História 7 Dream - O passado de Johnny Seo

Nevava pela primeira vez em anos em Higway to Heaven, mas os fãs da banda Limitless faziam fila em frente à única revistaria da cidade para garantirem um exemplar da revista Turn Back Time cuja a chamada em destaque apontava John Jun Seo, o talentoso líder do quinteto, como o patrimônio regional da cidade, e a maior chance de escapatória para associação constante com ocultismo. Mark Lee, o primeiro da fila desde as 4 da manhã, havia passado a madrugada no sofá velho da loja de antiguidades de seu tio para que garantisse o único exemplar autografado. E mesmo sendo derrubado por uma tremenda dor nas costas e um resfriado intenso que o impedira de ir na aula no dia seguinte, caso o perguntassem sobre o episódio da revista, ainda nos dias de hoje, o garoto canadense diria com confiança que a experiência tortuosa havia valido o sufoco.

Fã da banda desde o surgimento, Mark Lee costumava exibir-se aos 4 cantos com o fato de ter a possibilidade de ter podido acompanhar de sua janela, não só formação, como também a evolução da banda, conseguindo gerar inveja em um total de 1 pessoa em seu ciclo de amizades. Huang Renjun realmente gostaria daquele privilégio.

Auto intitulando-se por muitas vezes como o maior e mais experiente fã da Limitless e da discografia autoral da banda de fundo de quintal — com exceção óbvia de Lee Jinsoul, responsável pelo incrível feito de flechar o coração do vocalista sem esforço algum —, Mark Lee ainda acreditava piamente saber todo e qualquer fato a respeito do americano,  descrevendo sempre que lhe era perguntado fatos inutilmente decorados como o tipo sanguíneo e o nome de seu falecido peixinho dourado. Entretanto, mesmo que Mark fosse um dos poucos fãs a ter a honra de ter conhecido Goldie pessoalmente antes que este acabasse enterrado entre as petúnias do jardim do Seos, o canadense estava tremendamente errado ao acreditar conhecer profundamente o precipício de tormentos que era o garoto Youngho.

Comumente descrito como uma figura de beleza avassaladora, talento imensurável e simpatia inesgotável, pouco se sabia sobre o real Johnny Seo e seu passado manchado por uma morte dolorosa em seu ciclo de amigos. Os boatos que corriam pelos corredores do colégio da Escola Municipal de HH é que após uma discussão acalorada em uma madrugada de sexta-feira próximo ao grande festival de Hallowen da cidade, Moon Taeil, um estudante modelo de apenas 16 anos, e colega de turma do Seo desde a 1° série, havia atentado contra sua própria, deixando parentes e amigos para trás.

John, dentre o grupo de amigos de Moon Taeil, fora o único a se ausentar do enterro, além de evitar deixar qualquer publicação ou declaração de luto em suas redes sociais. Haviam aqueles que arriscavam dizer que o americano só estava lidando com a morte do amigo de sua própria forma, mas entre os antigos colegas de Ensino Médio, ainda nos dias de hoje, não faltavam especulações a respeito da postura tomada pelo garoto. Mesmo que de maneira escondida, pode-se dizer que além de Jiwoo, haviam 3 ou 4 estudantes que podiam jurar de pés juntos que o perfeito John Seo estava tremendamente relacionado à morte de Taeil.

Mas já haviam se passado 6 anos. 6 longos anos desde que Taeil havia partido sem deixar explicações que poderiam “justificar” seu gesto de dor. 6 anos desde que o melhor amigo de Jiwoo havia se tornado apenas um número na terrível taxa de mortalidade daquela cidadezinha infernal. 6 anos desde que, mesmo sendo procurado pela polícia, Johnny Seo havia saído ileso de uma situação tremendamente suspeita.

Para que todos que olhassem, incluindo obviamente seu maior fã mirim, Johnny Seo se parecia de fato com o cara mais legal de toda HH, mas para Taeil, o qual era obrigado a esconder um namoro consigo, de certo, este não havia sido tão legal assim.

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O relógio marcava 3:17 quando Mark acordara com o peito em disparada despertando de um pesadelo terrível no qual era perseguido por um psicopata. Depois do filme sem graça recomendado por Jiwoo que fizera quase todos do grupo dormirem, Renjun tivera a brilhante ideia de faze-lo jogar um jogo tenebroso proibido em mais de 50 países. Agora, enquanto o garoto descansava tranquilamente no ombro de Jaemin, Mark encarava os próprios braços em desespero, acreditando piamente que havia sido atacado de verdade.

Depois de auto-verificar-se e já mais calmo, Mark passeou com os olhos pela sala dos Nas, demorando certo tempo até percebe-se que entre os amigos adormecidos, não haviam os dois garotos mais novos. Chenle poderia ter sido obrigado a voltar pra casa no meio da noite, como já havia acontecido uma vez, mas a ausência de Jisung causara tamanha estranheza no canadense que este achou válido buscar pelo caçula.

Tomando cuidado para não despertar Jeno que dormia em um dos sofás, Mark caminhou vagarosamente até o corredor do local, tateando a parede com a ponta dos dedos para que não se perdesse ou acabasse tropeçando nos degraus da escada. Seu primeiro ponto de parada era o quarto do menino, apostando na ideia de que o outro havia simplesmente se cansado de dormir no colchonete velho que os pais do garoto haviam colocado na sala.

Com um feixe de luz saindo pela fenda abaixo da porta, a teoria do canadense parecia praticamente validada. No entanto, movido por um senso de proteção não solicitado, Mark acabara sendo tentado a abrir a porta, apenas para que tivesse certeza que o psicopata do jogo tenebroso não havia levado o menino embora.

E como se já estivesse sentindo aquilo, Mark não encontrara, nem ali, nem em qualquer outro local da casa, fazendo-o acreditar fortemente que o grito estridente que havia ouvido do lado de fora pertencia ao amigo.

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— EU NÃO QUERO IR! NÃO QUERO! VOCÊ NÃO PODE ME OBRIGAR! — Dongyuck exclamara de maneira rebelde, forçando o braço para que se livrasse da posse de Taeil, o qual o arrastava agressivamente pelas ruas de HH.

— Donghyuck para de fazer birra! Eu já disse que vamos embora e você tem que me obedecer! — Taeil rebatera com firmeza, puxando o garoto com mais força.

— Por que eu tenho que te obedecer? Você não é meu pai, nem minha mãe! Já disse que não quero ir, gosto daqui! Gosto daqui e dos meus amigos!

O Moon revirara os olhos inconformado com a postura do Lee. Em todos os anos passados ao lado do garoto, aquela era a primeira vez que Taeil via o mais novo se rebelando contra si. Talvez a puberdade também chegasse aos fantasmas adolescentes.

— Já te disse que eles não são seus amigos, quando é que você vai entender isso Dongyuck? Quando eles publicarem uma matéria na Turn Back Time falando que tem um fantasma amaldiçoando a casa deles? Ou quando eles chamarem algum charlatão da Yestoday para te mandar embora?

— Eles não me mandariam embora... — Donghyuck contestou de maneira baixa, tendo certeza absoluta de que os garotos eram bons e doces. — Mark jamais faria isso comigo, ele disse que eu poderia ficar quanto tempo eu quisesse... E-ele me agradeceu por tentar ajuda-lo e disse que poderia me ajudar também!

— E como tem tanta certeza? Como sabe que pode confiar nele Dongyuck? Como sabe se nem sequer viveu o suficiente para saber quem é que pode chamar de amigo...? — Taeil protestou sem polidez, tentando fazer com que o mais novo se desse conta de que não poderia confiar em humanos. — Tem noção do que se meteu hoje cedo por um garoto que nem sabe da sua existência? Tem noção do quanto está se colocando em risco com essa crendice estúpida de que esses garotos são seus amigos Donghyuck? Donghyuck deixe de ser idiota!

O mais novo fungou após a fala, sentindo que em breve não conseguiria mais segurar o choro. Não entendia porque Taeil estava sendo tão mal consigo quando este apenas estava tentando ajudar e fazer alguns laços com garotos da sua idade.

— Você tem que acha-la, não se lembra? Tem que achar sua mãe para que possa encontrar a luz e reencarnar... Se continuarmos aqui, você nunca vai conseguir partir Donghyuck... — Taeil havia escolhido um tom mais gentil ao falar aquilo, assegurando-se de fazer com que o outro se lembrasse de seu real objetivo. — Temos que ir embora...

— Eu não q-quero... — Donghyuck começou aos murmúrios  — N-não quero ir embora... Não quero reencarnar. Não quero deixá-los sozinhos com..o-os fantasmas ruins...os monstros... Não quero deixa-los perto do garoto mal! — o menino esperneou, puxando com força seu braço das mãos de Taeil.

— Q-que garoto mal Donghyuck...?! Do que você está falando...? — Taeil murmurou atordoado sem que entendesse do que o menino estava falando, mas acabara que outro se chacoalhara ainda mais livrando-se finalmente da posse do Moon. Donghyuck havia fugido.

O fantasminha correra desesperado pela rua deserta de HH, buscando por uma ajuda praticamente impossível de vir. Por mais que o Lee fosse um garotinho desesperado gritando no meio da rua, ele ainda era um fantasma que, em grande parte das vezes passava despercebido aos olhos e ouvidos alheios. Mas por ele, por ele Donghyuck sempre era notado.

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— Donghyuck...? É-é você...? Donghyuck eu não estou conseguindo te ver...m-mas eu te ouvi...

Com as mãos em uma lanterna, e as pernas hesitantes, Mark caminhava entre os canteiros de flores da casa dos Jeons, tendo agora certeza absoluta que a voz que havia ouvido gritando pertencia ao fantasminha que se comunicava consigo, e não a Na Jisung.

O canadense estava bastante nervoso, questionando sua sanidade a cada passo dado. O que ele estava fazendo procurando sozinho por um garoto fantasma as 3 da madrugada em uma cidade com fama de assombrada e cheia de malucos, enquanto 2 de seus amigos desapareceram?

Se conseguisse voltar atrás de sua decisão, Mark de certo teria acordado os garotos para não só perguntar a respeito do sumiço dos caçulas, como também para questionar se eles também haviam ouvido um grito estranho, ou era apenas ele ficando maluco novamente. Mas agora ele já estava praticamente na altura de sua casa, tendo a desculpa perfeita para dar caso o perguntassem o que eles estava fazendo na rua àquela hora da madrugada.

— S-se ele não me responde é porque não existe certo...? — Mark questionou a si mesmo, como se esperasse que a voz em sua cabeça o respondesse finalmente com sua própria voz, e não com a do garoto fantasma. — M-mais alguns segundos e eu volto pra casa... Mando uma mensagem pro Renjun e aviso que tive uma tosse alérgica e precisei buscar o remédio. Isso...v-vai dar tudo certo...

Após conferir seu plano, Mark contornou uma moita seguindo em direção a sua casa a passos vacilantes. Fora naquele momento que a bateria de sua lanterna começara a dar indícios de esgotamento.

— Ah droga...! Era só o que faltava... Mais clichê impossível. — Mark reclamou, dando batidas furiosas no objeto na esperança de que a luz paresse de falhar. — Agora é o momento perfeito pra você vir me atacar senhor psicopata...

— Mark...?

— AAAAAH! — o canadense gritara em pânico, sentindo um toque em seu ombro.

— Me desculpa...eu não queria te assustar! Sou eu o Johnny.... — o mais velho tentara o acalmar, tocando os cabelos do adolescente com cuidado.

— J-johnny...o-oi... — Mark reagira nervoso, voltando-se para o americano de maneira envergonhada. — E-eu...tava fazendo muito barulho não é...? Me desculpa eu sei o quanto você é ocupado não devia ficar gritando...

Embora o canadense houvesse se apressado para se desculpar, o mais velho parecera confuso com suas palavras, deixando Mark tremendamente receoso até que este resolvesse manifestar-se novamente.

— Eu não sei do que você está falando, achei que tivesse vindo aqui pelo mesmo motivo que eu... — apontou o Seo de maneira despreocupada. — Você também ouviu, não ouviu...? A voz de alguém gritando.