Era outono, a cidade estava pintada em tons alaranjados e o doce aroma de abóbora preenchia o quarteirão da rua 7 Dream. A data mais importante da cidade se aproximava e Mark não poderia estar mais do que empolgado: o Hallowen daquele ano tinha de tudo para ser o melhor de sua vida.
Apesar da aparência pacata e do nome caricato, Highway to Heaven era famosa nos arredores em razão de seu histórico nada amigável. Mortes inexplicáveis, series de desaparecimentos, e casos de aparições fantasmas: como um imã de desastres, Higway to Heaven tinha tudo que uma cidade com fama de assombrada poderia oferecer aos turistas e curiosos, principalmente quando se tratava do dia 31 de outubro, data marcada por um grandioso festival de Hallowen.
Apelidada carinhosamente de “Higway to Hell” por seus habitantes, a cidade com fama de assombrada poderia afastar a muitos, mas aquele não era o caso de nenhum dos garotos que moravam na rua mais movimentada da cidade.
Genuinamente curiosos, e consumidores ávidos de conteúdos assombrados, o grupo de 6 amigos não pareciam ter se cansado das histórias de terror e dos casos sobrenaturais que acometiam a cidade.
— E aí....ele cortou a cabeça dela! — Chenle exclamara de modo exagerado, fazendo com que Jisung quase caísse da cama de Mark. O Zhong automaticamente caira na gargalhada.
— Era só isso? — Renjun desdenhou, enquanto Jaemin tremia a seu lado. — O assassino tá ficando sem criatividade? Ele fez essa mesma coisa com a garota da semana passada...
— É o modus operandi bobão... — Donghyuck decidiu intrometer-se, mesmo que já soubesse que não seria ouvido.
— Talvez seja um padrão... É o modus operandi dele... Típico de um serial killer...— Jeno analisou, ganhando assertivas do Huang e suspiros insatisfeitos do fantasminha.— O que você acha Mark? Mark?
— Esquece, é a hora do ensaio do Johnny... Ele não vai te dar ouvidos. — Renjun provocou, gerando risinhos abafados dos outros garotos.
Apesar de ser um dos mais interessados em histórias daquele tipo, o garoto mais velho pouco havia ouvido da história do Zhong. Grudado a beira da janela, o canadense observava a banda do vizinho do outro lado da rua, esperando ansiosamente para que o garoto começasse a tocar.
— Se ele tocar Misfit vamos ter que segurar ele, não queremos que ele caia da janela de novo... — alertou Jaemin, ainda agarrado ao braço do Huang.
— Ele tá com cara de triste, vai tocar Back 2 U de novo... — analisou Jisung apertando-se ao lado de Jaemin.
— Será que ele escreveu isso pra alguma ex? Já viram a cara dele quando ele canta? — Jeno murmurou já aos risos, sentara-se entre Jaemin e Renjun a fim de afastar os dois garotos.
— Foi uma traição... O Doyoung que escreveu. — Donghyuck apontou ao relento, enquanto sentava-se ao lado do canadense para observar o Seo mais de perto.
— O Doyoung é corno?? Eu tinha certeza que era algo sobre a Soyoung... — Mark proferiu de maneira incerta, sem saber quem havia respondido.— Vocês disseram alguma coisa? — o Lee voltou-se aos outros garotos, provocando risadas nos mais novos.
— Não tenta disfarçar, nós ouvimos sua confissão... Andou perseguindo eles de novo? — Jeno provocou, fazendo o mais velho ficar envergonhado.
Aquilo estava acontecendo de novo. Ele estava ouvindo a voz dele.
— Antes de perdermos vocês estávamos falando sobre o episódio novo de Neo City.. O Chenle assistiu a preview, o assassino vai atacar novamente. — Renjun explicara levando-se do chão.
— E o Jisung já tava com medo de novo... O bebezão quase caiu de cara no chão.— Chenle acrescentou, deixando o mais novo ofendido.
— EI! Não sou só eu que tenho medo... O Jaemin não teria largado o braço do Renjun até agora se o Jeno não tivesse sentado ali! — Jisung protestou, sem que quisesse ser indicado como o mais medroso dentre os 6.
— E quem disse que ele faz isso porque tá com medo... — Donghyuck provocou, gerando uma risada abafada de Mark.
— Viram só? O Mark concorda comigo... O-o Jaemin é bem mais medroso. — Jisung murmurou envergonhado enquanto Chenle o provocava apertando sua bochecha.
Mark se voltou para os amigos por alguns segundos até que o som da primeira nota da música soou do outro lado da rua.
O canadense curvou seu corpo novamente em direção à janela com o intuito de observar Johnny. Entretanto acabou por encontrar uma barreira em sua visão, seus olhos haviam se encontrado com algo inusitado.
Mark não se lembrava de sentir tamanho arrepio em toda sua vida. Ele estava mesmo vendo o que estava vendo?
Donghyuck hesitou sentindo-se desconcertado enquanto o canadense respirava fundo, fingindo-se de desentendido. O fantasminha estava tentado a acreditar que o mais velho havia o visto a sua frente, e seu "coração" não poderia estar mais do que acelerado.
— Vamos comprar os ingressos pro festival pra vermos eles tocando amanhã depois da aula, certo? — Renjun havia chegado com aquela pergunta, apoiando-se no ombro do canadense de maneira amistosa.
Mark fizera rapidamente que sim, já sentindo toda empolgação o preencher. Mal podia esperar para ver Johnny tocando ao vivo, com direito a fantasias, efeitos especiais e músicas inéditas.
— Não acredito que você vai pagar pra ver uma coisa que você vê de graça toda semana... — Jaemin murmurou insatisfeito, deitando-se no chão. — Não sei o que as pessoas da cidade veem nesse garoto... É só um idiota com síndrome de estrelismo.
Mark e Renjun respiraram profundamente, ignorando a revolta do mais novo. Eles bem sabiam que o Na só desgostava do Seo graças aos problemas que ele havia tido com sua irmã mais velha, não havia como não enxergar como o mais velho era genial.
— Jiwoo ainda tá brava com a Jinsoul por causa dele? — Jeno deitara-se ao lado de Jaemin, querendo saber sobre a briga que a irmã do Na havia tido com Jinsoul, sua irmã mais velha.
Jaemin assentiu, dando um suspiro de insatisfação. Não era para tudo acabar daquele jeito por causa de um misero garoto problemático.
— O Hendery faltou de novo? Não tô ouvindo a segunda guitarra... — Chenle decidiu aproximar-se dos garotos mais velhos, apoiava uma das mãos no batente para observar a banda.
— Ouvi por aí que ele tá com algum problema na mão... — Jisung respondera rapidamente, juntando-se a janela.
— O QUÊ? — Renjun e Mark indagaram em uníssono, assustando o mais novo que acabou por se afastar.
— F-foi só o que disseram...ouvi por aí... — Jisung reforçou, não queria que os dois garotos fanáticos o crucificassem por divulgar algo falso.
— Mas é verdade, a Jinsoul me disse ontem... Acho que quebrou numa briga — Jeno proferiu enquanto brincava com os fios da camiseta do Na.— Vão abrir um concurso pra encontrar um substituto, as inscrições abrem na semana que vem...
Mark e Renjun se entreolharam com sorrisos empolgados nos rostos, nitidamente haviam tido a mesma ideia.
— Ah não... — Jaemin murmurou com seu mesmo tom negativo — Vocês não vão se inscrever, vão?
— E você ainda pergunta? — Chenle caçoou, rindo dos dois garotos mais velhos que já estavam dançando na sala.
— Deus tá vendo que vocês tão comemorando que o Hendery quebrou a mão... — Jeno debochou, mas também estava divertindo-se com a alegria dos garotos que até mesmo estava realizando seu toque de amizade.
— Vocês sabem que só tem uma vaga, né? — Jisung murmurou, quebrando o barato de Mark e Renjun. — Se um entrar ou outro vai ficar chupando o dedo...
— É verdade... — Renjun murmurou em tom de tristeza. Ele sabia que o canadense queria aquilo mais do que tudo.
— Tudo bem Injun, se qualquer de nós ganhar...não importa... Vai ser muito legal de qualquer jeito, certo? — Mark acrescentou, sorrindo largo para o Huang.
— Certo!
— Tão dizendo isso agora, quando chegar o dia vão ter virado inimigos mortais...graças ao idiota. — Jaemin protestou novamente, afundando-se dentro de seu moletom.
— Não vai acontecer Nana...— Donghyuck murmurou, encarando os dois amigos, — Eu tenho certeza que não...
Porque Donghyuck já havia visto o bastante para comprovar que aquela amizade jamais se desestruturaria tão fácil.
XXX
Jiwoo estava impaciente, já não aguentava mais aquele tipo de coisa se repetindo semana a semana. Por que os garotos haveriam de querer se encontrar sempre na casa de Mark? Por que justamente na casa do vizinho de Johnny? Aquilo era algum tipo de provocação? Uma estratégia de tortura?
Como se já não bastasse todas as aulas conjuntas no colégio e o fato de que todos naquela cidade o tratavam como uma celebridade, Jiwoo ainda tinha de se sujeitar aos olhares provocativos que o americano dirigia a ela quando esta passava por perto.
Aquela com certeza era uma provação, se Jiwoo não ficasse conhecida em Highway to Heaven da maneira tradicional ao presenciar um evento sobrenatural qualquer, ela de certo ficaria famosa por ter dado um soco certeiro na boca esculpida de Johnny Seo.
— Já falei que não precisava vir... — Jaemin murmurou, encarando a menina que estava visivelmente desconcertada — Ele faz esse tipo de coisa porque sabe que você cai Jiwoo.
— Da última vez que deixei vocês sozinhos vocês voltaram pra casa quase meia noite depois de passarem a tarde inteira explorado aquela mansão caindo aos pedaços... Acha mesmo que eu tenho escolha? — a menina rebateu, puxando o Na pelo braço. — Cadê o Jisung...?
— Descendo...
— Como esse garoto consegue ganhar todas as competições de corrida, mas demora duas horas pra descer uma escada? Mistérios de Higway to Heaven... — a menina brincou, tomando Jaemin em um abraço.
— O culpado da lerdeza se chama Zhong Chenle, deve tar se despedindo... — Jaemin sorriu à mais velha, caçoando da paixão platônica do mais novo.
— Ele tá bem? Os outros também? — Jiwoo quis saber, preocupando-se com a segurança dos 6 meninos que sempre se envolviam em confusões absurdas.
— Estão sim...mas o Jeno tá com saudades... Faz tempo que não vamos lá. — o Na queria concertar a relação de amizade que haviam entre as duas famílias, mas Jiwoo ainda sentia-se extremamente ofendida.
— Já falamos sobre isso... Posso ver o Jeno na escola quando ela estiver bem longe... — a menina mordeu os lábios demonstrando seu desconforto. — Não posso desculpar alguém que não pediu desculpa e que visivelmente não se importa com o próprio melhor amigo...
A relação entre os Nas e os Lees costumava ser das mais bonitas da cidade, mas tudo mudou quando o elemento “Johny Seo” se intrometera. As duas garotas que antes costumavam ser boas amigas, agora mal trocavam palavras em razão de opiniões conflitantes. Enquanto Jinsoul escolhera defende-lo, Jiwoo tinha mais do que certeza que Taeil não faria aquilo consigo mesmo sem que houvesse um incentivo maldoso.
XXX
Quando Mark finalmente se vira sozinho na imensidão de seu quarto, ainda era embalado pelos últimos acordes melancólicos da guitarra de Johnny Seo e por mil e um pensamentos ansiosos.
O canandense quase que não conseguia acreditar que não só sua maior inspiração o veria tocando, como também que este tinha a possibilidade de juntar-se, mesmo que temporariamente, a sua banda predileta. Era quase como se estivesse sonhando acordado.
— Eu espero que ele goste de me ver tocando... — o canadense murmurou para si mesmo, encarando seu teto coberto de estrelinhas— E-eu sei que não sou tão incrível mas...eu pratiquei bastante... E-eu sei tocar Say it bem até.
— Vai dar tudo certo, eu sei que você consegue... Eu gosto muito de te ouvir tocar Say It, o John vai gostar também. Você é sim incrível — Donghyuck murmurou de volta, mesmo que duvidasse que o canadense o estivesse ouvindo.
Mark engoliu em seco, ele estava falando com ele novamente.
O garoto não sabia ao certo quando aquilo havia começado, se estava assistindo filmes de terror demais e nem se poderia estar sofrendo algum tipo de efeito colateral devido a falta de sono e ao excesso de Coca-Cola, mas era certo que o canadense estava escutando alguém que, tecnicamente, “não estava ali”.
Era fato que a voz era do tipo amigável, Mark não se lembrava de ter recebido nada além de elogios e piadas vindas desta, mas ainda assim o canadense não poderia mentir e dizer que aquilo não o deixava nervoso. Poderia até gostar dos filmes e dos boatos que circundavam na cidade, mas em nenhum momento considerara que fazer parte de um dos casos pudesse ser uma possibilidade.
— Deve ser só a minha cabeça... N-não tem ninguém aqui. — Mark murmurou para si mesmo como se quisesse averiguar sua sanidade mental, mas acabara por receber uma risadinha de Donghyuck como resposta. — Q-quem tá aí?
Donghyuck permanecera calado por alguns segundos, contentando-se em observar a feição do canadense. O mais novo nem sabia ao certo o porquê, mas desde que o havia visto naquela noite estrelada, sabia que o outro Lee era do tipo especial.
Mark era o único capaz de escuta-lo.
— O-olha...dono dessa voz...e-eu andei te escutando...bem mais do que o normal... Às vezes era uma vez ou outra, demoravam meses e meses pra que eu escutasse alguma coisa...mas de uns dias pra trás eu tenho te ouvido mais. E-eu...acho...acho até que posso ter te visto hoje.....E-e muito obrigado...por sempre me elogiar e agir...como se fosse um verdadeiro fã...e você também faz piadas engraçadas...— Mark gaguejou, sentindo-se um completo maluco — Então...s-se você realmente existe...p-por favor me da um sinal!
O mais novo torceu o pescoço sem saber muito o que fazer. De fato realmente gostava que o garoto pudesse ouvi-lo e responde-lo, mas lembrava-se bem que Taeil desaprovava tal relação.
“ Você não pode deixar que eles te vejam, eles não gostar de saber que você anda assombrando a casa deles “
— Meu deus...eu realmente estou ficando louco... O que eu acho que estou fazendo? Conversando com uma voz imaginária... O Chenle com certeza riria da minha cara... — o Lee balançou a cabeça em negação, desaprovando suas próprias atitudes. — Hora de fazer o que realmente importa, treinar pro teste...
O canadense respirou, fundo caminhando determinadamente até sua guitarra.
— Toca Quiet Down... — Donghyuck murmurou por hábito, esquecendo-se de que deviera ficar calado.
— Okay... — Mark respondera, sem se dar conta em um primeiro momento de que aquilo que havia acontecido durante a tarde estava se repetindo. — V-você....
O fantasminha manteve-se em silêncio, ainda sem perceber o que estava se passando por ali. Por que Mark estava apontando em sua direção?
— Você....realmente....existe?
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