Mingyu riu consigo mesmo e revirou-se na cama desistindo de render-se ao sono. O motivo do sorriso em seu rosto era o inacreditável fato de que havia beijado Jeon Wonwoo, devia ter perdido todo o juízo restante para cometer tal ato. Dissera a ele que fora uma escolha, mas a verdade é que por um segundo parou de lutar contra seus desejos e foi o suficiente para perder o controle.
Lembrou-se de Minghao ter dito que Jeon não gostava de ser tocado ou beijado e como em contradição Jeon havia se segurado ao corpo de Mingyu, saboreado os lábios do corvo buscando por mais do seu gosto e a forma como havia gemido contra a boca dele era o som mais sensual do mundo. Mingyu estava duro apenas com a lembrança e começando a pensar que talvez fosse a hora de conseguir outro apelido para o príncipe porque nada sobre ele era gelado, seu corpo era puro fogo, seus olhos ardiam com desejo.
Sabia que precisava beijá-lo outra vez.
[...]
— Está mais lento do que o normal. — Disse Minghao parando para esperá-lo durante a segunda volta pelo pátio da sua corrida diária, era uma forma de disciplina.
— Não, não estou. — Mentiu.
— Você transou?
Seu pau apertou-se dentro do calção em resposta porque automaticamente ele pensou no beijo.
— O que? — Perguntou.
— Normalmente quando ele me chamava no quarto sempre acabava em sexo. — Explicou.
— Eu não transei com Jeon Wonwoo. — Aquela conversa em voz alta parecia absurda. — Ele provavelmente morreria antes de ir para a cama com um corvo.
Hao deu de ombros.
— Só perguntei por via das dúvidas.
Mingyu tinha perguntas então se apressou para acompanhar o chinês.
— Você parece nervoso hoje. — Comentou.
— Vamos receber visitas.
Ele não precisou perguntar, Minghao prosseguiu por conta própria.
— Raposas. — As palavras começaram a jorrar. — Em um ataque das raposas minha mãe foi morta e eu levada para a China com apenas sete anos quando eles alegaram que eu era um deles uma vez que minha mãe havia traído a organização chinesa e fugido para a Coreia para se casar com Jeon Hyuk.
As raposas eram uma das cinco organizações no poder, Mingyu sabia, os chineses. Seu negócio principal eram drogas e por isso competiam diretamente com as serpentes.
— Passei seis anos sob o domínio das raposas até que Hyuk conseguiu negociar minha liberdade. — Continuou, jogando-se no chão para um descanso. Mingyu fez o mesmo. — Nunca me machucaram e sempre me trataram como um deles, mas eles mataram minha mãe e aqui era o meu lar. Você mais do que ninguém deve entender.
Ele entendia, não havia nenhum lugar no mundo como sua casa, não havia nada mais reconfortante do que estar cercado por corvos.
— Hyuk amava minha mãe e sempre me tratou como filho, assim como ela tratou os Jeon, especialmente Seungkwan. — Murmurou. — Vai ser tão difícil para ele encontrar as raposas quanto vai ser para mim.
A mansão estava mais agitada do que o normal, segurança dobrada, pessoas indo e vindo pelos corredores.
Jun os encontrou na metade do caminho para o quarto e o arrastou na direção contrária.
— Raposas. — Explicou empurrando Mingyu em um dos banheiros principais, não haviam permitido que ele os usassem até agora. — Entre e fique apresentável, as roupas estão penduradas.
Wonwoo o queria na reunião?
A pergunta ficou na sua mente enquanto mergulhava na imensa banheira, permitindo-se relaxar quando a espuma morna deslizou pela sua pele, tão macia que parecia estar sendo tocada por longos e pálidos dedos de uma serpente em específico. O pensamento foi o suficiente para que sua mão tomasse o controle, apertando o pau entre os dedos, lembrando-se da pressão do beijo em seus lábios.
Ele ainda o odiava, mas o desejava na mesma intensidade. Como era possível?
Realmente estava a um passo da insanidade.
Após banho e roupa trocada Mingyu foi levado por Jun ao castelo de gelo, onde todas as decisões de Wonwoo eram tomadas, onde ele decidia as peças importantes no seu jogo. Jeonghan, Seungkwan e Wonwoo já estavam ali e não se intimidaram com a presença do corvo
— Você vai negociar com raposas! — Seungkwan acusou enfurecido, Jeon recostado na janela pareceu não dar a mínima. — Levaram Minghao, mataram a mãe dele! Ela era como uma mãe para mim.
— Negócios são negócios. — Ele disse, ignorando totalmente o comentário anterior do irmão. — Precisamos de aliados se queremos destruir os lobos e você sabe que as raposas são poderosas.
— Como você vai ter o sangue frio de apertar a mão do assassino da nossa mãe e chamá-lo de aliado? — O outro retrucou.
— Eles estão aqui. — Jun informou, espiando dentro da sala novamente.
Wonwoo virou-se para Seungkwan.
— Você vai ou fica?
Ele o encarou por um longo segundo parecendo exausto antes de responder.
— Quero ficar.
— Ótimo, peça que entrem. — O outro ordenou.
Jun fez como ordenado e um segundo mais tarde a sala foi invadida por cinco raposas, dois homens e três mulheres no total. O último homem parou na metade do caminho, encarando Mingyu onde estava com olhar de desprezo para o corvo tatuado em sua pele.
— Algum problema? — Jeon puxou sua atenção de volta.
— Um corvo. — Ele cuspiu as palavras em um coreano mal falado por conta do sotaque chinês.
— Ele fica. — Wonwoo rebateu, ninguém contrariaria aqueles olhos implacáveis.
— É o seu novo brinquedinho? — A raposa questionou, os olhos estudando cada parte do corpo de Kim.
— Algo assim. — A serpente disse parecendo entediado.
O homem finalmente tirou os olhos de Mingyu e juntou-se aos companheiros em um dos sofás.
— Vamos, junte-se a nós. — Jun sussurrou, colocando a mão de maneira amigável sob o ombro de Mingyu.
Ele sentou-se do lado de Jeonghan que era o mais confiável entre eles, observando cada uma das raposas, mas nada parecia suspeito.
— Não fomos devidamente apresentados ainda. — Disse o homem que havia engolido Mingyu com os olhos. — Jin Zhao.
A jovem serpente ignorou sua mão estendida e virou-se para a única mulher que havia se juntado a eles no sofá.
— Eu não negocio com subordinados. — Então ele finalmente estendeu a mão. — É um prazer conhecê-la, Mei Hu.
A mulher pareceu surpresa ao ser reconhecida. Mingyu quase queria rir, há semanas atrás era ele quem estava nessa situação, Jeon Wonwoo estava sempre um passo a frente.
— Confesso que fui pega de surpresa. — Hu respondeu. — Por favor me chame de Mei.
— Você insulta a minha inteligência se acha que eu não conheço o rosto de cada um dos meus inimigos e aliados. — Sem formalidades, Wonwoo podia ser mais novo e talvez por isso sentia a necessidade de se impor perante os outros líderes.
Mei riu provavelmente sentindo-se estúpida, Mingyu conhecia o sentimento.
— Este é Jin, meu segundo no comando. — Disse por fim.
Ela não apresentou o segundo homem e as outras garotas, provavelmente eram a sua proteção. Kim achou incrível, mulheres são muito mais centradas e resistentes quando se trata de proteger aquilo que amam e pelo olhar em seus olhos elas certamente veneravam sua líder.
— Realmente sinto muito que o último contato entre serpentes e raposas não tenha acabado da melhor forma. — Mei continuou.
— Águas passadas. — Wonwoo respondeu simplesmente e Mingyu viu Seungkwan a um passo de cometer um crime de ódio.
— Ficamos surpresos e desconfiados quando recebemos o convite, mas eram problemas dos nossos pais. O seu está morto e o meu em uma cama debilitado, talvez nós possamos começar uma nova era para raposas e serpentes.
— Temos um inimigo em comum. — Jeon foi direto ao assunto sem delongas ou galanteios. — O líder deles em pessoa tentou me assassinar, da maneira mais covarde possível, diga-se de passagem.
— E agora você quer colocá-lo em seu devido lugar... — Jin comentou quase para si mesmo.
Wonwoo sorriu de maneira perversa.
— Eu não sou um homem que esquece com facilidade.
Mei concordou.
— Parece um bom negócio, juntamente com os corvos vocês ainda são a mais poderosa das cinco organizações. Nos associar seria bom para o nosso nome e sabemos que em armas temos um arsenal de melhor qualidade.
— Ter um nome reconhecido no mercado ainda não será suficiente para fazer um acordo. Eu não gosto de você. — Jin atacou.
— Eu sei. — Jeon não hesitou. — O que querem em troca? Qual o seu preço?
— Ah, — O sorriso no rosto de Mei dizia que Wonwoo não ia gostar daquilo. — Um preço alto para alguém do seu tipo.
— Alguém do meu tipo? — O tom do príncipe era baixo e ainda assim ameaçador.
Mingyu respirou aliviado quando lembrou que ainda possuía suas facas ou agora ele provavelmente estaria no pescoço de Hu com uma delas.
— O que o minha líder quer dizer é que negócios ainda são feitos por meio de casamentos. — A informação só comprovou que Mei estava falando da sexualidade do jovem líder. — Ela não confia em você e acha que a única maneira de você não se sentir tentado a machucar a família Hu é tornar-se parte da família Hu.
Wonwoo levantou uma sobrancelha parecendo irritado e ao mesmo tempo desacreditado, Jun riu achando graça da situação, Seungkwan estava boquiaberto.
— Em que século essa mulher vive? — Foi o que ele disse por fim.
— Estou pensando em uma aliança futura, podemos ligar o destino de raposas e serpentes para sempre. — A chinesa continuou. — Pode ficar tranquilo porque você não faz o meu tipo, digamos que somos iguais.
Jun explodiu em gargalhadas e Wonwoo o repreendeu com um olhar frio.
— Você terá autonomia sobre minha herança, incluindo propriedades e minha parte no negócio de armas e drogas e claro, o nosso apoio contra Saito Hiroshi de graça, como presente de casamento. — Mei estava realmente séria.
Jeonghan observou com diversão enquanto um Mingyu perturbado olhou para Wonwoo vendo-o cogitar a ideia.
— É apenas fachada, formalidades. — A raposa insistiu.
— Ele não vai se casar com uma raposa, ok? Formalidade ou não. — Seungkwan soou como uma mamãe ursa furiosa. — Não precisamos de qualquer apoio. Vamos conseguir de uma maneira ou outra.
— Ele está certo. — Jun concordou, mas ainda havia vestígios de um sorriso em seu rosto. — Won? Diga a ela para ir se foder.
Jin levantou-se ameaçando um ataque contra Junhui, Mei o puxou de volta impedindo-o.
Mas Kim realmente olhou para Jeon, sabia que ele estava cogitando a ideia. O próprio corvo o faria em seu lugar, era boa demais para ser recusada. Wonwoo era um homem inteligente.
— Wonwoo? — Kwan chamou, mas ele ainda estava distante.
Parecia que Mingyu sabia exatamente o que o líder diria em seguida.
— Deixe-nos a sós por um segundo.
[...]
Batidas na porta fizeram Soonyoung levantar os olhos e ficou surpreso com um dos estagiários espiando e esperando por permissão para entrar.
— O que diabos está fazendo aqui? — Por algum motivo ele ficava nervoso ao redor de Lee Chan, irmão mais novo do seu parceiro, mas sabia que não conseguiria se livrar dele.— Vão começar a pensar que tenho um namorado, mas essa não é a pior parte, a pior parte é pensarem que esse namorado seria você.
— Estou ofendido. — Ele fingiu chateação, entrando e se aconchegando na segunda cadeira onde Seungcheol normalmente se sentava. — Seria uma boa ideia. Você não diz que as estagiárias usam de todos os artifícios ridículos para flertar com você?
Bom, é verdade, mas Kwon não queria passar a sensação de estar ligado romanticamente a qualquer pessoa, especialmente ele.
— Tenho certeza de que elas fizeram uma aposta e quem conseguir dormir com o detetive Kwon Soonyoung primeiro fica um mês sem pagar a cerveja. — O jovem zombou. — Vamos, ria. Foi engraçado.
— Não foi. — Soonyoung mentiu, esforçando-se para não tirar os olhos dos documentos em suas mãos ou não seguraria o riso por muito tempo.
— Seungcheol pediu para que eu o ajudasse enquanto ele se recupera.
Soonyoung não gostava da ideia, especialmente porque ele já havia pensado uma ou duas vezes sobre o quão bonito Lee Chan era e Seungcheol o mataria se colocasse os olhos sob seu irmão caçula.
— Ótimo, comece me trazendo um café. — Resmungou.
— Eu não-
— Não foi um pedido. — O mais velho rebateu.
Chan pareceu relutante, como se esperasse uma mudança de ideia, mas ela não veio. Ele suspirou e levantou-se se retirando para acatar a ordem, Soonyoung lutou contra a vontade de encarar a forma como o jeans apertava sua bunda quando ele saiu, mas foi impossível.
O detetive voltou sua atenção para os papéis tentando entender porque diabos os lobos se arriscariam ao ponto de explodir um evento organizado pelas serpentes, a organização mais poderosa entre as cinco, mas nada fazia sentido e colher depoimentos agora não ajudaria, não até ter informações suficientes para pegar as serpentes em suas próprias mentiras. No momento ele precisaria ir mais fundo e com a sua outra metade afastada por um tempo seria difícil, um bonito estagiário com língua afiada teria que ser o suficiente.
Ele passou as mãos nas chaves do carro e se dirigiu para a saída, girou a maçaneta e deu de cara com Chan do outro lado com um copo de café expresso na mão.
— Ótimo, estamos saindo. — Respondeu tirando o copo da sua mão e lançando-o direto na lixeira.
— Ei!! — O jovem respondeu se apressando para segui-lo para o corredor. — Eu tive que seduzir a moça da cantina porque a fila estava imensa.
— Não deu certo, você demorou demais. — Foi tudo que disse.
— Onde vamos?
— Ah, você vai descobrir. — Kwon lhe deu uma piscadela atrevida. Ele estava sempre flertando com as pessoas e adorava como elas coravam ou desviavam os olhos diante dos seus gestos, mas não Chan.
O garoto havia mantido os olhos nos seus e ido ainda mais longe ao piscar de volta.
Borboletas dançaram no estômago do detetive e ele afastou os pensamentos.
Soonyoung dirigiu por toda cidade até chegarem em um bairro periférico onde era a toca dos lobos e havia um clube de onde eles gerenciavam seus negócios.
— Isso é ousado. — Lee comentou quando percebeu onde estavam, assim que estacionaram.
— Acha que não sei? — Ele murmurou, começando a se arrepender. — Droga, você é só um estagiário e pior, o irmão mais novo do meu parceiro se algo te acontecer...
O homem girou a chave novamente pronto para dirigir e dar meia volta quando o mais novo o impediu.
— É o meu trabalho, não importa de quem sou irmão ou filho. — O jovem disse. — Você agiria assim com qualquer outro estagiário?
— Não. — Sua resposta foi imediata. — Claro que não.
— Ótimo, então por um dia apenas finja que Cheol não é meu irmão.
Chan abriu a porta para sair do carro, mas Soonyoung agarrou seu cotovelo puxando-o de volta.
— Escuta. — Disse tentando soar o mais sério possível. — Se eles descobrirem quem somos não nos expulsarão simplesmente, nos levarão para um quarto escuro no porão e colocarão balas na nossa cabeça. — Soonyoung fez uma pausa buscando os olhos do estagiário em busca de medo, mas não havia sinais. — Você ainda está dentro?
— Estou dentro. — Respondeu o outro. — Agora podemos entrar? É a minha música tocando lá dentro.
Kwon não pôde evitar o sorriso que se formou no seu rosto, o garoto era uma figura.
A iluminação do clube era baixa com um toque sensual, Soonyoung gostava de como a luz refletia no rosto de Chan, mas ignorou esse pensamento. Ele não gostava da ideia do irmão mais novo do seu parceiro naquele lugar, haviam drogas e prostituição correndo livres ali em qualquer lugar que você olhava, mas ele não tiraria os olhos de Chan.
— Você é uma gracinha. É novo por aqui certo? — Uma bartender com o dobro da idade de Lee disse para ele assim que ambos puxaram banquetas para se sentarem. — Eu definitivamente me lembraria desse rostinho.
O rapaz sorriu fingindo inocência, mas Kwon sabia que não havia nada de inocente sobre ele.
— É a minha primeira vez aqui.
— Vai deixar as mulheres e os caras loucos. — Ela continuou.
Soonyoung não gostou nenhum pouco do comentário e decidiu se intrometer. — Dois chopes, por favor.
— O que foi isso? — Seu parceiro substituto perguntou quando a mulher se afastou para buscar as bebidas. — Vai nos fazer ser expulsos antes de descobrirmos qualquer coisa.
— Foda-se, ela estava te tratando como um maldito pedaço de carne.
— Não é como se eu não estivesse acostumado.
Ele olhou para o olhar distante de Chan, se perguntando o que diabos havia acontecido para fazê-lo se sentir assim, se sentir cem vezes menos do que ele realmente era, odiava a ideia.
— Aqui está. — A bartender retornou com suas bebidas.
— Obrigado. — Foi Kwon quem disse, dessa vez tentando soar mais gentil.
A risada contagiante do rapaz o pegou de surpresa, mas ele descobriu que gostava do som.
— O que é tão engraçado?
— Você. — Sussurrou, Soonyoung quase não escutou. — Está com ciúmes.
— Você é ridículo. — Rebateu. — Uma criança ridícula.
Ele virou toda a bebida em seu copo e se levantou.
— Onde você está indo? — O detetive perguntou confuso.
— A criança ridícula vai fazer o seu trabalho.
Não houve tempo para discussão, quando Soonyoung se deu conta Lee Chan estava atravessando o clube indo em direção ao braço direito de Saito Hiroshi, líder dos lobos. Kwon se preparou para levantar e ir até lá intervir, mas o homem praticamente engoliu o estagiário com os olhos e o convidou silenciosamente para uma bebida.
Aquilo não ia acabar bem.
[...]
Mingyu não foi chamado pelo resto do dia, nem mesmo quando a reunião com Mei acabou foi falado sobre o assunto, Jeonghan informou que também estava no escuro.
— Ele foi para o terraço desde que deixou a sala e não saiu de lá desde então. — Yoon informou, já era tarde da noite. — Pediu para não ser incomodado.
Mingyu não dava a mínima para as ordens de Jeon Wonwoo, ambos sabiam disso.
Quando ele abriu a porta para o terraço o vento frio penetrou-lhe a pele, mas não o fez recuar. Wonwoo estava encostado no parapeito, fumando enquanto observava o quanto o mundo era pequeno perante o seu império.
— Mais uma de suas escolhas idiotas? — Perguntou sem ao menos virar-se para saber se era ou não Mingyu.
— Fiquei com algo que não me pertence. — Respondeu o corvo juntando-se a ele no parapeito.
Seu cabelo estava selvagem por conta do vento, permitindo-lhe um olhar mais humano, uma versão simplista do perverso príncipe de gelo.
Kim entregou-lhe a faixa com as facas e o líder sequer o encarou quando tirou das suas mãos e jogou-a sob a mesa no canto.
— O que disse a ela? — Mingyu perguntou, não conseguiria dormir sem essa resposta.
Jeon riu sem humor, soltando a fumaça do cigarro ainda olhando para o nada a sua frente.
— Você sabe a resposta. — Disse. — Qualquer líder saberia.
Kim se deu conta de que estava segurando a respiração quando soltou-a de maneira pesada.
— Não parece tão ruim. — Foi a coisa mais estúpida a se dizer. — Ela é jovem, saudável, rica... Acho que vai agradá-lo.
Wonwoo livrou-se do resto de cigarro e finalmente o encarou, sua expressão pela primeira vez entregava suas emoções com clareza.
Medo da ideia desse casamento.
Mingyu nunca o tinha visto tão vulnerável antes.
— É preciso mais do que isso para me agradar.
O olhar que a serpente lançou-o esbanjava luxúria, seus olhos ardiam, prazer completo escapando do seu olhar e alcançando o homem á sua frente.
Não queira ele. Você não pode tê-lo.
Mingyu tentou pensar sobre isso, mas ele sabia o que Wonwoo queria dizer: nenhuma mulher podia agradá-lo.
Os olhos negros fixaram-se em seus lábios e a respiração do corvo tornou-se superficial.
Oh, porra.
O vento carregou seu cheiro, forçando Mingyu a inalar, seu mundo começou a girar com pensamento de beijá-lo.
Seu cheiro, sua boca, seu corpo pressionando o dele. Wonwoo era frio como gelo o tempo todo, até onde lhe interessava pelo menos, Mingyu sabia o quão ganancioso ele podia se tornar.
— Continue olhando para mim assim. — Sua voz finalmente saiu. — E nós vamos ter problemas.
Kim afastou-se para sair antes que perdesse o autocontrole, ele viu a mão de Wonwoo mover-se por um segundo como se tentasse alcançá-lo, mas recuou.
Mingyu o encarou por um longo segundo.
Me peça para ficar.
Só restou silêncio entre eles.
Quando saiu para o corredor deu de cara com Jeonghan esperando por ele, não teve nem tempo para se recompor do que quer que fosse que tinha acabado de acontecer ali.
— Como você faz isso? — Perguntou acompanhando-o.
— Isso? — Questionou.
— Mantê-lo calmo. — Explicou. — Seokmin era o único que conseguia.
Ele deu de ombros.
— Acha que ele realmente vai se casar? — Desviou o assunto.
— Se não o fizer vai começar uma guerra maior do que essa que já estamos.
Não havia mentiras em suas palavras. Wonwoo havia dito que se casaria com Mei, se usasse as raposas e não honrasse sua palavra, os dois reinos se matariam.
— Por que me acompanhou até aqui, afinal? — O corvo perguntou quando pararam frente a porta do seu quarto. — Voltamos a quando você era meu carcereiro?
Jeonghan riu daquele seu jeito sincero e leve.
— Você tem visitas. — Informou, acenando para dentro do quarto.
Seu coração parou por um segundo.
Não. Não tinha como ser Wonwoo, simplesmente não fazia sentido.
Sem mais delongas ele girou a maçaneta e entrou, fechando a porta atrás de si enquanto Yoon se afastava.
Seungkwan estava do outro lado do quarto, encarando a janela como se fosse a coisa mais atraente que já vira.
Fixado.
— Kwan? — Chamou, mais confuso do que curioso.
O rapaz virou-se e havia vestígios de choro em seus olhos, ele certamente havia chorado, mas principalmente havia raiva. Caminhando em sua direção o garoto colocou uma pasta em suas mãos.
— Não se preocupe comigo, só passei para entregar o presentinho que deixaram no meu quarto hoje. Acho que erraram de endereço. — Foram suas últimas palavras antes de deixar o quarto.
Mingyu encarou a pasta em suas mãos, não estava com um bom pressentimento sobre ela.
Devia abri-la ou esperar até o amanhecer?
Não, não suportaria mais um segundo no escuro.
Abrindo a pasta seu coração sequer parecia mais no lugar, seu corpo estremeceu e começou a suar diante das imagens.
Hyuk estirado no chão com uma bala na cabeça, fotos da sua mãe e principalmente fotos de Mingyu, um monte delas ligadas por uma seta ao seu nome e ás fotos de Hyuk assassinado, basicamente um dossiê de acusação.
Ele sabia quem Mingyu era e agora também achava que ele havia matado Jeon Hyuk.
[...]
Havia praticamente uma tempestade lá fora quando Seungkwan saiu da mansão, nada de carros ou motos, ele precisava respirar um pouco longe desse mundo.
Havia confiado em Gyu ou Mingyu como era seu verdadeiro nome, arriscado a própria vida para salvá-lo, achou que havia encontrado um amigo e este acabou por ser o assassino do seu pai, havia também o fato de que seu irmão estava aceitando se aliar com os assassinos da única figura materna que conhecera.
Estava cercado de traidores.
Ele correu cambaleando pela rua, ouvindo vozes logo atrás o chamarem, mas ignorou e desapareceu na avenida sendo encharcado pela forte chuva.
Para onde estava indo?
Nem sequer estava com seus cartões no bolso, frustração o invadiu, mas não queria voltar lá e assumir que estava agindo como um adolescente impulsivo e idiota.
Diminuindo o ritmo o jovem seguiu caminhando pela rua, esfregando o rosto para limpar as lágrimas e água da chuva que dificultavam sua visão, os carros buzinavam como se ele fosse louco ou algo do tipo, mas ele ignorou, estava começando a ficar bom nisso.
— Precisa de carona?
Abafando um grito na garganta Seungkwan saltou em seu lugar, chocado com a voz que soou á sua direita. Virando-se ele deu de cara com um jovem rapaz que provavelmente tinha sua idade em um jeep surrado, inclinado para fora na janela e os olhos âmbar fixos nele.
— Não. — Murmurou continuando a andar, o rapaz parecia simpático e era bonito, mas ele não estava no clima para flertes naquele instante.
Mesmo para um rosto tão bonito quanto aquele.
— O que um bonito rapaz está fazendo aqui fora no meio de uma tempestade? — Insistiu, guiando o carro ao lado de Seungkwan em uma velocidade mínima.
— Essa é uma cantada ruim. — Comentou, apertando os próprios braços para afastar o frio.
Seu riso quase soava como música boa para o jovem príncipe, tão doce e sincero, ele sorria com todo o seu corpo.
— Eu nunca fui bom nisso. — Confessou. — Vamos, entre no carro. Você parece perdido e eu não acho que me pareço com um assassino em série.
Seungkwan concordou dando mais uma encarada no motorista misterioso.
Longe disso. Pensou.
Seus olhos transmitiam alguma paz e ele poderia passar o dia todo ouvindo sua voz serena.
— Um.
— Sério? — Perguntou incrédulo. — Você está contando para mim? Não sou uma criança.
— Dois.
O que?
— Eu nem te conheço.
— Três!
O rapaz abriu a porta do jeep e saltou na sua direção. Seungkwan pensou rapidamente em todos os possíveis golpes que poderia usar para manter o homem longe, mas parou de raciocinar quando braços se fecharam ao seu redor e eletricidade humana correu pelo seu corpo.
— Você não pode... — A porta do carro foi fechada quando o jovem o empurrou no banco carona.
Seungkwan era uma serpente, sua família tinha poder e dinheiro, talvez aquilo fosse um sequestro relâmpago ou algo do tipo, mas ele não resistiu, não queria resistir.
Segundos depois o estranho se sentou no banco motorista e começou a dirigir sabe Deus para onde. Seungkwan olhou para ele segurando o riso, havia conhecido muitas pessoas insanas, mas nenhuma como aquele bonito estranho.
— Você sempre joga caras assim no seu carro? — Zombou.
Ele sorriu novamente daquele jeito que iluminava todo seu rosto, era a droga de um sorriso maravilhoso.
— Só quando é necessário.
— Para onde está me levando? — Perguntou por fim.
— Eu não sou um assassino.
A jovem serpente não conseguiu conter o próprio riso, fazendo o rapaz olha-lo confuso.
— Desculpa, é que sou um lutador de kickboxing e sua estatura é tão inofensiva que eu mesmo me mataria se você conseguisse me dominar.
— Ei! Isso não foi legal. — O outro disse fingindo-se ofendido, mas havia um sorriso em seu rosto. — Você tem um nome, lutador?
— Você tem? — Kwan brincou de volta.
— Todos temos. — Ele murmurou, tirando uma das mãos do volante para indicar um casaco de time no banco de trás, Seungkwan o alcançou sem hesitar. — Hansol.
— Hansol. — O Jeon mais novo repetiu, enquanto se aconchegava dentro do casaco do estranho.
Cheirava bem, notou.
— Eu ainda não sei seu nome.
Seungkwan sorriu. — Você vai descobrir.
— De lutador a garoto misterioso, gosto disso.
— Você está dirigindo em círculos? — Ele notou.
Hansol meio que suspirou e riu ao mesmo tempo parecendo constrangido. — Eu não sei para onde levá-lo, mas não estou pronto para deixá-lo ir.
Ele estava flertando e Seungkwan podia flertar de volta, ele era bom nisso, mas de alguma forma queria se abrir emocionalmente com aquela linda criatura.
— Eu estou... Estou perdido. — Confessar em voz alta o fez perceber o quanto era real.
— Sorte a sua que tenho experiências com pessoas perdidas graças ao meu melhor amigo. — Hansol murmurou. — Sei que você não me conhece e eu te joguei no meu carro como um sequestrador maluco-
O riso de ambos se misturaram e soou para Seungkwan como uma combinação perfeita.
— Mas você pode ficar no meu apartamento essa noite.
Seungkwan imaginou que estava o olhando naquele momento com muita desconfiança porque Hansol o encarou de volta com um sorriso divertido, quase galanteador.
— Você mesmo se mataria, se lembra?
— Ok. — Rendeu-se por fim.
— Eu não vou te machucar, prometo. — Hansol garantiu.
— Existem muitas formas de machucar alguém. — Seungkwan rebateu.
O rapaz lhe deu uma piscadela reconfortante, tirando os olhos da estrada apenas por um segundo.
— Pretendo não preencher nenhuma delas, lutador.
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