimismo com a vida, coisa que parece impossível para pessoas como meu namorado, Seokjin. Ele sim é uma pessoa com histórias tristes e feridas que o machucam diariamente, e é claro que não o culpo por isso. Para mim é difícil entendê-lo, então eu apenas... Fico ali. Isso não me faz o melhor companheiro possível, mesmo que sempre tenha sido o melhor em tudo, mas eu tento do meu jeito torto.
O que falam sobre nós na escola não é lá uma das melhores coisas de se ouvir, principalmente para mim. Nós vivemos num relacionamento aberto – que nem sempre foi assim, passou a ser depois que Seokjin me traiu com um garoto do clube de química. E embora ele tenha sido o único a cometer o ato (a princípio), o conjunto todo da situação pesava mais para o meu lado. O fato de Jin não ter uma das melhores vidas ou estar triste vinte e quatro horas por dia estava sob o conhecimento de todos, tal como o fato d’eu estar muito ocupado com qualquer outra coisa senão ele. É, mesmo tentando meu melhor eu continuava um namorado bosta.
O problema de toda essa situação é que fui criado muito bem com o meu grande espaço privado e tenho dificuldades em inserir pessoas nesse meio achando que dessa forma... Abrindo mão do meu tempo só, posso acabar cedendo demais e deixando de ser quem sou. Enquanto sou desapegado, Jin precisa de mim para se sentir bem, entendo isso. Tenho medo de que ele se agarre às minhas asas e elas acabem quebrando. Eu preciso voar para ser eu, e não sei uma maneira de fazer isso em conjunto.
Sua casa fica bem ao fim da rua, virando à direita e andando uma quadra, considero perto e mesmo se não fosse, continuaria visitando-o diariamente. Já podia vê-la de onde me encontrava: era simples, branca e de um andar, passava despercebidamente aos olhos de qualquer um.
Nem precisava bater, era só empurrar a porta que o encontraria deitado à sua cama, que é rente à janela e o deixa com a vista do quintal. Logo, Jin sempre sabia quando eu estava chegando e me via indo embora também.
Com calma empurrei a porta de madeira e a escutei ranger. Sua casa não tinha muitas cores e não era muito bem iluminada, o que a meu ver podia impulsioná-lo a se sentir depressivo. Caminhei até o primeiro cômodo à direita, de porta escura e entreaberta e caminhei para dentro dele vagarosamente. O encontrei dormindo, com um livro aberto sobre seu peito e as cortinas brancas a balançarem em conjunto com o ventilador. Os raios de sol tocavam seu rosto, o iluminavam e sinceramente isso parecia uma cena divina. Seokjin é uma das criaturas mais bonitas existentes.
Ajoelhei-me rente à cama e deslizei meus dedos por seus cabelos castanhos, tirando os fios de sua testa, onde depositei um beijo. Sabia que isso era o suficiente para acordá-lo.
– Bom dia flor do dia.
Jin grunhiu e se espreguiçou, erguendo os longos braços e se esticando na cama. Abriu seus olhos amendoados e piscou algumas vezes antes de dar um sorriso tímido.
– Bom dia.
– Tem algo que queira comer? – Aproximei-me, cheirando seu cabelo – que particularmente não estava num dos melhores dias.
– Ovo mexido.
– Ok, vai tomar um banho pra lavar esse cabelo fedido que quando voltar vai estar pronto.
Seokjin riu, se sentando na cama e tacando seu travesseiro nas minhas costas. Ri de volta, optando por deixar o travesseiro por ali mesmo.
Apesar de achar que estou melhorando na arte da culinária, Jin ainda reclamou da falta de sal. Mas tudo bem. Agora cá estou eu, envolvendo-o pela cintura sobre sua cama, beijando sua nuca e escutando-o alternar entre risadas nervosas e suspiros. Eu gosto de sua pele, é macia e quase sempre cheira a flores.
Você provavelmente se questiona do por que um relacionamento aparentemente tão perfeito – o que não é – ser aberto, ou o porquê de continuar a mantê-lo quando se pode apenas por um fim nisso. A resposta é nítida: Seokjin é diferente de qualquer um dos outros, o que faz impossível deixar de me sentir atraído, é como magnetismo. Ele sabe se impor ao invés de aceitar tudo de forma submissa.
Senti seu corpo de mexer bastante dentre meus braços e sorri por já ter noção do que aconteceria. Já estava demorando demais.
Com um sorriso contido e assanhado no rosto, e num movimento rápido demais para eu acompanhar – até porque ele estava sem camisa, o que me fazia prestar atenção em outras coisas –, Jin se pôs sentado sobre meu quadril, enquanto permaneci deitado sobre a cama. Com agilidade tirou um lenço do bolso de sua calça e pôs minhas mãos pra cima, prendendo-as na cabeceira. Fingindo ser inocente, inclinou seu corpo para frente e me deu um rápido beijo, antes de se afastar sorrindo.
Kim Seokjin é imprevisível, e por isso gosto dele.
Nossa rotina é assim quase todo dia e de minha parte não tenho o que reclamar. Venho aqui, o animo um pouco, transamos e eu vou para escola, enquanto ele fica em casa por já ter concluído o Ensino Médio. O que faz de seu tempo vago não tenho muita certeza, mas às vezes joga conosco por ser um ótimo titular.
As aulas na nossa escola são de manhã, porém às vezes temos atividades extracurriculares de tarde, ou até mesmo reposições e reforços. Claro que eu, Namjoon, não preciso desse tipo de coisa. Meu papel aqui é outro, totalmente diferente. A pedido de Yoongi – vide, tive que aceitar porque ele insistiu muito – comecei a dar aulas de apoio de matemática. Concordei em fazer somente três, como auxilio para a recuperação trimestral do segundo ano e deu muito certo, quatro passaram e um não, se não me engano. Esse um não me afeta por ser Park Chanyeol, diga-se de passagem. Como Jimin passou, eu meio que salvei um e perdi o outro. Me pareceu justo.
Enfim, devido a essas aulas, comecei a receber propostas de ser professor particular. O que, por incrível que pareça – e por mais mercenário que eu seja – recusei prontamente. Não acho que tenha o dom ou o gosto por lecionar, então infelizmente prefiro manter as coisas para mim mesmo. Contudo, apareceu um aluno que reconheci por ter representado a escola no campeonato de dança do ano passado me fazendo a mesma oferta. Ele acabou ficando de final por não ser capaz de fazer as duas coisas ao mesmo tempo, então buscou a mim para auxiliá-lo a lembrar-se da matéria.
Uma parte muito grande minha não quis que eu fizesse isso, a que eu denomino de preguiçosa e impaciente. Só que... Poxa, o cara ganhou o campeonato estadual de dança e acabou não passando por estar fazendo o que gosta. Me senti compelido. Por esse motivo estou andando faz 15 minutos, me dirigindo à casa de Lee Taemin ou ao menos ao endereço que ele me deu. Claro que quando você está caminhando há um bom tempo começa a achar que não está no caminho certo, até que avistei seu cabelo loiro e seu grande sorriso, acenando para mim em frente a uma casa de cor verde escuro. Realmente era difícil de errar.
Caminhou até a minha direção com seu celular em mãos, sem tirar o sorriso. Taemin sempre se mostrou incrivelmente simpático, um dos motivos para eu não conseguir dizer não.
– Vamos?
– Claro. Seus pais sabem que estou aqui? – Não queria enfrentar uma cena constrangedora ao entrar, preferi me preparar antes.
– Eles nem estão em casa.
Taemin se saiu muito bem durante a minha tentativa de aula. Acertou todos os exercícios e inclusive completava as minhas frases, o que me despertou uma dúvida sobre o meu real motivo aqui. Claro, ele queria revisar o conteúdo, mas aparentemente já sabia de tudo. Não havia como não questionar. Quando o mesmo se retirou para pegar algo para comermos, mexi em suas gavetas, onde achei um boletim que constava suas surpreendentes médias em matemática: 10, 9.8 e 9.3. A do último bimestre, que estávamos revisando, estava realmente vazia. Entretanto... Algo me diz que o Lee já tinha pontos o suficiente para ser aprovado.
Ele estava de volta com alguns sanduíches e suco, que pôs em cima da mesa à nossa frente. Apertei meus olhos para observá-lo e estaria mentindo se dissesse que sua beleza não me distrai. Droga, eu sou muito fraco quando se trata de gente bonita. Seus lábios eram grossos e seus olhos pequenos, seus fios loiros combinavam muito bem com sua pele e até mesmo sua clavícula conseguia me distrair.
Que se dane.
– Parece que alguém aprendeu direitinho. – Comentei sorrindo, virando-me de lado para ficar de frente para ele.
– Claro, com um professor desses é difícil não passar. – Ele deu um sorriso tímido e suas bochechas coraram.
– Fiquei surpreso que precisasse da minha ajuda já que sempre foi tão inteligente.
Pensei em pressioná-lo um pouco para que me dissesse o que queria ouvir.
– Eu tinha que revisar a matéria, por que não? – Taemin aparentou nervosismo e eu juro que tentei segurar o meu sorriso.
– Admito que aceitei por ter uma queda por você.
Nessa hora, se ele estivesse bebendo algo, teria cuspido tudo. Seus olhos se arregalaram numa mistura de surpresa e felicidade.
– O quê?! Você?! Em mim?
– Claro! Você é Lee Taemin, doce, inteligente, gentil e super talentoso. Representou nossa escola no campeonato estadual, ganhou e nem por isso perdeu a compostura ou começou a levantar o nariz. Quer mesmo que eu continue a dizer o quanto você é incrível?
– N-não precisa... – Envergonhado e totalmente vermelho, sua voz saiu entrecortada e baixa.
– Além de lindo. – Com o indicador, afastei uns fios de sua bochecha e percebi sua respiração pesar. Aproximei-me um pouco mais, roçando nossos lábios. – Posso?
– Deve.
Eu já tinha tirado sua camisa e podia admirar com orgulho a trilha de chupões que iam de seu pescoço até seu peitoral quando meu telefone começou a tocar no pequeno criado mudo ao nosso lado. Tentamos ignorar nas primeiras três vezes, mas ele não parava. Enquanto Taemin tirava o próprio cinto e calça, aproveitei para ver quem tanto me ligava, constatando que era Jin. Torci os lábios numa confusão momentânea, mas o virei para baixo para que ficasse no silencioso.
– Vamos terminar isso logo?
– Eu mal comecei. – O peguei no colo, rumando para o próximo cômodo, deixando meu celular, que ainda vibrava, ali mesmo.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.