Minha mãe retocava a maquiagem que insistia que eu a deixasse fazer, com a desculpa de que eu apareceria diante de todas as TV’s do planeta Terra, então teria que estar ao menos um pouco apresentável.
Papai observava de longe, não querendo interromper o trabalho de sua esposa, que fazia tudo com um sorriso no rosto para não demonstrar que por dentro estava arrasada por deixar sua filha se jogar de cabeça em um pântano cheio de jacarés famintos.
Suas mãos faziam um trabalho impecável em meus cabelos castanhos, envolvendo-os em uma bela trança, não deixando que nenhum fio sequer escapasse do topo de minha cabeça. Não poderia deixar que eles me atrapalhassem enquanto estivesse em batalha.
Meu pai finalmente ousou sair do seu lugar e vir em minha direção com um olhar duro ao mesmo tempo que repleto de sentimentos. Ele não era tão bom com palavras como Donna e Jongsuk, mas às vezes o silêncio pode dizer muito mais coisas.
Suas mãos carregavam um pacote e logo entregou para mim quando mamãe se afastou, orgulhosa de seu trabalho de disfarçar as grandes poças arroxeadas debaixo de meus olhos, dando lugar a algo vibrante em meu rosto, realçando o que eu tinha de melhor.
— O que é isso? — perguntei com um sorriso e desembrulhando o pacote.
Não era de seu feitio dar presentes a alguém.
Eu peguei o tecido de seda vermelha com suas bordas douradas como ouro, analisando-o. Era lindo. Uma cor viva e quente que remetia a imagem do verão escaldante que vivemos nas estações do ano.
Com certeza teria custado o salário do meu pai todinho, mas eu não reclamaria diante dos seus olhos brilhando de satisfação por eu ter gostado.
— Para não chamar tanta atenção — respondeu simples e então me levantei, dando-lhe um abraço apertado.
Era uma capa para que eu passasse despercebida, na medida do possível. Como ele mesmo havia dito, não sou muito chegada a chamar atenção de várias pessoas desconhecidas, mas sinto que ela de nada me serviria agora, por simplesmente o evento passar em rede nacional. Mesmo assim agradeci com um dos meus melhores sorrisos, pela consideração.
Minha mãe ajeitou o tecido escarlate sobre meus ombros, cobrindo todo o meu corpo, ninguém desconfiaria que eu era apenas uma garota de dezenove anos indo de cabeça erguida para uma luta, sabendo que talvez a perdesse de vez.
— Obrigada — digo aos dois que me abraçaram. Talvez o nosso último.
Os meus irmãos se aproximam, Donna está no meio e mantendo a frente dos dois garotos, pelo visto não seria somente papai que me daria algo.
Ela estendeu o seu braço em minha direção e eu peguei com a mão o objeto frio, percebi que se tratava se um pequeno colar prateado, sem muitos detalhes, mas por si só já era bem lindo com sua estrutura oval em miniatura.
— Abre — falou ela, percorrendo seus olhos pela extensão dos meus dedos que trilhavam um caminho para a fechadura quase imperceptível no objeto.
Uma fotografia da família toda, por mais pequena que fosse, eu poderia me sentir perto deles enquanto carregasse isso. Eu, mamãe e papai do lado direito e os três do lado esquerdo.
— É lindo... — disse, repreendendo-me de deixar as lágrimas de emoção escaparem e não só arruinar o trabalho de mamãe, como também demonstrar fraqueza diante deles. Queria ser forte. Precisava ser.
Me disseram muitas vezes que para se parecer como alguém poderoso tinha que agir como um, mesmo que estivesse com medo, frustrada e aflita. Tinha que manter a máscara que cultivei por todos esses anos, pelo menos até eu estar longe do campo de visão deles e de todas as pessoas.
O meu irmão gêmeo me ajudou a colocar o pequeno e precioso objeto envolta do meu pescoço, então eu o escondo dentro da roupa que usava. O protegendo.
A última badalada dos grandes sinos foram ouvidas e todos sabíamos que essa era a minha hora de partir. Respirei fundo, sendo abraçada por todos eles, em conjunto.
— Amo vocês — dei uma profunda encarada no fundo dos olhos de cada um, gravando suas imagens em minha cabeça para ter a certeza de que não esqueceria seus rostos.
— Nós te amamos também — disseram em uníssono, me arrancando um sorriso ladino.
Então dei as costas, saindo porta afora e não me atrevendo a olhar para trás. Não poderia. Sabia que iria desabar caso o fizesse.
No momento em que fechei a porta e dei alguns passos, encontrei ele. Sem pensar duas vezes corri para seus braços, que logo me apertaram contra seu corpo forte e quente.
— Então, você vai mesmo... — disse ele, após nos separar um pouco para que pudesse olhar em meus olhos.
— Tae, eu tenho que ir. Me desculpa. A minha família... — antes que eu pudesse terminar, ele tomou os meus lábios em um último beijo de despedida.
Foi nesse meio tempo que pude relembrar do que vivemos juntos nesses anos. Kim Taehyung, meu melhor amigo desde a infância, mas na adolescência descobrimos que algo a mais estava rolando entre nós. Eu o amava e daria a minha vida por ele. Tae sempre foi um cara que toda mulher gostaria de ter ao seu lado e rodeado por elas, podendo escolher a garota mais bonita da cidade, se quisesse, mas ele preferiu a mim. Ele sempre estava comigo, em todos os momentos, sendo compreensivo diversas vezes e me ajudando no que eu precisasse. Ele sempre estava lá por mim. Difícil me lembrar de algo em que ele não estivesse presente.
— Eu te amo, Panie — beijou a minha bochecha e depois demorou seus lábios em minha testa, um gesto que eu sempre achei bem carinhoso de sua parte.
Sorri de lado, peguei a sua mão que acariciava a minha bochecha e a beijei. Taehyung era um Invocador de Chamas e durante o seu treinamento, sempre machucava bastante elas. Um dia ele me disse que não gostava tanto delas por serem calejadas e feias, por isso quando estamos juntos eu sempre as beijo, para demonstrar o quanto aquele detalhe não importava nada para mim. Sem falar que eu achava impossível qualquer parte do seu corpo ser considerado algo abaixo de perfeito.
— Eu te amo, Tae — encarava suas orbes negras e intensas que sempre me cativaram, o abraço, querendo sentir o seu calor mais uma vez.
— Estarei vendo — acariciou os meus cabelos e eu me afastei assentindo.
— Tenho que ir — ele apertou mais forte a minha mão e eu fiz o mesmo com a dele.
Olhamos um para o outro até eu ter a coragem de soltá-lo e ir na direção que deveria. Também não olhei pra trás.
A cidade inteira estava eufórica, os vizinhos que eram amigos da minha família, gritavam de suas janelas desejando-me boa sorte e eu apenas lhes respondia com breves sorrisos. Não estava fazendo aquilo, porque queria. Essa nunca foi a minha vontade.
No centro da cidade, coloquei o capuz para que ninguém pudesse saber o que estava se passando em minha cabeça, não queria que um inimigo descobrisse minhas mentiras por um simples olhar.
Automaticamente revisava todos os treinamentos de minha infância, tanto como guerreira quanto invocadora de tempestades. No começo foi bem difícil controlar os raios que saíam de meu corpo involuntariamente quando perdia a cabeça ou até mesmo fazer com que os eletrodomésticos não pifassem, mas agora posso usá-los como bem entendesse.
A Colheita do ano passado se passou como um filme de retrospectiva em minha mente.
Havia gente com todos os tipos de poderes, pessoas que iriam simplesmente por prazer de sentir as entranhas de seu oponente em suas mãos ou pessoas como eu, que iriam em busca de um bom salário para sair da vida medíocre em que vive.
Gente do primeiro tipo me repugnava. Sentir prazer em matar. Monstro. Monstro. Monstro.
Repetia em minha mente incessantemente para que eu não me tornasse como um deles depois que A Colheita acabasse.
Fechei as mãos em punhos, de modo que os nós de meus dedos ficassem brancos, quase prendendo a circulação do sangue, mas eu não me importava; não quando criava pura adrenalina em meu corpo em somente ver a grande Arena em minha frente. Mordi o lábio inferior. Dei passos firmes, mas ao mesmo tempo relutantes para a entrada em que haviam dois guardas com armaduras pesadas, protegendo-a.
— Nome? — um deles diz com a voz grossa e confiante, parecia pronto para atacar caso eu tentasse alguma gracinha.
— Kwon Pandora — digo no mesmo tom que ele, não iria me rebaixar a uns guardinhas meia boca.
O outro a minha esquerda olhou em seus papéis e logo liberaram a minha passagem.
— Sala 14, segundo corredor e terceira porta a direita — falou e eu não esboço qualquer expressão, apenas adentrei na grandiosa Arena que derramava tanto sangue quanto em uma guerra.
Minha família iria ver tudo na pequena e única TV que temos em nossa casa, os ingressos para assistir o massacre na arena eram muito caros para que pudéssemos comprar, mas sabia que estavam me dando apoio, mesmo de longe.
Por dentro da capa apertei minha mão contra o pingente dado em nome de todos os irmãos Kwon, dali tiraria forças para conquistar o que vim fazer aqui.
Na medida em que ia andando, as pessoas ao redor me olhavam, tentando me decifrar por debaixo do tecido escarlate. Qualquer informação seria uma vantagem nesse campo de batalha.
O corredor era extenso, tendo diversas portas para que os participantes se preparassem. Cada sala teriam cinco pessoas. Analisei por onde passava, tudo isso cheirava a uma pequena dose de morte. Sorri de lado. Nada surpreendente.
Quando encontrei a sala que os guardas haviam me indicado, entrei sem ao menos bater na porta e o burburinho que estava no local cessou, todas as atenções foram voltadas para mim e eu agradecia imensamente por não verem o meu rosto, acabando por ter a mesma tonalidade da capa que usava.
Me atrevi a levantar um pouco a cabeça, notando três homens de músculos avantajados que usavam o mesmo uniforme de um tecido que colava bem em seus corpos, totalmente flexíveis para não haver impedimentos de suas ações e demonstrações de braveza.
Olhei para o outro canto da sala, encontrando uma garota que parecia entediada, brincando com facas bastante afiadas em suas mãos e que também usava o mesmo uniforme que os homens daquela sala. No momento em que seu olhar se encontrou com o meu, ela arqueia a sobrancelha como se me desafiasse a continuar fitando-a.
Me sentia devorada pela aura assassina que infestou o lugar. Engulo o seco, indo sentar em uma cadeira afastada o mais longe possível de todos eles.
— Você precisa se trocar.
Um deles me avisou com um tom de deboche e jogou para mim a mesma roupa que usava.
Notei um banheiro perto, que era bem simples, porém espaçoso e com um enorme espelho, entrei e sem precisar apertar no interruptor, a luz acendeu sozinha. Sensores. Olhei para o teto, sentindo cada fiação interagir com o meu corpo como se fizesse parte de mim, se eu quisesse poderia simplesmente fazer acontecer um apagão em toda a Arena, mas me conteria para não ser expulsa antes mesmo de lutar. Me sentia mais a vontade aqui do que lá fora com aqueles brutamontes prontos para devorar um pedaço de carne.
No momento em que estava devidamente vestida, com o tecido quase se fundindo com minha pele por ser tão colado. Sorri olhando-me no espelho, satisfeita com o resultado do uniforme ao realçar as minhas curvas.
Fiz alguns alongamentos ali mesmo, testando se realmente não iria rasgar e me fazer passar uma grande vergonha em rede nacional.
Ele era preto que cobria do pescoço até os calcanhares, me lembrava as roupas de banho que surfistas usavam para encarar grandes ondas de um mar que tinha vida própria. Deixavam somente os pés e as mãos livres para não interceptar o poder que seria manipulado por esses membros.
Em meu ombro direito havia o número 138 estampado e ao lado de minhas costelas alguns tons em azul marinho escuro quase se assemelhando ao preto do uniforme, calcei as botas de couro, dobrando as minhas roupas velhas e antigas que usava para treinar e então coloquei a capa escarlate novamente antes de sair do banheiro.
— Pensei que tivesse morrido antes da hora — ouço a garota das facas no momento em que pus os pés para fora.
Ela estava em pé, com um ar de superior tanto estampado em seu rosto quanto em sua pose encostada na parede, que manuseava as facas com facilidade entre seus dedos, sem medo algum de se cortar. Ignorei o seu comentário desnecessário.
— O gato mordeu sua língua, por um acaso? — e em um piscar de olhos senti a sua faca passar de raspão em minha capa, se eu não tivesse sido rápida o suficiente para desviar o rosto, teria o acertado em cheio. Ela pareceu surpresa por não ter acertado o meu crânio e feito esguichar sangue naquela sala minúscula.
A faca ficou encravada na porta do banheiro, com certeza seria um adeus para mim se tivesse pego em minha cabeça.
— Não, mas queria que um arrancasse a sua — digo ríspida o suficiente para ela notar que aquilo não havia me abalado.
A garota de cabelos loiros e extremamente curtos manteve uma carranca em sua expressão enquanto os homens soltavam uma gargalhada de sua tentativa frustrada de mostrar superioridade.
O relógio de parede marcavam quase nove da manhã, então tratei de sentar e esperar que todo aquele showzinho da Arena começasse.
Discretamente analisei os homens que pareciam discutir estratégias de combate. Vinheram juntos. Chutava que os três fossem da Classe de Pressionadores, que poderiam endurecer seus corpos de forma que se assemelhavam a aço, a cobre, a metal ou ao diamante. Eles conseguiam fazer pressão suficiente em seus músculos para que se enrijecessem e se tornassem impenetráveis.
Se eu lutasse contra um desses, um raio com a descarga que normalmente uso não bastaria, mas eu não viria aqui se não tivesse cartas na manga para cada Classe que eu poderia, possivelmente, enfrentar hoje. Eu estava confiante em minhas habilidades. Como meu pai dizia, eu era esperta.
A garota das facas era uma Manipuladora de armas e não fazia questão de esconder a sua habilidade de que conseguia manusear suas facas com a facilidade de como conseguia respirar.
Eu me encontrava na classe de Invocadora, por conseguir criar raios e tempestades a qualquer momento, mesmo em dias ensolarados como esse. Conseguia sentir a eletricidade rodear essa sala como um sexto sentindo bem aguçado e trabalhado, eu não estava nada indefesa, poderia usar a eletricidade dos objetos também.
Olhei para minhas mãos e passei a brincar com uma pequena fagulha azul de um raio por entre meus dedos de forma escondida, para que nenhum deles tivessem noção do que eu era capaz de fazer.
Um arrepio subiu pela minha espinha e então a TV de plasma ligou automaticamente, dando início a abertura do grande evento.
Todos os lugares das arquibancadas estavam extremamente lotados, o público vibrava enquanto o apresentador falava animadamente para todos os telespectadores dando boas-vindas. Engoli o seco. Eram tantas pessoas.
— Ao lado direito vemos todos os Mestres disponíveis a fazer um contrato com alguém hoje, espero que a sorte esteja ao lado de vocês, guerreiros! Fighting! — ele dizia tão eufórico que eu cheguei a revirar os olhos por sua felicidade imensa em ver sangue ser derramado.
A câmera parou nos homens e nas mulheres sentados com uma expressão de seriedade em seus assentos acolchoados. Se você quer que pensem que é poderoso, haja como um. Todos estavam bem vestidos para parecerem beldades e a imagem mais semelhante aos deuses do Olimpo, mas não passavam de lobos em pele de cordeiro, esperando suas presas, para colocá-las na coleira e dizer que os pertencem.
E eu estava aqui, dando o meu pescoço de bom grado para aquele que me escolhesse com uma boa oferta. Pela minha família. Repetia, lembrando do rosto de cada um pela manhã e apertando o colar de prata sobre minhas mãos.
— Como de praxe, A Colheita deste ano vai se passar em três fases de lutas para que os Mestres vejam suas habilidades e decidam com carinho se irão escolhê-los ou não.
Carinho. Quase gargalhei ao ouvir tal frase. Eu me controlei, mas a Manipuladora soltou uma risada alta e perturbadora, não se importando com as pessoas ao seu redor.
— Nesse ano o comentarista de todas as batalhas será JR! Diga um olá JR, para todos os telespectadores — a câmera focou em um homem barbudo que parecia estar no auge dos seus setenta anos e que mantinha uma expressão monótona, como se não quisesse estar ali.
— Olá, eu sou o JR — sua fala era arrastada, demonstrando o tédio que sentia ou a preguiça de abrir a boca e ter que socializar com outras pessoas.
Todos ficaram na expectativa de que ele dissesse mais alguma coisa, mas ele simplesmente se calou. Um homem de poucas palavras, com certeza só diria o necessário das batalhas que veria, muito útil. Então o apresentador tomou a frente novamente:
— E como sempre, decidimos as lutas na sorte, mas como temos muitos participantes, já sorteamos os nomes que estarão no telão, a seguir. Se preparem guerreiros, começaremos em cinco minutos! — disse e apontou para a grande plataforma digital que passava lentamente todos os nomes presentes e dispostos a lutarem hoje.
Forcei a visão para encontrar o meu nome e logo o encontrei. Kwon Pandora 138 x Wonho 018. Seria uma das últimas batalhas, teria tempo de sobra de bolar um plano ou dos meus nervos entrarem em colapso de tanta ansiedade.
— E que comecem as batalhas! — voltou o comentarista após os cinco minutos e logo a plateia foi ao delírio quando os primeiros participantes puseram os pés na Arena.
Um era magro, baixinho e pálido, enquanto o outro o seu completo oposto; cheio de músculos, alto e bronzeado. O último, Pressionador. Contudo, o albino seria uma caixinha de surpresas, não fazia a mínima ideia do que era capaz.
— Muito fácil! Jonghyun vai cuidar dele num piscar de olhos — um dos três diz, com desdém e parecendo conhecer o Pressionador. Eu até apostaria que estavam certos, mas uma coisa que aprendi na minha vida foi em não julgar o livro pela capa.
Assim que o sinal estridente e alto da sirene foi acionado, o tal Jonghyun partiu pra cima, na ofensiva. Ele era rápido, conseguiu desferir um soco na jugular do albino sem que ele pudesse ter qualquer reação. A plateia gritou pela pancadaria. O Pressionador não deixou que o garoto se recuperasse, chutando em seu estômago e fazendo com que o chão branco cimentado da arena, tivessem suas primeiras colorações em tons avermelhados, jorrados da boca do mais baixo que estava apanhando a cada golpe desferido, um mais forte que o outro. Ele ia acabar como o bagaço da laranja. Sem lhe restar nada.
Em um momento, fechei os olhos pelo barulho natural de ossos se quebrando e então ouço tudo ficar um completo silêncio. Atrevi a voltar a encarar a TV que passava o replay nos mínimos detalhes, não deixando escapar nada.
Estreitei os olhos ao ver o Pressionador caído no chão, inconsciente e o albino ser proclamado como o vencedor da primeira luta.
— Wow! Min Yoongi em um último instante conseguiu virar o jogo, deixando o seu oponente incapacitado! — enquanto o apresentador falava, o replay passava mais uma vez.
Não tirei os olhos da TV, estava curiosa para saber como ele conseguiu fazer uma proeza como essa. Então foi aí que percebi a sua Classe, Consumidor, ele absorveu o impacto com o seu corpo para devolver duas vezes mais forte com o próprio poder do seu adversário.
Era difícil ver um Consumidor na Arena, pois tinham que ter uma grande capacidade física para aguentar os golpes de oponentes fortes e só então descarregá-lo no inimigo que é golpeado pelo seu próprio poder, sua própria força voltada ainda mais forte. Nunca pensei que aquele magricelo fosse conseguir suportar a ira de um Pressionador.
Bateria palmas se estivesse em casa, com a minha família, totalmente surpresa pela reviravolta, mas não queria demonstrar quaisquer sinais para os outros ao meu redor.
Em vez disso, ponho a mão no queixo, pensativa. Seria um bom oponente, mas eu descarregaria uma quantidade bem generosa em sua cabeça antes que sequer pudesse piscar. Ele estaria com os miolos queimados caso eu fosse sua oponente, não daria chances de que consumisse o meu poder para jogá-lo contra mim duas vezes mais poderoso. Eu não perderia a chance de deixá-lo imobilizado, concluo. Consumidores não são páreos para mim, mas não quer dizer que sejam fracos. Não mesmo.
Min Yoongi. Guardaria seu nome em minha cabeça. Foi uma luta impressionante, com certeza estava ansiosa para vê-lo em sua segunda partida.
A segunda luta do dia deu início e eu fiquei avaliando cada participante que passava, adotando medidas rápidas caso fosse eu no campo de batalha no lugar deles.
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Draga passou por mim, esse era o nome da Manipuladora, pelo menos como ela queria ser chamada e como foi mencionada em sua vitoriosa partida contra uma garota da Classe dos Telecinéticos.
Ao mesmo tempo que a sua oponente se aproveitava dos destroços que ficaram no chão da Arena pelas lutas anteriores, jogando com brutalidade contra Draga, por meio dos pensamentos, a Manipuladora revidou a altura com suas faquinhas que partia ao meio às enormes pedras de concretos. Sorri de lado, lembrando que ela havia ganhado a luta após perfurar um dos pulmões da garota telecinética e ela se debruçar sobre o chão como uma barata tonta.
— Você é boa — ousei dizer e ela levantou o olhar para mim antes de se voltar novamente para a tarefa árdua de limpar suas pequenas e mortíferas facas, cobertas de sangue.
— Fui criada para isso — deu de ombros, fazendo pouco caso.
Só estávamos nós duas na sala, os homens resolveram sair após suas lutas e não voltaram mais. Somente um deles recebeu a vitória e os outros dois perderam.
O bom é que mesmo se você for derrotado em uma luta, ainda tem mais duas pela frente para mostrar o seu verdadeiro potencial, talvez ganhando-as ou perdendo de novo, fracassando mais uma vez.
Eu vim aqui para levar todas as três. Não sou de perder. Nunca fui.
Não fui criada para vir para esse evento mixuruca como Draga, mas sim para ser uma boa guerreira e invocadora de tempestades. Então, foi isso que vim mostrar, a minha capacidade.
A minha luta seria daqui a duas partidas, então eu estava focada em me aquecer para não ser pega desprevenida por uma câimbra ou algo do tipo.
— Boa sorte — ouvi a Manipuladora falar em um tom de desdém quando a última luta já estava acabando e seria a minha deixa para ir.
Eu não a respondi, somente saí daquela sala indo em direção a boca do inferno. Pelo menos era assim que era chamado os portões de onde os guerreiros passavam para entrar e sair da Arena e estar no campo de visão das várias câmeras e da plateia em si.
Quando me encontrei frente a frente ao enorme portão de ouro, tratei de relaxar os músculos que criavam adrenalina a todo o vapor. Sentia o meu sangue fervilhando, quase entrando em combustão pelas minhas veias sanguíneas, ao deixar que meus raios tomassem conta do meu braço direito e sentisse a corrente elétrica entrar em contato com todo o meu corpo. Percebo a lâmpada acima da minha cabeça piscar sem parar, prestes a explodir e espalhar seus estilhaços pelo local.
Normalizo o estado da lâmpada ao mesmo tempo em que o portão enorme é aberto e um cara entrar em cima de uma maca totalmente ferrado dos pés a cabeça, carbonizado. O cheiro de pele queimada era bem intenso, sentiria a milhas de quilômetros.
Todos que tem fraturas sérias são tratados pela Classe Curandus que são capazes de cuidar qualquer tipo de ferimento, todos eram poderosos nesse quesito, podendo reconstruir uma perna caso fosse perdida ou qualquer outro membro ou órgão que lhe fora arrancado.
Vejo os enormes portões se fechando novamente, dando o seu intervalo de trinta segundos para que a equipe técnica reestruturasse toda a Arena novamente, por conta do estrago ocasionado da luta anterior.
— Agora, com vocês... os nossos próximos guerreiros... Wonho x Kwon Pandora! — a voz do apresentador foi ouvida e logo consigo ver a claridade entrando e me cegando por curtos segundos.
Pela minha família, repeti.
Sai calmamente da boca do inferno e andei até o chão cimentado da Arena, ouvindo a plateia gritando com todas as forças das arquibancadas enquanto seus olhos estavam encravados na gente, que iria lutar.
Sentia todos os pelos de minha nuca se arrepiarem quando percebo o tanto de eletricidade que rondava o lugar. Havia uma enorme parede que era a maior fonte de energia, feita totalmente de eletricidade. Ela servia para proteger o público e os Mestres, das lutas que ocorriam na Arena, para que não fossem atingidos pelos poderes dos participantes.
— O que será que Kwon Pandora nos esconde debaixo de sua gloriosa capa escarlate? — o apresentador fala novamente, fazendo com que a plateia fosse a loucura esperando ansiosos para que eu revelasse o meu rosto, mas eu não o fiz.
— Está com medo? — ouço a voz grossa de Wonho e eu esboço um sorriso, por mais que ele não pudesse enxergar através do capuz.
Ele tinha grandes músculos robustos, havia rasgado a parte de cima de seu uniforme, deixando a vista e chamando atenção para o seu peitoral bem reforçado que aos poucos mudava de forma para como um diamante. Pressionador.
— Não está sentindo esse cheiro? — pergunto, deixando a minha cabeça cair para o lado e notando os meus raios se alastrarem em minha pele.
— Que cheiro?
— Da tempestade chegando.
Então o sinal foi acionado, indicando para que iniciássemos a partida.
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