03 Setembro de 2037
- Antes de ir, me diga, como tem sido com ele? - Izzy manteve-se à porta.
A garota estava pronta para ir embora, havia dado apenas uma passada rápida na casa do irmão, mas antes que pudesse seguir com sua rotina, lá estava ela outra vez, com aquele sorriso discreto e levemente preocupado.
- Eu estou bem, quando foi que te dei qualquer outra resposta diferente dessa? - Alec revirou os olhos e esticou as costas doloridas.
- Você sabe que não foi isso que eu perguntei… - A moça mostrou-lhe a língua.
- Ele cuida bem de nós. - Alexander garantiu com aquela mesma postura madura e centrada que havia adquirido nos últimos meses.
- Também não foi isso que perguntei. - Izzy arrumou a bolsa em seu ombro e cobriu a alça com seus longos cabelos escuros.
- Eu sei o que perguntou, e não há nada o que dizer sobre… - Alec sempre ficava impaciente quando sua irmã começava com aquele mesmo assunto, mas hoje em específico, com as dores nos pés inchados, tudo parecia piorar sobremaneira.
- Eu sei que você não gosta de tocar nesse assunto, mas…
- Então não toque, Isabelle. - Alec cruzou os braços desconfortavelmente e sabia que sua expressão não era a mesma convidativa de antes.
- Okay! Okay! Eu vou embora! - A garota levantou as mãos em rendição e deixou no rosto do irmão um beijo estalado. - Diga ao meu cunhado que deixei um beijo para ele também.
- Ele te mandará outro certamente. - O rapaz ainda permanecia emburrado esperando a partida da mais velha.
- Amo quando ele manda seus agradecimentos em forma de cestas de café da manhã! - Isabelle praticamente gritou já próximo ao carro estacionado, destravando-o. - Com damascos! Aquela com damascos e queijo brie!
- Você é uma interesseira! - Alec gritou de volta, mas já sorria acenando para sua irmã.
Isabelle ignorou seu comentário. Em seu conversível de capota aberta, tão chamativo quando ela mesma, a mulher reposiciona seus óculos escuros no rosto. Fazia parte do seu charme que os olhos ficassem escondidos pela lente, o batom se destacasse e, enquanto dirigia velozmente, seus lindos cabelos voassem como se fosse um echarpe negro e brilhante. Para provocar seu irmão, enquanto o rapaz acenava em despedida, ela roncava seu motor potente e saia mostrando-lhe o dedo do meio. Alec gargalhou e voltou para dentro de casa.
- Garota ridícula! - Murmurou ainda entre risos.
Sem sua irmã e em total silêncio, rapidamente a casa se tornou grande demais e até gelada. Não estava realmente, todos os cômodos foram equipados com sensores térmicos deixando-o sempre agradável para os seus parâmetros. Esse fora mais um dos cuidados que Magnus tivera com ele quando se mudou para aquela casa. Quando o homem entendeu porque Alexander sempre vestia tantas camadas de roupa, no dia seguinte contratou uma equipe inteira para instalar os termômetros inteligentes pelos cômodos. O piso quente nos quartos e banheiro já era um diferencial e tanto, mas depois daquilo… É, talvez tenha sido ali, naquele momento, com aquela preocupação honesta e sem interesse de Magnus, que Alec passou a vê-lo com outros olhos.
- Olhos idiotas. - Recriminou-se sem se permitir seguir com tais pensamentos.
Não havia tempo para isso.
...
13 de Fevereiro de 2037
Certo. Ele sabia que era arriscado. Na verdade, ele sabia que era burrice demais, mas qual das suas escolhas não estavam sendo burras nos últimos tempos? O que seria mais uma para conta?
Quando chegou no restaurante escolhido por Magnus, ele estava atrasado. Não, ele não estava elegantemente atrasado, ele estava uma hora e meia atrasado e não havia nenhuma desculpa plausível. Ele estava atrasado porque não iria. Simples assim. Mas ele foi. Mudou de ideia, pegou o metro, e lá estava ele, atrasado e vestido de moletom em um restaurante chique.
Magnus o odiaria.
Alec achou até mesmo que não o encontraria no restaurante. Ele certamente não teria esperado tanto. Mas Magnus por outro lado, aquele homem parecia inabalável. Um único copo de água fresca em frente ao seu corpo, os pãezinhos intocados ao seu lado direito, e os olhos atentos em alguma leitura. Um livro físico mesmo. Nada de celular.
- Atrasei tanto que nem pensei em uma desculpa porque jurei que não estaria mais aqui. Mas você está e, - os dourados fixaram-se com uma surpresa comedida em seu rosto, e a página foi marcada por um marca página de metal polido. - claramente deveria ter pensando em uma desculpa porque você está aqui… e…
- Desculpas aceitas. - o sorriso que surgiu foi tão discreto que Alec não soube dizer se era genuíno ou não, se Magnus não se importava em ter esperado tanto ou só estava sendo cortês. - Sente-se, Alexander. - o homem sugeriu e puxou a cadeira ao seu lado.
Sim, cortês.
Foi nessa conclusão que Alec chegou em poucos segundos.
Magnus era um homem cortês.
Seria uma pena não casar com ele.
Alec se sentou meio sem jeito na cadeira acolchoada e, droga, deveria ter colocado pelo menos um jeans. O homem ao seu lado vestia a porra de um terno roxo beterraba, de grife certamente, e ele estava… Ele estava bem ele, na verdade. Vestia um conjunto de moletom preto e crocs. Tá, ele sabia o que as pessoas falavam sobre esse calçado tão ultrapassado e feio, mas ele não achava tão feito assim. Era bem fofinho na sua opinião. Ele gostava muito da forma como se adequava ao seu pé, e qual o grande problema com o formato semi arredondado? Ficava mesmo tão ruim com meia?
O restaurante estava relativamente cheio, mas havia alguma coisa curiosa sobre restaurantes granfinos… As pessoas pareciam ter dificuldade de manter conversas com quem dividiam a mesa e estavam muito mais interessadas em seus celulares e tablets caros. Bem, ele não poderia dizer que as coisas corriam diferentes na mesa que ele dividia com Magnus por que não era verdade, eles quase não trocaram palavras. Não havia muito o que conversar. Quer dizer, até teria, mas pra que? Para que se conhecerem? Sim, eles estavam noivos, mas deixariam de ser em segundos, então pra que criar expectativas, certo? Na verdade, Alec já estava pronto para quebrar o silêncio e dizer exatamente isso à Magnus, mas então, o garçom entregou o cardápio com a cartela de vinhos da casa e, que desfeita seria nem comer junto ao rapaz que o esperou por tanto tempo, não é mesmo?!
É, Alec também interpretou que sim. E foi por isso que ele pediu para Magnus escolher o melhor prato, dado que havia sido o homem a sugerir o restaurante, e o aguardou pacientemente até que chegasse. Droga, era muito difícil tudo aquilo.
- Você é sempre assim tão calado, ou minha companhia te entedia? - Magnus perguntou após sua última garfada.
- Nem um nem outro! - Alec riu sem graça diminuindo o tom de voz que soou mais alto do que precisava. Havia se assustado com a voz de Bane depois de tanto tempo em silêncio.
- Não gostou da escolha que fiz? - O mais velho parecia genuinamente curioso e, se Alexander o conhecesse melhor, diria, preocupado.
Mas não o conhecia.
- Oh, não! - Riu outra vez e colocou uma grande grafada em sua boca. - Está maravilhoso! - Garantiu ainda de boca cheia e ouviu uma risada melodiosa. Magnus tinha uma daquelas risadas agradáveis.
- Não precisa mentir, Alexander. - Havia certa tranquilidade em sua voz. Algo que passava verdade.
- Não estou. Juro. - Ignorou o vinho e tomou um gole de água. - Está realmente delicioso, eu é que estou sem fome… tudo isso é…
- Estanho demais? - Sugestionou.
- Bem, sim… também, quer dizer… - Essa era a hora?! Não sabia dizer.
- Eu entendo que tudo isso é estranho, mas eu realmente acredito no bom trabalho dos meus meus pais e dos especialistas e, se seremos um bom casal, então, porque não?!
E sim, essa era a hora.
- Porque não. - Respondeu rapidamente.
- Oi? - E aquela foi a primeira expressão pouco classuda que viu em Magnus.
- Oi, tudo bem? Estou dizendo que não podemos casar. - Sorriu. Não estava feliz, na verdade, estava bem na merda, mas precisava sorrir pra, sei lá, não sair correndo e gritando por aí.
- Mas você, seus pais, eles… - Magnus gaguejou e desistiu.
- Eu sei, eu sei que disse sim logo que saiu o resultado, nossos pais até conversaram, e agora estou dizendo não, mas, olha só! Você pode ser a pessoa a cancelar esse casamento. Eu posso tranquilamente ser o cara que foi rejeitado, tá tudo certo.
- Mas eu não quero te rejeitar. - Magnus parecia tão confuso.
- Ah, mas você quer sim. Olha pra isso! - Alec apontou para suas vestimentas. - Tá vendo? Nada a ver com você. Moletom com mais de oito anos de uso e, sabe o que isso significa? A mesma coisa que idade animal, esse tecido é um senhor de idade em fase terminal. Você! - Apontou para as belas vestimentas e postura de Magnus. - Roupas com idade de bebê. Pontual! E eu? Quase duas horas de atraso! É assim que quer passar o resto da sua vida? Envergonhado por ter ao seu lado um cara usando crocs com meias e ainda saindo atrasado? Eu acho que não.
- Você realmente vê problemas nas suas roupas ou está apenas tentando provar seu ponto? - Magnus ainda parecia confuso, mas também parecia querer rir. Estava se divertindo?
- Eu acho que foi um bom ponto. - Alec deu de ombros.
- Eu não teria tanta certeza. - Magnus bebeu de seu vinho. - Eu uso crocs… - Alec duvidou. - Em casa.
- Bem, tanto faz. - Alec quase questionou a insistência, mas tinha coisas mais importantes a fazer. Acabar com aquele casamento, por exemplo. - Não vamos nos casar e é isso.
- Há outra pessoa? - Havia um quê de sentimentalismo naquele questionamento. Alec riu, Magnus era um fofo.
- Não, não há ninguém. - E não havia ninguém mesmo. Quer dizer, se considerar…
- Então o que fez você mudar de ideia? - A forma como o homem se inclinou sobre a mesa demonstrou o quão interessado ele estava em saber. Foi quase constrangedor, Alec não se lembrava de alguém olhar com tanto afinco para sua cara enquanto ele falava. - É a ideia de casamento arranjado que te assusta? Porque se for isso, eu te entendo e… bem, é estranho mesmo, mas a gente pode fazer funcionar, não precisamos correr e podemos ir no seu tempo…
Okay, Alec conhecia muitos adeptos do novo casamento arranjado. Conhecia muitos casos de sucesso, inclusive, sua irmã era um! Mas ninguém parecia tão confiante quanto Magnus naquele momento. E sim, ele sabia que aquele aplicativo de namoro inteligente era sim uma solução e tanto para aumentar e estabilizar o número de matrimônios, inclusive, vinha fazendo isso a há doze anos. Desde 2025 os casamentos se mantinham sem grandes índices de divórcio e tudo graças a Lydia Brandwall, a grande cientista que encontrou na matemática e psicologia, quem diria, um casamento e tanto. Era até bobo de se pensar que juntando respostas de pais sobre seus filhos, os testes de personalidade dos futuros noivos, e armazenando-os em um banco de dados, o seu par perfeito era encontrado em segundos.
Loucura né?
Pro Alec isso também sempre pareceu balela, mas aí, sua irmã casou com um desconhecido, Simon, um nerd! E a garota é feliz! Contra tudo que se podia imaginar, Isabelle gostou do rapaz de primeira e aceitou casar-se com ele um mês depois de tê-lo conhecido. Alexander não entendeu nada na época, mas ora, quem era ele para dizer qualquer coisa contrária. Tinha somente quatorze anos na época e agora, aos vinte e três, havia aceitado o pedido de seus pais para escrevê-lo no programa casamenteiro. Depois que Roberth infartou assustando a família toda, o homem colocou na cabeça que queria ver todos os filhos casados e bem, só restava Alec. Izzy casou primeiro, três anos depois foi Jace, e agora só sobrava ele, o último Lightwood a subir no altar.
Mas ele não podia.
- O problema sou eu então? - Magnus voltou a falar, talvez pelo seu silêncio que já beirava ao desrespeitoso. - Não sou seu tipo? Você tem um tipo?
Alec riu. Em que mundo aquele homem não seria o tipo de alguém?
- Você é sempre assim, tão curioso? - O asiático confirmou.
- E não acho que isso seja um problema para você. - Magnus sorriu. Galanteador, Alec diria.
- E porque não? - Devolveu o mesmo sorriso.
- Porque nós somos 99,8% compatível, Alexander. Isso deve significar alguma coisa.
Alec engoliu em seco.
Sim, ele sabia dessa porcentagem, na verdade, só se falava disso nos últimos três dias. Ele e Magnus eram o primeiro casal a alcançar esse nível de compatibilidade, ganhando de Lydia e seu marido, John Monteverde, até então o casal mais compatível com 96,7%. A faixa de compatibilidade do aplicativo é geralmente de 95% sendo o mínimo de 88%, mas eles, porra, o que era esses 0,2% de incompatibilidade!? Nada! Alec sabia disso, mas…
- Não é sobre isso. - Retomou o assunto. Ainda era encarado como se tudo fosse sobre ele e isso o deixava um tanto quanto tímido.
- É sobre o quê então? - Magnus discretamente chamou o garçom e pediu a conta.
- Sobre não querer. - Foi turrão.
- E porquê? - Magnus parecia se divertir com aquela situação. Com Alec de braços cruzados rente ao peito.
- Porque eu quero coisas. - Respondeu quase tão infantil quando a criança que berrava em algum ponto mais distante do restaurante. Magnus aproximou seu celular do tablet do garçom e pagou a conta.
- Que coisas? - Colocou-se de pé. - Vamos, eu te levo para casa.
- Como sabe que não vim de carro? - Seguiu Magnus.
- Porque eu te vi chegando. - Magnus lhe entregou uma piscadinha petulante e, que homem abusado!
Ele o acompanhou restaurante a fora.
- Você está dizendo… - Bane retomou o assunto dentro do carro.
- Hum, deixa eu ver… Ah, sim! Que não vou me casar com você. - Alec respondeu terminando de digitar o seu endereço na tela presa ao painel.
- Aí! -Magnus levou a mão ao coração, fechou seus olhos como se sentisse dor e isso fez Lightwood sorrir. - Bem, pelo menos não foi um 'não quero'.
- Da na mesma. - Alec recostou-se na poltrona.
- Eu acho muito mais promissor que um "não quero". - Magnus piscou-lhe um dos olhos pequenos e o carro partiu. Ele sorria e Alec também.
No caminho para a casa dos pais de Alec eles foram conversando outros assuntos menores. Magnus não o pressionou a dizer seus motivos para não desejar mais se casar e o trabalho do mais velho foi pauta. Eles falaram mal conjuntamente de algumas pessoas com quem Bane precisava lidar todos os dias como se Alec de fato os conhecesse e, ah, eles não se casariam, mas podiam ser amigos, né? Alexander esperava muito que sim, ele havia gostado de Magnus e queria mantê-lo por perto. Ele sabia que existiam “enamorados”, os tais casais compatíveis, que, mesmo não se relacionando romanticamente com o seu par ideal, tornavam-se muito amigos e parte um da vida do outro. Fora assim com Jace, seu irmão, e Jhonatan o seu par ideal. Pra falar a verdade, Jace até se interessou pelo rapaz, sabia que poderiam dar certo, mas preferiu escolher ficar com a Clary, hoje, sua esposa e mãe de seus dois filhos. Ele estava feliz, e também provava que, mesmo que a máquina dissesse qualquer coisa, as pessoas ainda podiam ser felizes sem sua interferência tecnológica. Ele e o outro Jonathan são 93% compatíveis, e talvez por isso tão amigos e padrinhos um do filho do outro, mas ele ama e divide a vida com Clary, a garota 68% compatível com ele. Jhonatan é ainda menos compatível com Sebastian, seu marido já há cinco anos. Exatamente 52% compatível, mas ora, quem presta atenção nessa quantidade toda de números, não é mesmo?!
Quando o carro parou em frente a sua casa, mesmo que estivessem outra vez mergulhado em silêncio, Alec enrolou demais para sair. Sua mão estava na maçaneta, mas ele não fez nenhum sinal para abri-la. Estava tão na cara que não queria falar tchau…
- Então, é isso… - Ele sorriu. - Espero você dizer que não vamos casar para destruir o coração das pessoas fãs do trabalho de Lydia.
- Mas eu ainda quero me casar com você. - Magnus respondeu livre de qualquer vergonha.
- Não, você não quer. - Alec riu. Metade desespero, metade, droga! Metade uma felicidade estranha.
- Eu tenho certeza que sim. - Magnus sorriu e, pela forma como Alec apertava os braços, ele entendeu que o homem estava com frio. Mudou o ar-condicionado para o quente.
- Eu não estarei aqui nos próximos dias. - Contou. - Por isso não podemos casar.
- Vai pra onde? - Magnus era curioso demais.
- Eu vou viajar por aí. - Foi vago não propositalmente, só não tinha essa resposta ainda.
- E quando volta? - Seus dedos batucaram no volante. - Porque se for isso, eu não tenho pressa para casar e…
- Você pergunta demais. - Revirou os olhos.
- Se você respondesse mais eu perguntaria menos…
- Aí. - Foi Alec quem imitou Magnus momentos antes. Mão no peito e rosto de dor. O carro mais quente deixou suas bochechas meio rosadas e isso certamente foi um diferencial.
O silêncio se estendeu e ele ainda estava dentro do carro de Magnus. Pelo menos ele não parecia se importar, nem com o silêncio, nem com seu carro parado gastando energia.
- Podemos nos ver outras vezes? - Magnus perguntou e havia uma certa fragilidade em seu pedido.
- Mag, eu não vou me cas… - Ele tornou a repetir, notando o apelido carinhoso que escorregou de seus lábios.
- Okay, você não vai casar comigo, mas, que tal outros encontros? Ver se algo…
- Eu estou grávido. - Soltou sem mais e Magnus parou de falar. - É isso. É por isso que não posso casar com você.
Alec não foi capaz de olhar nos olhos de Magnus, não por vergonha, mas por querer evitar os olhos confortáveis tornando-se cheios de julgamento. Era estranho que, mesmo na modernidade, algumas coisas malucas e retrógradas ainda se mantinham com horror no inconsciente coletivo da população de Idris. Engravidar fora do casamento era uma delas. Senhorinhas só faltavam implodir a cada gestante solteiro anunciado por aí.
- Por favor, não conte nada pra ninguém, só você sabe… - Alec pediu, desta vez muito mais baixo. Ele não pretendia contar, mas algo naquele homem lhe deixava confortável o bastante para confiar. Além disso, não era justo deixar Magnus no seu pé. Só esperava que, mesmo o homem passasse a achar repugnante a ideia de ser seu par ideal, pudesse, ao menos, cancelar o casamento sem contar à todos o motivo. - É por isso que eu vou viajar, pra…
- Você vai abortar? - Não havia um julgamento, foi isso que surpreendeu Alexander e o fez olhar para Magnus. Abortos aconteciam, era legalizado, mas eram tão mal vistos naquela cidadezinha cheia de conservadores hipócritas…
- Não, eu não vou abortar, eu só vou entregar para adoção. - Lhe incomodou pensar sobre isso, mas não havia o que fazer. Não estava preparado para criar uma criança sozinho, não iria colocar sua família nisso e, ora, quantos casais perfeitos não estão loucos para adotar um bebê? Estava fazendo bem ao feto.
Magnus estava em silêncio demais. Nenhuma pergunta. Isso era bastante revelador, Alec considerou. Havia desinteressado o rapaz. havia chocado demais. Sabia que isso iria acontecer.
- Bom, é isso, por isso falei que não iria querer casar comigo. - Alec riu sem graça. - Você é o par ideal de um cara que foi numa festa, bebeu demais e transou com um otário sem a merda da camisinha! Quão idiota é alguém alcoolizado, não é mesmo?!
Alec agora nem mais falava com Magnus, estava apenas colocando pra fora tudo que sentia e pensava desde a descoberta da gestação, no dia anterior. Depois do exame negativo para DSTs no dia seguinte à festa, quase duas semanas atrás, também encanou que precisaria realizar um teste de gravidez e, que surpresa um tanto assustadora descobrir que um serzinho crescia em seu interior. "Menor que grão de arroz" disse a médica que acreditou que ele se chamava Lucian, e tudo que Alec conseguia pensar era: "menor que um arroz e ainda assim, a criatura mais assustadora que já ouvi falar". E se antes ele estava empolgado para conhecer o seu tal par, agora só queria ter dito não quando seu pai lhe pediu para inscrever no aplicativo.
- E sabe o que é pior? - Continuou ele em uma meia risada histérica. - De tudo isso! Grávido e sem ser nem de um namorado que seja!? - Magnus negou lentamente com a cabeça. - É descobrir no meio disso tudo que sou um tremendo narcisista.
- Hum?! - E Bane pareceu voltar ao seu habitual curioso. Alec puxou o celular no bolso, seus dedos digitaram algo rápido e em seguida colocaram o aparelho muito próximo ao nariz caramelo.
- Esse! - Alec chacoalhou o celular em frente ao rosto alheio. - Esse é o cara!
Alexander nem sabia porque contava tudo isso a Magnus, mas nossa! Estava sendo tão bom poder falar com alguém. Talvez fosse a ideia de que, por ser o seu par ideal, Magnus fosse, no mínimo, lhe julgar menos. Se não fosse isso, deveria o fato de nunca mais se verem que o tranquilizava e permitia compartilhar tanto.
Quer dizer, parecia, porque, se antes o homem lhe olhava com curiosidade, agora os olhos esbugalhados alternavam entre preocupação e choque, do celular para seu rosto. Bane, que antes parecia se divertir discretamente com seu desabafo, agora olhava-o atentamente e, aquele semicerrar de olhos era um julgamento silencioso?!
- Eu não sei o que dizer sobre… hum.. - Magnus murmurou segurando o celular entre os dedos. - Ele é… digo, seu… assim, fami?
- Oh, céus! Não! Eca! - Alec puxou o celular da mão do asiático e o guardou. Um misto de choque e nojo. - Não! Pelo anjo, Magnus! Não! Will não é meu irmão se é isso que está pensando! - Havia um quê de horror em sua voz. - Nem primo distante sequer! Ele só é branco.
- De cabelo preto e dos olhos azuis... - Completou o mais velho, agora muito mais aliviado. Magnus não quis usar grau de parentesco em sua pergunta porque verdadeiramente não estava preparado para a resposta, caso fosse positiva.
- Sim, também. - Alec estava vermelho, sabia disso. - É, eu sei! Eu dei pra um sósia meu e eu deveria levar isso à terapia. Acredite, eu levaria se não estivesse, como posso dizer, me preparando pra fugir por um ano fingindo ser um mochilão espiritual enquanto na verdade eu vou pro interior de qualquer lugar distante e dou a luz na beira do rio!
Magnus o encarou boquiaberto.
- Tá, não vai ser no rio, - Alec achou por bem tranquilizar o outro sobre isso. O homem estava com a boca aberta por segundos demais. - Mas vai ser em algum lugar distante, provavelmente com uma parteira não certificada.
Alec se moveu verdadeiramente sem graça depois desse momento tão revelador, e nossa, o carro parecia quente demais e apertado. Seus dedos se aproximaram outra vez da maçaneta da porta e ele estava pronto para partir.
- Foi bom te conhecer, Magnus! Gostaria de verdade que tivesse sido em circunstâncias diferenciadas. - Deu o seu melhor sorriso e abriu a porta. - Guarde meu segredo.
- Você quer essa criança, Alexander? - Ouviu e parou com uma perna para fora.
Ele queria?! Não sabia dizer, não havia pensado sobre isso. Pra falar a verdade, aquela gravidez fora tão absolutamente não planejada que não havia lhe passado pela cabeça a ideia de ficar com a criança para si. Ser pai… sozinho.
- Eu… - Levou a mão à barriga de um jeito novo e amedrontado.
Droga, ele queria. Alec sempre quis ser pai um dia, ter uma família ainda maior que a sua! E descobri-se capaz de gerar o havia deixado baqueado, mas igualmente feliz. No entanto, não queria pensar sobre isso agora, não estava pronto. Adoção, era isso que faria.
- Se quiser, não precisa fugir. - Magnus parecia calmo apesar de tudo. Outra vez o homem sereno que encontrara lendo o livro.
- Sei que tem pessoas muito fortes, prontas para enfrentar essas coisas todas e dar a cara a tapa, mas eu sou bastante cagão, Magnus. Eu não saberia lidar com tudo isso sozinho. - Só a ideia de envergonhar minimamente sua família era terrível.
- Você não faria nada sozinho. - Magnus devolveu ainda mais suave.
- Eu sei, meu pais são ótimos e super fariam tudo por mim, mas eu não quero sobrecarregá-los. - Deu de ombros. Sim, entre um bebê e seus pais, sua vida… Havia escolhido a segunda opção. Não era uma pessoa ruim por isso.
- Eu não estou falando de seus pais, Alexander. - Magnus revirou os olhos como acompanhou Alec fazer algumas vezes durante aquele breve encontro.
- Porque me chama de Alexander? - mudou de assunto.
- Porque não chamar? - Devolveu. Alec concordou e deu de ombros. Seu nome ficava bonito do sotaque de Magnus de qualquer forma. - Então, o que me diz?
- Do que? - Mordeu os lábios. Não, não estava ouvindo o que pensava estar ouvindo. Estava?
- Um casal 99,8% me parece um casal feliz e imprudente o suficiente para engravidar na lua de mel, você não acha?
- Não! - A risada que escapou de seus lábios soou estranhíssima aos seus ouvidos. - Você não está me dizendo que ainda quer se casar comigo?! - Alec voltou sua perna para dentro do carro e fechou a porta. Passado! Estava passado! - Homem, você está se ouvindo? - Alexander gargalhou. Seu par ideal era bom da cabeça?! Ele achava que não. - Magnus, eu acabei de dizer que estou grávido de outro.
- Sim, eu ouvi.
- Então como está pensando em casar comigo?! - Alec sentiu uma súbita vontade de chacoalhar os ombros de Bane. Não o fez.
- Porque você disse. - Magnus voltou-se para Alec sentando-se lateralmente no banco. - Eu admiro honestidade, Alexander. Nunca me envolveria, casaria ou teria qualquer coisa com alguém que não fala a verdade. Nunca continuaria o casamento ou qualquer relacionamento com alguém que mente para mim. E você me disse a verdade sem precisar dizer, no que poderia ser, inclusive, a pior das opções para você. E se eu contasse para as pessoas? Não seria esse o seu pesadelo? Não é isso que quer evitar? - Alec confirmou minimamente. - Pois é, mas você preferiu contar acreditando que eu não o faria mal nenhum a você. É por isso que somos o par ideal um do outro. - O sorriso que dera fez seus olhos pequenos se fecharem em linhas minúsculas. Era bonito. - Se era isso que te preocupava, ainda podemos manter esse casamento, com você mantendo a criança com você, ou não. Como preferir.
- Você é doido. - Alec Murmurou.
- Loucura te atrai, Lightwood? - Magnus provocou. Alec mostrou-lhe o dedo do meio.
- E o que isso significa? Vamos casar mesmo? - Alec Questionou em baixo tom alguns minutos depois. Definitivamente, não era isso que esperava da conversa com seu, aparentemente, futuro marido.
- Semana que vem tá bom pra você? - O questionamento foi tão genuinamente sério que Alec não pode deixar de rir.
- Pelo anjo, sou 99,8% compatível com um homem maluco.
***
03 Setembro de 2037
Se casaram.
Sozinho e acariciando sua barriga, agora grande e pesada, Alec riu sozinho se lembrando do fato mais maluco da sua vida.
Sim, Magnus e ele se casaram no outro final de semana e saíram em "lua de mel". Magnus alegou que tinha férias atrasadas para ser tirada e eles fizeram uma viagem de quase dois meses de um canto ao outro do globo. Era o disfarce perfeito para fazerem os primeiros exames do bebê sem que chamasse atenção. E deu certo, a notícia da gravidez saiu somente três meses depois do casamento, quando voltaram para casa e Alec estava gestando, na realidade, quase quatro meses. Para todos, o filho do casal fazia três meses de vida, era saudável e havia sido recém descoberto.
E trazia boa sorte anunciar a gravidez depois de três meses, foi o que a mãe de Magnus disse. E ela estava tão feliz! Todos estavam. Roberth não foi visto sem sorrir por semanas inteiras depois da notícia, a mãe de Alec bordava e tricotava por três enxovais, e sua irmã era a única realmente informada de tudo. Sim, fora Magnus, só Izzy sabia sobre o pai biológico do pequeno Max Lightwood Bane, o menino que crescia em Alec. Ele havia contado porque realmente precisava contar para mais alguém além de Magnus, e Isabelle parecia a melhor opção. Ela nunca lhe trairia a confiança e havia assumido para si mesma ser a melhor amiga do marido de seu irmão, poucas horas depois de conversar com o mais velho. Isabelle era declaradamente a fã número um do casal. O resto - que incluindo as famílias também podia ser facilmente classificado como todos os curiosos que acompanhavam os dois online em tudo que era possível -, acreditavam se tratar de um casal cujo os rapazes não sabiam que dentre eles há um Bifecundador.
Sim, é assim que são chamados os homens que, para além da capacidade de engravidar alguém, ainda são capazes de gestacionar ele mesmo um bebê. E como a maioria deles, Alec também não sabia que podia, não até engravidar de fato. O que era bem comum nas histórias dos bifecundadores. Era raro homens cisgeneros engravidarem, por isso talvez a história comum do susto da descoberta entre eles. Apenas 1 a cada 110.000.000 homens cis eram férteis e gestacionais assim, em porcentagem, exatamente 0,07% da população mundial masculina. Um número irrisório, tão ínfimo que era muito raro um homem fazer aquele tal exame caríssimo e desconfortável para descobrir se podia gerar o próprio filho. Nunca dava positivo, então porque pagar?
- Como está o pequeno Max? - Ouviu e sorriu.
- Você chegou cedo. - Alec se moveu preguiçosamente no sofá, movendo apenas o pescoço para olhar em direção a porta. Seu corpo estava tão pesado e dolorido! Chegar nas fase final da sua gravidez estava sendo uma verdadeira prova de fogo, mas não entenda mal, ele não está verdadeiramente reclamando. Gostava de ver pelo tamanho de sua barriga, como estava grande e saudável o seu bebê.
- A reunião foi cancelada. - Bane deixou o seu paletó e pasta em cima da mesa, no caminho retirou a gravata grafite deixando-as na estante, abrindo três ou quatro botões da camisa.
- Foi cancelada, ou você cancelou? - Alec provocou em seu habitual tom preguiçoso. Desde seu cinto mês de gestação era cada vez mais comum Magnus cancelar sua agenda sem mais nem menos, só para voltar mais cedo para a casa.
- Foi cancelada porque eu cancelei. - Bane se aproximou, beijou sua testa e sentou-se na ponta do sofá com um meio sorriso. Colocou as pernas de Alec sobre a sua e o rapaz nem escondeu sua satisfação, praticamente ronronou quando os dedos ágeis e cheios de anéis passaram a massagear seus pés.
Depois de ouvir de Catarina que massagens fazem maravilhas na circulação de gestantes, era frequente que o Lightwood recebesse massagens nos pés e mãos inchados. Magnus verdadeiramente buscou técnicas, aprimorando-se com facilidade das asiáticas ensinadas por sua mãe, para reduzir as dores e inchaços do rapaz. Ele era muito prestativo e atencioso, não havia como negar. E, embora Alexander não estivesse efetivamente em uma gravidez de risco, toda gravidez de bifecundadores requeria um pouco mais atenção. O corpo nem sempre se adaptava às mudanças para carregar ou expelir um filho e por isso era preciso redobrar os cuidados. Magnus lhe dava todo o cuidado do mundo. E talvez fosse por isso que eles como casal gerassem tanta interação em suas redes sociais. Sim, eles tinham muitos seguidores e Magnus nem postava nada. Alec postava um pouco mais, mas nada ensaiado. Eles não mentiam sobre o relacionamento que tinham, embora também não falassem sobre ele ou o que os levou a se casar em primeiro lugar. Agora, por exemplo, tudo que o mais novo gravava era seus pés inchados recebendo massagens, algo comum em seus dias com Bane.
- Sabe, acho que Max quer pizza de pepperoni... - Murmurou acariciando a barriga lentamente. Ele estava quase cochilando, ultimamente era somente isso que fazia.
- Sei, Max. - Magnus riu, era sempre essa a chantagem feita pelo grávido. Não havia nada Alexander não conseguiria se alegrasse ser em nome do filho.
- Não acredita no pai do seu filho? - Alec falou e suas bochechas coraram imediatamente. Elas sempre coravam quando deixava coisas assim escaparem.
- Peça a pizza, Alexander. - Magnus sorriu e voltou sua atenção para os pés inchados.
...
27 de agosto de 2037
- Que tal Max? - Alec manifestou-se sem mais nem menos.
- O que é isso? - Magnus silenciou a televisão.
Sim, ele até gostaria de saber o final do filme, mas Alexander já estava o distraindo demais movendo-se de um lado pelo outro da sala. Os chinelos esfregando no assoalho e aqueles suspiros a cada cinco ou sete segundos.
- O bebê. - Alec riu. Com uma das mãos espalmadas nas costas que começavam a doer, recostou-se ao lado de Magnus.
- Oh! - Os olhos puxados se arregalaram. Eles sempre faziam isso quando o assunto era o bebê. - Max é um bom nome.
- Você gosta? - Questionou um tanto inseguro. Mesmo que Magnus cuidasse dele, ainda se sentia estranho pra caralho incluindo-o tão fortemente em sua gestação. Bane parecia gostar de participar, lia livros sobre o tema, estava sempre presente em todas as consultas, mas ainda assim…
- Acho um nome bonito. Ele vai ser o primeiro da turma dele a aprender a escrever o próprio nome. - Divagou e sorriu. - Você gosta?
- Bastante. - Declarou de bochechas quentes.
- Então está decidido. - Alec confirmou e Magnus sorri daquele jeito gracioso. Do jeito que Alexander gostava. Quando os olhos sumiam em uma fina linha esticadinha...
Magnus voltou a prestar atenção no filme policial e Alec passou a prestar atenção nele. Magnus era muito bonito e sereno. Calmo de um jeito diferente, nada tedioso. Eles combinavam tanto que morar juntos não era estranho mesmo com toda a situação que se desenrolava. Estavam casados há alguns poucos meses e nenhum problema fora vivenciado entre os dois. Eles eram perfeitos juntos. Suas manias particulares não incomodavam um ao outro, se divertiam juntos mesmo que não estivessem fazendo nada de tão especial, e havia um cuidado e cumplicidade curioso entre eles. Eles confiavam um no outro. Eles se importavam, mesmo que os modelos daquele casamento não fossem os tradicionais. Alec cuidava de Magnus à sua maneira, e Magnus cuidava dele de volta. Dele e seu bebê.
- Porque você se importa tanto com Max? - Alexander atraiu sua atenção outra vez e Magnus desligou a televisão. Era isso, não veria o final do filme.
- Como eu não me importaria?- Ele riu soprado. - Ele é nosso filho, Alexander.
- Nosso? - Alec engasgou em surpresa.
- Estou errado? - Foi a vez de Magnus ficar confuso.
- Não! - Alec alarmou-se - Quer dizer… Eu não pensei que pensava assim da situação. No bebê como seu… filho.
- Parece que não me importo com Max? - Magnus parecia magoado. - Que não penso nele como um filho?
- Oh, céus! Não, Magnus, nem de longe! - Sentiu-se compelido a segurar a mão da aliança e levá-la em direção a sua barriga. Magnus gostava de tocá-la, mas parecia sempre envergonhado em pedir permissão. - Eu sei e ele também sabe que você se importa, - disse com um sorriso por demais delicado. - É só curioso que nada disso te deixe minimamente… Incomodado.
- E porque deixaria? - Ele já não lhe dava toda a atenção costumeira, sorria com os olhos fixos na barriga que acariciava lentamente. - Eu sempre quis ter filhos, e você já veio com um.
Alec engasgou entre uma meia risada e qualquer som chocado.
- Porque está tão surpreso? - Magnus riu e Alec corou. - Eu… - Magnus parecia incerto no que diria. - Eu achei que nunca poderia ser pai algum dia, e você tornou isso possível. Max tornou possível. - Suas mãos se afastaram da barriga e ele sorriu. - Ei, porque está chorando?
- Porque eu estou grávido e cheio de hormônios. - Reclamou em meio às lágrimas. - E você deveria me fazer brigadeiro… - Magnus gargalhou. - Por Max… - Fungou com um sorriso de canto crescendo em seus lábios.
- Só por que é o Max quem está pedindo. - Havia um tom provocativo em sua fala quando se colocou de pé, mas foi o beijo na testa de Alec que o entregou. Ele estava feliz.
***
08 de Setembro de 2037
Alec não queria se preocupar, mas já se aproximava das dez da noite e Magnus ainda não havia voltado para a casa. Eles haviam se falado naquele mesmo dia, horas antes, e ele havia lhe dito que em breve estaria de volta. Algo sobre estar saindo do escritório e só precisar passar no mercado, mas onde infernos era esse mercado que o atrasou em três horas do seu horário já pouco usual? Alexander já havia tentado falar com ele, ligou em seu celular e ligou em seu escritório. Dott atendeu de seu escritório e lhe disse que ele havia saído há muito tempo atrás. Então onde raios estava aquele homem?
Será que estava com outro? Alec não queria pensar nisso, mas, caso Magnus estivesse, ele podia fazer isso, não podia? Haviam se casado, mas não viviam como um casal, estavam mais para colegas de apartamento. Se davam bem, mas nada nunca passou de cuidado e, por falta de palavra melhor, amizade. Okay, algo meio platônico! Em quase sete meses morando juntos e de papel assinado, nada nunca havia acontecido entre eles. Alec até chegou a pensar que aconteceria algo durante a viagem de lua de mel, eles estavam sozinhos, flertes aconteciam a todo momento, e até dividiram a cama! Mas não aconteceu.
E não tendo acontecido, não foi ele a forçar qualquer situação, afinal, imagina ele, grávido de outro, dando em cima de Magnus? O que o homem pensaria? Até Bane que parecia incapaz de julgar qualquer coisa com maus olhos poderia interpretar que ele era fácil. Ele não era, era? E se fosse? Isso seria um problema? Quer dizer, ele estava solteiro antes de Magnus acontecer em sua vida e qual o problema em gostar de sexo? Nenhum! E qual o problema de querer transar com o seu marido? Nenhum também, né?! Mas e quando você e seu marido nem são esse tipo de casal? Alec não tinha certeza e, de verdade, é real o que falam sobre hormônios e excitação. Seu marido não precisava fazer nada que, merda, Alec achava ridículo! Ele nem bem conseguia ver o próprio pau por conta da barriga de recém completados oito meses, mas ainda assim, nos últimos tempos ele sempre precisava criar uma desculpa para fugir das massagens de Magnus, porque sempre ficava que aquelas mãos se aproximavam ele ficava excit…
- Porque está andando de um lado ao outro? - Ao ouvir a voz de Magnus, Alec se apressou em direção a porta.
O atraso de Magnus o preocupou, mas o paletó no braço, o suor e os botões da camisa aberta lhe trouxeram ciúmes. De onde ele estava chegando daquele jeito todo… gostoso e acabado?!
- Porque demorou tanto? - Não sabia se gostaria de ouvir, mas, ou era isso, ou todas as caraminholas em sua cabeça e acredite! Haviam muitas. - Cadê as compras?
- Oh, as compras… Eu não cheguei a fazer, fiquei preso em um engarrafamento. - Magnus deixou tudo que segurava sobre a mesa, jogando por fim o celular por sobre a pasta. Estalou o pescoço e gemeu de dor.
- Ora, Magnus… - Alec revirou os olhos e se afastou. Que raio de história mal contada era essa?! E pior! Ele poderia cobrar explicações?
- O que? - Magnus estava cansado e dolorido demais para reparar na postura do outro. Ele precisava muito de um banho e, quem sabe um remédio para dor no corpo. - Alexander, pegue um relaxante muscular para mim, por favor? Estou acabado…
Quando Magnus se afastou, Alec segurou-se para não chorar. O homem passou por ele quase indiferente, e não houve carinho em sua barriga e muito menos o beijo em sua testa. Ele pegou o remédio pedido e deixou na mesinha junto ao copo d'água. Se sentia um idiota por isso, mas também não se achava no direito de dar qualquer vexame começando uma discussão. Iria brigar pelo que? Eles não haviam falado nada sobre outras pessoas e, bem, se não tinham nada, qual o grande problema? Seu coração apontava que o problema era todo dele por sentir ciúmes de Magnus.
Sim, ele ama Magnus e descobriu isso muito rápido, só nunca havia dito porque não era essa a relação que estabeleceram ao se casar. Seu marido era apenas um bom homem que estava o ajudando enquanto realizava o sonho de seus pais de o verem casado e com filho. Aquela união era benéfica e eles se gostavam. Mas não era sobre amor. Às vezes o par perfeito não era sobre isso, Alexander entendeu isso depois de ler mais a fundo sobre o aplicativo de relacionamento. Os pares podem sim se apaixonar, mas o que os ligava eram as projeções de vida, o que desejavam alcançar no futuro… como eram como pessoas.
Eles eram sim compatíveis demais, mas compatibilidade não é amor, e isso era uma droga.
- Finalmente! - Magnus jogou-se sem camisa ao seu lado. Esticou-se para tomar o remédio e depois se afundou por alguns segundos no sofá de olhos fechados. - Que dia horrível! - Magnus trouxe os pés de Alec para apoiarem-se em suas coxas.
- Eu não quero sua massa… - Emburrado, Alec fez menção de afastar-se e negar as mãos do outro sobre si, mas não houve tempo.
- Você acredita que aquele cara que te falei uns meses atrás voltou? Depois de tudo que disse, dá carteirada que tentou dar, ele apareceu hoje no escritório pedindo para ver o contrato. - Magnus disparou a falar, com seus dedos ágeis entre os dedos do pés de Alec. - Eu tentei ser o mais educado possível, mas juro, no final eu mandei ele ir a merda. - Alexander arregalou os olhos. - Eu sei! Eu sei que não deveria mandar um cliente a merda, mas ele me tirou do sério. E sabe do que mais?
Alec negou. Queria dizer várias coisas, brigar talvez, afinal, que merda de assunto era aquele depois de aparecer todo bagunçado em casa? Magnus estava tentando despistar o ocorrido?! Ah, ele deveria realmente perguntar sobre! Mas… aqueles dedos lhe apertando os pontos doloridos… hum… Magnus tinha mãos mágicas! Deixou pra falar depois.
- Eu fiquei mais de duas horas tentando mandar aquele infeliz embora e, quando finalmente achei que tinha me livrado dele e poderia voltar para a casa, fico preso entre sei lá quanto carros! - Magnus revirou os olhos. - O concerto vai ser uma pequena fortuna, certeza...
- O que? - Alec apoiou-se mais para cima, retirando os pés de cima de Magnus. Que história era essa?!
- Você não soube? A avenida dos cristais está completamente parada. - Magnus puxou as pernas de Alec para si outra vez e começou a massagear a sola do pé esquerdo. Ele ouviu aquele pequeno gemido característico e sorriu. Gostava de massagear Alec por diversos motivos, mas aqueles pequenos gemidos talvez fosse o maior deles. - Eu tentei te ligar mas fiquei sem bateria no caminho… iPhones, porque eu ainda insisto neles? - Os dourados buscaram os azuis, mas Alec estava batalhando demais para conseguir prestar atenção em sua história e não gemer alto em decorrência do prazer que sentia. - Eu vim pra casa, mas meu carro ficou lá, preso entre os outros tantos, parecendo uma sanfona.
- Não, pera! Foi por isso que pediu um relaxante muscular? - Alec finalmente se atentou para o que Magnus dizia. Ele não havia atrasado porque estava com outra pessoa. - Você esteve em um acidente? Está ferido?! - Desajeitadamente, moveu-se de forma a conseguir ficar de frente para Magnus, segurando seu rosto.
- Eu estou bem… - Magnus riu. Alexander parecia escaneá-lo atentamente e, em seu próprio nervosismo, sem perceber havia sentado em seu colo. - Ninguém estava em alta velocidade, Alexander, só não foi possível parar antes e um carro entrou atrás do outro.
- Porque não disse isso quando chegou?! - Alec desferiu um tapa curto e fraco no braço alheio.
- Eu só queria um banho… - Magnus deu de ombros. - Sabe quantos quilômetros precisei andar pra conseguir encontrar um táxi que não precisasse passar na avenida dos cristais para chegar até aqui? Pois é, muitos. Por isso te pedi um remédio. Parece que fiz um treino de perna de três horas seguidas e sem qualquer supervisão.
Enquanto ria, foi abraçado e se surpreendeu. Não que Alec e ele não se abracem ou demonstrem afeto, mas esse abraço foi diferente. Ele sabia que exista mais entre eles, mas, por algum motivo, haviam estipulado silenciosamente uma distância entre eles.
- Pra que isso? - Ele perguntou acariciando as costas alheias. Era engraçado abraçar Alec agora, a barriga os mantinha afastados de certa forma e às vezes se movia um pouco entre eles. Quase como se Max quisesse participar do abraço também.
- Desculpe, - o Lightwood se afastou vermelho e sem jeito. - fiquei preocupado com você.
- Eu estou bem, juro. - Magnus mostrou os braços e sorriu. - Tá vendo, nenhum arranhão.
- Achei que estava com outro. - Alec confessou. Era sempre assim com Magnus, nunca conseguia manter para si o que pensava.
- Como é? - Magnus não sabia se ria ou se ficava ofendido.
- Ah, você não chegou, depois chegou todo amassado e suado, mostrando o peitoral… - Pelo calor que sentia em suas bochechas, sabia estar completamente vermelho. - Eu imaginei que estivesse ocupado com alguém e…
- Alexander, caso não se lembre, eu sou casado. - Magnus provocou.
- Eu sei que é, idiota. - Seus olhos se reviraram. - Mas a gente não… Então eu imaginei que você poderia…
- E você não se importaria?! - Havia qualquer coisa de chateação em sua voz.
- Eu… - Alec desviou o olhar e se levantou. - Isso não vem ao caso, eu não poderia interferir…
- Como não?! - Magnus estava completamente atordoado. - Viu, eu sou casado com você.
- Mas nunca falamos sobre termos um casamento fechado. - Alec defendeu sua confusão. Haviam muitos casais abertos, o aplicativo encontrava compatibilidade nesse aspecto também.
- Nem sobre termos um casamento aberto. - Magnus levantou-se para seguir o homem que passava a andar de um lado ao outro novamente. - Eu, por exemplo, não sabia que estamos em um relacionamento aberto.
- E não estamos! - Alec foi enfático demais em seu posicionamento, apontando o dedo indicador no rosto de Magnus.
- Então porque estamos nessa conversa, pelo anjo!? - O mais velho riu antes de desistir daquele tema. Ele posicionou os cabelos para trás usando a ponta dos dedos e Alec suspirou pesadamente. Que canseira!
Um silêncio caótico se instalou na sala e nenhum dos dois sabia muito bem o que fazer. Eles numa haviam ficado alterados um com o outro, aquela era a primeira vez e, mesmo que não tivessem gritado ou usado de ofensa, aquela falha de comunicação foi sentida. Magnus parecia incrivelmente perdido e, que inferno de conversa foi aquela?! Para piorar, não foi o próprio Alec a dizer a si mesmo que não se achava no direito de intervir na vida pessoal de Magnus? Então estava tão revoltado só pela ideia do homem se envolver com outra pessoa porque?
- Você poderia parar de andar, por favor? Suas pernas estão inchando pra caramba. - Magnus beijou sua testa e acariciou seus cabelos. Não queria e não iria alimentar aquele clima entranho. Voltou para o sofá e bateu suavemente no vazio ao seu lado. - Vem aqui, vem.
Alec se arrastou outra vez até lá e se sentou. Fazia bem para as suas costas, e as pernas, outra vez apoiada em Magnus, fazia doer menos os seus pés que pareciam duas bolas. A massagem voltou a ser entregue com calma, desta vez em sua panturrilha, e, embora o silêncio não fosse todo agradável, não era grosseiro. Nenhum dos dois gostava de gritaria, brigas e confusões. Gostavam mais de conversar e resolver o que precisava ser resolvido, e não tinham nenhuma paciência para aqueles relacionamentos confusos e atormentados.
- Sabe, não gosto de saber que você não vê problema na ideia de eu ficar com outras pessoas. - Magnus iniciou em um murmúrio. Estava chateado e queria falar sobre isso. - Eu me importaria se fosse você com outro…
- Mas eu me importo. - Alec suspirou fundo, metade porque a conversa o obrigava a respirar daquela forma, e a outra metade, porque as mãos de Magnus começavam a apertar suas pernas, indo em direção às coxas.
Era ridículo, Magnus nem estava fazendo nada demais, mas para o seu corpo aquilo era sempre uma tentação. Ele tentava não pensar nisso, e até lidava muito bem quando a massagem ficava em seus pés e mãos. Mas quando estava mais inchado, ou pedia por mais tempo sendo massageado, Magnus sempre subia o percurso e… E eventualmente ele agradecia e dizia que precisava fazer xixi quando, na real, ele só não queria ficar de pau pontiagudo, esticando a roupa. Que vexame!
- Porque disse o contrário, então? - Os dedos firmes chegaram em seus joelhos.
- Eu não disse que não ligava, disse que não me sinto no direito de… in-interferir. - Gaguejou e mordeu os lábios para impedir um som constrangedor.
- Mas… - Magnus pressionou cinco dedos acima, já próximo do meio das coxas. - Você não é meu marido?
- S-sim… eu sou. - Alec fechou os olhos. Deveria usar a desculpa do banheiro agora. Sim, agora seria o momento ideal.
- Então, como não é seu direito intervir se fico ou não com alguém que não é você? - Magnus buscou os olhos de Alec de maneira séria e pela primeira vez declaradamente intensa, e os encontrou escuros e nublados. Curiosamente, também estavam tristes.
Alec poderia responder mil coisas, mas optou pelo óbvio. Não escondeu nem mesmo sua tristeza. Magnus gostava de sinceridade, afinal.
- Porque você não fica comigo, Magnus.
...
20 de fevereiro de 2037
- E… - Izzy parecia preocupada mesmo que Alec lhe sorrisse animadamente. - E o bebê que está esperando? Vai mantê-lo?
- É claro que vou manter. - Alexander apertou a barriga lisa em um quase abraço protetor. - Daqui só sai quando tiver que sair.
Isabelle ainda digeria as informações.
Enquanto sua família e a de família de Magnus comemoravam o novo matrimônio, ela se mantinha mais afastada no quintal de seus pais conversando com Alec. Ele havia lhe dito que precisava contar algo sério, e não estava brincando quanto a seriedade do assunto. Alexander não lhe deu tempo algum e, quando afastados o bastante, cuspira uma gravidez recém descoberta em sua cara sem mais nem menos. Ela estava sóbria demais para aquela informação. Seu irmão mais novo havia acabado de se casar com seu par ideal, grávido de outro homem, e Magnus surpreendente sabia.
Agora fazia muito mais sentido que seu irmão, sempre tão cético com relação ao casamento entre pares ideais, casasse com o seu somente uma semana após o primeiro encontro. O que lhe surpreendeu, no entanto, foi que o casamento, tão rápido como aconteceu, não fora ideia de seu irmão e sim do próprio Magnus para ajudar a acobertar a contagem da gravidez de Alec. Tudo isso, até o momento, sem um grande motivo aparente.
Era estranho.
Okay, ela tinha conhecimento de que Alec e Magnus são, comprovadamente, o casal mais compatível na história da humanidade. Compatíveis em 99,08% e os únicos a atingirem tal percentagem que se tem dados. Mas mesmo um par ideal como aquele seria responsável por uma atitude de tão bom coração como a de Magnus? Isabelle não sabia dizer. Estava acostumada demais com todo julgamento para com mães e pais solo. Em uma sociedade tão fortemente baseada em pares ideias, os sem pares podiam ser violentamente julgados.
- Magnus… falou algo sobre isso? - Isabelle buscava no rosto do irmão qualquer sinal de alerta. - Ele te trata bem mesmo? - Com o canto de olho a garota observou o outro noivo conversando animadamente na mesa de seus pais.
Alexander riu.
- Izzy, Magnus realmente não se importa que eu esteja esperando um filho que não é dele... - Os olhos de Alec encontraram seu novo marido. Ele sorriu e acenou curto e Isabelle ainda o observava atentamente. - É sério, maninha, se permita a conhêce-lo. Ele entendeu meus receios e em momento nenhum me olhou de forma estranha… - Quando Magnus soprou-lhe um beijo, entre risos Alec recolheu-o no ar e guardou no bolso da camisa. Já havia abandonado o termo muito tempo antes.
- Tá, que bom ele não fez mais do que a obrigação dele, mantendo seu segredo. E que ótimo que o bebê não o impediu de querer casar com você. Mas… - Isabelle mordeu a ponta da unha do dedo indicador. - você não acha isso nem um pouco estranho?
- O que? Ele casar comigo… assim? Grávido? - Alec parecia quase ofendido. - Isabelle! É só uma criança, pelo anjo! Eu não matei ninguém! Não venha me dizer que você também pensa que pessoas grávidas e sem pares são…
- Alec, criatura! - Izzy bateu em sua testa, silenciando-o - Não estou te julgando, idiota. - A garota revirou os olhos preguiçosamente enquanto o irmão esfregava a área atingida. - Nós sabemos como as pessoas daqui reagem a gravidez fora do casamento… Que bom que ele não é um dos babacas conservadores, estou mesmo muito feliz por isso… Mas, você não acha nem minimamente curioso que ele não se importe nada com isso? Tipo, não se importe em saber nada… aceite que está grávido e simplesmente assuma essa criança como se fosse dele?
Alec não havia pensado nisso. Pra falar a verdade, desde conheceu Magnus, ficou tão surpreso com tudo que aconteceu e com a pessoa incrível que seu par se mostrava ser, que não analisou o contexto todo. Toda a disponibilidade de Magnus em ajudá-lo.
- Bem, sim, parando pra pensar agora… - O Lightwood encostou-se na parede, pensativo.
- Ele não te disse mais nada? Nadinha?! - Izzy instigou um pouco mais, mas Alec negou.
- Nada que seja estranho demais… Quer dizer, o que mais ele poderia ter dito? Ele me disse que ficava feliz por eu ter lhe dito a verdade e depois que seus pais já são de idade e, como ele já tem 31 anos, só querem vê-lo casado logo. Um filho logo depois do casamento é tudo que eles querem de Magnus.
Tá, Alec sabia que a história estava mal contada, mas ele não conseguia sentir-se ameaçado por Magnus. Não se importava se ele tinha seus próprios motivos para querer se casar tão rápido ou até mesmo assumir uma criança que, em teoria, não teria sua linhagem sanguínea. Ele realmente não ligava. Magnus Bane era um homem gentil, Alexander já havia concluído isso.
- Eu ainda acho que tem mais coisa aí. - A mulher não parecia totalmente confiante.
- Talvez tenha, mas não vou perguntar. Se um dia ele quiser, ele me conta. - Isabelle o encarava meio cética. - O que? Estou falando sério. Não vou cobrar dele algo que ele não me cobrou, Izzy. Ele sabe que eu tenho um passado e eu sei que ele tem o dele.
- Só não quero que se machuque. - a mais velha bagunçou seus cabelos de forma protetora.
- Vamos acreditar que vai dar tudo certo. - Alec estapeou a mão que desorganizou seus fios enquanto observava seu marido se aproximando calmamente. As mangas da camisa social dobradas até os cotovelos e dois botões abertos exibindo timidamente o peitoral. - Por hora, meu par ideal é um bom homem. Magnus tem me feito feliz, acredite nisso.
- Que assim continue. - A moça estreitou as sobrancelhas. - Se ele te machucar um pouquinho que seja eu corto o pau dele fora. - Izzy decretou por fim.
- Combinado. - Alec piscou para Isabelle e voltou-se para Bane. Os dois se sorriam como se mais ninguém estivesse naquele quintal.
- Atrapalho? - Magnus manifestou-se timidamente a alguns passos de distância.
- Nem um pouco. - O Lightwood estendeu a mão direita e esperou que ela fosse recolhida e levada para o meio do quintal de seus pais, onde a maior parte dos convidados se mantinham.
Ele queria dançar, era seu casamento, afinal.
***
08 de Setembro de 2037
As mãos massagistas interromperam o bom trabalho, mas permaneceram espalmadas em suas pernas nuas. Era quente e firme a forma como os dedos envolviam a carne, e Alec não sabia o que falar depois daquilo. Pra falar a verdade, não sabia nem como ainda continuava a encarar Magnus depois de praticamente criticá-lo por não tê-lo beijá-lo em todos esses meses. Para piorar, Magnus lhe encarava sem falar nada já há alguns segundos e, o que será que ele estava pensando?
O rapaz pensou em mover-se de modo a afastar as mãos de seu corpo, mas seria ainda mais estranho evidenciar aquele contato depois de sua reclamação, não seria? Manteve-se no lugar com os olhos puxados intensamente colados em seu rosto.
- Er… - Alec iniciou depois de pigarrear. - Eu entendo que a situação é outra entre nós dois e que mesmo casados você e eu não… - Alec riu sem graça. - Quer dizer, eu estou…- Suas mãos se moveram de um lado ao outro. - Né? Nós nunca… - No fundo, havia uma pontinha de vontade de chorar. - E eu entendo você não querer, nós nos damos bem, mas eu ainda sou o cara grávido de ou…
Alexander não soube muito bem o que aconteceu. Pra falar a verdade, ele não entendeu absolutamente nada. Em uma hora eram as mãos de Magnus que estavam em suas coxas o atrapalhando na formulação de frases desconcertantes, e na outra, era a boca na sua que o impedia de falar.
E veja bem, não seria ele a pessoa a reclamar dessa nova e inusitada configuração. Quer dizer, definitivamente não estava esperando aquele beijo, mas era Magnus o beijando, pelo amor dos anjos! A boca macia dele fixada na sua, e o corpo muito bem posicionado sobre o seu sem colocar peso algum na barriga.
Magnus parecia ter sido criado para beijá-lo e Alec certamente queria mais. Quando os dentes alheios raparam em seu lábio inferior pedindo um pouco mais de acesso, as mãos livres de Alec pousaram na nuca de Magnus e os dedos entrelaçaram-se nos fios lisos. A língua morna escorregou por sobre a sua, os lábios pequenos dominaram os seus, e então ele gemeu. Lânguido e entregue.
E acredite, transar grávido foi mais fácil do que Alec supôs ser possível. Okay, ele não era capaz de fazer grandes posições mirabolantes, mas sejamos francos, quem gosta de bancar o contorcionista na hora do sexo são adolescentes. Ele estava feliz demais por ter o homem que ama lhe chupando como se fosse um doce e depois o fodendo como se sua vida dependesse da conquista de um orgasmo avassalador. Magnus lhe beijou o corpo todo e ele também não fora nem um pouco bobo de aproveitar para beijar e lamber cada pedacinho de seu marido. Definitivamente não havia mais nenhum espaço em Magnus Bane que não tivesse sido devidamente acariciado e beijado. Adorado. E o mesmo podia ser dito de seu corpo.
Magnus lhe fez gozar a primeira vez com a sua boca e no sofá, mas quando ele implorou para que o homem o tomasse para si, ouviu: “Quero você bem confortável e esparramado em meu lençol.” A rouquidão na voz do mais velho deixou Alexander ainda mais excitado e, para alguém tão preguiçoso por conta da barriga, ele se levantou bem rápido para seguir em direção ao quarto que era do marido. Alí fora ainda mais acariciado, beijado e amado. Magnus se afundou com delicadeza, moveu-se sem pressa e só então aumentou o ritmo das estocadas sendo guiado pelos gemidos de Alexander. Gozaram juntos e Alec dormiu praticamente logo em seguida.
Quando acordou na manhã seguinte, recebia carinhos em seus cabelos e Magnus o observava com encanto. Haviam dormido juntos e após o rompante da noite anterior, não havia um vestígio de vergonha sequer. Ainda estavam nus, apesar de cobertos por um edredom, e isso não parecia ser um problema.
- Bom dia. - Murmurou com um sorriso pequeno e olhos inchados de sono.
- Bom dia. - Magnus se aproximou e recolheu um selinho. Ele podia fazer isso, certo?
- Então… finalmente consumamos o casamento? - Alec provocou. Ficando de lado, acariciou os cabelos lisos e sem definição do marido.
- Fechado, inclusive. - Alexander gargalhou.
- Ufaa! Achei que seria obrigado a dividir meu marido com alguns de pouca sorte. - O mais novo zombou. Magnus riu e beijou a mão alheia quando essa passou próxima de seus lábios.
***
05 de Junho de 2039
Definitivamente era muito mais fácil sentar em Magnus sem estar grávido. Sim, muito mais fácil. Sem o peso a mais ele conseguia controlar seu ritmo, sentar mais forte ou mais devagar, rebolar indecentemente… Aproveitar-se de seu homem como fazia agora. Com Max na casa do tio Jace para brincar com os primos era ainda melhor, conseguia verdadeiramente aproveitar tudo que só seu marido podia lhe entregar e não precisava correr com nada. Gostava das rapinhas, dos sexo matinal, os na hora do banho antes de começarem o dia… Mas ficar suado, sem preocupações e sem previsão de termino era tão mais saboroso! Podia gozar e provocar seu marido para gozar de novo logo em seguida.
Bendita hora que Clary deu a ideia de revezarem as festas do pijama entre as casas dos casais. Assim podiam ter ao menos alguns dias no mês para fazer programas de adulto, fossem sair com amigos, sozinhos, ou simplesmente curtir uma noite a dois. Naquela semana era na casa de Jace e Clary que as crianças ficariam o final de semana, duas semanas depois seria a casa de Alec e Magnus a abrigarem três crianças, seus pijamas e brinquedos.
Felizmente sozinhos, Magnus segurava Alec firmemente pela cintura, o estocava fortemente e a ponta da língua lhe provocava o mamilo endurecido. Os dentes raspavam por seu corpo, fechavam-se sutilmente na altura do pescoço, e ah… que maldade começar a masturbá-lo no meio disso tudo. Alexander já sabia que seu fim estava próximo, por isso tomou a boca Magnus para si, exigindo um beijo indecente e avassalador. Gemendo relativamente alto, buscou um pouco de controle e segurou as mãos de seu marido acima da cabeça. Em poucos segundos os levou ao ápice.
- Eu amo tanto quando você fica mandão assim… - Magnus mordeu o lábio inferior, rendido, puxando o homem para deitar junto a si.
- Você me ama de qualquer jeito. - Alec devolveu convencido.
- Contra fatos não há argumentos. - O mais velho riu e mordiscou a bochecha vermelha.
- Amor… - Alec chamou minutos depois. Magnus até mesmo achou que seu marido tivesse dormido sobre seu corpo, coisa que não era tão difícil de acontecer. Alexander podia facilmente ser confundido com um coala.
- Hum… - Acariciava as costas alheias.
- O que acha de termos um segundo filho?
A sugestão foi feita de maneira sutil e, embora o assunto parecesse ter surgido do nada, não era assim tão desconhecido para o casal. Alec já havia dado algumas indiretas ao marido e, ao que tudo indicava, ele não era o único a pensar e desejar que a família aumentasse um pouco mais; seus pais e os pais de Magnus tocavam no assunto de novos netos sempre que possível, mais precisamente, em toda reunião de família. Max era o xodó da família sem dúvida, e agora com dois anos, era fisicamente parecido com Alec naquela mesma idade. Seu jeito, no entanto, era absurdamente parecido com Magnus e isso muito provavelmente se dava ao fato de ser tão apegado ao pai. Apesar de não ter traço asiatico nenhum, seus olhos eram notavelmente menores que o de Alexander e seu formato fora rapidamente atribuído aos puxados de Bane. Seus cabelos escuros e lisos também, embora o próprio Alec fosse dono desse mesmo atributo e só tivesse preguiça de arrumar os cabelos após o banho.
Feliz como estava com Magnus e sendo pai de seu menininho, o sonho de ter para si uma família grande continuava a crescer e martelar sua mente, e agora que estava trabalhando de casa e Magnus finalmente havia recebido a promoção que tanto desejava, conseguindo para si uma melhor organização de seus horários; aquela parecia um ótimo momento para uma segunda gravidez. E ele queria tanto mais um filho com Magnus… Com seus traços, quem sabe.
- Estava pensando em parar de tomar o bloqueador e deixar a natureza e você cuidar do resto. - Brincou e esperava uma risadinha que fosse, mas Magnus estava anormalmente mudo, de um jeito que não costumava ficar a não ser quando precisava pensar em um projeto complicado. - Ei, o que foi? - Perguntou assim que seu marido se colocou em pé, afastando-se após beijar sua testa. - Porque corre de mim quando digo que quero outro filho?
- Eu não fujo de você. - Magnus riu nervosamente. - Isso é absurdo…
- E o que está fazendo agora, então? - Saltou da cama indo atrás do mais velho que parecia se preparar para tomar banho.
- Eu só… - Enfiou-se embaixo d'água e trouxe Alec para junto de si.
- Você só? - Esfregou o rosto asiatico delicadamente com as mãos ensaboadas. Magnus ficou em silêncio. - Amor, você não quer ter mais de um filho?
- Não é isso… - Havia qualquer coisa de tristeza e receio.
- Tem medo de… de deixar de amar de Max caso tenha um filho biologicamente seu? - O receio perpassou por sua própria voz.
Alec não pensava muito sobre isso, na verdade, aquele assunto não era discutido pelo casal. Max era filho de Magnus e ponto. No entanto, seria possível que um dia esse assunto fosse se tornar um problema? Que com outros filhos, desta vez biológicos, o amor de Magnus pelo filho primogênito pudesse mudar? Ele não acreditava nisso, mas e se…
- O quê? - Magnus engasgou em choque. - Não! Alexander, não… - Seus dedos acariciaram o rosto alvo, desfazendo a pequena ruga de preocupação que surgiu entre as sobrancelhas. - Eu amo o Max, sempre vou amar.
- Você só não quer outros filhos, então? É isso? - Alec sabia que sua voz estava sutilmente embargada. - Esse é o nosso 0,02% de incompatibilidade? Se for isso, pode falar, eu vou entender…
Magnus negou.
- Nossa incompatibilidade está atrelada a outra coisa provavelmente… - Um lampejo de tristeza passou por seus olhos.
- O que? - Alec pediu silenciosamente que seu marido compartilhasse o que lhe incomodava.
Magnus parecia desconfortável, mas os olhos de Alexander sobre si eram azuis e intensos demais. Seu homem merecia a verdade afinal.
- Eu adoraria ter uma família grande com você, Alexander. - O sorriso brilhante do mais novo era tão lindo que chegava a doer seu coração. - Posso ser pai de quantos filhos você quiser, mas não posso ser eu a te dar filhos… - Seus olhos recaíram alguns segundos para então se focarem com tristeza nos coloridos. - Sou infertil.
...
15 de Agosto de 2040
- Não pode ser… - Alec cobriu a boca atônito. - Não, não, não… deve ser um falso positivo.
Izzy olhou para seu irmão com olhos preguiçosos.
- O quê? Acontece. - Alexander deu de ombros.
- Três vezes seguidas? - Isabelle revirou os olhos. - Você está esperando um bebê, Alec, aceita logo!
- Mas eu não posso estar gravido, izzy… - Suas palavras mal passavam de um sussurro. - Como isso foi acontecer?
- Eu posso te contar a história da sementinha que germina uma melancia ou te dar alguns exemplos mais técnicos de como acontece, mas como você já é pai de um menininho lindo e está sempre trancado com seu marido nesse quarto aqui, tenho certeza que você sabe como surge um nenê, maninho. - Izzy provocou.
- Isabelle, é isso que você não está entendendo… eu não posso estar esperando um filho porque não tem sementinha alguma que faça germinar uma melancia. - Revirou os olhos impaciente.
- Do que você está falando? - Isabelle estava genuinamente confusa. - Você e Magnus usam camisinha? - Alec negou. - Tomava bloqueador então? Porque se sim, Alec, essas coisas podem falhar, você não viu o caso da Elena? Ela tomava bloqueador, usava camisinha e tá grávida de gêmeos. Como diz nossa mãe, quando o anjo quer, nada impede o nascimento de uma criança. - Deu de ombros. - Por isso que eu e meu nerd fizemos laqueadura e vasectomia, assim, só um milagre muito grande para termos pequenas izzys ou simonzinhos por aí.
- Milagre… - Sussurrou. - Magnus nunca vai acreditar nisso. - Lágrimas começaram a brotar de seus olhos. - Ele vai achar que eu o trai e vai terminar comigo e…
- Ei, ei, ei! - Isabelle abraçou o irmão apertado, levando-o a se sentar na cama. - Mas o que é tudo isso?!
- Ele… Ele… - Um choro torrencial começou a escorrer por seu rosto. - Eu juro que não trai, Izzy. Essa criança é dele, é do meu marido.
- Mas é claro que é, por que não seria? - A menina riu sutilmente. Hormônios da gravidez agiam assim tão rapidamente?
- Porque... - Suspirou apreensivo. - Magnus não pode me engravidar, ele é estéril.
...
05 de junho de 2039
- Se não quiser, não precisamos falar sobre isso… - Alec tranquilizou o marido. Magnus estava visivelmente triste. Olhos caídos e ombros projetados para frente.
- Desculpe não ter te falado antes. - O homem pediu envergonhado. - Eu sei que deveria ter te dito desde de o começo, mas eu… - Magnus suspirou cansado. - Meus pais sempre tiveram esse plano de me ver casado e com filhos para continuar a linhagem, eu achei que um dia daria isso pra eles e pra mim também, mas então descobri ainda cedo que não era capaz de engravidar ninguém. Talvez tenha sido por isso que Camille terminou comigo, inclusive.
- Quem é Camille? - Alec soprou um com confuso.
- A mulher com quem me casaria anos antes de conhecer você. - Alec bufou em sinal de incômodo. - Nos conhecemos no primeiro ano de faculdade, ela era tudo que eu queria... - Seu nariz se enrugou com certo asco. - ou achava que queria. Meus pais não estavam certos disso, por isso pediram para que realizássemos o teste de compatibilidade.
- E quanto deu? - Alec se incomodava em pensar no seu marido quase casando-se com outra pessoa que não ele.
- 21%. - Magnus riu. - Paixão jovem, eu suponho.
- Terminaram por isso? - Estava surpreso. Aliviado, era fato, mas igualmente surpreso.
- Talvez isso tenha influenciado também, mas acredito já estarmos fadado ao fracasso. - Deu de ombros. - Eu ainda queria tentar, estava disposto a casar com ela contra a vontade de meus pais, então pensei, ‘netos? Eles querem netos? Vamos dar netos a eles’.
- Simples assim? - Alec riu em surpresa. - Um plano ruim, no meu ponto de vista.
- Foi uma medida desesperada. - Magnus envergonhou-se. - Eu não queria ficar longe de Camille e duvidava que com uma criança no meio meus pais implicassem com nosso relacionamento. Nos casariam em segundos.
- E o que disse Camille? - Alec se deitou no peitoral de Magnus, seu incomodo se dissipando a cada nova frase proferida por seu marido. Aquela mulher era passado, não tinha porque ficar enciumado. Aquele homem era todo seu.
- Ela estava incerta depois de ver nossa porcentagem… ou antes disso, quem sabe. - A ponta dos dedos do asiatico passaram a acariciar suas costas em uma linha reta. - Mas o fato é que ela aceitou minha ideia de iniciarmos nossa família e…
- E…? - Pressionou o outro atrás de uma continuação.
- Antes de me trair com um outro homem, - Alec engasgou desacreditado. - uns nove meses haviam se passado e nada dela engravidar.
- Mas ela estava tomando bloqueadores? - O mais novo questionou em dúvida.
- Eu perguntei isso à ela em uma noite, mas ela apenas zombou que provavelmente eu não era capaz de engravidá-la. - Magnus inalou o ar ruidosamente. - Aquela possibilidade ficou na minha cabeça por alguns dias, vendo meu incômodo ela sugeriu que fizéssemos um teste e por fim… ela estava certa. Eu não era capaz de engravidá-la.
- Amor… - Alec beijou-lhe o queixo.
- Tempo depois Camille terminou comigo e assumiu um outro rapaz, sem fazer questão de esconder que já estavam juntos há algum tempo. Eu não contei aos meus pais sobre o exame que realizei, estava triste pelo fim do namoro e com vergonha de não ser capaz de seguir com a linhagem da familia… - Magnus riu amargamente. - Deixar o Bane, o sobrenome tão antigo, acabasse em mim era uma ideia terrível.
- Sinto muito. - Alexander abraçou o marido apertado.
- Bobo, eu sei, mas tanto tempo se passou que eu não fui capaz de dizer a eles. Eu também não tive mais nenhum relacionamento sério digno de se pensar em casamento e… então você apareceu e ter um filho nunca pareceu tão possível. - Vergonha avermelhou seu rosto.
- Por isso um filho não te assustou. - Agora tudo fazia mais sentido.
- Por isso um filho não me assustou. - Concordou. - Era a chance que eu tinha. Mas eu juro que não me casei com você somente porque estava grávido! - Se apressou em dizer e Alec riu. Não estava pensando nisso. - Eu gostei de você imediatamente, Alexander. Gostei do seu humor ácido, do seu sorriso, e principalmente da sua sinceridade em dizer que estava esperando um filho de outro. Qualquer outra pessoa teria tirado vantagem de um casamento recente para encobrir a gravidez.
- Como nós fizemos. - Alec gargalhou.
- Bem, sim… Exatamente como fizemos. - Respondeu com timidez.- Mas eu verdadeiramente sinto muito por não ter sido capaz de ter sido tão sincero com você, como você foi comigo. - Murmurou infeliz. - Principalmente por te fazer acreditar que eu seria capaz de te dar a família que deseja…
- Ei, a família que desejo é com você. Seja nós dois e o Max, outras crianças que adotaremos ao longo da vida, inseminação… o que for mais confortável para você, as opções são variadas.
- Você não se importa? - Havia qualquer coisa de dúvida em sua voz.
- Me importo com você. - Mordiscou a bochecha. - Amo você.
- Também te amo. - Apertou o mais novo em seus braços. - Prometo não esconder mais nada de você. Nunca mais.
- Combinado. - Colocou seu corpo parcialmente por cima do mais velho.
O silêncio se instalou entre o casal. Era confortável ficar assim, e Magnus podia dizer que, embora ainda se envergonhasse um pouco por ter escondido algo de seu marido, também se sentia menos triste por saber que Alexander não estava nem magoado com sua omissão, nem com a revelação em si. Filhos não precisava ser um tópico proibido, eles poderiam pensar em outras formas de aumentar a família sem necessariamente precisar de seu esperma. Agora parando para pensar, fora bobo seu medo em contar a Alexander. Max era seu filho, sempre foi e sempre seria, independente de ter seu sangue ou não. Não era isso que o fazia seu filho.
- Agora, uma coisa boa essa conversa me trouxe… - Alec murmurou minutos depois.
- Que seria..? - Magnus não conseguia pensar em nenhum ponto positivo na descoberta da infertilidade de seu par ideal.
- Posso finalmente parar de tomar bloqueadores. - O asiatico riu nasalado. - Você sabe quantas merdas de hormônios existem naquela merdinha de comprimido? Eu fico todo inchado.
...
15 de Agosto de 2040
Okay, não deveria ser tão difícil, certo? Era contar sobre a gravidez de uma só vez, garantir que o filho era de Magnus, mostrar-se completamente aberto à realização de um exame de paternidade, em qualquer clínica que seu marido desejasse, a qualquer hora e lugar e…
- E se for uma gravidez psicológica? - Murmurou ao léu. Isso era possível, né? Isabelle lhe bateria se ouvisse outra de suas hipóteses mirabolantes.
- Quem tem gravidez psicológica? - A voz de Magnus assustou-lhe um pouco.
- Hum? ninguém! - Riu nervosamente. - Vem, venha comer. - Puxou o marido em direção a cozinha. - Max, querido, venha comer, nenê. - Inclinou-se em direção a sala onde o filho dividia sua atenção entre os bonecos de ação e o desenho que passava na televisão.
Macarrão com brócolis ao molho branco.
Max adorava comer aquele prato em específico, Alec adorava fazê-lo por ser rápido, e era uma verdadeira gracinha ver seu filho administrando o talher de plástico verde limão enquanto Magnus ficava de prontidão para ajudar o filho caso este precisasse de auxílio. Com quase três anos Max não precisava realmente de ajuda, ainda se sujava um pouco, mas não fazia bagunça. Já tinha a motricidade necessária para alinhar a comida na direção de sua boca e, particularmente, como a criança curiosa que era, gostava de fazer várias coisas sozinho. Por ser ainda muito pequeno, assim como Alec, Magnus também gostava de se manter por perto e estava acostumado em ajudá-lo durante as refeições quando estava em casa. Ficava bobo olhando como seu filho crescia rápido e lhe dava certo aperto no peito saber que em breve ele não precisaria mais de sua ajuda.
Com Alexander não era nada diferente, ficava cada vez mais encantado com seu menino que parecia crescer rápido demais. O aniversário de três anos seria dali a duas semanas, aproveitando os últimos dias de verão, e, não fosse sua recém descoberta, ainda alugaria os ouvidos de Magnus sobre a fantasia de Max porque, ele achava inaceitável pagar aquela fortuna em literalmente um jeans com retalhos coloridos, uma blusa branca e um chapeuzinho de cowboy. Inadmissível.
- O que tem te atormentado, meu amor? - Ouviu de seu marido assim que adentrou o quarto, após colocar o filho para dormir.
Magnus estava lindo, esfregava os cabelos molhados na toalha e exibia-se recém banhado, nú e delicioso durante todo o processo. Aproximou-se e tomou para si o cuidado com os fios molhados.
- Porque acha que estou atormentado com alguma coisa? - Beijou a nuca alheia e passou a secar com cuidado os cabelos escuros.
- Porque eu conheço meu marido? - Magnus provocou.
- Só estou pensando em umas coisinhas… - Buscou seu tom mais despreocupado.
- Sobre a festa de Max? - Tentou um tema recorrente nas conversas antes de dormir. Alec havia sido influenciado pela animação de Isabelle e agora só falava do aniversário temático do filho.
- Também, mas… - Deixou a toalha em cima da mesa de cabeceira e trouxe o homem para deitar consigo.
- Mas…?
- Não quero pensar nos problemas agora. - Beijou o pescoço caramelo.
- Quer o que então? - Brincou com o lóbulo alheio.
- Você.
- Aqui nessa casa, seu desejo é sempre uma ordem, meu anjo… - Magnus sugou seu lábio inferior e se colocou posicionado sobre o corpo do mais novo.
Era desonesto encobrir um assunto sério com sexo? Alexander não sabia dizer, no fundo ele acreditou que sim, que não deveria estar enterrado no marido, se deliciando com a visão daquele homem todo gostoso e entregue, mordendo a fronha no travesseiro para não gemer seu nome e acordar o filho que dormia logo no quarto ao lado. Mas ele nunca era capaz de negar momentos íntimos com Magnus, ainda mais quando era ele quem o provocava, que pedia para inverterem as posições e ser seu. Era mais do que fato que amava ser de Magnus, mas não podia negar que era ainda mais feliz depois que seu marido lhe apresentou a versatilidade. Sim, antes de Magnus ele não sabia se desejava ser ativo, nunca havia sido em seus outros relacionamentos passageiros, mas então, um ano e meio atrás, o que começou como uma provocação acabou se tornando uma super possibilidade.
Ele ainda lembrava muito bem do dia em que fora flagrado olhando com fome para a bunda de seu marido e o ouviu provocá-lo dizendo “Banquete não foi feito apenas para admirar, pretty boy.” Primeiro ele riu envergonhado por ter sido pego no flagra, mas depois, quando seu homem sentou-se em seu colo, percebeu que Magnus falava muito sério. “Você me quer, não quer?”, ele perguntou terrivelmente sensual e Alexander nem bem sabia que o desejava tanto daquela forma, foi descobrir quando percebeu sua cabeça confirmando por ele. Não foi naquela noite Alec que tentou ser ativo pela primeira vez, fora algumas semanas depois, quando seu filho foi dormir na casa dos primos. Ele preferiu esperar um momento em que tivessem a sós. Mas naquela noite em específico, chupou seu marido enquanto brincava com seus dedos dentro dele, e descobriu que Magnus gostava muito de fodê-lo com três dedos provocando sua próstata. Ele gozava muito mais intensamente. Era lindo de ver. Quando arriscou-se, finalmente, a tomar a liderança para si... quem diria, também era maravilhoso!
Era incrível ser espremido no interior quente e apertado de Magnus, e melhor ainda quando aquele homem lhe dizia absurdos como fazia agora. De quatro e cobrindo a boca como estava, Bane se deliciava com a performance do seu marido e, caralho, às vezes ainda se pegava pensando em quão sortudo era por ser par daquilo tudo. Alexander era simplesmente perfeito para si.
E quando ele se deitou ao seu lado e o penetrou outra vez, desta vez mais calmamente, beijava-lhe os ombros, pescoço e nuca. A euforia e luxúria haviam dado lugar a todo um carinho sem tamanho e Magnus estaria completamente satisfeito com fazer amor com o amor da sua vida de forma lenta e apaixonada, também gostava quando era assim. Não fosse, é claro, o fato de ouvir o que parecia ser o amor da sua vida chorando.
- Amor?! - Magnus virou-se a tempo de recolher Alexander em um abraço apertado. Seu homem parecia a segundos de desintegrar. - Ei, o que foi?
Estava verdadeiramente preocupado, só havia visto seu marido chorar quando Max falou “papa”pela primeira vez e ainda assim, não era nada semelhante a chuva torrencial que acompanhava se formando. Alexander tremia em seus braços e os soluços agora eram altos e por demais desolados.
- Bebê, fala comigo… o que aconteceu? - Beijou o rosto alheio algumas seguidas vezes.
- Eu não quero perder você, Magnus, não quero. - Murmurou o mais novo ainda envolto por lágrimas.
- Me perder? - Magnus riu suavemente. - Você não vai me perder de jeito nenhum, querido, eu amo você.
- Você não vai mais me amar e não vai querer ficar comigo… - Alec tornou a chorar.
- Alexander, - O homem buscou o rosto choroso pedindo que alguma atenção fosse dada aos seus olhos. - ei, não existe a menor possibilidade de eu não amar você.
Os azuis estavam tão aflitos e Magnus não fazia a menor ideia do que havia acontecido e pertubado seu marido daquele jeito. Alexander não era de se desesperar, aparentava sempre calma até mesmo nas situações mais assustadoras. Seu parto por exemplo. Ainda se lembrava do tom ameno em que anunciou que sua bolsa havia estourado. Ainda conseguiu caminhar até a bolsa com as coisas do bebe, e mesmo com dor, ligou para os familiares avisando que Max havia resolvido nascer. Eles próprio estava em frangalhos, buzinando para todos os carros implorando por passagem, mas Alexander fazia apenas apertar uma de suas mãos, puxando o ar ruidosamente, soltando-o em seguida pela boca. A cesária não o assustou nem um pouco, e quando pode finalmente segurar Max pela primeira vez, chorava de alegria, mas o fazia tão pacifico que para Magnus parecia um filme bonito. Seu marido ficava lindo segurando o filho deles. Agora, no entanto, seu homem estava em frangalhos e nada indicava o motivo.
- Fala comigo, você está me assustando, querido. - Pediu trazendo o mais novo para seu colo. Alexander grande como sempre fora, agora parecia cada vez menor encolhido em seus braços. - Me diga o que está te perturbando, vamos resolver juntos.
- Eu juro, Magnus, eu juro… - Alec passou a repetir sem parar. - Eu juro que é seu, eu juro por tudo que mais sagrado. Juro por meu amor por você, minha vida, a vida de Max, eu juro! É seu.
- O que é meu, Alexander?
Magnus estava cada vez mais confuso. Achou que não poderia ficar ainda mais perdido, mas compreendeu o seu completo engano quando, buscando acalmar a si mesmo, seu marido respirou fundo e lentamente algumas vezes, para em seguida colocar sua mão espalmada um palmo acima da linha fina quase invisível que indicava o nascimento do filho do casal e que agora, parecia levemente saltada.
- O bebê que estou esperando, Magnus, - Alexander não gaguejou uma vez sequer e seus olhos se recusaram a desviar-se dos cautelosos de seu marido. - O filho que estou esperando é seu.
***
16 de Agosto de 2040
Tá, Magnus não havia lhe xingado, não havia lhe enxotado para fora de casa, ou sequer dormido no sofá. Mas Alec não sabia o quão positivo isso podia ser considerado, afinal, o homem não havia lhe dito nada. Após descobrir a gravidez não fez um questionamento sequer, apenas se levantou e buscou por uma cueca, depois entregou uma à ele e em silêncio se retirou do quarto. Alexander queria gritar que não fosse embora, mas também não queria acordar o filho. Foi atrás do marido temendo que esse resolvesse partir, mesmo que ainda estivesse apenas de cueca, e então o encontrou na cozinha. Em silêncio o mais velho bebeu um grande copo de água, depois encheu um segundo e colocou uma colher de açúcar, entregando-o para ele em seguida.
"Tome, você não pode sofrer grandes alterações de humor desse jeito." Foi tudo o que disse. Quando dera o primeiro passo para longe, Alec se lembra de ter segurado seu punho com cautela.
"Magnus, eu…" Ele queria dizer tantas coisas, mas não sabia como nem o que falar.
"Podemos conversar depois?" Magnus pediu. "Por favor, Alexander, só me deixa digerir isso, tudo bem?" Seus olhos imploraram por qualquer coisa que nem ele sabia explicar o que era, e por isso Alec o soltou mesmo temendo que fosse abandonado.
Não foi. Magnus apenas escovou os dentes em silêncio, apagou as luzes do quarto e se deitou de costas para ele. Como seu lado estava arrumado e livre para que fosse ocupado, Alexander deitou-se. Sem querer deixar seu marido ainda mais incomodado, buscou ocupar o espaço mais próximo da borda. Não conseguiu dormir direito e algo dizia que Magnus também não estava tendo sucesso. No dia seguinte, cansado demais devido as horas mal dormidas e o desgaste emocional, levantou-se em silêncio para a acordar o filho e levá-lo a escolinha. Magnus se manteve deitado e de olhos fechados o tempo todo, o que não fazia sentido nenhum porque sempre tivera um sono leve. Ele se inclinou sobre o marido, beijou-lhe a testa e saiu de casa, quando voltou, as coisas de Bane ainda se mantinham todas do armário, com exceção de um terno. Bem, preferiu acreditar que ele havia apenas saído para o trabalho e voltaria no final da tarde, e felizmente estava certo. Às 18:40 da noite ele cruzou a porta de casa com o semblante abatido. Não havia fugido, ao menos não até o momento.
Ele rodopiou Max quando o pequeno correu para seu colo, beijou as bochechas gordinhas fazendo o menino rir afetadamente, e seguiu para a cozinha com ele em seus ombros. Magnus também se propôs a ajudar nos últimos preparativos do jantar, colocou a mesa, e durante toda a refeição ouviu o dia animado de Max na escolinha. Pacientemente ouviu que o menino havia brincando no parquinho e ralado um pouco o joelho, que comeu o xuxu na hora do almoço, fez coco no piniquinho duas vezes, e além de aprender uma música das letrinhas, também desenhou uma árvore feita de tinta espalhada em suas mãos pequeninas. Ele ainda deu atenção ao desenho da tal árvore quando o filho pediu para que Alec pegasse sua obra de arte, e ouviu sorridente cada cor apontada pela criança.
- O meu menininho deve ter ficado todo sujo de tinta, não? - Magnus tocou na ponta do nariz pequeno. Max riu.
- Só um pouquinho. - Disse ele.
- Só um pouquinho, filho? Tem certeza? - Alec buscou os olhos do filho com seriedade, embora o sorriso ainda se mantesse em seu rosto.
- Max não ficou sujo, só as roupas. - Exibiu os dentes pequenos. Max sorria como Magnus, os olhos sumiam em uma fina linha reta toda vez. Alec acreditava que ele só sorria daquela maneira por admirar o pai e desejar copiá-lo em quase tudo.
- Espertinho. - Magnus fez cosquinha em sua barriga. - E quem é que vai limpar as sujeiras da sua roupa, hen, meu pequeno artista?
- Papai. - Respondeu o óbvio fazendo os adultos rirem. Juntos, naquele momento em família, nem parecia que havia algo que distanciava o casal.
Quando Max dormiu nos braços de Magnus, o homem ainda permaneceu com ele aninhado em si por muito tempo. Só se pôs a caminhar em direção ao quarto do pequeno Lightwood-Bane, quando todos os músculos doíam e pediam por arrego. Ele cobriu seu filho, acariciou seu rosto e seus cabelos, e antes de deixá-lo sozinho, ainda beijou sua testa e ficou alguns minutos o olhando de longe, próximo a porta que encostou lentamente.
- Podemos conversar? - Alec lhe esperava no final do corredor. - Por favor… - A voz fraquejou. Ele não esperava por uma resposta positiva de qualquer forma.
- Eu… - Um milhão de diferentes pensamentos passaram por sua cabeça, mas ele disse apenas. - Podemos.
Não dava para adiar aquilo tudo, né?
Quando eles se direcionaram para o quarto, logo após terem se certificado de que Max dormia, fecharam a porta e se direcionaram para a cama. Aquele lugar era habitado por ambos há pouco mais de dois anos, mas não parecia tão convidativo como tinha sido no dia anterior. Alec havia dormido em uma ponta e o Magnus bem distante dele. Acordaram bem juntos de qualquer forma, mas Alec se encheu de afazeres aquilo machucou, óbvio. Machucou ver seu marido de volta em casa, mas se sentir receoso em acariciar seu rosto ou se aconchegar em seu peito satisfeito por tê-lo ali. Também machucou trocarem meia dúzia de palavras como se fosse apenas moradores cordiais, e parecerem família apenas nos momentos com Max durante o jantar. Machucou, principalmente, se sentir incerto quanto ao futuro dos dois. Alexander não queria que aquele mal entendido se estendesse e prejudicasse seu casamento.
- Você está mesmo grávido? - Ouviu bem baixo.
- S-sim. - Alec concordou.
- Quanto tempo? - O tom era neutro demais e Alec não sabia identificar se era apenas curiosidade ou se o marido tentava fazer alguma conta.
- Eu não sei. Descobri ontem. - Os pequenos olhos se arregalaram. - Passei mal na frente de Izzy, ela cismou que estava grávido e foi atrás de um teste. Eu fiz apenas para despistá-la, mas…
- Deu positivo? - Magnus parecia incrivelmente incerto sobre isso.
- Três positivos. - Alec corrigiu sutilmente. - Eu fui atrás de mais dois testes depois de ter surtado com o primeiro.
Magnus voltou a ficar em silêncio.
- Amor, eu juro, - Alexander arrastou-se apenas um pouco para mais perto de Magnus. Apesar de tudo, não via ódio em seus olhos, apenas confusão. - Eu tenho sido fiel a você desde a primeira vez em que te vi.
- Você tem certeza que essa gravidez é real? - Bane cerrou os olhos.
- Como assim? - Estreitou seus olhos de volta. - Você fala de não existir um bebê aqui dentro? - Apontou para a barriga. Magnus concordou. - Eu pensei nisso…
- É uma possibilidade, então? - Magnus insistiu.
- Bem, pode ser, não sei. - Sentiu-se triste com a possibilidade e encontrou o mesmo brilho melancólico nos olhos puxados. - Mas não acho que seja isso.
- Então você está mesmo esperando um filho… - Suspirou o mais velho.
- Eu sei que a minha palavra não basta, então eu estou totalmente disposto a fazer um teste de DNA para você ter certeza que é o pai dessa criança que eu estou esperando. - Falou simplesmente e em um único fôlego. Magnus continuou em silêncio. - Eu entendo que talvez não acredite nisso também e, enfim, possa pensar que talvez estou manipulando a situação, então não vou sugerir nenhuma clínica e você pode cuidar de tudo e só me avisar no dia… Se quiser, eu fico vendado o tempo todo, só pra você ter certeza que não estou, sei lá, comprando o resultado.
O rapaz estava tão preocupado em comprovar sua fidelidade que não se atentou para a expressão de seu marido. Magnus lhe encarava, embora confuso, um tanto desacreditado das opções apresentadas por Alexander. Se a situação não fosse tão estranha, estaria rindo certamente.
- Não vamos fazer nada disso, Alexander.
- Prefere que o bebê nasça primeiro? Podemos fazer um exame quando nascer, você o leva sozinho e eu nem vou saber onde foi feito o teste de paternidade e…
- Ei, - Sua mão direita aproximou-se do pescoço alvo, de modo que o polegar esticou-se para a bochecha corada. - não vamos fazer exame nenhum.
- Nenhum? - Murmurou em meio ao choque.
- Quer dizer, vamos fazer os exames necessários… - Magnus sorriu minimamente. - Descobrir se há alguém aí dentro e como tem se desenvolvido.
- Mas… - Alec sentia-se preste a chorar outra vez. - Você não quer saber se é seu?
- Você me disse que é. - Magnus deu de ombros. Sim, se questionou sobre isso em alguns momentos do seu dia, mas, da mesma forma como se sentia idiota por acreditar tão facilmente no que Alexander dizia, se sentia igualmente idiota por desacreditar. Optou por seguir como achou melhor. - Não vou causar desconfianças onde não há nenhuma, Alexander.
- Você não fica curioso de como isso é possível? - Alec mordeu os lábios. Não que duvidasse que o filho fosse de Magnus, até porque, Magnus era o único homem em sua vida, mas… - Você não pode ter filhos e mesmo assim…
- Ou você é um poço mágico,
- Poço tem você, me respeita. - Alec lhe empurrou suavemente. Magnus riu.
- Okay, ou você é um ser mágico, - Sorriu ladino ao marido - ou eu não sou infertil. Nunca fui.
Alec engasgou em sua própria respiração. Seria possível?
- Não sei… - Magnus respondeu sua pergunta soprada. - Eu nunca refiz o teste, e, entre você e Camille, ela tinha motivos para mentir. - Deu de ombros. - Talvez nunca tenha desejado se casar comigo e achou no meu plano de criar uma família, uma brecha para escapar.
- Sinto muito. - Alec curvou os ombros em compaixão.
- Não sinta. - Magnus buscou seu olhos e sorriu. - Está mais do que explicado porque não éramos compatíveis no final das contas.
- Não quer mesmo tirar a prova? - Alexander perguntou baixinho. - Não vou me sentir mal ou menos amado por isso.
- Mas eu vou me sentir mal e te amando menos se o fizer. - Seus dedos se entrelaçaram os pálidos do marido. - Eu acredito em você. Eu quero acreditar em você.
***
19 de Junho de 2040
Um bebê real.
Não, não era imaginação. Não era seu corpo trabalhando junto com a sua mente para lhe dar sensação de gravidez; era uma gravidez real. Ele estava mesmo esperando um filho de Magnus e tudo isso havia acabado de ser comprovado pelo primeiro exame de pré natal. O coraçãozinho batia rápido, forte e saudável como batia o de Max, e ao que tudo indicava, a gestação se desenrolava sem problemas. Alec ainda se afogava em lágrimas apertando a mão de Magnus que também não estava muito diferente dele, quando ouviu:
- Desejam saber o sexo do bebe ou preferem descobrir no nascimento? - Magnus secou seu rosto com rapidez e arregalou os olhos em direção a mulher.
- Pode falar, né, amor? - Alec buscou a atenção do marido.
- Pode, mas… Já dá pra ver?! - Os puxados vagavam da médica ao marido, sem parar. - Não está meio... cedo?
Magnus estava confuso, só conseguiram descobrir o gênero de Max no terceiro exame do casal, o que era para a mídia o primeiro. O exame onde conheceram obstetra oficial e comunicaram a família sobre o filho.
- Ao que tudo indica, vocês aproveitaram bem as suas férias, Magnus. - A moça tomou a liberdade de brincar pois, muito além de responsável pela realização do parto de Max, Catarina também havia se aproximado muito da família, tornando-se amiga do casal juntamente ao seu marido, Ragnor, o pediatra do pequeno Lightwood-Bane.
- Férias? Mas isso não foi a tipo… - Alec gaguejou buscando a data. - Uns…
- Quatro meses atrás, mais ou menos? - Magnus sorriu. Estava radiante.
- Ao que tudo indica, é tempinho que esse feijãozinho tem de vida. - Catarina exibiu seu sorriso grande e bonito - Já podem ir pensando no nome do segundo Lightwood-Bane, porque vocês só tem mais uns cinco meses pra preparar tudo.
A médica amiga não entendeu muito porque Alec começou a chorar ainda mais, embora evidentemente feliz, e Magnus passou a rir e beijar repetidas vezes seu rosto, secando suas lágrimas. Mas dada toda a relação afetuosa do casal, a amiga entendeu se tratar apenas de um momento de felicidade compartilhada entre eles. Já havia ouvido de Alexander seu desejo de ter uma grande família e agora, depois da notícia, o sonho do casal se tornava cada vez mais possível; um segundo filho estava a caminho.
Alec demorou a parar de chorar, boa parte da consulta ainda se deu com seus soluços e pedidos de desculpas à médica que por vezes lhe entregou alguns lencinhos. Ele culpou os hormônios, mas sabia que não se tratava somente deles. Estava feliz pois, embora Magnus tivesse lhe dito que não precisava de prova alguma para acreditar ser o pai de seu bebe, saber que ele havia sido concebido no período de férias do marido lhe dava um alívio sem tamanho. Ele sabia que não havia como seu filho ser de outra pessoa, mas sentia no seu íntimo que precisava provar isso a Magnus, e agora estava mais do que comprovado! Haviam passado aquele mês inteiro juntos. Dias incríveis em família!
Nas últimas férias de Magnus, a família Lightwood-Bane aceitou o convite de viajar com os irmãos Lightwood e seus companheiros. Nas últimas duas semanas do mês de descanso do mais velho, o casal se juntou em viajem com Jace e Clary e seus filhos, e Izzy e Simon. Fora uma viagem divertida, nunca riram tanto, e nos últimos três dias de férias, Isabelle havia lhes feito uma surpresa. Ela e Simon levariam os sobrinhos para um parque que Sophia - a filha mais velha de Clary e Jace estava frequentemente pedindo para ir, enquanto os pais teriam alguns dias e noites para aproveitarem momentos românticos sem filhos. Foi inesperado, mas verdade seja dita, nenhum dos casais negou a oferta. Clary e Jace ficaram pela cidade do tal parque, animados para conhecer mais da gastronomia e bares locais, mas Magnus havia convidado Alexander para conhecer uma cidadezinha há duas horas de distância.
E aquela foi a primeira vez que o casal verdadeiramente comemorou uma lua de mel. Com Max maiorzinho e seguro, não havia nada que pudesse preocupar Magnus e Alec. Eles sabiam que Izzy e Simon cuidariam bem dele e dos outros dois sobrinhos, afinal, não era novidade a moça e o marido ficarem com as crianças. Ela e o Simon não queriam filhos, mas amavam ter as crianças em sua casa, levá-los para passear e mimá-los com tudo que tinham de bom e de melhor. Eram a melhor definição de tios ricos e corujas.
Sendo assim, sozinhos, Alec e Magnus fizeram tour por alguns pontos turísticos, tomaram café, almoçaram e jantaram em outros restaurantes que acharam boas recomendações na internet, mas não mentiriam, aproveitaram muito o quarto reservado em uma pequena pousada. Sem o filho no quarto ao lado, e com as cabanas bem distantes umas das outras, o casal se amou inúmeras vezes. Não pensaram em proteção nenhuma, até porque, para além de confiarem um no outro estando em um relacionamento monogâmico e acima de tudo fiel; desde a descoberta sobre a infertilidade do marido, Alec não mais tomava bloqueadores há muitos meses. Quase um ano, talvez? Não sabia ao certo, já fazia muito tempo, realmente...
- Você está muito feliz. - Magnus apertou gentilmente a mão do marido, desligando o carro em seguida. Haviam chegado em casa e toda a emoção vivenciada no consultório de Cataria ainda estava bastante presente.
- Eu estou muito feliz. - Alec não escondeu a animação. Seu corpo estava elétrico e ele se movia de forma engraçada no estofado.
- Tem mesmo um bebê aí dentro. - Magnus acariciou a barriga que sim, depois de notar com mais atenção durante a consulta, estava um pouquinho mais estufada no baixo ventre.
- Um bebê seu. - Alec colocou sua mão por cima da do marido.
- Eu já sabia disso. - Magnus deu de ombros. Um sorriso singelo em seus lábios. Ele estava radiante.
- Tudo bem, eu também sabia. Mas me sinto mais feliz agora…
- Porque temos uma data precisa? - Magnus engasgou uma risada.
- Porque com essa data mais precisa você pode ter certeza, mesmo sem exames, que esse filho que estou esperando é seu. - Alec o encarou em obviedade.
- Eu já havia aceitado esse fato, querido.
- Aceitar é diferente de comprovar, amor. - Alec acariciou o rosto caramelo. - E antes que comece, eu já entendi que você não precisa de comprovações, mas eu sinto que preciso dá-las a você. Te dar a certeza que esse filho é seu.
- Okay, - Magnus beijou suas mãos e as escondeu por dentro das suas. - Você está feliz e eu estou feliz que esteja. Que pode aliviar essa preocupação. - com delicadeza beijou as ponta dos dedos alheios. - Mas, pensar sobre isso não me deixa com a sensação de mais ou menos pai, Alexander. Eu escolhi ser pai de Max e escolhi ser pai dessa criança que está vindo, e não é a existência do meu DNA que altera alguma coisa nessa percepção. Eu sei que não é essa a sua intenção e pode parecer bobo, mas, não quero fazer distinção dos nossos filhos por isso. - Alec travou, não havia pensado por esse lado. - Óbvio que fico feliz que seja fiel a mim assim como sou a você, mas não é o fato desse filho ser biologicamente meu que mostra a sua fidelidade. Nada mostra se você é efetivamente fiel ou não a mim.
- Mas, o que? Eu nunca… - Alec iniciou e seu marido sorriu o tranquilizando.
- Eu sei que não, mas eu sei disso porque escolhi acreditar que entre nós há confiança e respeito, e que nunca nos trairemos de forma alguma, meu bem. Mas nada disso garante qualquer coisa. Nunca teremos essa certeza, assim, apenas acreditamos nisso. É assim com todo mundo e algumas pessoas acreditam nisso para futuramente se descobrirem erradas, outras não acreditam e depois de muita briga e desconfiança, descobrem se tratar apenas de insegurança de sua parte… mas até perceberem isso, já destruíram tudo que podia ser bom e duradouro. E eu, eu definitivamente não quero abrir espaço qualquer coisa que possa vir com a intenção de abalar nossas vidas e nosso futuro. Eu escolhi confiar em você, meu amor, desde a primeira vez em que te vi.
- Eu também escolhi confiar em você, desde a primeira vez que te vi. - Alec sorriu secando os olhos chorosos.
- Eu sou muito grato por isso. - Magnus roubou-lhe um selinho. Foi doce e rápido.
Saindo do carro e sendo acolhido pelos braços afetuosos do marido, algo saltou na mente de Alexander.
- Magnus, será que é por isso que somos 99,8% compatíveis? - Alec nunca entendeu o que ligava ou distanciava os casais, mas confiança podia ser um ponto importante, não?
- Nah… - Em tom de brincadeira o homem abanou as mãos desconsiderando a possibilidade. - Essa porcentagem é porque somos muito bonitos juntos. - Alec gargalhou alto e Magnus o acompanhou. Amava aquele som. - E pensando melhor, se fizéssemos outro teste, acredito que o nosso número seria ligeiramente diferente do anterior.
- Porque? - Alec estreitou os olhos, confuso. Saindo da garagem, Magnus abriu a porta de casa e eles entraram.
- Só havia uma coisa que achei nunca ser capaz de confiar e contar a ninguém, Alexander. - Magnus oscilou as sobrancelhas. - E eu te contei antes mesmo de se provar falsa as alegações. - Sorriu convencido.
- Não... - Alec sorriu desacreditado. - Os 0,02% eram isso? - Não conseguiu deixar de rir. - Então, espera! Você acha que nós seríamos… - Magnus concordou exibindo aquele sorriso encantador. - Você… quer tirar a prova?
Alec mordeu os lábios. Seu marido abriu os olhos e o trouxe para perto.
- Ao invés de um outro teste, prefiro acreditar que simplesmente somos um casal 100% compatível, o que acha?
- Eu gosto muito mais de como isso soa. - Alec se inclinou e o beijou.
Sim, Magnus e Alexander eram o casal mais compatível da história da humanidade. E eles até poderiam reclamar o título da nova porcentagem, mas certas coisas não precisavam ser anunciadas aos quatro ventos, não é mesmo? Afinal, o que era ter ou não 0,02% a mais ou a menos?! Ninguém se apega tanto a números e porcentagens nos dias de hoje, certo?
Bem, eles acreditavam que sim, e acreditar definitivamente já era o bastante.
~Fim~
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