Conder Kyl sente a respiração da Princesa Leia, Senadora da Nova República (e tudo mais) bem perto de seu pescoço e começa a suar.
Eu passei perfume hoje? Ele inspira levemente, de forma discreta. Mas foi do perfume bom?
— Ali. O que é aquilo?
— "Nova Ordem"... Tem muitas subpastas.
Ele seleciona e espera. O carregamento termina em uma caixa de senha... — Outro beco sem saída.
— Então vamos ter que abrir um buraco na parede. — Leia diz, resoluta.
— Eu gosto de como você pensa, Princesa.
— Obrigado, Conder. Mas me chame de Leia. Já faz quase uma década! Não vai doer.
— Tudo bem, Leia. É a força do hábito. — O homem diz, rindo levemente e deixando seus cabelos cor de areia caírem por sua testa quadrada. Ele se esquece por um instante da impossibilidade de sua tarefa. — Posso tentar traduzir a senha vocal num algoritmo e talvez... Só talvez, ela destrave essa coisa.
— Confio em você, Kyl. — Ele sente a mão segura da princesa dando alguns tapinhas em seu ombro. Ela é encantadora, mesmo quando me pede o impossível. — O que temos até agora?
— Hm, deixa eu ver. Temos localizações de propriedades, algumas fotos de lugares, também; o registro inadulterado das transações bancárias dele e essa pastinha aqui que deve ter tudo que a gente precisa pra deixar ele preso pelo resto da vida.
Uma das mãos de Leia se move protetivamente para a base de sua coluna, entre os quadris. — Ele já vai ficar preso pelo resto da vida. . . O que e preciso saber é, por que ele fez o que fez, e o que mais está envolvido nisso.
Conder percebe ali que é pessoal. Não é uma mera questão política ou uma investigação governamental supervisionada por ela. Leia quer destrinchar as motivações de seu assassino. O slicer olha para seu rosto, ciente de que seu olhar inflamado que encara o vazio não tem nada a ver com ele. A única coisa que pode fazer é ajudar.
— Quando tiver alguma coisa, você vai ser a primeira, e única a saber.
— Eu te agradeço. — Kyl se vira em sua cadeira, mas ela não se move. — Você pode... Devolver meu pingente?
Enquanto conduz seu speeder, Solo pode ouvir o farfalhar das patinhas nervosas dentro das caixas. Esses bichinhos são tão bonitinhos, ele diz à si mesmo. Se Leia não fosse tão alérgica, talvez desse certo.
Ele olha de relance para o banco de trás e encontra um deles o encarando acusatóriamente.
— Que foi? É o meu trabalho.
Depois de fazer a entrega e receber o dinheiro, Han conversa um pouco com seu cliente para saber se ele é uma pessoa boa. O erro é que ele não sabe se Gungans podem ou não ser considerados como uma pessoa, mas até não era um cara ruim.
Simpaticamente, ele explicou ao piloto que os Tookas precisam ser vacinados e tomar banho com produtos especiais antes de serem adotados — porque assim, não causariam alergias mortais.
— Mas ela num morreu, não... Tá lá, brigando com todo mundo. — Ele ri, batendo nas costas de seu prestativo cliente.
— Espero que não! Meesa desculpe pelo incômodo!
Han agradece e vai embora pensando que talvez... Só talvez... Possa fazer algo a respeito disso. Ele coloca a mão no bolso, para checar se o comprovante da transferência bancária ainda está com ele e observa a data do pagamento. Nunca é demais conferir.
Ele checa todos os dados, mas sua mente para de funcionar por um instante quando a data de hoje flutua pelo ar num brilho azulado. Han apenas encara os números e começa a contabilizar, incapaz de impedir que milhões de lembrançam invadam sua mente.
Oito anos.
OITO. ANOS.
...ela deve saber, com certeza. Só está fingindo que não pra poder jogar na minha cara depois.
Eu tenho que fazer alguma coisa.
Ben esperava que as coisas fossem melhorar. Não era nada baseado em fatos, e sim em sua vontade de ser normal.
O que ele mais queria na vida era que ninguém o incomodasse, mas desde o incidente no treino de futebol, isso era impossível. Sua mãe (chata) o obrigou a continuar indo, porque segundo ela, era importante nunca desistir ou algo parecido. O que realmente ressonou foi: "Você vai e pronto. Fim da história."
Então, todas as semanas, pelo menos uma vez, Ben precisava ir até o treino. Ele já odiava sua falta de coordenação, suas meias altas estranhas e principalmente, o treinador — que vivia gritando com ele, e com todo mundo. Na verdade, parece que ele só sabia gritar. Mas o que ele mais odiava, de longe, era seu apelido.
Banguela.
Mas é claro, o estúpido repetente socou minha boca.
Seu pobre dente da frente estava em falta, e pelo visto não ia nascer tão cedo. Na última ida até a dentista, ela disse para seu pai que ele deveria parar de comer rosquinhas ácidas (sem chance) e que em breve, seu dente incisivo começaria a nascer. Mas isso já faz semanas, e nada.
Agora, Ben Solo (banguela) tinha dois problemas.
Ryan — forçando uma amizade estranha com ele — e Dameron.
— Eu odeio esse garoto. — Ben diz em voz baixa, acompanhando o valentão com o olhar até que ele se sentasse bem longe. Ryan abriu a boca para falar, enquanto dava uma mordida em seu sanduíche. Ugh.
— Eu acho que ele é triste.
— Bom demais, ele que vá ser triste pra lá; longe de mim.
— Deixa de ser chato, Ben!
— Ele arrancou meu dente, socou minha cara! Eu sou chato?
— Os pais dele morreram... — A garota diz num empático, tomando um gole de seu suco de Meiloorun. O garoto permanece calado, dividido.
— Tá, mas... Não importa o que aconteceu de ruim com você. Sair por aí batendo nas pessoas não é certo.
— É, verdade.
Os dois observam Poe Dameron rindo com os amigos, enquanto tentam acertar um salgadinho laranja na boca dele.
Ben se pergunta o que ele faria sem seus pais.
— Meu querido, entenda uma coisa, — Lando começa, bebericando sua cerveja artesanal — eu trabalho.
— Trabalha nada, tu é o maior vagabundo. Fica aí o dia todo bebendo cervejinha. Que inveja, meu pai...
— Quando você tá pedindo um favor pra alguém, o mínimo é ser mais agradável. — O barão diz, se levantando e se aproximando da enorme janela que mostra a loucura dos speeders seguindo pelas ruas enquanto eles estão num bar, jogando e comendo fritura. — E além do mais você também não tá trabalhando.
— Eu sou freelancer, meu filho! Freelancer! A pessoa faz o horário dela, eu tô no meu horário de descanso. Eu faço meu horário. — Han Solo responde, dando uma tacada na bola branca que rola até o conjunto de outras, coloridas. Algumas caem dentro da caçapa.
— Então me explica de novo o que você tá pensando em fazer. — Lando diz, passando o objeto quadrado na ponta do taco enquanto anda em volta da mesa.
— Pensa, visualiza... — Ele abre os braços em frente de si, desenhando um painel imaginário. — A casa toda só pra nós, vou acender a lareira...
— Nossa, que sem graça. — Desdenhou prontamente, tomando outro gole de sua bebida. — Vocês já moram lá todo dia. Vai ser só isso?
— Você esperava o quê?
— Mulher gosta de luxo, comida boa, um bom vinho, ainda mais uma mulher fina e elegante que nem a Leia.
— Olha, tu vai falar da minha mulher assim de novo eu quebro esse taco nessa sua peruca.
Lando ri, ajeitando o colarinho depois de dar uma tacada certeira. — Só tô dizendo o que eu sei. Tenho mais experiência do que você.
— Concordo em discordar...
— Você pode levar ela no restaurante de uma amiga minha. Ela é ótima chef, faz um spaghetti ao sugo all'amatriciana como ninguém.
— Até que não é má ideia.
— E depois vocês podem dar um passeio no Lago Andrasha. É uma ótima ideia.
— Hm... Até que não é assim tão terrível.
— Ha! Já era! — Ele bate na mesa satisfeito quando a última bola desaparece no canto.
— Vai ficar com o Ben, ou não?
— Sorte sua que hoje é a estreia de 017: Jamais Morra Hoje. Se não fosse por isso, você tava lascado, meu amigo.
— Não ouviu o que eu disse? Eu já tô lascado há oito anos.
Solo digitou o quinto ou sexto número em sua extensa lista. Mais uma vez, uma voz vagamente familiar e nem um pouco receptiva o recebeu com uma negativa.
Ele se levantou e andou pelo cockpit de sua nave, suspirando.
Como era de se esperar, se tornara muito difícil encontrar qualquer coisa de Alderaan desde a destruição do planeta, mas desde o dia em que conheceu Leia, ele parecia determinado a fazê-lo — encontrar pequenos fragmentos de seu lar.
De início, esse ato não teve exatamente o efeito que ele esperava; o que causou uma longa discussão quando, em uma de suas missões pela Aliança, ele trouxe para Leia uma pedra preciosa, anteriormente comum, mas que passou a deter um valor inestimável quando o chão sob os pés de milhões de pessoas se tornou minúsculas partículas flutuando pelo espaço.
Ela insistiu que era desrespeitoso, desnecessário e vil... Mas no fim do dia, quando ele passou pelo quartel em direção a nave, viu que a Princesa segurava o pedaço de casa entre os dedos, admirando seu brilho rosado contra a luz. Um sorriso saudoso cruzou seus lábios involuntariamente. Desde então Han se tornou um caçador de relíquias de Alderaan, não medindo esforços ou recursos — o que às vezes irritava a esposa.
Mesmo assim, depois de quaisquer dificuldades, ver o olhar satisfeito e calmo que iluminava seu rosto com alguma lembrança boa o incentivava a nunca parar de procurar. Por isso, ele continuou, enviando infinitas mensagens e créditos, até que enfim um de seus contatos da época de contrabandista lhe indicou um colecionador um tanto excêntrico.
Finalmente. Ele pensou, acordando os motores da nave. Vamos, belezinha. Precisamos estar em casa pro jantar.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.