A biblioteca onde trabalho é um espaço da escola onde estudo. Lá frequentam pessoas desde o ensino médio até professores e estudantes da faculdade. E, ficava relativamente perto da minha casa, então eu ia andando para não gastar dinheiro. Apesar de estar nessa escola desde o início do ano letivo, eu não tinha nenhum amigo, e nem me importava muito. As pessoas também tinham esse sentimento em uma alta reciprocidade. Meus únicos amigos eram Jane Austen, J.K. Rowlling, William Shakespeare, Suzanne Collins entre muitos outros que eu amava ver suas ideias abrochando e me sentir em seu mundo.
Eu estava lendo um livro de Ariano Suassuna, quando um papel chegou em minha sala.
Meus caros, gostaria de avisar a vocês que, mediante a alta taxa de abandono e evasão escolar que ocorreu esse ano, decidimos colocar os alunos das turmas 1 e 2 do segundo ano juntos em determinadas matérias sendo elas: Química (no Lab. Quim 2) , Biologia (no Lab. Bio 2) , Educação Física (na quadra de esportes) e Literatura (no auditório).
Todos reclamavam porque agora teríamos que rodar toda a escola praticamente todos os dias da semana, mas as garotas pareciam histéricas sobre um tal de Lyn. A primeira aula seria Educação Física então, peguei minha mochila saindo da sala. Minutos depois, cheguei na quadra que já estava aberta e me sentei num lugar vago das arquibancadas.
Pouco a pouco, a arquibancada onde eu estava foi enchendo de mochilas jogadas ou de garotas vestidas com shorts curtos e blusas coladas. Os dois lugares ao meu lado que estavam vazios, foram logo preenchidos por dois vultos azul-marinhos, que nem precisei levantar os olhos pra saber que eram do time de basquete.
Ouvi um apito soar e finalmente levantei a cabeça, colocando o A História de Amor de Fernando e Isaura na bolsa, e olhando firmemente pra quadra, até sentir meu laço azul se desfazer.
— Oi. — o garoto do meu lado me chama, viro em sua direção e vejo quem é.
— Essa escola é tão pequena... — falo irônica, ajeitando o laço como forma de distração. — Achei que não te veria novamente.
— Na verdade nossa escola é bem grande, tem quase 6 hectares e...
— Eu sei. Obrigada.
Virei o rosto, conversando agora com o professor de Educação Física e argumentando o porquê que eu deveria usar calças ao invés de um short curto.
— Não nos apresentamos! Sou Ross, mas pode me chamar de Kyle.
— Por que Kyle? Não, Kyle é muito tosco, você será Ross mesmo. — ele sorriu.
— Normalmente você diz seu nome de volta, sabe?
— Meu nome é Laura.
— Laura? — seu sorriso se alargou ainda mais. — Só Laura, sem outro nome?
— Sim! — revirei os olhos. — Gosto do Laura.
— Ah me poupe. Fala logo, seus pais não colocariam um nome tão curto pra você.
— LAURA MARIE MARANO! — levantei a mão, constrangida e altamente vermelha. Ross ria baixinho.
— Parece que a Laura não se chama somente Laura não é, Marie? — ele continuava a rir, como se aquilo fosse um stand up do Comedy Central.
— Laura é mais fácil, mais simples. — ele já estava vermelho, segurando o riso para não receber reclamação.
— Vou continuar te chamando de Marie, é único e bem lindo. É um nome francês se não me engano.
A aula havia começado, Ross me apresentou seu outro amigo Calum. Esse parecia não acreditar na coragem do seu amigo em conversar comigo, e me olhou estranho ao me ver com a mão estendida pra ele, tocou a palma da minha mão como se estivesse tocando a pétala de uma rosa. Estiquei meus lábios em algo próximo a um sorriso e ele fez o mesmo.
— Então Marie...
— KYLE! A-ah oi, KYLE! — Uma garota de cabelos absurdamente negros e olhos claros apareceu, com o uniforme das líderes de torcida.
— Ah, oi Courtney! — ele disse animado, abraçando-a, me mantive em silêncio.
— Oi, Calum! — ele apenas acenou pra ela, a mesma não saia do pescoço do Ross.
— Ei, garota! — levantei o olhar. — Quando garotas como eu chegam, garotas como você automaticamente saem. É uma lei.
— A Constituição Estadunidense é tão aleatória! — eu disse, dando meu melhor sorriso escorrendo veneno.
Éramos cobras da mesma raça, a única diferença entre nós duas é que eu nunca precisei desmerecer muito menos humilhar pessoas para me sentir melhor. Para isso tenho lâminas.
Atravessei a quadra de basquete até o outro lado, onde não havia cadeiras, eram apenas escadas com degraus um pouco altos. Me sentei lá e peguei meu livro. Passou mais ou menos meia hora desde que aquilo havia acontecido e eu estava tranquila sobre isso. Até ele chegar de novo.
— A Courtney é meu tipo ideal, sem dúvidas. Olha pra ela! Que... que linda. — não deixei de rir baixinho.
— Parece está apaixonado, ou é impressão minha? — ele ficou vermelho instantaneamente.
— Não, Marie, eu não estou. — ri mais.
— Claro que está! Olha pra você, seus olhos estão grudados nela.
— Ela me chamou pra sair, mas não passa de sexo. — ele disse por fim. — Acabamos de nos conhecer e tenho a sensação de que você é minha melhor amiga.
Levantei a mão e ele bateu na minha, sorrindo.
— Sempre tive facilidade com garotos... — disse me lembrando do meu antigo melhor amigo. — Mas, o que você veio fazer aqui?
— Te chamar pra jogar, óbvio! — olhei com desdém. — Vamos, Marie, aula de Literatura é só na quarta.
Ele segurou meu braço esquerdo com uma pequena força, na tentativa de me fazer levantar. Aquilo doeu incrivelmente forte e ele me puxou sem perceber meu sofrimento, comecei a gritar, cega de dor.
Desequilibrei um degrau e caí de lado no chão, Ross foi puxado por mim — ele não largou meu braço.
Isso aconteceu em questão de 10 segundos, mas pra mim pareceu 10 horas. Minha testa começou a doer e eu vi meu braço esquerdo encharcado de sangue.
Comecei a esconder, desesperada. A dor parecia soar como um apito em meu cérebro.
— Vem, vamos pra enfermaria. — ouvi a voz do Ross ao longe, senti sua mão em meu ombro, tinha um cuidado dessa vez. — Você é muito desastrada, Marie.
Eu não conseguia nem responder, agora tinha outra mão comigo, era a do professor.
— O que houve com ela?
— Ela desequilibrou e caiu da escada, acabou batendo com a cabeça, mas não parece grave.
A mão soltou meu ombro e eu andava em modo automático.
— Espero que eu não precise mais fazer isso, ok? Como seu novo amigo, precisamos ter uma conversa séria. — droga.
Ele não é um jogador burro de basquete. Ele viu. Ele descobriu.
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