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Eadlyn andava em círculos com uma planta da futura sede do parlamento na mão, o plebiscito real seria votado hoje, mas creio que o resultado seja bem óbvio. O que me admira é a princesa estar se importando com o que normalmente ela chamaria de "mísera construção".
Fecho a maquete em 3D, o barulho de seus saltos tilintando me desconcentra quase tanto quanto seu repentino apreço pela obra.
— Você não devia estar tomando chá com seus pais e a rainha Nicoletta?
— Irei depois.
— Será que eu posso saber o que de tão interessante você viu nessa planta? Até parece que está olhando um catálogo de tiaras.
Digo indo até sua alteza real, trabalhar com ela caminhando de um lado para o outro desse escritório não é algo possível.
— Está insinuando que eu não estou entendendo? — Ela pergunta com seu habitual olhar esnobe.
— Afirmando. — Respondo virando a planta que estava de cabeça para baixo. — Está ao contrário.
Ela sorri constrangida.
— Alice não para de falar nessa droga.
Eadlyn murmura colocando a planta sobre a mesa e indo até a janela ver a reunião no jardim.
— Droga não, isso deu trabalho, viu?! — Protesto.
— Desculpe, é...
— Que você detesta quando alguém toca em um assunto que você não tem pleno domínio? É, eu sei.
Comento me aproximando dela. Da janela dava para ver Alice falando alegremente sobre algo. Os cabelos castanhos refletindo na luz do sol, sempre fora uma garota bonita, de personalidade alegre, coisa que faz uma certa princesa ficar enciumada.
— Está me conhecendo demais, Woodwork.
Eady responde retirando meus óculos.
— Sabe que eu praticamente não enxergo sem eles, né?
— A intenção é exatamente essa.
Ela diz me dando um demorado beijo. O destino é mesmo irônico, quem diria que um dia nós dois estaríamos aqui, assim. Amar Eadlyn Schreave exige uma quantidade infinda de paciência, mas a cada beijo, a cada novo sorriso dela, tenho mais e mais certeza de que tudo valeu a pena.
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Se comparada a Alice, Camille é um amor. Ao menos ela não fica chamando a atenção o tempo todo para lembrar que está ali. Ao contrário da arquiteta brilhante que está se achando importante demais para o meu gosto.
No período da tarde decidi assistir com meus pais o resultado do plebiscito, a família real italiana também, o que inclui Alice, para o meu total desgosto.
— Sua coroação será ano que vem, não é? Meus parabéns, Eadlyn.
Alice diz com a voz cordial que tanto me irrita.
— Obrigada.
Respondo ansiosa para me ver livre dela.
O resultado da votação foi o esperado, 90% de aprovação para a implementação do novo sistema de governo.
A comemoração se deu em um banquete no jardim, coisas assim só acontecem em minha família mesmo, comemorar por perder parte do poder, tinha que ser na família Schreave. O banquete era apenas para a família e nossos hóspedes. Não me arrependi das horas que passei me arrumando, adorei o resultado, mais ainda quando vi vossa chatice italiana tão simplória.
— Você ainda vai ser rainha? — Osten pergunta enquanto limpo suas bochechas sujas de bolo, acho que etiqueta não é algo muito apreciado por ele, tenho pena da coitada da babá dele, a coitada tem dias bem animados, oito anos, um pestinha.
— Vou, só que terei que seguir uma Constituição e dividir meu poder com o parlamento e a primeira-ministra.
— Ah, ô Eady, quando você for rainha, o que eu vou ser?
— O meu irmãozinho chato. — Respondo rindo dele.
— Vai ficar tudo igual?
— Vai. Você continua sendo príncipe de Illéa, e...
— E o que?
— Se eu contar você não conta para o Kaden?
— Eu sei guardar segredo. — Ele responde curioso.
— Que bom então. — Digo me abaixando para ficar da altura dele. — Eu vou dar uma província só para você.
Falo fazendo o rir se achando um máximo. Mas pretendo fazer isso mesmo quando ele crescer, eu fico com a coroa, Kaden fica com parte do controle geral das províncias por ser o segundo na linha de sucessão, ou com o exército se preferir, acho justo que Osten tenha algum trabalho, se ele já apronta tanto agora que ainda é criança, imagina quando estiver adulto. Sorrio ao pensar nessa parte, não, vou dar alguma coisa para ele se ocupar.
— Sério?
— Sério. — Respondi enquanto ele sai todo feliz até mamãe, provavelmente indo contar o "segredo".
— Apreciando a noite? — Kile pergunta me oferecendo uma taça de champanhe.
— A manhã será maravilhosa.
— Por quê?
— A corte italiana voltará para casa. — Murmuro animada.
— Você fica tão linda quando está com ciúmes...
Ele diz assim que levo a taça aos lábios.
— Já disse que não estou com ciúmes.
— Ah não? Então vamos fazer companhia a Alice e a prima dela? Elas estão tão sozinhas...
Ele provoca só para testar o limite da minha paciência.
— Vá até elas que tu és um homem morto, Woodwork. — Aviso.
Ele simplesmente ri e me conduz de volta para mesa onde nossos pais estão sentados.
— Então é mesmo oficial, pombinhos? — A rainha Nicoletta pergunta tomando uma taça de vinho.
— De minha parte sim. — Kile responde olhando para mim. Pouso os olhos sobre a mesa sentindo minhas bochechas ficarem vermelhas.
— Olhe só isso, quero meu convite para o casamento ano que vem, não se esqueçam. — Ela exige.
— Pelo que vejo há grandes chances de ser ainda esse ano. — Mamãe comenta rindo enquanto olha para madame Marlee.
— Não seria má ideia. — Papai completa.
— Minha Alice também se casará ano que vem, não é filha?
O comentário da rainha da Itália me fez querer soltar fogos de artifícios. Uma chata a menos para me preocupar.
— Sim. — Alice responde envergonhada.
Kile ri discretamente, sei que é de minha crise de ciúmes, por baixo da mesa dei lhe um belo pisão no pé que o fez se calar. Na mesa ao lado Eikko conversava com uma das primas de Alice, ao que parece os dois estavam se dando muito bem. Também quem dera, a garota é ainda mais atirada do que Clementine.
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— Boa noite.
Despeço-me de Kile depois do banquete.
— Boa noite, minha namorada ciumenta.
Ele diz rindo. Reviro os olhos sem me indignar a responder seu comentário.
Kile me dá um último beijo, em seguida me observa subir as escadas rumo ao meu quarto. No topo da escada vejo o corpo todo ensanguentado de um guarda. Abafo um grito e desço as escadas às pressas aterrorizada com a cena.
— O que foi? — Kile pergunta quando corri de volta para ele.
— Eles estão aqui, os rebeldes. Tem um guarda morto lá em cima.
Ele agarra minha mão, aciono o alarme de segurança o mais rapidamente que consegui. Virando o corredor havia mais dois corpos, cubro as mãos com a boca tentando não externalizar o meu cada vez mais crescente medo. Kile se abaixa e pega a arma de um dos guardas falecidos. Caminhamos a passos largos pelo corredor, o barulho ensurdecedor de tiros ecoa pelo castelo.
— Você sabe de algum esconderijo mais perto do que o da biblioteca?
Ele pergunta ainda segurando minha mão com a mão esquerda e a arma com a direita
— Sei. Há um no final desse corredor.
...
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