Aquela semana custou a sanidade de Sirius, porque, enquanto James e Remus cantavam vitória, ele ficava retido a esperar a festa da lufa-lufa. Foram incontáveis dias, até ele finalmente ganhar a sua tão sonhada chance na noite de domingo, um dia antes do feriado da segunda-feira.
Severus estava o esperando próximo dos barris da entrada da comunal da lufa-lufa, passada por Sirius no dia anterior, quando ele o alcançou malditos cinco minutos após o horário combinado.
–Perdão!--Soou ofegante.--Demorei no banho.
Ou, como James teria dito: demorou se masturbando.
Acumular tesão era constantemente um problema para Sirius Black e não seria nada amigável ficar excitado em uma festa.
–Tudo bem, nem vi o horário passar!--Severus colocou as mãos para o alto em brincadeira.--Como entramos?
–Temos que bater no segund…
Sirius deu um grito muito pouco masculino quando os barris literalmente se abriram. Severus tentou não rir, mas o lufano que saia da comunal soltou uma risada alta.
–Quem te convidou, Black?
–Caio Abbott.--Sirius soou ofegante.--Podemos entrar?
Ele lhes deu passagem e o garoto saiu rumo ao corredor, provavelmente para receber os convidados de outras casas. A comunal estava cheia de lufanos, mas quase nenhum aluno de outra casa era visível.
Sirius limpou a garganta, sorrindo para Severus.
–Então, quer sentar e conversar? Acho que as músicas só serão colocadas mais tarde.
–Acho ótimo.
Sirius os levou até um puff duplo em um dos cantos da comunal, Severus se jogou sentado, afundando tanto que teve que lutar para se colocar sentado. Sirius acabou cometendo o mesmo erro, mas, ao contrário de Severus, precisou de ajuda para sentar.
–Caramba!--Ele respirou fundo.--Parece enfeitiçado!
Severus, nitidamente, segurava a risada.
–Nunca obtive experiências amigáveis com puffs.--Comentou.
–Por exemplo?--Sirius foi tão curioso quanto uma mula.
–Quando eu tinha onze anos enfeitiçaram um para voar quando um calouro sentasse. Fiquei flutuando na Sonserina por quase uma hora.
Sirius tentou se escorar na parede, parecendo um tanto quanto curioso com o que havia acabado de escutar. A sua expressão era tão mais arteira quando a de uma criança. Severus franziu as sobrancelhas.
–Se inventar uma dessas para cima de mim, eu te mato.
–Eu jamais faria isso com você!--Quase gritou, mas conteve-se.--Eu estava pensando em fazer com o James.
–Por que não com o Remus?
–Porque Remus me mataria, James já riria e me daria o troco em um formato diferenciado. Talvez um soco no ombro ou tinta no shampoo.
A boa notícia é que eles conheciam um ao outro.
–Interessante. Posso fazer algumas perguntas, Black?
–Tudo que você quiser saber, eu te conto.--Tentou ser galanteador, mas pareceu um cachorro com sarna.
–É chato fazer uma sessão de perguntas para conhecer vocês, mas eu preciso de respostas.
–Compreendo totalmente.
Sirius não estava prestando atenção no que Severus estava dizendo, completamente entretido em olhar para os seus lábios. Isso era idiota e ele sabia que deveria parar naquele exato instante antes que o outro percebesse, mas seria impossível enquanto Severus continuasse falando pausadamente.
–O que você gosta de fazer?
Felizmente ele conseguiu escutar a pergunta.
–Gosto de Quadribol, mas isso é óbvio. Algo que eu gosto e poucos sabem são jogos de tabuleiro trouxas.
–Sério?
–Sim, Remus até me deu um de Natal. Banco Imobiliário. Podemos jogar um dia desses.
Se ele não tivesse se masturbado antes de ir ao encontro, estaria fodido. Severus com interesse era tão fofo! Queria tanto beijá-lo até que lhe faltasse o ar, que chegava a ser cômico.
–Interessante, também gosto de jogos de tabuleiro. Quando criança eu amava jogar xadrez trouxa, tanto que quando eu descobri que existia o bruxo, quase tive um treco quando vi as peças se movendo sozinhas.
Fofo, muito fofo. Ele está falando de maneira muito fofa. Controla esta virilha, Sirius Black!
–Eu tenho um tabuleiro de xadrez trouxa na mala, podemos combinar de jogar.
Só não agradeceria Remus por ter lhe dado o jogo de xadrez trouxa no seu aniversário de 13 anos, porque ele também estava competindo.
–Eu gostaria, sim, Sirius. Obrigado!
Severus fazia o seu nome soar de forma tão adorável!
–Podemos jogar até mesmo amanhã, se quiser.
Severus parecia que iria pular em cima de si. Há quanto tempo ele não via um tabuleiro de xadrez trouxa?
–Black, eu aceito completamente!--Ele limpa a garganta.--Mas vamos lá, me conte sobre uma experiência sua, algo que você gostaria que eu soubesse.
Severus cruzou as mãos no colo, a postura rígida em cima daquele puff obviamente imbecil. Parecia se segurar para não cair e afundar até outra dimensão. Sirius tentou lembrar de uma experiência engraçada para fazê-lo rir.
–Quando eu tinha 14 anos, James e Remus estavam discutindo a respeito de um trabalho de História da Magia. Eles haviam feito em dupla e me deixado sozinho e, teoricamente, tinham tirado Aceitável. Os dois estavam discutindo feio, Remus parecia que iria pular em cima de James e matá-lo com as próprias mãos. Mas eles não tinham tirado Aceitável, eu sabia disso porque havia visto o Senhor Binns corrigir e escutado nitidamente um Ótimo bem baixinho. Eu joguei um Confundus nele quando ele iria escrever o Ótimo e o fiz colocar Aceitável. Jamais contei aos dois. Só achei estranho que o Confundus funcionou em um fantasma.
Quando terminou, pensou ter errado feio na história que havia contado, porque Severus tinha a boca aberta e um olho levemente fechado. Segundos se passaram antes que ele começasse a rir.
–Por que inimigo se eles têm você como amigo?--Perguntou após a longa sessão de risos.--O que aconteceu depois dessa?
–Depois dessa eu nunca mais deixei que eles me deixassem fora de um trabalho, por mais que os professores não quisessem nos deixar em trio.
–Aceitável, também odiaria ficar sozinho.
–Você não tem muitos amigos, não é?--Sirius pergunta.--Nós o vemos geralmente sozinho, poucas vezes com alguém da Sonserina.
Sirius pensou que Severus não fosse responder e que havia, de novo, errado feio ao perguntar. Os olhos de Snape apontaram fixamente para o chão e permaneceram lá por um longo tempo antes que ele desse de ombros e olhasse novamente para o seu rosto.
–Um fato curioso sobre a Sonserina, é que dificilmente as coisas lá dentro não giram por interesse. Você verá muitas amizades verdadeiras lá dentro e, talvez, você não vá precisar oferecer nada em troca. No meu ponto, eu tenho amigos lá dentro, mas a grande maioria está metida em coisa errada, se me compreende. E, já que eu não estou querendo me meter nessas coisas erradas, eu não quero ficar muito entre eles, sabe? Eu não tenho isso a oferecer.
Papo de guerra, Sirius, vá para outro assunto.
–Bom saber que você não apoia o… Cara lá. E a sua amizade com a Evans?
O olhar de Severus parece desmoronar novamente. Sirius deseja bater na própria cara até ela ficar roxa. Como podia estar errando tanto?
–Eu e a Evans nos desentendemos a algum tempo, já. Não quero falar sobre isso.
Sirius suspira, abaixando a cabeça para olhar o próprio colo.
–Desculpa estar fazendo as perguntas erradas. Com toda a certeza, não estava no meu plano fazê-lo se sentir mal, Snape.
Severus se aproxima no puff, ficando próximo o suficiente do meio do maldito, de forma que acaba afundando mais um pouco.
–Você é o único dos três que está puxando assunto e que não está tremendo de nervoso. Fico feliz com isso.
Uma bola dentro! UHULL!
–James e Remus às vezes são fuinhas.
–Fuinhas?
–Fuinhas não são medrosas?
--Fuinhas também são raivosas.--Severus comenta, as sobrancelhas arqueadas e a sombra de um sorriso nos lábios.
--Eles também são raivosos.
Severus ri alto e é claro que Sirius teme começar a cantar vitória alto demais.
–Você tem um irmão na Sonserina, não é?--Severus puxa assunto novamente, limpando os olhos após a crise de risos.--O Régulos.
Infelizmente não é o assunto que Sirius gostaria de ter.
–Sim, mas eu e ele não nos damos bem.
–Por quê?
Severus parecia tão atento quanto Sirius gostaria que ele não estivesse para aquele assunto em específico. Como explicar a sua relação com o irmão? Até uma certa idade, eles se davam bem, brincavam junto o quanto podiam. A relação apenas começou a dar errado quando Sirius veio para Hogwarts.
–Conflito de personalidade. Casas opostas e etc.--Tentou desviar o assunto emitindo um tom de voz de alguém entediado, mas não funcionou do jeito que ele queria.
–Mas, se bem que você está querendo namorar alguém de uma casa oposta.
É claro que Severus esperava uma explicação detalhada! Sirius o olha de maneira pidona, mas nem mesmo assim Snape muda de ideia.
–Me diz, ele está metido com Você sabe quem? Se é isso que está querendo me contar, pode contar, mas eu não sei como poderia desiludi-lo, minha mãe pode ser bem irritante.
–Puxei um assunto muito delicado, não é?--Severus afunda mais um pouco no puff, mas não parece se importar. Parecia ter notado o peso do assunto só naquele instante--Não sei se ele está metido com Você sabe quem, apenas queria saber da relação de vocês por nunca vê-los juntos.
Sirius também se afunda no puff, ficando na mesma altura que Severus.
–Eu sei que eu deveria ser o exemplo para Régulos, mas ele me lembra de tudo que eu tenho fugido.
–Você tem fugido da sua família?
Sirius não imaginara que contaria algo tão íntimo a Severus, não no primeiro encontro a sós, mas aí estava ele, contando talvez o seu "segredo" mais íntimo ao garoto que gostava.
–Tenho fugido de tudo que lembra a vaca da minha mãe e o idiota do meu pai.
–Seu irmão é muito parecido com eles?
Sirius não sabia o que deveria responder. Estava com o rosto próximo a Severus e conseguia escutar a sua respiração e, até mesmo, senti-la.
–Eu não sei… Eu acho que tenho medo de ele se tornar parecido com eles. Medo de um dia ouvi-lo dizer algo que eu não vá gostar, talvez. Eu sei que eu deveria conversar com ele para tentar puxá-lo para algo bom, mas às vezes eu sinto que somos completos estranhos e é isso que me mantém afastado.
O silêncio que se seguiu só serviu para Sirius sentir uma vontade desesperada de sair correndo. Nem para James e Remus dizia coisas daquele calibre. Severus, porém, conseguiu acalmá-lo com apenas um toque na sua mão. Ele colocou-a delicadamente sobre a sua e a apertou.
–O que você me contou está seguro, tudo bem?
Sirius não queria mais beijar Severus como se lhe faltasse o ar, o que ele queria agora era abraçá-lo, deixar um selinho em seus lábios e dormir com ele em seus braços. E isso era muito mais íntimo do que a sua vontade anterior.
Virou o rosto para olhá-lo, somente para ver que Severus havia feito o mesmo. Conseguia sentir o respirar dele em seu rosto e ver nitidamente as bochechas coradas do outro.
–Obrigado…–Não passou de um sussurro. Se falasse alto, iria desmoronar--Eu sou todo ouvido, se quiser me contar algo também.
–Não precisa ser uma troca.--Severus sorriu.--Mas, se eu tiver algo para contar, pode deixar que eu conto.
Desejou que Severus se aproximasse mais para deixar um selinho em seus lábios, mas ele não o fez. Apenas olhar para seu rosto, porém, era o suficiente. Tudo estava bom demais para ser real.
–Você está lindo.--Sirius comentou.--Parece uma estrela.
–Você também parece uma estrela, Sirius. Literalmente.
Os dois riram, ainda com os rostos próximos o suficiente para soar fatal. Talvez passassem a noite inteira assim.
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