Ian Somerhalder estava se sentindo bem desconfortável. É verdade que, quando se é um ator mundialmente famoso, é normal receber alguns pedidos bem estranhos ou mesmo absurdos. Geralmente, seu agente lhe contaria algo assim depois de um jantar de negócios, aos risos, e Ian repassaria a história em casa para Nikki, sua esposa. Todos dariam risada e seguiriam em frente.
Não dessa vez. Dessa vez, Ian não apenas teve um jantar inteiro com seu agente para discutir a questão; ele também foi forçado a aceitar o convite absurdo e a viajar o quanto antes de sua casa nos Estados Unidos para a Alemanha. Ou os filhos da chanceler alemã Angela Merkel eram os maiores fãs de The Vampire Diaries do mundo ou esse era o sonho mais louco, comprido e real que Ian já vivenciou.
Com um suspiro, Ian massageou suas têmporas. A viagem inesperada serviu como motivo para mais uma longa e desgastante discussão com Nikki e Ian combatia uma forte dor de cabeça desde que se despedira de seus pets mais cedo naquela manhã. Nikki apenas o ignorara quando ele fez as malas e não interagiu quando seu táxi e ele se despediu. Mesmo que já conseguisse ver os prédios de Berlim de sua janela, tudo o que Ian mais queria era voltar logo para casa.
Recostando sua cabeça no encosto da poltrona, Ian fechou os olhos. A primeira coisa que faria quando chegasse ao hotel seria dormir por umas doze horas. Ele estava livre até a hora do almoço do dia seguinte, quando deveria se encontrar com a chanceler para uma reunião de negócios. E, em vez de questionar o que a mandachuva alemã poderia querer com um ator hollywoodiano, Ian decidiu aproveitar os últimos minutos do voo para um rápido cochilo. Algo lhe dizia que essa não seria uma visita social.
~**~
Ian acordou revigorado na manhã seguinte. A saída do avião e chegada ao hotel foram bem mais tranquilas do que ele imaginara – vantagens de se chegar de madrugada e com nenhum planejamento social. Um táxi o levou ao hotel indicado por seu agente, que já tinha lhe passado o número da reserva do quarto por e-mail, e Ian só mandou mensagens para ele e Nikki avisando que chegara bem antes de tirar os sapatos e capotar na cama macia king size da suíte.
Agora, depois de uma ducha morna e roupas limpas, Ian se sentia preparado para qualquer coisa. Ele só realmente queria voltar para casa o mais rápido possível e tentar se entender com Nikki. No ritmo que as coisas iam, seu casamento iria acabar desmoronando.
Seu agente lhe instruíra a chegar a partir das 11h30 na sala privada 18 do hotel em questão. Por não saber se os negócios viriam antes ou depois do almoço, Ian achou melhor tomar um café da manhã reforçado no restaurante do hotel. Assim que entrou no local, seu celular vibrou em seu bolso com uma mensagem. Ian mal puxou o aparelho e já deu de cara com uma parede de músculos, perdendo o equilíbrio. O homem em que esbarrara o segurou bem na hora, ajudando Ian a recobrar seu balanço.
“Mil perdões, eu estava distraído e não vi o senhor vindo!”
Ian olhou imediatamente para o homem e tirou seus óculos escuros, não conseguindo conter um sorriso ao dar de cara com um par de óculos normais. “Matt?”
De fato: quem o segurava pelos pulsos era ninguém menos do que Matt Bomer, em carne e osso. Matt e Ian tinham se encontrado em uma premiação alguns anos antes e ocasionalmente saíam juntos quando estavam na mesma cidade – raro, mas sempre divertido na opinião de Ian. Talvez ter vindo para a Alemanha não tenha sido assim tão trágico, afinal.
“Ian! Nossa, que bom te ver! Você se machucou?” Matt sorriu, cumprimentando Ian antes de soltá-lo.
“Nah, estou bem. Desculpa ter quase te derrubado, eu já devia ter aprendido o que acontece quando a gente anda e olha o celular ao mesmo tempo.” Matt deu uma risadinha, mas não comentou o caso – era sempre assim. Ian fazia uma trapalhada ou dizia algo impróprio e Matt justificava o ocorrido como um perfeito cavalheiro.
“Não esquenta, Ian. Quem nunca quase tropeçou em outra pessoa por estar respondendo uma mensagem ou algo assim? Mas sério, nossa. Te ver aqui é meio surreal.”
Ian sorriu, guardando o celular de novo. Ele poderia ver a mensagem mais tarde, mas talvez Matt não estivesse no hotel depois de sua reunião. “Eu estava pensando a mesma coisa. Não leva a mal, mas você era uma das últimas pessoas que eu esperava encontrar em Berlim. Quer tomar café da manhã comigo?”
“É exatamente esse o sentimento. Eu já comi, mas te acompanho com prazer. Acho que a última vez que nos vimos foi logo depois do seu casamento, não?”
Assentindo, Ian foi lado a lado com Matt Bomer para uma mesa mais ao canto. Como Ian estava comendo, foi uma refeição mais silenciosa – Matt era muito calmo e tranquilo, quase o extremo oposto de Ian, que falava sem parar. Você sabe, quando não estava com comida na boca. Sua mãe sulista não admitia falta de educação à mesa. Ou em qualquer outro lugar.
Ao terminar seu café, seus olhos encontraram o relógio cuco na parede perto da entrada do restaurante e seu sorriso morreu. 11h50. Não tinha mais tempo para conversar com Matt. O outro, como sempre, sentiu a mudança de humor de Ian na hora.
“O que houve?”
“Estava xingando todas as gerações de quem inventou o relógio. Tenho um compromisso em dez minutos e mal conseguimos conversar. A vida é tão injusta.”
Matt apoiou o rosto nas mãos e sorriu. “Você não mudou nada, Ian. Bom saber. Podemos tentar nos encontrar mais tarde para efetivamente conversar. Não é que eu me importe em te assistir comendo, mas também tenho um compromisso daqui a pouco.”
Os olhos de Ian se arregalaram. “Nossa, desculpa! Super assumi que você estava aqui de férias ou algo assim. Não quero te atrasar, se precisar ir, eu entendo.”
Matt deu de ombros, relaxando no encosto da cadeira. “Não, imagina. Meu compromisso é aqui no hotel mesmo – em menos de cinco minutos, já estou na sala 18.”
Ian até sentiu seu pescoço estralar por conta da velocidade com que virou o rosto de novo para Matt. “Calma. Sala 18? Tipo, sala privada 18?”
“Imagino que sim, por quê?”
Ian sentiu o ar fugindo de seus pulmões e forçou seu coração a pegar mais leve. “Cara, você não vai acreditar. Eu também tenho compromisso na sala 18. Será que é teste para algum filme patrocinado pelo governo alemão?”
Os olhos de Matt se arregalaram tanto com a surpresa que Ian ficou se perguntando se ele não teria distendido alguma coisa. Em outras circunstâncias, Ian teria puxado o celular e tirado uma foto da expressão hilária de choque de Matt. Hoje, entretanto, Ian tinha certeza de que ambos deviam estar com caras bem parecidas, então não teria graça.
“Eu não faço ideia, mas faz sentido? Eu ainda não entendo o que estou – er, estamos – fazendo aqui, mas se é um teste, menos mal. Não tem como não ficar intrigado quando um líder de governo te convoca, eu acho.”
“Concordo muito, Matt. Vamos indo para a sala, então. Você sabe que eu não lido bem com curiosidade.” Ian piscou para Matt, esperando quebrar o clima. Odiava competir contra seus amigos, então torceu para uma coletiva de imprensa ou algo assim os estar esperando na tal sala 18.
Depois de alguns segundos, Matt sorriu e levantou. “Tem razão. Você nunca foi bom em lidar com surpresas. Vamos resolver esse mistério juntos.”
Ian não podia concordar mais. Por mais bobo que fosse, saber que não enfrentaria essa bizarrice sozinho era bem reconfortante.
Os dois se levantaram e foram conversando sobre amenidades até chegarem à sala 18. Matt estivera certo; fora um caminho de menos de cinco minutos. Ian respirou fundo e olhou para Matt, que assentiu discretamente, o encorajando. Era a hora.
Ian bateu duas vezes e abriu um dos lados da porta dupla. “Com licença.”
Nenhum dos dois tinha ideia do que esperar da reunião, mas o cenário que os recebeu nunca teria feito parte das opções. A sala era simples, dominada por uma grande mesa de jantar com lugar para umas 30 pessoas. Nas laterais, balcões com frigobares, guloseimas e material de escritório confirmavam que o local se tratava de uma sala de reuniões. Em uma das pontas da mesa, oito placas de metal – quatro de cada lado de uma cabeceira vazia – indicavam lugares. A primeira placa do lado esquerdo da cabeceira trazia o nome de Ian e a placa ao lado, o nome de Matt. A terceira cadeira já estava ocupada por ninguém menos do que Misha Collins, o ator que interpreta Castiel em Supernatural, uma das séries favoritas de Ian.
Ian nunca fora formalmente apresentado a Misha, apesar de serem empregados pelo mesmo canal e de frequentarem as mesmas premiações e eventos para os fãs. E agora sua chance surgia na Alemanha, em uma viagem surpresa que ele realmente não queria ter feito. Como o destino pode ser irônico.
Seus pensamentos desandaram no momento em que as duas moças presentes – até então de costas para Ian e Matt, que ainda estavam petrificados na soleira da porta – se viraram. A primeira, que se sentava na terceira cadeira no lado direto da mesa, era ninguém menos do que Avril Lavigne. E, ao contrário do que a internet pregava, ela parecia bem viva e humana, não um robô. Ao lado de Avril, na quarta cadeira, estava uma mulher de cabelos ruivos acobreados, também familiar. Onde Ian já a tinha visto?
Misha foi o primeiro a se manifestar. “Olá, gente. Bem-vindos à mesa da pura confusão. Sentem-se, fiquem à vontade para se perguntar conosco a razão de estarmos aqui reunidos hoje.”
Ian sentiu Matt suspirando a seu lado, mas se dirigiu para a cadeira com sua placa. Definitivamente era o sonho mais longo e estranho de sua vida. Matt se sentou ao seu lado pouco depois e Ian dirigiu sua atenção novamente para a mulher ruiva até que sua memória se entregou à sua teimosia.
“Está certo! Eu fui em um show seu no ano passado! Você é vocalista de uma banda de metal, não é?”
O queixo da mulher caiu. “Ian Somerhalder em um show nosso? Uau.”
“Ian e Paul Wesley, na verdade, mas é.” Ian leu rapidamente a plaquinha dela – Simone Simons. “Vocês foram sensacionais, por sinal. Parabéns, Simone.”
Ela assentiu, arrumando uma mecha do cabelo ruivo atrás da orelha. “Obrigada... Nossa, eu não esperava ser reconhecida, levando em consideração os nomes importantes da mesa.”
Ian aproveitou a deixa para espiar as placas dos lugares vazios. “Britney Spears? Catherine Zeta Jones? Colin O’Donoghue? Isso é sério?”
Avril deu de ombros, parecendo tão perdida quanto ele. “Pois é, isso tudo está muito estranho. Por favor, não me levem a mal, mas até agora não consigo entender o que nós todos podemos ter em comum com carreiras e públicos tão diferentes torcendo por nós.”
Misha assentiu. “Concordo. Mal posso esperar pelo início da reunião.”
Matt e Ian se entreolharam na hora. Ambos sabiam o quanto Ian não era bom em ficar parado esperando e ainda tinham mais oito minutos de suspense antes do início da reunião. Matt segurou sua mão por baixo da mesa e a apertou de leve, pigarreando antes de chamar a atenção dos outros.
“Hm, eu não sou muito bom em lidar com a ansiedade, desculpe. Sei que todos nós viemos aqui sem maiores informações de nossos agentes e contatos, então que tal jogarmos um jogo para descontrair?”
Antes que Ian pudesse aproveitar a deixa, Avril se pronunciou. “Sim! Por favor, sim! Também não estou sabendo lidar com essa pressão estranha. Estou dentro.”
Simone e Misha também assentiram, enquanto Matt olhava para Ian, em busca de apoio moral. Ele sorriu para o amigo e se voltou para os outros. “Bem, nós não nos conhecemos – quero dizer, não como pessoas. Já que vamos ter uma reunião todos juntos, acho que seria uma boa ideia jogarmos verdade ou desafio, mas valendo só a verdade. Assim, não vamos nos sentir tão desconfortáveis. O que acham?”
Todos concordaram com a sugestão, então Ian reposicionou a mão de Matt em sua camiseta, jogando o peso de seu corpo para trás. O outro levou um susto, mas o segurou e, ao som de risos dos presentes, Ian alcançou uma caneta na bancada atrás de sua fileira de cadeiras e segurou no braço de Matt para voltar.
“E se eu tivesse caído com você, sua peste?!” Matt resmungou, arrumando os óculos. Ian lhe deu seu melhor sorriso enquanto destampava a caneta.
“Se você não caiu hoje de manhã, não seria um impulso pequeno assim que ia fazer acontecer. Ok, ponta com tinta é para a pessoa que vai responder. Quem quer começar perguntando?”
Misha pegou a caneta em resposta e a girou. Infelizmente, a ponta com tinta parou bem na placa de Britney Spears. Misha sorriu e se recostou para trás.
“Bem, aí vai minha primeira pergunta. Onde está Britney Spears?”
Ele mal acabou de falar quando as portas duplas se abriram rapidamente, relevando a própria Britney com um rabo de cavalo um pouco descabelado, jeans e um moletom de zíper escrito “I love Las Vegas”. Logo atrás dela, entrou outro rapaz que Ian reconheceu na hora como um de seus personagens favoritos em Once Upon a Time.
“Presente!” Exclamou a loira para o grupo, com um sorriso sem-graça. O homem, que Ian deduziu ser o tal Colin da placa vazia, deu uma risada discreta e fechou a porta atrás deles.
Misha começou a rir da coincidência e logo todos se juntaram a ele enquanto Britney e Colin se sentavam em seus respectivos lugares.
“Perdão, mas o que eu perdi?” Britney perguntou, seus olhos quase pulando das órbitas quando ela percebeu que se dirigia a Avril Lavigne. A outra loira parecia tão desconcertada quanto a cantora pop, então Ian assumiu mais uma vez a atenção da sala.
“Foi uma coincidência engraçada, na verdade. Tínhamos acabado de concordar em jogar umas rodadas de verdade ou verdade – quero dizer, sem desafio – para nos conhecermos melhor e tentar ignorar que somos um grupo muito estranho aqui reunido hoje. Aí o Misha girou a caneta e caiu no seu nome e o resto você viu.”
“Oh... Faz sentido. E parece divertido! Por mim, posso responder outra pergunta que não seja onde eu estou.” Britney respondeu, divertida.
“Se não se importarem, eu gostaria de jogar também.” Completou Colin, ficando mais confortável ao lado de Misha. Ian não pode deixar de reparar que ele ficava completamente diferente sem delineador.
“Todos são super bem-vindos no jogo. Misha, pergunte algo à Britney.”
Misha riu, divertido. “Isso foi uma das coisas mais estranhas que já me aconteceu, mas claro, com certeza. Britney Spears. Perdão, sei que você é uma cantora e que já está na estrada há muito mais tempo do que eu, mas não sei mesmo mais nada sobre você. Poderia nos contar um pouco mais sobre você e como você acha que se encaixa nesse nosso belo grupo?”
Britney mordeu o lábio, considerando a pergunta, mas não parecia nem um pouco ofendida. “Não precisa se desculpar... Misha. Posso mesmo te chamar de Misha?” Agora ela estava definitivamente corada e Ian teve que segurar muito seu fanboy interior. Não era o momento para ser o Ian normal; tinha de ser o Ian showman.
“Pode sim.” Misha sorriu, entendendo a hesitação dela. “Misha ainda é melhor do que o meu nome verdadeiro.”
Antes que Britney pudesse responder, Colin se manifestou. “Quem pegar esse cara pra perguntar, por favor, faz ele esclarecer isso porque fiquei curioso.”
A mesa explodiu em risadas. Mesmo Misha assentiu enquanto ria, oferecendo sua mão para Colin, que o cumprimentou com ‘toca aqui’. Britney pigarreou e voltou a atenção para si.
“Então. Meu nome é Britney Jean Spears. Nasci em McComb, no Mississipi. Estou no showbusiness desde criança, mas passei a ser mundialmente conhecida a partir dos anos 2000. Tenho dois meninos lindos – Sean e Jayden – e, nos últimos anos, me dediquei às minhas apresentações em Las Vegas e ao meu último CD, Glory. Glory foi um trabalho super importante pra mim, pois fazia muito tempo que eu não podia fazer exatamente o que eu queria e como eu queria em um álbum. Os fãs com certeza perceberam isso e o feedback tem sido maravilhoso. Apesar de conhecer alguns de vocês de nome e de vista em premiações, não faço a menor ideia da razão pela qual estou aqui.”
Ian assentiu como todos os outros, mas já sabia de tudo isso. Um de seus sonhos era ter a chance de conhecer Britney pessoalmente, mas nunca conseguira fazer seus caminhos se cruzarem nas premiações. Misha sorriu para ela.
“Obrigado, Britney, e parabéns pelo novo CD.”
Ela sorriu e se esticou para alcançar a caneta. “Obrigada. Ah, e a resposta para a sua primeira pergunta: estou sentada em uma sala de reuniões em Berlim, prestes a escolher minha vítima para uma pergunta.”
Todos riram enquanto Britney girava a caneta. A ponta parou em Matt dessa vez. O rosto da loira se abriu em um belo sorriso.
“Matt, tem uma coisa que eu gostaria de te perguntar desde que assisti aos dois Magic Mike. Quer casar comigo?”
A mesa mais uma vez explodiu em risos. Dessa vez, Ian percebeu que Avril estava genuinamente se divertindo e que Matt, apesar do leve rubor em sua face, também achou engraçado.
“Puxa Britney, como dizer não para a princesa do pop? Quero dizer, espero que você entenda que teremos de fazer duetos à beira mar, que terá de me colocar como seu dançarino principal em qualquer apresentação e que terei de almoçar com meu marido, Simon, aos domingos. Ah, e se você não se importar em virar mãe de mais três meninos, com certeza eu caso. Já aviso que Henry e Walker são gêmeos, mas Kit consegue discernir os dois, então ele pode te ajudar a controlar os problemas.”
Matt falou tudo com um sorriso encantador, fazendo o coração de Ian bater mais forte. Se não fosse pela orientação sexual de Matt, Ian com certeza teria shipado os dois juntos. Britney riu.
“O que são mais três meninos quando já se tem dois? E sem problemas, sou ótima em dividir. Pode perguntar para os meus últimos três namorados – todos tinham outras mulheres quando não estavam comigo. Na verdade, é um alívio saber que você vai ter um homem, assim meu currículo não vai ficar tão entediante.” Ela piscou para Matt e ele se levantou, alcançando sua mão e plantando um delicado beijo.
“Podemos pedir para Angela Merkel oficializar nossa união. Tenho certeza que ela não vai se importar.”
Simone já tinha rido tanto que suas bochechas estavam quase da cor de seus cabelos. Colin e Misha também pareciam estar se divertindo muito às custas dos dois, mas Ian focou em Avril. Apesar de sua expressão relaxada, algo estava deixando a outra loira tensa. Ian já tinha escutado rumores de que Avril era tímida fora dos palcos, mas a postura dela tinha mudado desde que Britney chegara. Interessante.
“Matt, assim eu vou vomitar. Por favor, senta aqui e gira a caneta de uma vez.” Ian fingiu reclamar, dando leves tapinhas na cadeira vaga ao seu lado.
Matt riu e obedeceu, se sentando e já girando a caneta. A ponta parou na direção de Simone, que ainda se abanava discretamente para se livrar do rubor nas bochechas.
“Simone Simons. Vou pegar emprestado o discurso do Misha e começar me desculpando. Já cheguei à conclusão que o único que conhece todas as pessoas nesta sala de uma forma ou de outra é o Ian, mas isso não é surpresa. Ele mencionou que foi em um show seu, então estou assumindo que você é cantora? Por favor, assuma o comando antes que eu passe mais vergonha.” Matt estava genuinamente sem jeito, então Ian decidiu aliviar a barra dele.
“Eu só queria dizer,” começou ele, antes que Simone começasse a responder, “que antes do Colin chegar, eu achava que não conhecia ele também.”
Colin se inclinou e olhou para Ian na mesma hora, com uma sobrancelha erguida em pura desconfiança. A mesma expressão que ele usava como Capitão Gancho. “Isso é sério? Você sabe quem eu sou? Porque eu não vou mentir, eu só conhecia de nome ou vista o Misha, a Britney e a Catherine.”
Matt nem deu chance para Ian se manifestar. “Ian é uma daquelas pessoas que sai com todo mundo, tem amigos em todos os cantos do globo e é mega antenado na cultura pop desde que nasceu. Ele é tão paz e amor que poderia ter sido hippie se tivesse nascido na época certa.”
“Nossa, obrigado. Agora todo mundo vai achar que eu passo o dia inteiro sentado na sombra de uma árvore com meu cachimbo e um violão.” Ian resmungou, sentindo seu próprio rosto ficar meio vermelho.
“Para tudo.” Avril interrompeu, chamando a atenção da mesa para si. “Tenho certeza de que todos nós já ouviu falar de pelo menos um colega na sala, mas você, Matt, e o Ian parecem que genuinamente se conhecem. Tipo, como pessoas, não como celebridades.”
Ian sorriu para ela. “Talvez sim, talvez não. Melhor alguém esclarecer isso na próxima vez que a caneta cair em mim ou no Matt.”
Todos riram, inclusive Avril. Assim que o barulho foi controlado, Ian voltou ao comando. “Simone, perdão, super te interrompemos.”
A ruiva sorriu, sem nenhum ressentimento. “Não me importo. É como a Avril disse – todos nós nos conhecemos, só que não. Também admito que fiquei curiosa com a reunião e com vocês dois, mas a verdade é que não estou muito longe de casa. Sou sim uma cantora – sou vocalista de uma banda de metal chamada Epica. Nasci em Heerlen, Hoensbroek, na Holanda e atualmente moro com meu marido, Oliver, e nosso filho, Vincent, em uma cidade aqui da Alemanha. Nunca fui para Hollywood a trabalho – a não ser que contemos os shows– e não sou atriz profissional. Quando não estou gravando ou em turnê, mantenho um blog de beleza e lifestyle. Se vocês estão se sentindo perdidos nesse grupo, imaginem eu.”
Todos na mesa assentiram e Ian ficou surpreso ao perceber como aquilo fazia sentido – ou melhor, como não fazia. Todos ali eram americanos com exceção de Simone. Como uma cantora de metal veio parar nessa bizarrice? Não que a reunião parecesse ter qualquer padrão, é claro. Ian, Misha e Colin tinham um público adolescente, por causa dos seriados, e este poderia coincidir com partes do público de Avril e Britney, mas Matt, Catherine e Simone não pareciam ter públicos semelhantes a esse. Britney e Matt com certeza tinham muitos fãs homossexuais, Matt e Catherine provavelmente cativavam um público mais adulto. Mas e Simone?
Ian pigarreou e decidiu aliviar o clima tenso. “Se serve de consolo, eu já te conhecia antes de tudo isso.”
Simone sorriu e Britney fez um barulhinho que parecia muito com ‘awww’. “Obrigada, Ian. Sei que é bobagem me sentir perdida entre vocês quando claramente todos nós estamos perdidos juntos. Vamos continuar o jogo.”
Avril se pronunciou antes que ela girasse a caneta, olhando para a ruiva ao seu lado. “Simone, isso não tem nada a ver. Você é uma cantora, assim como eu e Britney. Somos da indústria da música antes de mais nada, então você não está tão deslocada assim. E, enquanto estivermos juntos nessa sala, seremos um time. Nós oito.”
Dessa vez, Ian se juntou a Britney no ‘awwww’. Simone sorriu de verdade pela primeira vez desde que Ian e Matt chegaram. “Obrigada, Avril. De verdade. Por incrível que pareça, isso me acalmou.”
Antes que o jogo pudesse continuar, as portas duplas se abriram de novo. Já eram quase meio dia e meio, mas ninguém percebera o tempo passando. A mulher entrou rápido e já fechou a porta, tirando seu belo chapéu branco que combinava com seu terninho de linho.
“Perdão pela demora, houve um problema de segurança com o meu voo e ficamos quase duas horas presos dentro do avião até que as autoridades alemãs ficaram satisfeitas com a inspeção.”
Ian não conseguia respirar. Era ela. Catherine Zeta Jones. Em carne, osso e beleza. Matt parecia tão maravilhado quanto ele, então Colin foi o primeiro a se manifestar.
“Não se preocupe, sra. Jones. Ainda não vimos nem sinal da chanceler também, então teoricamente você não se atrasou. Fique à vontade para se sentar conosco enquanto esperamos.”
Catherine olhou para Colin e sua testa se franziu enquanto ela percebia pela primeira vez quem efetivamente estava na sala. Sua face só se iluminou quando seus olhos repousaram sobre Matt.
“Obrigada... Sr. Donoghue.” Catherine claramente precisara de uma ajuda da placa, mas Ian não podia culpá-la. “Alguma ideia do motivo pelo qual fomos chamados aqui hoje?”
“Ainda não, nem ao menos teorias, já que somos um grupo bem diversificado. Nosso único denominador comum por enquanto parece ser esse cara no lugar em frente ao seu.” Colin deu de ombros, tranquilo.
Catherine assentiu e finalmente focou sua atenção em Ian enquanto caminhava até seu lugar. “Muito prazer... Sr. Somerhalder. Alguma ideia de como todos nós poderíamos estar reunidos?”
Ian quase sentiu a garganta se fechar, mas a mão de Matt em sua perna o acalmou e o ajudou a recuperar o foco. Eles não estavam ali sozinhos e precisavam fazer os outros sentirem essa camaradagem entre si também. Ele respirou fundo e respondeu:
“Na verdade, não. Nenhuma. O fato de eu saber quem todos nessa sala são é só uma bizarra coincidência. Quero dizer, eu e Matt meio que somos amigos desde que nos encontramos em um People’s Choice Awards. Acompanho o trabalho da Britney desde praticamente sempre e também ouço muito as músicas da Avril. Calhei de acompanhar meu amigo Paul Wesley em um festival de música de metal no ano passado e assisti um show da Simone com sua banda. Supernatural e Once Upon a Time – os seriados de TV em que Misha e Colin atuam, respectivamente – calharam de serem alguns dos meus atuais favoritos. E, bem, quem nunca assistiu aos filmes do Zorro ou a Armadilha nessa sala, por favor, levantem a mão.”
Com exceção de Matt, todos os outros pareciam estarrecidos com a coincidência. Britney foi a primeira a quebrar o silêncio. “Até eu assisti os filmes do Zorro e Armadilha com a Catherine. Até usei aquela cena de Armadilha como inspiração para um dos meus vídeos uma vez, foi muito bom.”
Ela não disse isso a ninguém em especial, só estava desconcertada e pensando alto. Ian resolveu usar o gancho como uma chance para continuar a conversa.
“Nossa, isso explica tudo em Toxic!”, ele exclamou.
Matt sorriu e apertou discretamente sua coxa. “Ian, eu sei que você não faz de propósito, mas você está deixando a minha noiva sem graça. Depois da reunião, tenho certeza de que todos ficarão felizes em te dar autógrafos e posar com você para selfies.”
Misha foi quem se recuperou mais rápido. “Bem, isso explica muita coisa. O universo é um lugar bem estranho mesmo, mas pelo menos temos um ponto em comum no grupo. Para tentar sair desse desconforto, sra. Jones, Ian sugeriu um jogo de verdade ou verdade, sem o desafio. Assim, podemos nos conhecer melhor enquanto esperamos.”
Catherine assentiu. “É uma boa ideia. Me desculpem pelo silêncio, mas essa situação toda é bem estranha. Sem ofensas.”
“Aposto cinco euros que não foi a mais estranha de nossas vidas.” Murmurou Colin para ninguém em particular.
Misha respondeu mesmo assim. “Concordo com você, cara.”
Eles não tiveram chance de continuar nem o jogo e nem a conversa. As portas duplas se abriram pela última vez e quatro guardas entraram, revistando a sala inteira, sem dirigir uma palavra a nenhum dos oito presentes. Todos ficaram imóveis, sem saberem o que fazer ou como reagir. Pouco depois, a própria chanceler alemã entrou com mais quatro guardas e as portas foram trancadas atrás deles. Um dos guardas também acendeu as luzes e fechou as cortinas da sala. Logo, os oito estavam cercados por guardas e Angela Merkel se posicionou na cabeceira da mesa, se sentando também.
“Bom dia, senhoras e senhores. Em primeiro lugar, muito obrigada por terem concordado com uma reunião tão em cima da hora e em um lugar tão fora de mão para a maior parte de vocês. Muito prazer, podem me chamar de Angela. Tenho certeza que vocês todos têm perguntas, mas prometo que tudo ficará claro em alguns momentos.”
A chanceler fez um movimento para os guardas e um deles trouxe uma caixa de madeira para ela. Com um suspiro, Angela a abriu e pegou um envelope.
“Tudo o que for aqui revelado não poderá deixar esta sala. Minha equipe de segurança deixou o local seguro hoje mais cedo e já recebi a confirmação de que estamos acusticamente isolados. Se não se importarem, por favor, celulares em cima das mesas. A história é a seguinte.”
Ian sentiu calafrios, segurando na mão de Matt automaticamente por baixo da mesa assim que deixou seu celular em cima da mesa. Historicamente, esquemas vindos do governo alemão raramente terminavam bem para qualquer outro povo.
“Desde que assumi o cargo de chanceler, venho trabalhando junto à Interpol para desmascarar e desmontar grupos terroristas infiltrados dentro de governos europeus. Uma das agentes de campo em especial foi responsável sozinha pela queda de seis quadrinhas na Grécia e uma na Espanha. Estávamos trabalhando juntas em um esquema muito maior, para revelar infiltrados em governos de todo o mundo e, aparentemente, ela conseguiu reunir evidências o bastante para derrubarmos metade dos piores criminosos do ocidente. O problema é que ela desapareceu há três semanas e, quatro dias atrás, recebi a confirmação de que ela foi capturada.”
Todos pareciam ter prendido a respiração. Angela suspirou mais uma vez ao pausar seu discurso, demonstrando todo seu pesar com a situação enquanto seus guardas recolhiam os oito aparelhos celulares de cima da mesa e os trancavam em uma caixa de metal.
“Hope é uma agente disfarçada há mais tempo do que eu gostaria de admitir, então é idiotice perguntar a qualquer um de vocês se conhecem ela. Mas isso nos leva ao motivo de eu ter pedido a presença de vocês com tanta urgência. Hope deixou uma carta com instruções para a obtenção da pesquisa dela nesses grupos e das evidências. E, apesar das instruções e de terem tido a chance de analisar a caixa com pistas, meus especialistas não conseguiram desvendar o enigma de Hope. Ela me avisou que só vocês oito conseguiriam, mas eu tinha de tentar. Não me sinto confortável em deixar o destino de um continente inteiro nas mãos de 8 celebridades, sem ofensas.”
Ian não conseguiu se conter mais. “Espere um pouco. Com licença, Angela, mas deixe-me ver se entendi isso. A senhora nos convocou aqui porque uma agente da Interpol de quem nunca nem ouvimos falar por motivos óbvios nos usou como engrenagens em um enigma e, se não acharmos a resposta, a Europa inteira está ferrada? Sem pressão, hein.”
Angela lhe deu um sorriso sarcástico. “Agora estamos na mesma página, Sr. Somerhalder. Eu preciso de vocês oito focados nisso, então vou lhes dar acesso a todos os arquivos que tenho sobre Hope, à carta e à caixa com objetos que ela deixou. Já expedi cartas oficiais para suas famílias e agentes, aconselhando discrição e justificando sua ausência por tempo indeterminado. Também já chamei um micro ônibus para levá-los à minha casa de campo, onde não serão incomodados. Deixarei um celular descartável com vocês, mas pedirei que deixem seus aparelhos comigo. É um assunto muito sério para arriscarmos vazamento de informações.”
Colin levantou a mão, interrompendo a chanceler. “Com licença, Angela. É claro que nos sentimos honrados em ter a chance de colaborar com um problema tão complexo, mas alguns de nós têm filhos pequenos. Como a senhora espera que eu deixe minha esposa sozinha com um bebê? E Britney é mãe solteira de dois meninos. Como eles vão ficar tanto tempo longe dela sem mais nenhuma figura reconfortante por perto? Isso é praticamente sequestro.”
Britney assentiu e vários outros na mesa fizeram o mesmo. Ian mordeu seu lábio, sabendo que os únicos que não tinham filhos eram ele e Avril. Isso podia se tornar um problema real.
“Sr. O’Donoghue, já pensamos em tudo. Ligações via Skype uma vez a cada dois dias serão permitidas e enviaremos compensação financeira para todas as famílias com filhos aqui presentes. Assim, não haverá distrações. Peço desculpas por estar mais preocupada com o futuro do meu continente do que do de suas famílias individualmente.” Seu tom na última frase foi seco e decisivo. Pelo visto, resolveriam juntos o enigma de Hope por bem ou por mal.
Antes que pudesse ser interrompida de novo, Angela continuou, “Não vou colocar nenhum prazo, apenas perspectivas. Os senhores serão transportados para minha casa de campo hoje, assim que acabarmos esta reunião, e quanto antes resolverem esse enigma, mais rápido poderão voltar para suas vidas normais. E, é claro, é possível que Hope ainda esteja viva. Se agirmos rápido, é possível que ela consiga se safar e possa até pedir desculpas para vocês em pessoa.”
“E-eu achei que a moça já estivesse morta?” Britney gaguejou, nervosa, ecoando os pensamentos de todos na sala.
“Eu estou assumindo que está, mas até acharmos um corpo ou evidências, tudo é possível, Srta. Spears.”
Ian sentiu na pele o novo nível de tensão no grupo. Essa agente, Hope, estava contando com todos eles para se salvar e, se ela morresse, também seria culpa deles. Sem falar na parte em que eles eram a chave para uma vida melhor para um continente inteiro. E Ian pensando que essa viagem poderia ser algo bom... Quanta ingenuidade.
“Se ninguém mais tiver nenhuma dúvida, vamos prosseguir.” Apesar do que disse, Angela não deu chance para novas perguntas. “O conteúdo da caixa consiste em: um livro em português, brincos, partituras musicais, maquiagem, cinzel, garrafa de cerveja vazia, máscara, caneta, camiseta, cartão de crédito, abotoaduras, anel, caderno, bicho de pelúcia, sementes, colar, pena, perfume vazio, cd, pulseira e um vidro de esmalte. Teoricamente, esses itens farão sentido para vocês e, a partir deles, cada um de vocês precisa encontrar uma letra, como se fosse um jogo de forca.”
Angela passou outro papel pela mesa, com oito espaços desenhados e numerados. Embaixo de cada espaço, tinha um número e a lista de seus nomes:
1. Colin, 2. Simone, 3. Catherine, 4. Ian, 5. Misha, 6. Britney, 7. Matt, 8. Avril.
Ian se sentiu arrepiar ao ver que efetivamente tinha uma forca desenhada no canto do papel. Provavelmente um disfarce por parte de Hope, mas não o fez se sentir melhor.
“A Alemanha e a Europa contam com as senhoras e os senhores. Minha equipe já arrumou as malas de vocês nos quartos e elas estarão esperando por vocês no ônibus. Pedirei ao hotel para servir o almoço aqui mesmo e, depois disso, os guardas os escoltarão para a saída dos fundos.”
Ian engoliu em seco, mas sabia que era inútil tentar protestar. Britney parecia que iria vomitar, enquanto Avril e Simone estavam super pálidas. Catherine, Misha e Matt mantinham suas expressões cuidadosamente vazias, mas dava para sentir ondas de indignação da direção de Colin e Ian sabia que Matt estava pouco satisfeito pela pressão de sua mão na coxa de Ian.
“Obrigada a todos e tenham uma boa estadia aqui na Alemanha. Bom dia.”
Angela se levantou e saiu com quatro guardas, sem maiores satisfações. Os outros permaneceram na sala e logo passavam cardápios ao grupo. Mas Ian não estava imediatamente preocupado com o ‘sequestro’ deles, pois apenas um nome não saía de sua mente: Hope.
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