Mikey se aproximou, lentamente assustando o mais novo, que se contorceu um pouco, para tentar escapar.
— Que foi, você está nervoso? — diz Mikey, enquanto coloca a ponta da faca no pescoço de Takemichi, sem pressionar muito.
— M-Manjiro, que porra...?! — sentiu mais e mais lágrimas saírem de seus olhos. Sentiu-se quase aliviado quando Mikey removeu a faca de seu pescoço.
— Ah, relaxa, eu não pretendo te matar tão cedo — diz com um sorriso extremamente sádico.
— O que quer dizer com "tão cedo"? — o das madeixas escuras sentiu dificuldades para respirar por causa da situação.
— Acha mesmo que vai querer saber? — diz o de cabelos brancos com um tom um tanto aterrorizante.
— Mikey... Por favor — diz aterrorizado.
— Cala a boca... — sorri de leve. — Agora você me ouve. Eu vou te lembrar o porquê de eu estar fazendo isso.
• flashback •
Em uma tarde ensolarada, após um jantar na casa de Mikey, os dois estavam deitados na cama, envoltos em um mar de lençóis e cobertores. A atmosfera estava carregada de uma ternura quase palpável, e os sorrisos trocados entre eles brilhavam com uma intimidade especial. Mikey, com seus cabelos loiros espalhados sobre o travesseiro, olhou para Takemichi, que repousava ao seu lado, e decidiu iniciar uma conversa que já estava guardada em seu coração há algum tempo.
— Mitchy... — começou Mikey, sua voz suave e carregada de emoção, enquanto passava um dedo pelo contorno do rosto de Takemichi. — Me fala, algum dia você vai me deixar?
Takemichi, tocado pelo tom de vulnerabilidade na voz de Mikey, virou-se para encará-lo, seu olhar carinhoso misturado com uma pitada de surpresa.
— Por que eu te deixaria? — Takemichi respondeu, seu tom suave e encorajador, enquanto acariciava os fios loiros de Mikey.
Mikey soltou um suspiro profundo, seu olhar distante e contemplativo. A insegurança e o medo de perder Takemichi estavam estampados em seu rosto.
— Eu... Talvez você escolheria a Hina... Não eu. Você sabe, ela é sua atual namorada. E eu... Eu sou só um amante — Mikey admitiu, sua voz tremendo um pouco enquanto suas mãos apertavam-se em torno de Takemichi, como se temesse perdê-lo a qualquer momento.
O coração de Takemichi apertou ao ouvir aquelas palavras. Ele sabia que Mikey estava lutando com inseguranças profundas e que sua presença era essencial para acalmar seus temores.
— Mikey, você é uma das pessoas mais especiais da minha vida. Eu nunca te abandonaria — Takemichi afirmou, seu tom grave e cheio de sinceridade. Ele envolveu Mikey em um abraço apertado, tentando transmitir, através do toque, a profundidade de seu compromisso.
— Amor, prometa que você nunca vai me abandonar! — Mikey insistiu, seu olhar suplicante e um biquinho adorável no rosto. — Por favor! Prometa!
Takemichi sentiu uma onda de amor e compaixão, e seus sentimentos se cristalizaram em uma promessa solene.
— Manji, você não precisa se preocupar — Takemichi respondeu, puxando Mikey para um beijo terno, enquanto acariciava a bochecha de Mikey com carinho profundo. — Eu prometo, prometo que nunca irei te abandonar.
Os olhos de Mikey brilharam, enquanto ele procurava uma confirmação verdadeira nas palavras de Takemichi.
— Nunca? Nunca mesmo? — Mikey perguntou, seu tom ansioso e esperançoso.
— Não... Nunquinha — Takemichi garantiu, selando suas palavras com um beijo cheio de paixão e devoção. Eles se perderam no momento, saboreando cada segundo juntos, o mundo exterior desaparecendo enquanto se entregavam à doçura de seu amor.
• fim do flashback •
— E sabe o que você fez depois disso? — Mikey diz, enquanto sentia lágrimas surgirem em seus olhos.
— Manji... — Takemichi queria falar mais, mas o peso na consciência não o deixava dizer nada.
— Você me abandonou! Quando disse que nunca me abandonaria, mas assim que teve chance me trocou por aquela mulher vagabund... — Mikey simplesmente não conseguia mais terminar a frase, apenas sentiu suas lágrimas caírem. — Por quê? Por que você fez isso? — seu tom saiu com um ódio que parecia ser descontrolado.
— Mikey, eu... eu... — Takemichi queria consolar Mikey, mas não sabia o que dizer.
Foi quando ouviu-se um barulho de estalo e Takemichi sentiu um tapa em seu rosto.
— Cala a boca! CALA ESSA MERDA DE BOCA! Você sabe como é ter que aguentar noites chorando sozinho, enquanto vê a pessoa que amava junto de outra?! — Ele disse, dando outro tapa no rosto de Takemichi.
Takemichi estava em silêncio, enquanto simultaneamente chorava juntamente com Mikey.
— Eu me sentia tão destruído... Você me fez me tornar a pior pessoa que você poderia conhecer, e é por isso que, enquanto você estiver vivo, eu vou fazer da sua vida um inferno! Até você questionar sua própria sanidade. — Manjiro limpou suas lágrimas, e dessa vez, ele ofereceu um sorriso sádico, mas o brilho cruel em seus lábios era ofuscado pela profunda tristeza que resplandecia em seus olhos.
Mikey, com um olhar ainda carregado de tristeza e raiva, ergueu a mão novamente, e Takemichi sentiu o impacto do tapa em seu rosto como uma onda de choque. O calor da dor era quase tão intenso quanto a dor emocional que Mikey estava infligindo.
— Você não tem ideia do que é viver assim, Takemichi — Mikey gritou, sua voz carregada de raiva. — Toda noite, me lembrando da sua promessa quebrada, me sentindo como um tolo! Você sabe o quanto eu lutei para tentar seguir em frente, só para ver você se escondendo atrás de um sorriso enquanto me ignorava?
Takemichi, agora com o rosto dolorido e os olhos vermelhos de tanto chorar, tentou encontrar palavras para se desculpar, mas nada parecia certo. Ele sentia uma mistura confusa de medo, culpa e tristeza, o que tornava impossível formar uma resposta coerente.
Mikey, ainda com um sorriso cruel, se aproximou de Takemichi novamente. Desta vez, a faca estava em sua mão, mas ele a segurava casualmente.
— Você me deu esperanças, Takemichi. Você me fez acreditar que havia algo mais entre nós, e então, com um simples gesto, me deixou para trás. Agora, é minha vez de fazer você sentir a mesma dor.
— Eu... Eu realmente sinto muito, Mikey — Takemichi conseguiu murmurar, sua voz tremendo. — Eu nunca quis te machucar. Não sabia que você estava sofrendo assim. Eu... não sabia.
— Não sabia? — Mikey perguntou, com um tom de escárnio. — Você sabia o suficiente para me prometer que nunca me deixaria, e ainda assim fez exatamente isso.
— Mas... — Mikey deu uma risada seca, sacudindo a cabeça em descrença. — Você acha que um "sinto muito" vai mudar o que aconteceu? Um "sinto muito" não vai fazer tudo mudar... Nada! Não, não vai. Eu quero que você sofra. Quero que você entenda a dor, a angústia, a traição. Quero que você veja o que é ser abandonado por quem você mais amou.
Enquanto Mikey falava, Takemichi sentiu um peso esmagador em seu peito. A sensação de culpa e desespero crescia, tornando-o cada vez mais vulnerável. Ele percebeu que, enquanto tentava encontrar palavras para se justificar, as ações passadas de seu relacionamento com Mikey eram o verdadeiro peso sobre seus ombros.
Mikey parou por um momento, observando Takemichi com um olhar que misturava raiva e uma tristeza profunda. Ele queria acreditar nas palavras de Takemichi, mas o sofrimento que sentia era muito intenso para ser facilmente apaziguado.
— A única coisa que posso te dizer... é que você nunca mais vai ter um dia de paz aqui.
Manjiro deu um último sorriso, antes de se virar, sair e deixar Takemichi sozinho, apenas com sua angústia, sentindo nojo de si mesmo.
Sem muitas opções, Takemichi acabou dormindo por causa do cansaço
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Enquanto isso, em outra parte da cidade...
— Kazutora? — Hinata diz enquanto colocava sua última filha para dormir. — Você sabe quando Takemichi vai voltar? Ele não responde minhas mensagens.
— Ele não te disse nada? — Kazutora, surpreso, responde. — Eu não sei, ele também não me falou nada.
— Ah, acho que deveria ir ao mercado então, eu ia pedir para ele, mas como ele não responde... — diz Hinata, rindo levemente.
— Ok, então. Quer que eu te acompanhe? — Kazutora pergunta, tentando soar casual.
— Ah, obrigada, mas será que o Chifuyu não vai ficar preocupado com você? — ela fala já pegando a sua bolsa.
— Eh... Talvez sim. Acho que vou voltar para casa, mas... quer uma carona?
Ela hesita por um momento, ajustando a alça da bolsa e dando um sorriso leve.
— Aceito sim, obrigada. Melhor do que pegar ônibus a essa hora.
Ele ri, balançando a cabeça.
— Com certeza. O Chifuyu já ficaria bravo se soubesse que te deixei pegar ônibus. Vamos logo, antes que ele me ligue perguntando onde estou.
Eles caminham juntos até o carro, conversando sobre pequenas coisas enquanto a tensão do dia parece se dissipar um pouco.
Dentro do carro, o ambiente estava tranquilo. Eles ficaram em silêncio boa parte do trajeto, até que Hinata decidiu quebrar o silêncio.
— Você acha que eu deveria ir até o trabalho dele? — Ela diz, olhando para as luzes dos postes, que eram a única coisa que iluminava a noite escura.
— Não sei... Talvez ele só esteja ocupado demais, né? — Kazutora responde sem tirar muito os olhos da estrada. — Acho que seria melhor esperar ele te responder ou voltar para casa. Não há muito com o que se preocupar...
Kazutora manteve o foco na estrada, enquanto Hinata suspirava, ainda um pouco preocupada, mas decidida a seguir o conselho de Kazutora.
— Talvez você tenha razão... Vou tentar não me preocupar tanto — Hinata respondeu, forçando um sorriso que não chegou a seus olhos.
O caminho até o mercado seguiu em um silêncio confortável. Quando chegaram, Kazutora estacionou o carro e se virou para Hinata.
— Qualquer coisa, me avisa, tá? — ele disse com um tom gentil, enquanto ela descia do carro.
— Pode deixar, obrigada pela carona, Kazutora. E... boa sorte com o Chifuyu. — Ela riu levemente, tentando aliviar a tensão.
— Vou precisar. — Kazutora piscou, e Hinata entrou no mercado, ainda com o pensamento em Takemichi.
Kazutora observou Hinata entrar no mercado, esperando até que ela desaparecesse entre as portas automáticas antes de ligar o carro novamente. Ele deu uma última olhada no relógio do painel. Já passava das 22h, e Chifuyu provavelmente estava se perguntando onde ele estava, considerando que Kazutora raramente chegava tão tarde em casa.
O trajeto de volta foi tranquilo, as ruas quase desertas. A noite estava silenciosa, mas o silêncio não trouxe paz a Kazutora. Seus pensamentos começaram a rodar ao redor da situação estranha com Takemichi. Ele sabia que algo estava errado. Takemichi sempre fora dedicado a Hinata e às crianças, mas agora ele parecia um homem diferente, uma sombra do que costumava ser. "Aquela" lembrança estava deixando takemichi muito estranho
Kazutora suspirou, suas mãos apertando o volante. Ele tentou afastar as preocupações, focando na estrada à frente, mas a imagem de Hinata, tão preocupada com Takemichi, o incomodava.
Quando finalmente chegou à casa que dividia com Chifuyu, Kazutora desligou o carro e ficou alguns momentos em silêncio no assento. A casa estava escura, exceto por uma luz fraca que vinha da sala. Ele sabia que Chifuyu provavelmente estava acordado, esperando por ele, como sempre fazia quando Kazutora se atrasava.
Ao entrar em casa, ele tirou os sapatos e caminhou silenciosamente pela sala, onde encontrou Chifuyu deitado no sofá, com o controle remoto na mão e a TV ainda ligada em um volume baixo. Chifuyu levantou o olhar assim que ouviu Kazutora entrar, seus olhos semicerrados de sono, mas com uma pontada de alívio.
— Finalmente resolveu aparecer, hein? — Chifuyu brincou, se sentando no sofá e bocejando.
Kazutora deu um meio sorriso enquanto se aproximava e sentava ao lado de Chifuyu.
— Desculpa, acabei dando uma carona para a Hinata. Ela estava preocupada com o Takemichi.
Chifuyu levantou uma sobrancelha, claramente intrigado.
— Preocupada? Por quê?
Kazutora esfregou a nuca, hesitando um pouco antes de responder.
— Ela disse que ele não responde as mensagens e está agindo de forma estranha.
Chifuyu suspirou, recostando-se no sofá, seus olhos se fixando no teto por um momento, como se tentasse juntar as peças.
— Você acha que é algo sério? — ele perguntou, olhando de volta para Kazutora.
— Acho que sim. Algo está incomodando o Takemichi, e ele não está falando com ninguém sobre isso. Não é o comportamento normal dele — Kazutora respondeu, passando as mãos pelo cabelo, claramente preocupado.
Chifuyu permaneceu em silêncio por um momento, pensativo, antes de dar um tapinha no ombro de Kazutora.
— de qualquer jeito, por enquanto, tenta relaxar. Você também precisa de um descanso.
Kazutora desviou o olhar por um momento, claramente hesitante. Ele sabia o que estava acontecendo com Takemichi, mas não queria compartilhar com Chifuyu ainda. Era algo muito delicado, e ele não achava que agora era o momento certo.
— É complicado, Chifuyu. Só acho que não vale a pena se preocupar tanto agora — disse Kazutora, tentando mudar o foco da conversa. — Talvez seja só uma fase.
Chifuyu franziu o cenho, claramente não satisfeito com a resposta. Ele se recostou no sofá, cruzando os braços e observando Kazutora com uma expressão de leve frustração.
— Uma fase, Kazutora? Sério? — Chifuyu respondeu, sua voz ficando mais firme. — Takemichi sumiu, não responde as mensagens da própria esposa, e você acha que isso é só uma fase?
Kazutora abaixou a cabeça, tentando evitar o olhar incisivo de Chifuyu. Ele sabia que estava sendo pressionado, mas não conseguia encontrar uma resposta que satisfizesse o namorado sem revelar demais.
— Olha, eu só... — começou Kazutora, mas foi interrompido.
— Não, Kazutora, não é só. — Chifuyu se levantou, agora claramente irritado. — Você já se atrasa para casa, me deixa preocupado, e agora fica com essas respostas vagas? Se você sabe de alguma coisa, deveria falar logo! Isso de ficar se fazendo de misterioso não vai ajudar ninguém.
Kazutora sentiu um aperto no peito. Ele sabia que Chifuyu estava com razão, mas simplesmente não podia dizer tudo naquele momento. A situação era complicada demais para resolver com palavras.
— Eu só não acho que é o momento certo pra isso, tá bom? — Kazutora respondeu, em um tom mais baixo.
Chifuyu o encarou por um longo segundo, os olhos ainda duros, mas suspirou logo em seguida, massageando as têmporas como se tentasse se acalmar.
— Ok, Kazutora. Mas você sabe que isso tudo não faz sentido. Eu odeio quando você se fecha desse jeito — ele disse, sua voz mais cansada do que irritada agora. — Só... tenta não guardar tudo pra você. Quando você estiver pronto pra falar, me avisa, porque essa situação está me deixando louco.
Chifuyu olhou para o relógio e esfregou os olhos, claramente exausto.
— Eu vou dormir. Tenta não ficar acordado até tarde pensando nessas coisas, tá? — disse ele, dando um último olhar sério para Kazutora antes de se encaminhar para o quarto.
Kazutora observou Chifuyu desaparecer pela porta do quarto, e o peso do silêncio voltou a preenchê-lo. Ele sabia que deveria ter dito mais, mas a verdade parecia algo que ele simplesmente não podia revelar ainda.
Ele suspirou, ficando sozinho na sala, e lentamente afundou no sofá, o barulho da TV preenchendo o ambiente vazio.
Com a Hinata
Dentro do mercado, enquanto pegava algumas coisas, Hinata não conseguia parar de pensar no comportamento estranho de Takemichi nos últimos dias. Ele sempre foi atencioso, ainda mais com as crianças. Mas ultimamente, ele estava cada vez mais distante, como se algo o estivesse consumindo. Ela sentia que algo estava errado, mas não conseguia colocar o dedo no que era.
Ao terminar de pegar tudo que precisava, Hinata saiu do mercado e olhou para o celular mais uma vez. Nenhuma resposta de Takemichi. Ela respirou fundo, decidida a confrontá-lo assim que ele voltasse para casa. Ele não podia continuar a se afastar assim sem nenhuma explicação.
Enquanto isso, em um lugar desconhecido...
Takemichi acordou de um sono inquieto, sua mente ainda nublada pelo cansaço emocional. Ele se remexeu, sentindo o peso da culpa o esmagando. As palavras de Mikey ecoavam em sua cabeça, cada uma mais dolorosa que a anterior. Ele sabia que Mikey nunca seria o mesmo, e talvez ele também nunca mais fosse o mesmo.
— O que eu fiz? — murmurou para si mesmo, as lágrimas voltando a escorrer por seu rosto.
O quarto em que ele estava era frio e escuro, quase tão sufocante quanto seus próprios pensamentos. Ele sabia que, de alguma forma, precisava encontrar uma saída. Não apenas daquele lugar, mas da tortura emocional que Mikey estava impondo a ele... e que ele mesmo estava alimentando com sua culpa.
Mas, enquanto pensava em uma forma de consertar as coisas, a porta se abriu lentamente, e a figura de Mikey entrou novamente, carregando o mesmo olhar gélido e cruel que havia deixado Takemichi aterrorizado antes de dormir.
— Dormiu bem? — Mikey perguntou com um tom casual, mas o brilho em seus olhos mostrava que ele ainda estava imerso na dor e na raiva.
Takemichi engoliu em seco, seu corpo tenso. Ele sabia que o pior ainda estava por vir.
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