Sakura sabia que não estava completamente feliz. Seu coração ainda estava tentando se recuperar após uma relação de cinco anos que, apesar de toda a alegria que tivera lhe proporcionado, a mágoa e sofrimento eram, de todo, superiores. Não devia amar aquele homem. Sabia disso. Contudo era impossível apagar tudo o que tinham vivido – especialmente o que sentia por ele. Mas após quatro meses, estava finalmente começando a viver de outra forma.
Tinha de agradecer a Ino, que tivera adiado sua data de casamento para estar mais presente na vida dela. Indiretamente, também devia sua recuperação a Sai, que pacientemente apoiava a rosada naquilo que podia – a loira tinha prometido que apenas tivera resumido o romance de Sakura, sem nenhum detalhe que pudesse ser confidencial. Depois, tinha Julian.
Julian Dupain.
O homem que a salvou de uma tempestade.
O homem paciente, que cheirava a croissants e pão fresco.
O homem que ficava noites a seu lado, quando sua mente tentava regressar para a escuridão.
O homem que, naquele momento, estava lhe fazendo rir tanto, que jurava ter tido uma sessão de abdominais na academia que frequentava.
Sendo sincera, já não se lembrava porque estava rindo. Tudo com o moreno era natural, quase simples. Conheciam-se há quatro meses, sentiam como se fosse anos.
- Infelizmente tenho de ir andando, Sakura. Meu expediente está começando. – O francês falou, após fitar seu relógio. – Agradeço por ter aceitado meu convite.
- Não seja bobo. – A rosada revirou os olhos. – Eu lhe acompanho.
Julian sorriu. Apesar de saber que seus sentimentos não eram correspondidos, estava cada vez mais apaixonado pela Haruno. Era impossível não se apaixonar. Sakura era tudo o que sonhava quando lhe perguntavam como era sua mulher ideal. Bela, cativante, extremamente inteligente. Alguém que ele valorizava e queria trabalhando a seu lado. Seu único defeito: tinha demónios que não merecia e era constantemente atormentada por eles.
Assim que a Haruno se ergueu para pagar o desjejum, o francês não conseguiu evitar analisar a rosada. Durante seu dia de descanso, trajava um top e jean preta, acompanhada por um par de Converse brancos e uma jaqueta jean oversized com alguns rasgões, que lhe fazia ainda parecer mais pequena do que realmente era. Os cabelos, que agora roçavam metade da bunda empinada, estavam presos em dois pequenos space buns, derivados de duas tranças embutidas e a maquilhagem realçava suas feições naturais. Não havia mulher mais bonita.
- Julian, você vai chegar atrasado. – A voz da rosada interrompeu seu transe. O moreno arregalou os olhos, reuniu toda a sua coragem, entrelaçou sua mão com a da Haruno e saíram correndo pela rua até ao edifício principal. As risadas altas de Sakura e do francês atraíam a atenção das pessoas que os rodeavam. Quando chegaram à porta central, a rosada deixou se cair no chão, sem deixar de rir. Julian se sentou a seu lado, tentando recuperar o fôlego.
- Talvez devesse ponderar me registar numa academia. – Falou, tossindo.
- É. Estou começando a notar uma gordura extra em você. – Sakura zombou.
- Nunca mais fazemos isso, de todo! – O francês se ergueu, com dificuldade. – Pelo menos comigo de terno. – Esticou sua mão em direção à rosada e, num movimento firme, a elevou.
Sakura não esperava que Julian usasse tanta força e tropeçou, caindo nos braços do homem. Seus rostos ficaram a milímetros de distância. A rosada sentia seu coração bater forte. Julian apenas precisava de se baixar e seus lábios seriam selados. As mãos do francês apertavam sua cintura com força, como se estivesse lutando contra si mesmo.
- Julian? – Uma terceira voz quebrou o clima que se estava formando. Ambos sentiram suas respirações travarem. Julian praguejou a presença do Uzumaki. – Não devia estar trabalhando?
- Tive um contratempo Naruto. – Falou, destemido. Apesar de ser um homem intimidante, Uzumaki Naruto tinha seu respeito, não sua subordinação. Nunca iria agir como um covarde. – Nos vemos mais tarde, Sakura. – Beijou a testa da rosada, que assentiu suavemente. O moreno saiu, entrando no edifício.
Sakura cruzou seus braços e se virou, fitando o loiro. Sentia todos seus dilemas regressarem, como uma avalanche. Mas relembrou tudo o que tivera conseguido até agora, toda a caminhada, apesar de lenta, que estava forjando para conseguir continuar sua vida. E foi esse pensamento que não deixou sua figura se quebrar.
Naruto ainda tentava processar o momento que tinha acabado de assistir. Julian ia beijar Sakura. Ele apostaria sua vida. Se mal dormia com imagens da rosada assombrando seus pensamentos, agora iria ficar muito pior. Porque Julian e Sakura não era apenas uma suspeita. Ele conseguia entender que havia algo mais. E nunca tivera sentindo tanto medo como estava sentindo naquele exato instante. Para complementar, Sakura passou por si, sem se pronunciar, como se ele fosse invisível.
Seu peito estava apertando.
Sua garganta ardia.
Queria chamar por ela.
Queria beijar seus lábios.
Queria a ter em seus braços novamente.
Mas não podia. Era tarde demais. A partir do momento que escolheu Hinata, já era tarde demais.
E eles apenas tentaram negar esse facto. Durante anos. Consumindo o que restava de sua amizade.
Fodendo com tudo o que havia entre eles.
E Naruto nunca se tivera sentindo tão sozinho.
- Naruto? – O toque de Sasuke sobressaltou o loiro. – Você vem? – O loiro assentiu e continuou caminhando. Minutos depois se encontrava no seu escritório, certificando-se que todo seu expediente era ocupado com trabalho, de forma a evitar pensar em Sakura. Uma tarefa impossível, uma vez que quase todos os documentos eram relacionados com o projeto e com Julian.
***
Na mansão Uzumaki, a morena apertava um embrulho, nervosa. Sakura conseguia descodificar o desconforto de Hinata, especialmente depois de esta lhe ter ligado, pedindo sua presença.
- Hina, está me assustando. O que aconteceu? – A Haruno falou, apertando seu caso contra o corpo. A morena respirou fundo e, com suas mãos trémulas, entregou o embrulho a sua amiga. Sakura analisava toda a situação, desconfiada. Hinata ora puxava os folhos de sua blusa azul, ora apertava seu rabo de cavalo, tudo isso enquanto caminhava se um lado para o outro.
- P-Pode abrir. – Finalmente se pronunciou. Sakura arqueou uma sobrancelha e começou rasgando o embrulho. As batidas de seu coração ecoavam por todo o corpo, especialmente em seu ouvido.
Nada poderia lhe preparar para o que iria acontecer. No fundo do embrulho havia um pequeno pedaço de plástico. Um teste de gravidez. Com uma palavra no centro do ecrã.
Grávida.
Hinata estava grávida. Oficialmente, era ela que carregava o legado dos Uzumaki. Era ela que iria partilhar a alegria de criar uma família com Naruto. Era ela que tinha tudo o que Sakura desejava.
- Sakura? – A voz da morena interrompeu os pensamentos da amiga.
- D-Deus… um bebé. – A rosada falou, enquanto suas lágrimas começavam caindo. Colocou uma das mãos sobre seus lábios, como se estivesse tentando conter os gritos que queria soltar.
- Não esperava isso! – De seguida, Hinata começou chorando e caminhou até a Haruno, a abraçando com todas suas forças. – Quando estava ficando mais desanimada, simplesmente aconteceu!
- Q-Quanto tempo? – Forçou um sorriso, tentando convencer o mundo que chorava de alegria.
- Se meus cálculos foram corretos, aconteceu em Itália. – A morena estava irradiando felicidade. – Seu afilhado está chegando! – Voltou envolvendo a mulher num abraço carinhoso. – Ou afilhada! Ainda é muito cedo para saber.
- Já confirmou? – As palavras saíram com mais amargura do que esperava, mas Hinata estava tão perdida em sua alegria, que não detetou.
- S-Sim! Ontem levantei meu exame sanguíneo. Falso positivo é raro, mas pode acontecer. Estou tão feliz amiga! Vou ser mamãe!
A rosada continuava forçando seu sorriso. Quem olhasse com mais atenção conseguia decifrar a tristeza que perturbava aquela mulher. Se desculpou e se retirou do quarto, deixando Hinata chocada com sua reação. Agradeceu por não ter trazido seu carro, sua mente estava demasiado desconectada da realidade. Apertou o casaco contra o corpo, tentando se proteger do vento.
Caminhava sem direção, enquanto suas lágrimas continuavam caindo, sem sinal de quererem cessar. Todo o progresso que tinha tido tinha se evaporado. Seu coração estava oficialmente despedaçado. E Sakura sentia que não havia como se recompor, mais uma vez. Pelo menos não ali, não perto deles. As palavras de Ino invadiam sua mente.
Já ponderou se afastar?
Poderia ser uma decisão impulsiva, mas era o que lhe parecia mais acertado. Não ia conseguir manusear essa informação. Não se imaginava alterando reuniões para Naruto conseguir comparecer nas consultas de Hinata, opinando sobre que cor escolher para o quarto, sugerir nomes… Nada. Sakura não conseguia, e muito menos queria, se sujeitar a sofrer daquela forma.
Após algumas horas, estava em frente ao edifício da empresa. Suas lágrimas tinham cessado, finalmente. Um dos seguranças a reconheceu, lhe dando acesso aos escritórios. O barulho do elevador era infernal, sua cabeça estava quase explodindo. Completamente desorientada, caminhou até o escritório do Uzumaki. Sabia que expediente dele estava quase terminando, apenas rezava que não tivesse ido embora mais cedo. Bateu. A voz masculina concedeu-lhe autorização para entrar.
Suas pernas tremiam por completo. Sem retirar seus olhos do chão, trancou a porta. Naruto fitava o comportamento da rosada, tentando entender o que estava acontecendo. Sua esperança aumentou quando notou que estava trancando a fechadura, tal como fizera antes de terminarem tudo. Seus dedos começaram ficando dormentes com o nervosismo. Seu corpo não estava preparado para sentir Sakura novamente, mas queria. Queria mais que tudo.
Sakura finalmente fitou o loiro, que se encontrava a alguns centímetros de si. Desejava odiá-lo, dava tudo para transformar seu amor no mais profundo desprezo. Apertando o casaco contra seu corpo, como quem procurasse criar uma armadura, finalmente se pronunciou.
- Vim pedir minha demissão. – Falou. As lágrimas regressaram, mas não deixou se quebrar. Naruto ficou atónico.
- Demissão? – Repetiu as palavras da mulher. Queria ter certeza do que tinha escutado.
- Não quero trabalhar com você. – O loiro se aproximou. A rosada recuou, aumentando a distância entre ambos. O aperto no peito de Naruto aumentou.
- Você não pode ir embora. – Falou, desesperado.
- Posso. E vou. – A rosada evitava fitar os olhos azuis, sabia que era muito fácil se render a suas emoções.
- Você não vai embora. – Naruto falou, alterado. Sentia raiva, frustração. Não estava percebendo o que estava acontecendo. – Lhe ofereceram mais dinheiro? – A mulher permaneceu calada. – Eu ofereço o dobro. Merda! Sakura, o triplo, se você quiser!
- Não é dinheiro! Nunca foi a puta do dinheiro! – Gritou, enquanto a periocidade de seus choros aumentava. – Estou fazendo isso por mim.
- Sakura… - O loiro tentou tocar na rosada, sem sucesso. – Não faz isso, por favor.
- Por favor? – A Haruno era um vulcão, se preparando para rebentar. – Como você pode fazer isso? Você fodeu tudo, Naruto! Tudo! Não é justo você ter seu final feliz e eu ser obrigada a assistir tudo, de primeira fila! Isso é que não é justo! – Empurrou o loiro, tentando libertar sua raiva. – A Hinata está grávida e você não foi homem para me contar! Canalha! Covarde! – Gritava com toda sua raiva. – Esqueça minha existência. Vou falar com Ino para levar minhas coisas.
O loiro não respondia. Sua cabeça doía, era demasiada informação. Sakura estava o expulsando de sua vida. Hinata estava grávida. Iria ser pai. Devia estar feliz, orgulhoso. Sua esposa estava carregando seu herdeiro. Mas o Uzumaki não conseguia se concentrar em nada mais para além de Sakura. E seu coração se partindo. O pânico de ficar sem a Haruno se instalou e num movimento brusco, puxou a rosada pelo braço.
- Fica, por favor Sakura. Não faça isso… - Sussurrou, fitando os olhos verdes, que, apesar de inchados, continuavam lhe enfeitiçando. Tentou aproximar seus rostos com uma mão, precisava de lhe tocar.
O som do tapa percorreu aquela divisão. Sakura aproveitou o choque o antigo amante e se separou se seus braços. Caminhou até a porta, destrancando a fechadura. Antes de desaparecer, fitou o Uzumaki. Mordeu seu lábio, a dor que sentia era agonizante.
Ele vai ser pai.
Saiu do escritório. E apesar de todo o ódio que sentia, desejava que Hinata e Naruto fossem felizes. Apenas ela não estaria mais lá. Não tinha forças para continuar esse jogo. Se dera como vencida.
Julian estava se dirigindo a Naruto para avisar que tivera terminado suas tarefas. Ficou chocado ao encontrar Sakura saindo daquele espaço, completamente arrasada. Correu até a mulher.
- Sakura? – Murmurou calmamente, como se aproximasse de um animal selvagem. Seu coração se partiu quando fitou as orbes verdes da mulher. Estava destroçada. A envolveu em seus braços e começou guiando seu corpo em direção a seu SUV. Tinha de tirar Sakura dele edifício, o mais depressa possível. Assim que entraram no estacionamento, os soluços da mulher sobressaltaram o francês. Eram altos, estridentes. Doía ver Sakura completamente destruída.
Adentraram o apartamento do moreno. Julian colocou Sakura em seu sofá. Retirou seu casado e se agachou, ficando mais baixo que a mulher. Pegou uma das mãos da Haruno e a beijou, tentando despertar sua atenção. As orbes verdes o encararam.
- Enquanto eu não souber o que aconteceu, não consigo ajudar Sakura… - O moreno falou suavemente, como se estivesse falando com uma garotinha.
- E-Eu… - Soluçou. Imediatamente, Julian se arrependeu de pressionar a Haruno.
- Pode falar. Não vou embora. – Fitou os olhos, intensamente. – Prometo.
- M-Me demiti… - Sussurrou. Julian ficou confuso.
- Porque? Você é a melhor funcionária que o Uzumaki tem. Porque faria isso?
- Não consigo Julian. Não consigo mais.
- O que você não consegue mais? – Entrelaçou uma de suas mãos com a da mulher.
- Naruto… Não consigo trabalhar mais para ele. – Mordeu o lábio, claramente nervosa. – Você se preocupa comigo?
- C-Claro que sim. – O moreno sentiu seu rosto queimar por completo. Ele não se preocupava com ela, apenas. Estava apaixonado. – Pode confiar em mim.
- Eu e Naruto… - Respirou fundo, tentando se concentrar, tentando não quebrar, novamente. – Tivemos um caso. Eu terminei tudo quando descobri que ele e a esposa iriam começar a tentar ter um bebé… Ela está grávida… - A rosada não conseguia fitar o moreno, sentia vergonha, nojo. Acima de tudo, sentia-se julgada. Julian não respondeu, tentando processar tudo o que Sakura lhe tivera confessado. Começou revivendo momentos onde tinha reparado em trocas de olhares com duplo significado, os demónios da mulher, as frustrações de Naruto…
- Sua amiga sabe?
A Haruno soltou uma risada irónica. – Claro que não. Sou uma pessoa horrível.
- Sakura. – Ergueu o rosto inchado. – Você cometeu um erro. Tal como todo o mundo. Sabe qual é a pior parte de estar apaixonado? Nós fazemos besteira atrás de besteira. Nós corremos atrás até não conseguirmos mais. Nós tentamos lutar com todas nossas forças. E tudo isso, por algo incerto.
A rosada voltou chorando após o discurso do francês. Estava devastada. Só queria desaparecer. Julian continuou ao lado da mulher, consolando suas assombrações. Após horas, Sakura finalmente explicou toda sua história com o Uzumaki, desde o momento em que se conheceram até o presente, onde se encontravam atualmente. Chorou. Gritou com Julian. Praguejou com o mundo. No fim, ainda se sentia vazia, arrasada. Desamparada.
Acabou por adormecer nos braços do homem, por mero desgaste. Enquanto isso, Julian aproveitou os momentos de silêncio e serenidade para tentar processar toda a situação. Naruto e Sakura eram amantes, ela estava perdidamente apaixonada pelo loiro, apesar o odiar por todo o sofrimento causado. Tinha acabado de se demitir… sua cabeça estava doendo com a quantidade de informação que tentava assimilar.
Acabou por se perder nos seus pensamentos, exausto com tudo o que estava acontecendo. Na manhã seguinte, acordou antes da rosada. Contra sua vontade, abanou a mulher suavemente. Sorriu assim que fitou as orbes verdes. Respirou fundo e murmurou suavemente:
- Sakura, gostava de conseguir lhe ajudar mais, isso é realmente uma situação delicada. Não lhe julgo. Mas não acho correto prejudicar sua carreira profissional.
- Não vou voltar para ele. – Falou, séria. Tinha explicado a Julian todas suas angústias e ele estava sugerindo que ela continuasse trabalhando ali, assistindo a toda aquela merda?
- Então volte comigo. – Tentou analisar o rosto masculino, procurando por algum sinal, mas o olhar sério do moreno confirmava suas suspeitas.
Julian estava falando sério.
E Sakura tinha acabado de abrir uma nova janela em sua vida.
Estaria disposta a aceitar?
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