Só consegui respirar realmente aliviada depois de cruzar novamente os portões do castelo, ainda não consegui me recuperar de todo aquele trauma que passei, o medo de uma bomba explodir se tornou meu companheiro constante.
— Você está bem, Eady? — Kile diz me ajudando a descer da limusine.
— Ótima, só aproveitando a recente onda de paz.
Digo ainda tentando assimilar a ideia de que estávamos casados, quem diria, se a Eadlyn de alguns anos atrás olhasse para mim agora certamente surtaria, talvez até enfartasse, certamente uma mistura das duas coisas. Um sorriso divertido se forma em meus lábios ao pensar nessa cena.
— Bom, agora vamos que eu preciso descontar na recepção as gafes que eu não cometi durante a cerimônia religiosa.
Ele diz bem-humorado enquanto me estende o braço para entrarmos no castelo. De fato, não protagonizamos grandes vexames, quer dizer, eu esqueci minhas falas por alguns segundos, minha voz falhou um pouco, mas ao menos a maquiagem não foi afetada por uma ou outra lágrima ocasional.
— Aproveite, hoje eu estou de bom humor. — Falo deixando um sorrisinho malicioso escapar por entre meus lábios.
— É?
Ele questiona se fingindo de desentendido. Atitude que só serviu para me provocar mais ainda, uma das especialidades dele, me fazer perder totalmente o controle da razão.
— Sim. — Murmuro.
— Em breve, meu amor, em breve.
Ele fala retribuindo meu sorriso, em seu rosto pude ver que ele estava tão ansioso quanto eu para finalmente podermos ficar a sós como marido e mulher. Marido e mulher, uma hora ou outra essa ficha precisa cair, ainda parece sonho, mas não é, é muito melhor que isso.
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Eadlyn escolheu cada ornamento da decoração à dedo, música clássica ecoava vinda de uma orquestra ao vivo, os convidados foram selecionados com extremo cuidado, o salão de baile não estava tão cheio quanto costuma ficar “precaução” o rei havia dito mais cedo, em pensar que ele além de meu padrinho agora é também meu sogro. Familiares, amigos, nobres minuciosamente selecionados e alguns poucos líderes estrangeiros, Eady não pareceu gostar tanto dessa limitação, era menos palco para ela, porém, se conteve.
Príncipe Kile Woodwork, não sei quando vou conseguir processar essa informação. Tornar-me aquilo que tanto desprezei obviamente não estava nos meus planos, mas qualquer plano pode ser reformulado com um belo par de olhos avelã e personalidade aparentemente fria, Eadlyn é bem o tipo de curva inesperada na estrada que obriga qualquer um a mudar a direção programada.
A primeira valsa foi um fracasso total, porém, como todos ainda estavam digerindo a ideia de que sua alteza real não havia fugido do altar como a mídia especulou, ninguém deu muita atenção para a minha perceptível falta de aptidão para com a dança.
— E então, como é ser príncipe? — Eadlyn pergunta depois de alguns minutos de silêncio nos quis simplesmente giramos não muito harmonicamente.
— Ótimo, as pessoas em volta perdem a capacidade de enxergar algumas coisas.
Brinco contemplando o rosto de minha esposa, ainda sem acreditar que ela é oficialmente minha. Eady sempre foi bonita, entretanto, hoje ela se superou em seu próprio charme. Não quis imitar a cunhada como fez antes para comover o povo. Manteve seu visual próprio e continuou bela em sua personalidade autoritária de sempre.
Os cabelos presos no alto, a tiara e as joias reluzindo, o vestido um tanto quanto ousado e o olhar decidido. Do outro lado do salão estava Camille, de rosa, sua cor preferida creio eu, cabelos soltos, joias discretas e sorriso singelo, não é à toa que as duas não se dão bem tendo personalidades tão diferentes.
— Aguarde, logo eles recuperam a visão, a coroa não te torna invisível, pelo contrário. — Comenta sarcástica.
— É um brinde chamativo. — Falo observando certos olhares invejosos ao longo do salão. Pobres nobres, não foi dessa vez que fortalecerem seu poder...
— Brinde?
— Sim, estou aqui pelo prêmio oficial.
— Que seria? — Ela pergunta arqueando a sobrancelha.
— Você.
Eadlyn se permite um sorriso, estava bastante orgulhosa, logo teria o que tanto quis, sua coroa, porém, hoje decidi deixa-la inflar o próprio ego em paz, não era bem farpas que eu queria trocar em nossa primeira noite de casados...
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Meu sogro veio tirar a filha para dançar logo depois, minha mãe também não tardou a aparecer, deixando papai ouvindo o “empolgante” dia da Josie.
— Eu tinha ou não tinha razão? — Mamãe questiona orgulhosa enquanto giramos sem muito ritmo, ao que parece ela já estava acostumada, meu pai é tão bom dançarino quanto eu.
— Talvez. — Brinco. Ela simplesmente dá aquele sorrisinho materno como quem sabe de tudo.
Depois de madame Marlee foi Josie a me cobrar seus cinco minutos de atenção.
— Você não tinha uma namorada mais simpática não? — Resmunga ainda irritada com Eadlyn por ela a ter chamado de pirralha minutos antes.
— Eady tem seus momentos.
— Não sei quais, mas se você diz...
Tiramos algumas fotos e deixei que ela respondesse algumas perguntas dos repórteres, Josie se sentiu a própria rainha com isso.
Os minutos se passam e minha esposa, que até minutos atrás cochichava algo com Ahren vem até mim.
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— Acho que terminei meus deveres reais por hoje.
Comento com Kile, meus pés doíam um pouco, não tive muito tempo para descansar por dar atenção aos convidados e os olhares nada amigáveis de Kristin não estavam me ajudando muito a relaxar.
— Não creio que seja essa a opinião dos convidados. — Ele responde me puxando para si com o pretexto de outra dança, embora eu soubesse que ele simplesmente queria me tocar sem parecer deselegante.
— Será que eu preciso disparar o alarme de incêndio? — Sugiro ansiosa por algumas horas sem fotos, entrevistas e nem convidados.
— Faça isso. — Ele aprova se divertindo com a ideia, suas mãos deslizavam devagar por minhas costas, uma das minhas tocava sua face, mas o baile ainda duraria uma eternidade.
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Depois de longas horas, finalmente o salão começou a se esvaziar. Aos poucos as pessoas foram desistindo da ideia de verem o sol nascer pelas janelas do castelo.
— Fim do expediente? — Kile sussurra em meu ouvido depois de termos nos despedido de meus avós e da duquesa Ashley, Kristin havia se retirado um pouco antes da mãe, certamente não queria trocar uma única palavra comigo, até entendo, mas também não fiz questão.
— Sim. — Respondo. Ele segura meu braço com um pouco mais de força e saímos do salão deixando meus pais com os últimos convidados, que por coincidência, eram justamente convidados deles, mal os conheço e não estou apressada para conhecer.
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— Você acredita nessa superstição? — Eadlyn pergunta assim que eu a coloco no chão, havíamos acabado de entrar no quarto dela.
— Precaução. — Respondo olhando para a expressão surpresa de Eady, ela sabia que o quarto seria decorado, só não sabia como, foi uma das poucas coisas que interferi em toda a ornamentação desse castelo hoje.
Pétalas de rosas azuis formando corações estavam na cama e por todo o piso, assim como a frase “eu te amo, Eadlyn” bem no centro do quarto, um buquê delas estava na escrivaninha, champanhe e duas taças estavam em uma mesinha, junto com uma cesta de morangos. Velas aromáticas vermelhas iluminavam o ambiente.
A caixinha de música que eu dei a ela preenchia o silêncio com sua bela melodia.
— Isso tudo é precaução? — Ela pergunta sorridente.
— Pode se dizer que sim. — Respondo tomando-a em meus braços.
— Até que você é criativo, arquitetozinho.
Eady diz caminhando em meio às pétalas, ela pega o buquê o apreciando por alguns instantes.
— Criatividade e arquitetura andam lado a lado, princesa mimada. — Provoco caminhando até ela, com cuidado para não tirar as pétalas do lugar. Abraço-a por trás distribuindo beijos por seu pescoço, ela se afasta um pouco.
— Espera, esse vestido e a maquiagem estão me incomodando. — Diz retirando a tiara e a colocando em cima da escrivaninha.
— O problema do vestido é fácil de resolver. — Comento sorrindo, ela retribui.
— Pervertido! — Diz em um falso protesto.
— Sou seu marido, oras! — Respondo rindo de suas bochechas coradas.
— Só mais cinco minutos. — Ela pede me dando um selinho.
— Em meu primeiro decreto de príncipe te dou três. — Brinco.
— Engraçadinho.
Ela responde indo se trancar em seu closet. Retiro meu paletó e a gravata e sento-me na cama esperando a boa vontade de minha esposa aparecer.
Passados alguns minutos ela finalmente sai do closet, os cabelos agora caiam livremente por seus ombros, seus lábios foram tingidos de vermelho e ela usava uma camisola azul, longa e bem decotada.
— Eu tinha escolhido uma branca, mas acho que essa combina melhor com a decoração.
Ela diz caminhando até a mesinha e segurando uma taça, levanto e abro a garrafa de champanhe servindo nós dois.
— A nossa felicidade. — Eadlyn diz propondo um brinde.
— A nossa felicidade. — Concordo aproximando minha taça da dela.
Seu sorriso atraente, seu corpo sedutor, suas vestes provocantes, manter a sanidade era impossível, tomo-a em meus braços.
— Acho que eu ainda preciso passar no escritório. — Ela brinca colocando o dedo indicador sobre meus lábios como provocação.
— Nem pensar.
Digo sentando-a na escrivaninha, ela sorri enquanto brinca com os botões de minha camiseta, meus lábios tocam os dela, desejos, minhas percorrem seu corpo sentindo a maciez do tecido de sua camisola.
— Eu te amo. — Sussurro em seu ouvido.
— Eu também te amo.
Ela responde me puxando pela camiseta para mais perto de si, sua boca encosta novamente na minha, meus lábios descem por seu rosto, clavícula e pescoço...
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