Steve revirou a comida em seu prato, em partes porque a comida do refeitório estava especialmente não atraente aquela manhã, em partes porque ele perdera totalmente o apetite.
Estar apaixonado era, de fato, uma droga.
Até então ele nunca tinha entendido por que as pessoas falavam isso. Ele sempre gostou da sensação.
Estar apaixonado por Peggy foi ótimo. Ela era incrível. Steve admirava-a muito.
Mas estar apaixonado por Bucky era completamente diferente do que sentia por Peggy, ao mesmo tempo que era igual.
Eram as mesmas sensações, sim, mas era tudo mais difícil. Tudo mais intenso. Steve nem sabia mais como não tinha notado antes.
Sem falar que, Bucky era seu amigo, pelo amor de Deus. Ele se sentia sujo só de pensar sobre o garoto dessa forma. Steve sentia que tinha perdido o rumo de tudo definitivamente.
"O que foi?" Tony perguntou, porque por algum motivo ele e Bruce tinham sentado-se com Sam e Steve no refeitório. E o mais incrível é que não estavam brigando. "Você está com uma cara péssima."
"Uau, valeu," Steve murmurou.
"O Tony tem razão," Sam se intrometeu. "Aconteceu algo com você? Ou com a Sarah?"
"Na verdade não," Steve respondeu. "Estamos todos bem."
Sam não engoliu a mentira. Nem Tony, e isso queria dizer algo, até porque ele nem conhecia o loiro tão bem assim.
Sentiu-se mais mal ainda por toda aquela situação.
"Não pense que vai escapar das minhas perguntas mais tarde," Sam avisou.
Steve não pensava.
***
Foi apenas na hora da saída do outro dia que Steve foi totalmente encurralado.
No dia anterior, Sam deu carona para Bucky também. Seu amigo não comentou nada, o que Steve era muito grato. Porque se Sam perguntasse por que Steve estava estranho Bucky também ia querer saber sua resposta, e apenas não.
No intervalo do outro dia, Steve ficou com Natasha, Clint e Bucky. Sam estava ocupado com Darcy e Steve era cada vez mais grato a garota.
Porém, na hora da saída, Steve não tinha escolhas. E pelo sorrisinho de Sam, o moreno sabia disso.
Certo, talvez ele estivesse exagerando tudo. Sam não o obrigaria a falar nada que não quisesse, ele era um cara muito legal para isso. Mas Steve queria conversar, ele não gostava de guardar tudo para si mesmo. Ele só não sabia como. Nem qual seria a reação do seu amigo.
Sam não iria responder necessariamente de uma forma negativa, mas era algo complexo. Steve não sabia explicar por que estava dando tanta importância para aquilo quando era algo natural.
Sam não tinha pego o carro do pai naquele dia, então os dois teriam que se contentar em ir andando. Não era um problema realmente para Steve.
Inicialmente, os dois conversaram sobre coisas banais. O novo corte de cabelo da Danvers. Se Hill e Coulson estavam mesmo namorando. O tipo de porcaria intergaláctica que estava recheando os sanduíches do refeitório aquele dia.
Mas quando chegaram na sus vizinhança e Sam perguntou se Steve não queria entrar para jogar um pouco de Mario Kart, o loiro soube que não teria escapatória.
Depois da primeira partida — onde Steve, como Peach chegou em terceiro lugar e Sam, como Yoshi, em primeiro — , o moreno pausou o jogo e olhou para Steve.
"E então?" Perguntou de forma suave, no tom de voz que fazia Steve sentir-se uma criança. "O que aconteceu?"
Steve pensou em como formular uma frase decente. Algo que fizesse tudo ter sentido. Mas não conseguiu.
“Bucky," o loiro falou frustrado. "Bucky aconteceu."
Sam franziu o cenho.
"Ele descobriu?" O moreno arregalou os olhos. "Puta merda, ele descobriu. E agora? Calma, você pode..."
"Não, não! Não é isso." Sam pareceu relaxar com a afirmação. "Eu gosto dele, Sam."
Falar aquilo tirou um peso que Steve nem sabia que existia.
Sam, por outro lado, ficou quieto, esperando Steve elaborar.
"E...?" O moreno incentivou quando viu que seu amigo não falaria mais nada.
"E nada," Steve revirou os olhos. "É só isso mesmo."
"Ah, mas disso eu já sabia," Sam deu deu ombros.
"Você o quê? Tá tão na cara assim?" Steve questionou, sentindo uma pontada de algo muito parecido com desespero no seu peito. Se Sam sabia, logo Natasha provavelmente já teria deduzido também. E se Natasha sabia, Bucky também sabia, e ele não estava pronto pra isso.
"Cara, se acalma, não tá tão na cara. Eu só imaginei que em algum ponto iria acontecer," explicou, tentando acalmar seu amigo.
"Ah," Steve relaxou. "Eu só não sei o que fazer agora."
Sam deu de ombros
"Você pode tentar demonstrar ou falar pra ele."
Steve arregalou os olhos.
"Sem chances."
"Ele também gosta de você. É óbvio. Ele até parou de fumar," constatou. Steve pensou em tentar negar, mas naquilo não tinha argumentos.
Até porque ele se lembrou dos doces e... Foco.
"Eu vou pensar," falou por fim, enquanto Sam deu de ombros.
Ele pensaria, mas sabia que no final ia apenas deixar de lado. Não tinha chances de Bucky gostar dele de volta, ele só precisava se acostumar com a ideia.
Mas era difícil quando se pensava no garoto a todo momento.
***
Depois da conversa com Sam, as coisas continuaram normais.
Bem, parecia meio vago falar assim. É claro que as coisas continuaram normais pra todo mundo. Sam ainda tinha Darcy, Natasha continuava a ter aquela aura esquisita, Clint continuava a ser aquele cara estranho porém legal e Bucky — bem, Bucky era Bucky.
Mas algo em Steve tinha mudado completamente. Não sabia se todo mundo que já se apaixonou por algum amigo sentia esse sentimento estranho de desespero, mas Steve não aguentava mais tanta agonia.
Por sorte, já estava chegando a data do Artexpo. Era uma exposição de arte no Pier 94 de Nova York e Steve costumava ir todo ano nela, independente de estar doente ou não — o que geralmente irritava bastante sua mãe.
Steve não pensava muito no assunto, mas seu sonho sempre foi trabalhar com arte. Na verdade seu sonho era entrar pro exército, mas a não ser que alguém criasse alguma cura mágica pra seu estado franzino e suas doenças, ele não tinha chances.
Desde criança Steve sempre adorou pintar. Nunca teve dinheiro suficiente para comprar os materiais que realmente precisava, mas às vezes ganhava de aniversário alguns lápis bons da sua mãe ou de Sam. Também tinha aprendido a se virar muito bem com desenho digital e se um dia se arriscasse a fazer qualquer coisa envolvendo artes, pensava em design gráfico.
Uma das coisas que sempre gostou no Artexpo era a exposição que chamada [SOLO], que mostrava obras de artistas independentes e dava a oportunidade deles ganharem algum reconhecimento. A primeira vez que tinha ido à exposição foi com mais ou menos onze anos como presente de aniversário de sua mãe. Lembrava-se de como tinha ficado admirado com as pinturas e inclusive passou a tentar copiar o estilo dos artistas que mais lhe chamaram atenção. Nunca conseguiu fazer algo igual, mas sua técnica melhorou bastante. E, o melhor era que tinha algo sobre fotografia nessa mesma linha. Sua mãe gostou bastante.
Depois de conhecer Sam, o moreno passou a ir com ele também. Virou um costume, mesmo que em alguns anos o amigo não conseguia ir. Os parentes de Sam sempre estavam doentes ou fazendo algum tipo de comemoração. Os pais do garoto arrastavam-no para tudo, mesmo que Sam não gostasse. Era engraçado vê-lo reclamar, Steve nessas horas agradecia por não ter nenhum outro parente além de sua mãe e seus avós por parte de pai, que via raramente.
Steve andou até atrás das arquibancadas comendo um pedaço de bolo. Todos já estavam ali e ele resolveu sentar-se entre Natasha e Bucky, que foi para o lado para dá-lo mais espaço.
Começaram a conversar distraidamente sobre os primeiros períodos. Steve aproveitou para passar algumas respostas da prova de sociologia que teve no terceiro período para Clint, que teria no sexto.
"Hey Stevie," Sam chamou quando o assunto já estava morrendo. Steve quis socar a cara do amigo por usar o apelido, até porque Natasha franziu as sobrancelhas e deu um sorrisinho, aparentemente pronta para usar o apelido também. "Sobre a exposição..." falou receoso.
Steve compreendeu.
"Não vai poder ir?" Perguntou ameno. É claro que gostaria da companhia de Sam, mas Steve nunca teve problemas em fazer as coisas sozinho. Ele também entendia que seu amigo não tinha muitas escolhas.
Sam concordou.
"Me desculpe, é que meus tios vão fazer 25 anos de casados..." Sam fez uma careta.
"Tudo bem. Eu entendo." Steve deu um sorriso de canto, limpando os farelos do bolo na calça.
Sam deu um sorrisinho que dizia "me desculpa vacilar, cara", mas Steve entendia mesmo. Os dois poderiam ir no The Armory Show ou qualquer outra coisa.
"25 anos de casados?" Clint falou. "Tipo, 25 anos de casados com festa?"
Sam concordou.
"Cara, eu adoraria te ver de terno." Riu, derrubando algumas migalhas da bolacha que estava comendo. Bucky revirou os olhos.
"Com licença, eu fico maravilhoso de terno," rebateu Sam. "Diferente de você, que tá sempre parecendo um idiota."
Clint mostrou a língua.
"Que exposição?" Natasha questionou, ignorando os dois.
"Artexpo," Sam informou, ignorando Clint. "Steve vai todo ano. Eu vou com ele às vezes só."
Natasha concordou.
"Quando é?" Bucky perguntou.
"Sábado que vem," Steve respondeu. "Na verdade começa na sexta e vai até segunda, mas eu prefiro ir sábado."
Natasha e Clint trocaram um olhar rápido que ninguém além deles entendeu.
"Bucky, esse não é o sábado que você ia buscar sua irmã na rodoviária?" Natasha questionou.
Bucky franziu o cenho.
"Não. Ela vai vir mês que vem só. Nat, eu já te disse isso."
A ruiva ignorou.
"Ah, então você poderia ir com Steve, certo?"
Bucky começou a entender o que sua amiga estava fazendo.
"Acho isso uma ótima ideia," Sam intrometeu-se. Clint concordou.
Steve apenas encarou Sam. Aquele traíra.
"Tudo bem por você?" Bucky perguntou, encarando-o por poucos segundos até seu olhar parar em Natasha novamente. Ele parecia nada amigável. Steve conseguia ver seu ponto. Talvez Bucky não quisesse ir com ele. Só estava levando a ideia adiante porque Natasha falou e dispensar Steve àquela altura seria mal educado. E até cruel, talvez.
Então Steve negaria. Ele devia negar. Bucky seria grato por isso.
Até porque seus amigos estavam fazendo uma tentativa fracassada de ser cupido — e Steve não iria pensar naquele momento sobre como Clint e Natasha sabiam, obrigado cérebro — e Bucky não precisava passar por aquilo.
"Sim," respondeu de forma esganiçada.
Não.
Ah, não.
Steve quis bater com sua cabeça nos ferros que sustentavam a arquibancada.
"Então tudo bem," Bucky olhou para Steve, mais suave. "A gente combina isso durante a semana."
Steve acenou com a cabeça positivamente, e mais tarde, quando Sam estava deitado no chão do seu quarto e os dois maratonavam How I Met Your Mother, Steve fingiria não ter ouvido o "de nada" de Sam.
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