“Podemos ir?” Jongin perguntou ao ver Kyungsoo saindo do quarto com um vidro de perfume na mão.
“Procure minha carteira enquanto eu termino de me arrumar?” Jongin assentiu e se levantou do sofá.
“Eu disse que pagaria tudo, não disse?”
“De qualquer forma, não é justo apenas você pagar nossos passeios. Você precisa economizar e não ficar gastando seu salário com qualquer coisa.” O mais novo revirou os olhos e encarou o baixinho que penteava o cabelo em frente a um pequeno espelho que havia pendurado na parede ao lado da porta do quarto.
“Não é qualquer coisa. É nosso aniversário, Soo.” Cruzou os braços em descontentamento. Odiava quando Kyungsoo o dizia para não gastar dinheiro em uma data cuja qual era considerada tão importante para si. “Cinco anos é muito tempo. É estranho pensar isso, mas faz quase uma década que estamos juntos. Não é uma coisa que deve ser comemorada?” Kyungsoo ficou em silêncio apenas observando o próprio reflexo no espelho a sua frente.
Quase uma década foram as únicas palavras que se fixaram em sua mente.
Então havia se passado seis anos desde que o pacto foi feito.
Eu tenho apenas quatro anos sobrando?
Pensar sobre isso fez um calafrio percorrer o corpo do rapaz, realmente o tempo havia passado rápido.
Kyungsoo ainda não sabia como reagir ao se lembrar de anos atrás quando, em uma encruzilhada de ruas, na completa escuridão chamou por um demônio.
Dizendo para si mesmo tudo isso parecia uma grande besteira, e ele rezava todas as noites para que fosse.
Mas em sua atual situação, rezar não servia para absolutamente nada, certo?
Ele já havia pecado, selado um contrato com o ser mais obscuro da humanidade, e pior, estava vivendo como se nada houvesse acontecido. Tudo estava errado, muito errado.
Agradecia por ter Jongin ao seu lado, o rapaz sempre o dava apoio quando ele desatava a chorar ao pensar na grande besteira que havia feito.
Eu não quero perder ele era o que se passava em sua mente sempre que pensava no maldito acordo com o maldito Chanyeol.
Havia se passado seis anos desde o selar do pacto, e na hora em que selou o acordo com o demônio dez anos lhe parecia muito tempo, e estava certo.
Mas esse grande tempo se tornou muito pouco desde que começou a se relacionar com o outro rapaz.
Desde o começo Jongin foi um bom amigo, mesmo que a amizade tenha começado de um jeito banal, foi um belo começo. Quando você encontra um inseto em seu apartamento, pensar que encontraria o seu futuro companheiro ao bater na porta do apartamento ao lado pedindo por socorro é a última coisa que se passaria em sua cabeça. O casal sempre ria ao pensar sobre o assunto. Era algo tão bobo.
Algo bobo que aos poucos se tornou tudo para eles.
Jongin sempre atencioso e amável com Kyungsoo, mesmo que trabalhasse o dia inteiro e só pudesse ver o baixinho durante a noite, sempre estava disponível quando Kyungsoo o mandava uma mensagem ou fazia uma ligação. Jongin sempre atendia no primeiro toque, como se soubesse a que momento Kyungsoo precisaria dele. Seja para pedir que o mesmo comprasse algo para o jantar ao sair do trabalho, ou para jogar conversa fora perguntando como estava o seu dia e se havia almoçado bem.
E era esse tipo de coisa que fortalecia cada vez mais o relacionamento e o fez continuar firme e forte durante todos esses anos.
Jongin sempre carinhoso e demonstrando em cada gesto seu amor incondicional, e Kyungsoo reservado e ao mesmo tempo atencioso, com suas poucas palavras e com seus doces toques.
Um relacionamento de dar inveja a qualquer casal.
Mas isso acabaria em um curto período de tempo.
Quatro anos era o que lhes restava.
Uma lágrima solitária escorreu pelo canto do olho de Kyungsoo enquanto ele, inconscientemente ainda penteava o cabelo e olhava para o próprio reflexo no espelho.
Logo secou a lágrima com a ponta do dedo quando escutou alguém bater na porta.
Jongin estava ocupado procurando a carteira de Kyungsoo entre as almofadas do sofá, então o baixinho teve de ir atender a porta.
Praguejou e desejou ter ignorado as batidas quando viu seu amigo.
“Bom dia.” Disse com um pequeno sorriso no rosto e com o rosto inchado, o que mostrava que ele havia acabado de acordar.
“Sehun, você se quer lavou o rosto antes de vir me incomodar?” questionou de braços cruzados. Sehun riu.
Sehun era um velho amigo que Kyungsoo havia conhecido muito antes de Jongin. Foi ele quem apresentou a velha mulher que sugeriu a Kyungsoo um pacto em uma encruzilhada. O sentimento de Kyungsoo por Sehun era mais de ódio do que de gratidão.
Esse desgraçado fodeu minha vida era isso o que pensava sempre que via em sua frente aquela cara sem expressão do amigo. Sua única vontade era de jogar Sehun do décimo quinto andar de seu apartamento e observar ele estrebuchar no chão enquanto bebia um belo vinho e com uma expressão de missão cumprida no rosto.
Mas nada era como ele queria.
Então o que o restava era tentar ser o máximo de desagradável possível com outro.
“Bem, eu não tive tempo, passei a madrugada estudando e nem sequer fechei os olhos ainda.” Coçou a nuca e bocejou.
“Então vá dormir e me deixe em paz, estou ocupado demais agora.” Tentou fechar a porta, mas Sehun a segurou, o que fez Kyungsoo ter vontade de quebrar os dedos dele ali mesmo espremidos entre a porta e o batente da parede.
“Por que você é tão ignorante assim comigo?” Fez um bico. “Eu sou extremamente gentil com você e você me dá patada igual um cavalo.”
“Por sua causa eu vendi a porra da minha alma, não acha que é motivo suficiente?” Sehun ficou em silêncio por alguns segundos.
“Mas também foi por minha causa que você pode enxergar esse seu namorado. Deveria agradecer por isso, não?”
“Prefiro agradecer ao próprio demônio que vai vir me buscar daqui 4 anos do que agradecer a você por me colocar nessa cilada.” Resmungou.
“Fique sabendo que eu não vou desistir de você, mesmo que eu tenha que ser o mais inconveniente possível. Entendeu?” o baixinho revirou os olhos.
“Sehun, essa sua paixão platônica tem mais de oito anos, não acha que já está na hora de esquecer isso e deixar de pegar no meu pé? Eu estou praticamente casado com Jongin e você insiste em me perturbar todos os dias.” Sehun o encarou com desgosto.
“Eu nunca gostei dele, atrás de toda essa bela imagem de bom moço tem algo de errado. Eu já disse um monte de vezes e você insiste em defendê-lo.”
“Deve ser porque é dele que eu gosto e quero passar o resto da minha vida, muito ao contrário do que eu sinto por você que quero manter a maior distância possível.”
“Tudo bem, mas que fique sabendo que o seu prazo vai acabar daqui a quatro anos. Você se lembra do que a mulher disse não?”
Quando o tempo estiver acabando, sua visão começara a falhar novamente até que só reste você e a completa escuridão Foi o que a mulher disse 1 dias após o pacto de Kyungsoo ser selado.
“Eu me lembro...”
“Eu sei que você tem um relacionamento perfeito, mas ele não acredita em você quando fala do tal pacto, certo?” Kyungsoo assentiu de leve. “E quanto sua visão começar a ir embora? Ele vai continuar com você?” questionou sério e Kyungsoo ficou sem o que responder.
“Sehun?” os dois olharam para dentro do apartamento quando a voz de Jongin surgiu próxima, logo o rapaz apareceu com uma carteira em mãos. “O que faz aqui?” perguntou curioso.
“Huh, nada. Apenas vim dar os parabéns ao casal.” Sorriu forçado e trocou olhares com Kyungsoo que a esta altura já estava sem ânimo para comemorar o aniversário de namoro. Mas sua vontade de jogar Sehun pela janela ainda era enorme. “Bem, estou indo agora. Preciso me preparar para a prova de amanhã.” Se curvou para o casal e saiu da presença deles indo em direção as escadas para o décimo oitavo andar o qual morava em um pequeno apartamento assim como os outros dois.
“Aqui está sua carteira, Soo.” Estendeu uma carteira preta de couro para o namorado. Ao olhar para o rosto do mesmo percebeu que algo estava errado. “Aconteceu algo?”
“Nini...” o chamou pelo apelido e Jongin teve a certeza de que havia algo errado. “Podemos apenas ficar em casa hoje? Não estou me sentindo bem.” Mentiu.
“Você está passando mal?” Kyungsoo negou.
“Apenas estou indisposto. Por favor, vamos apenas ficar em casa.” Jongin passou a mão pelos fios de cabelo e suspirou desanimado. Todos os seus planos para aquele dia especial foram por água a baixo e ele tinha certeza que era culpa da aparição repentina de Sehun.
“Está bem, então apenas me espere. Eu volto logo.” Abriu a porta do apartamento que segundos atrás fora fechada por Kyungsoo.
“Aonde você vai?”
“Comprar o nosso almoço.” Sorriu gentilmente. “Assista um pouco de televisão enquanto isso.” Kyungsoo assentiu e Jongin com passos rápidos logo desapareceu pelo corredor do décimo quinto andar.
“Eu te odeio Oh Sehun.” Disse bravo e fechou a porta indo em direção ao sofá.
Como Jongin disse, Kyungsoo se deitou no sofá e ligou a televisão, não havia nada de interessante para se assistir então a deixou ligada em um canal qualquer. Após 15 minutos que Jongin havia saído Kyungsoo já estava entediado, desligou a televisão, pois todas aquelas vozes estavam lhe dando dor de cabeça e ficou observando o teto branco para passar o tempo. Mais 20 minutos foram o suficiente para Kyungsoo ficar impaciente e se levantar do sofá, pegou o celular que estava sobre a raque em que ficava a televisão e mandou uma mensagem para Jongin.
11h30min Soo: Jongin-ah, você vai demorar muito?
11h31min Soo: Estou com fome.
11h35min Nini: Sinto muito Soo, houve um imprevisto no meu trabalho e estou aqui agora.
1h35min Nini: Você pode almoçar sozinho hoje?
1h36min Nini: Realmente não há como eu voltar a tempo para o almoço.
11h37min Soo: ...Ok~
11h38min Soo: Te vejo mais tarde.
11h46min Nini: Coma bem. Até mais tarde!
Kyungsoo respirou fundo ainda mais desanimado do que antes.
“Isso é tudo culpa daquele embuste do Sehun.”
Jogou o celular sobre o sofá e foi para a cozinha. Vasculhou a geladeira e não havia quase nada para comer, apenas uma garrafa de soju e algumas coxas de frango frito que havia sobrado do jantar da noite anterior. Pegou a garrafa e o pote de frango e colocou sobre o balcão de madeira que havia ali mesmo.
Esquentou o frango no microondas e com dificuldade abriu a garrafa de bebida, sentou-se na banqueta e começou a comer. A casa estava silenciosa como sempre, sem Jongin tudo aquilo era um tédio, mas Kyungsoo sabia que Jongin não havia feito aquilo por mal. Se teve que ir para o trabalho invés de almoçar consigo haveria um bom motivo. Enquanto almoçava sozinho e olhava janela a fora, escutou um estalar de língua atrás de si.
Imediatamente largou o frango e com um enorme sorriso no rosto virou-se para trás a fim de encontrar Jongin.
Mas não era Jongin, muito menos alguém que gostaria de ter a companhia.
“Você!” Kyungsoo se levantou de supetão e bateu o quadril no balcão de madeira, sugou o ar pelos dentes em sinal e dor. O outro apenas riu.
“Você deveria cuidar melhor de seu corpo, não podemos fazer outro pacto para reconstituí-lo.” Kyungsoo havia esquecido o real sentido de sarcasmo há anos atrás e naquele exato momento o sentiu mais presente do que nunca.
“O que faz aqui?” perguntou com medo.
“Essas são suas Boas-Vindas?” balançou a cabeça em negação.
“Como entrou aqui?”
“Eu posso entrar onde eu quiser, menos dentro de você. Acredito que seria uma sensação única.” Um sorriso surgiu em seus lábios e Kyungsoo sentiu seus pêlos se eriçarem.
“Eu estou perguntado.” Sua expressão era séria demais enquanto o outro apenas mantinha um sorriso nos lábios. “Como entrou aqui?”
“Apenas bati minhas asas e Voua La. Estou aqui.”
“Ainda falta 4 anos, Chanyeol.” O demônio se aproximou e Kyungsoo deu um passo para trás, novamente batendo o quadril no balcão.
“Faz muito tempo Do Kyungsoo.” Se aproximou mais e com firmeza segurou o queixo do baixinho o forçando a encará-lo. “É bom te ver de novo.”
E naquele momento não era Sehun quem Kyungsoo desejava jogar pela janela...
Era Chanyeol.
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