Taehyung
- Pai... Se você fizer isso eu nunca vou te perdoar! - disse seriamente me surpreendendo.
Aquelas palavras me fizeram pensar. Ouvir que meu filho poderia não me perdoar por uma escolha minha realmente mexeu comigo. Ele era a pessoa mais importante para mim e decepcioná-lo estava fora de cogitação.
O que me deixava chateado comigo mesmo era que EU havia criado toda aquela situação e tensão. Se não fosse por mim, se não fosse por minha maneira de agir, as coisas seriam bem mais fáceis.
Ótimo para os negócios e péssimo para as relações pessoais, Kim Taehyung!
- Pai, você ouviu?
- Filho... - respirei fundo - Ela é mesmo a primeira babá com quem você se deu tão bem.
- Sim, isso mesmo. E já que é um serviço contratado para mim eu tenho o direito de escolher, não é mesmo?
Estreitei os olhos. Que garotinho esperto!
- Mas quem está pagando sou eu!
- Pai! - cruzou os braços.
Ri brevemente e balancei a cabeça negativamente:
- Desculpe por ter dito isso, Henri. Acontece que eu estava pensando apenas em mim mesmo, para variar! Se você se dá tão bem assim com ela não tem porque eu a despedir.
- Isso mesmo. Ela passa o dia comigo, não com você. Ainda bem que percebeu isso a tempo.
- Eu fico feliz que você tenha se identificado mesmo com a (S/N).
- Por enquanto, está tudo bem. Tente não estragar nada, papai. - me olhou seriamente.
- Eu não irei, não precisa se preocupar.
- E quanto a sua amiga? Ela já foi embora?
- Ainda não, por quê?
- Por nada. - balançou a cabeça negativamente - Espero que ela não faça outra visitinha surpresa dessas tão cedo.
- Eu também espero o mesmo. Vou deixá-la no aeroporto agora. Você tem mais alguma coisa a dizer?
- Por enquanto, não. - deu de ombros - Estamos conversados.
- Certo então. Me dá um abraço?
Ele assentiu e me abraçou fortemente. Fechei os olhos por alguns segundos e acariciei seus cabelos, que eram tão parecidos com os meus.
Aquele era um dos momentos em que eu pensava no quão complexo, mas extremamente maravilhoso, é ser pai. E ao mesmo tempo também me sentia culpado por não dar mais atenção para meu filho.
- Posso comer sorvete agora? - pediu assim que nos separamos do abraço.
- Hm... Agora exatamente não. Talvez depois do almoço, vou pensar.
- Pense com carinho. - sorriu largamente
- Pode deixar. Vou indo agora.
Ele assentiu e foi pegar alguns brinquedos do outro lado do quarto. Deixei aquele espaço e fui até onde Alina estava.
A mesma "conversava" com (S/N) na cozinha. Eu digo conversava entre aspas, pois apenas ela falava e não davs espaço algum para que a babá respondesse.
- Alina, está pronta?
- Ah, estou pronta assim Taezinho.
- Sem apelidos, por favor. - revirei os olhos.
- Você é um fofo! - riu - Vamos! Até mais, querida!
(S/N) sorriu sem esconder o deboche e acenou brevemente para a moça.
A ajudei com sua mala e deixamos a casa. No caminho para o aeroporto Alina falava sobre todos os seus afazeres e trabalhos, mas eu só conseguia pensar na conversa que havia acabado de ter com meu filho.
Eu realmente teria que aprender a ter maturidade e conviver com (S/N), pois despedi-la me traria ainda mais problemas.
- Obrigada por tudo, TaeTae! - Alina me abraçou fortemente.
- Por nada.
- Espero que nos vejamos em breve novamente!
- E eu espero que você me ligue antes de aparecer assim em minha casa.
- Ai, Tae! Falando assim ate parece que estava devendo algo para alguém. Você é solteiro, não é? Qual o problema?
- Não tem nada a ver com isso, mas sim com meus compromissos e com meu filho.
Ela revirou os olhos e assentiu:
- Pode deixar então, querido. - me deu um beijo molhado, molhado até demais, na bochecha e sorriu.
- Boa viagem!
- Obrigada!
Ela entrou na área em que ficariam esperando por seu vôo e eu voltei para casa.
(...)
Nas horas seguintes eu e (S/N) nos evitamos ao máximo. Ela preferiu focar em outros afazeres enquanto Henri ficou brincando ou vendo televisão.
Por fim, chegou a hora do almoço. Como já tínhamos aquela rotina de comer todos juntos acabaríamos tendo que ficar no mesmo espaço naquele momento, não teria outro jeito.
Sentamos à mesa. Henri estava bem animado e já foi logo montando sua refeição.
- Acho que ultimamente estou gostando mais de brócolis, babá. - disse enquanto comia o legume - É realmente uma delícia!
- Que bom que está gostando! Ainda tem outros legumes que precisamos experimentar, viu?
- Uhum! - desviou sua atenção dela e me olhou - Sabia que aprendi na escola a importância de comer esses legumes, pai? A (S/N) também me ajudou!
- É mesmo? Que legal! O que mais você aprendeu?
- Em matemática estávamos aprendendo a ler aqueles números bem grandes, sabe? Tipo os números que tem nos seus papéis do trabalho.
- Nos relatórios financeiros, provavelmente. Você está se saindo bem?
- Sim, pelo menos, por enquanto. Mas aprender sobre os legumes é mais divertido. Por falar nisso, temos que fazer aquele projeto que a professora pediu, não é, babá?
- Sim, temos sim. Por que não fazemos mais tarde?
- Pode ser. - virou para me olhar e voltou a falar - Papai, você quer participar?
Meu olhar e o de (S/N) se cruzaram por alguns segundos, mas ela tratou de desviar.
- Será que o papai não vai acabar atrapalhando vocês? - perguntei tentando sair daquela situação. Eu até queria, mas estava com medo de estragar também esse momento deles.
- É claro que não! Além disso você conhece essas coisas da terra. Podemos até colocar algo sobre gengibre!
- Ah... Se está tudo bem, pode ser então.
- Fechado! Então, nós três vamos fazer o cartaz dos legumes! - falou empolgado.
Não pude evitar um risinho ao ver meu filho todo animado. Era ótimo ver que ele estava aprendendo bastante na escola e colocando em prática no seu dia-a-dia.
(...)
Era cerca de duas e meia da tarde quando Henri foi em meu escritório me buscar para que iniciássemos o tal cartaz dos legumes. Ele e (S/N) já estavam com todo o material disposto sobre uma mesa de madeira que havia na varanda do nosso apartamento.
- Aqui tem as cartolinas, as colas e as tesouras. Eu e a babá já tínhamos escolhido essas figuras, papai. O que você achou?
- Pelo visto, já tem bastante coisa adiantada.
- Sim. Uns dias atrás pegamos essas imagens na internet.
- Ah, achei que tinham feito à moda antiga.
- Moda antiga? Moda para legumes? - olhou para mim com o cenho franzido.
- Não, não é isso. - ri - Quando me refiro à moda antiga quero dizer que antes nós procurávamos nos livros e revistas e recortávamos. Não era tão fácil pegar imagens assim na internet e imprimir.
- Por que não? Nossa! Você é tão... Pré-histórico! Papai pré-histórico! - disse rindo alto.
- Pré-histórico nada! Eu não sou tão velho assim!
- Sei! - riu - Isso que o papai falou é verdade mesmo, babá?
- Sim. Quando eu estudava e tinha esses trabalhos a gente procurava as imagens em revistas e jornais. Acho que era até mais divertido, pois sempre tinha algo além do que estávamos procurando nos livros.
- Isso é verdade! - concordei.
Por um breve segundo percebi (S/N) dirigir um mínimo sorriso para mim, mas o mesmo logo desapareceu.
- Ah, já que vocês estão dizendo que era tão divertido assim da próxima vez podemos fazer assim.
- Quer que eu recorte o resto das figuras? - (S/N) pergunta pegando a tesoura.
- Na verdade, eu queria cortar, mas tenho medo de estragar o desenho.
- Eu posso te ensinar. Está vendo essa linha pontilhada? Você precisa cortar exatamente em cima dela. Consegue?
- Eu posso tentar. - sorriu e pegou a tesoura.
- Não se preocupe se errar. Podemos imprimir outra figura caso não consiga.
- Certo.
- Vou fazer a marcação das linhas de lápis para você escrever o título, pode ser? - perguntei. Eu gostaria de ser útil de alguma forma.
- Tudo bem, papai.
Peguei régua e um lápis e fiz uma linha fina na cartolina. Enquanto fazia isso observei os dois bem concentrados em cortar aquelas figuras. (S/N) estava dedicada a ensinar como manusear a tesoura e Henri prestava bastante atenção.
Senti meu peito quentinho com aquela cena. Era tão bom ver meu filho tão feliz! Realmente, demitir (S/N) nem sequer deveria ter entrado em meus planos!
(S/N)
Depois que Henri dormiu eu voltei para a cozinha para guardar as louças do jantar.
- Às vezes, acho que deveria ganhar hora extra por esses trabalhos de doméstica... - comentei comigo mesma.
Quando estava praticamente terminando de arrumar tudo percebo passos próximos a cozinha e deduzo que seria Taehyung.
O mesmo se aproxima dali e parece ficar surpreso com minha presença.
- Achei que já estava dormindo, desculpe.
Por que se desculpar? Será que ele estava esperando eu sair da cozinha para que pudesse ir até lá? De fato, ele está a me evitando a todo custo.
- Eu estava terminando de secar a louça. Você precisa de algo? - respondi normalmente.
- Só vim pegar um pouco de café.
O mesmo parou ao meu lado e pegou uma xícara que estava naquele armário onde eu guardava as demais louças.
Ficamos em silêncio durante o tempo em que o mesmo esteve ali. Ao terminar de tomar o café ele mesmo lavou, secou e guardou a xícara.
Bom mesmo, porque se tivesse deixado suja lá ela iria ficar pelo resto da noite!
Quando Taehyung se virou para sair da cozinha meu coração começou a pedir desesperadamente para que eu fizesse algo que o fizesse ficar por mais tempo.
Coração traiçoeiro!
- Ei, Sr. Kim...
Eu não deveria ter feito isso! Que droga!
- Sim? - ele se virou e me olhou.
Eu nem mesmo sabia porque o havia chamado, muito menos o que diria para ele.
- É... - pensei um pouco e de repente me veio algo para dizer - Obrigada ter ajudado com o trabalho da escola do Henri. Por ter certeza que pare ele foi muito importante a sua ajuda.
- Não precisa agradecer. Eu realmente deveria participar mais da vida escolar dele.
- Está fazendo o que pode, eu sei disso.
Ele sorriu quadrado e assentiu.
- Boa noite, (S/N).
- Boa noite, Taehyung.
O mesmo deixou a cozinha em passos lentos. Parecia que ele também gostaria ficar mais tempo por ali, mas não havia nenhum motivo para tal.
Enquanto o mesmo se distanciava ficou o olhando e pensando nesse "boa noite" que ele havia me dirigido.
Teria sido bem melhor ouvir um boa noite desses depois de acabar comigo na cama, mas fazer o quê, não é mesmo?
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