Mirella POV
Acordei quase em cima de alguém, forcei minhas vistas até ver Tati, deitada ao meu lado no sofá. Me lembrei que dormimos aqui.
Me levantei tentando não acorda-la e sai em direção ao meu quarto. Fiz minha higiene e tomei café. E desci pra boca. Os meninos que cuidam da segurança me deixou entrar.
Cumprimentei a todos e deitei no sofá que tinha ali. Observei o lugar e alguns meninos estavam empacotando drogas e entregando para outros levarem pra fora, alguns estavam contando dinheiro e um outro estava anotando algo no caderno, Kauan estava comandando todos, JP era o vice e observava.
Ouvi o meu radinho tocando e era um dos aviãozinho, ótimo, alguma merda tinha acontecido.
Ligação on
-Chefe, tem uma mina loira querendo entrar na boca falando que é uma tal de Tatiane- Ouvi de fundo alguém dizer ‘é TatiANA’
-Manda ela esperar, em dez minutos eu colo ai fora.
Ligação off
Conferi o caderno e estava tudo certo, então sai da casa velha. Chegando no portão Tatiana estava sentada no chão, com uma cara um tanto emburrada.
-Ah, desculpa vir assim, eu não sabia se ia atrapalhar mas eu não tinha seu numero e minha mãe tava ocupada mas disse que se eu viesse até aqui, você me levaria pra conhecer o morro.
-Verdade, esqueci disso. Vem vou te mostrar.
Começamos a andar no morro e eu fui mostrando, casa por casa, comércios, padarias, mas nosso tour foi interrompido quando ouvi disparos, ou alguém tava brigando ou era mais uma invasão, implorei pra ser só uma briga e meu radinho não tocar mas tocou assim que eu parei de pensar.
Ligação on
-Diz que não...
-Ae, é a patroa daqui, não é? Mano, já peguei teus aviãozinho, se ce não brotar aqui em dois minutos, eu mato esse bonitinho, JP, né parceiro?.- Meu coração gelou, eu não conhecia essa voz.
Ligação Off
Fiquei com medo, mas segui firme, apesar de minhas pernas estarem bambas. Deixei Tatiana em casa e corri pra boca, agradeci por não ter nem um corpo, mas me amedrontei ao ver JP com uma arma apontada pra cabeça.
-Então é você?
-Eu o que?- Fiz cara de deboche.
-Você matou meus filhos, vagabunda! Ta achando que é o que?
Ai que fui perceber, os traços dele, idênticos ao rapaz que entrou na minha casa.
-Então foi você que não deu educação pra aqueles otários? – Debochei, mas minhas pernas estavam tremendo.
-Ta se achando muito, né? Quer que eu meta bala nos miolos desse bonitinho?
-Diz, o que ce ta querendo?
-Quero que você venha comigo.
-Eu vou, mas larga ele.
-E como vou ter certeza que você vai?
-Eu tenho palavra.
Ele soltou JP e eu vi ele falando com a boca, sem sair nem um som ‘Eu vou te salvar’ e uma lagrima caiu dos olhos dele.
Eu sai com aquele homem, fui até o carro dele e dentro do carro ele colocou uma espécie de capuz, seila, tampou meus olhos e eu deixei meus ouvidos atentos.
Me atentei quando o carro parou. Eu tremi de uma maneira, tive certeza que iria morrer. Ele saiu do carro, e eu soube quando ouvi a porta batendo. Ele abriu a porta do meu lado e me empurrou, eu cai com a cara diretamente no chão, senti sangue na minha boca. Ele me batia, dando socos e chutes e doía, doía muito.
Não gritei, não me movi, apenas senti, talvez eu realmente merecesse.
Ele parou de me bater, e senti meu short ser arrancado. Senti nojo e queria correr, mas, eu não conseguia me mover. Senti algo me penetrando,sem dó, saindo e entrando e quando mais as estocadas dele se movimentavam, mais repulsa eu sentia. Quando ele terminou o serviço dele, me senti sendo arremessada em um lugar. Ouvi o carro ligando e saindo. Quando o som sumiu, eu tirei o capuz da minha cara e olhei em volta, o lugar era lindo, uma roça de girassol, enorme, não tinha fim. Eu fui estuprada em uma roça de girassol. E ele só me jogou porque eu não me movi. Vesti meu short, agora rasgado, aos prantos. Me sentei olhando aquele lugar e chorei. Chorei como criança, encostada em um girassol, observando outro.
Me levantei com dificuldade,todos os meus ossos doíam, e a minha alma mais ainda. Caminhei por tanto tempo que pensei que minha perna ia cair. Minha blusa tava suja e rasgada, meu shorts também.
Andei mais de uma hora, em uma estrada de terra, por km’s que eu nem sonhava que conseguia. Cheguei a um lugar que parecia uma lanchonete. Pedi pra usar o telefone e eles permitiram, liguei pro único numero que eu sabia de cor, Guilherme.
Ligação on
-GUILHERME, PELO AMOR DE DEUS GUILHERME, VEM ME BUSCAR- Eu disse gritando, entre soluços.
-Onde você ta?
-Eu não sei, Guilherme, eu não sei, é uma lanchonete- olhei em volta e vi um nome- Lanchonete Almeida.
-Me da uma referencia
-Perto dos girassóis.- E chorei.
-Calma, eu vou ir.
Ligação off
Um senhor com a barba branca, e os cabelos ralos me olhava, com pena. Eu não deveria estar tão longe do morro.
Ele me ofereceu alguma coisa pra comer, e eu aceitei. Comi enquanto chorava.
Fiquei conversando com ele por horas. Duas, mais ou menos até ver um carro muito conhecido. Guilherme estava dirigindo e JP estava no banco do passageiro. Fui correndo até eles e me joguei no colo do Guilherme chorando como nunca. Eu precisava tanto.
Dei tchau ao senhor da lanchonete, entrei no carro e fui embora, em total silencio nos braços de JP. Quando percebi estava no morro, e enfim em casa.
Entrei e Tatiana veio ao meu encontro.
-Esta tudo bem? Eu fiquei preocupada.- Ele me abraçou e eu chorei como nunca.
Ela me trouxe devagar até o sofá e eu chorei feito criança, os três apoiaram, e me ajudaram, mas não me consolava, eu só pensava em vingança, em matar, em morrer. Me soltei deles, e subi, Guilherme veio atrás de mim, me ajudando a tomar banho, fiquei mais de meia hora embaixo do chuveiro, tentando tirar de mim o cheiro podre daquele homem. Sai do banho e Guilherme me trocou, deitei na minha cama e ali fiquei. Chorei baixinho, com medo. Chorei como nunca. As vezes JP vinha me ver, mas recuava, não entrou no meu quarto, ja Guilherme entrava mas não ficava. Tati não apareceu. Então adormeci.
Acordei gritando, alto, apesar de todo o meu corpo doer, eu gritei. Deveria ser um ataque de pânico, mas eu não conseguia me acalmar. JP apareceu na porta e entrou, me abraçou e meus gritos foram silenciados no seu peito, então meus olhos marejaram, contei a ele tudo o que aconteceu, e então eu vi que, ele chorou, junto comigo. JP não se descuidou de mim nem por um segundo. Ficou ali o tempo todo, dormiu comigo e assim foi o dia mais doloroso da minha vida.
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