Pov Namjoon on.
- ... Por que está me olhando com essa cara?
Olhei em direção ao Suga. O mesmo estava encostado na parede. Com os braços cruzados.
Ele me encarava de um jeito.... Estranho. E isso estava me incomodando. De verdade.
- ...
- ...
- ...
- Não vai me responder mesmo?
- .... Não sei como consegue - finalmente falou.
- Não sabe como consigo o que?
- Isso.
- Isso?
- Fingir que nada aconteceu. Sabe? Eu não acho que você marcou todas essas reuniões de última hora, pra nada. Está querendo mesmo evita-lo. Então.
- Eu já disse que sim. Não precisa me olhar com essa reprovação - trinquei o maxilar.
Suga então se desencostou da parede e veio até mim.
Puxou a cadeira da minha frente e se sentou.
- Koya ama RJ. Não ama?
- Por que você está falando desse jogo agora? - revirei o olhar.
Às vezes eu gostaria que o Suga fosse mais direto....
- Responda.
- Sim. Você sabe a resposta Suga. Não preciso responder essa pergunta estúpida.
- Pois bem. Se é estúpida. Então você deve saber que Koya lutou para achar RJ. Não foi? Mas não teve sucesso. Não foi?
- Sim...? E onde você quer chegar com isso?
- Imagina se no segundo jogo. RJ aparece? Nossa, os fãs iriam adorar. Vibrar de alegria.
- E...?
- E simplesmente o Koya desiste do RJ, do nada, sem cabimento algum. Começa a ignorá-lo e o RJ vai embora. Fim de jogo. Pensa na indignação e reprovação dos fãs?
- É...
- Pois então. Essa é a minha indignação e reprovação que estou sentindo agora - ele bateu na mesa.
- Suga.... Isso não é um jogo.
- É sim. É um jogo real. Não tente contradizer. Você sabe muito bem. Foi você que criou o jogo baseado em fatos reais.
- Mas não vamos misturar o jogo com a vida real. Ninguém nunca vai saber sobre mim e o Jin.
- Eu sei. E eu já sou o suficiente para te encher o saco pro resto da vida.
- Mano, por que você quer tanto que eu e o Jin fiquemos juntos? Não pode simplesmente acreditar que no futuro eu possa achar outra pessoa?
- Não vai. Você não vai achar - balançou a cabeça.
- Sou eu que acho a pessoa. Não você.
- Por isso. Você não vai achar.
- Claro que vou. Existe várias garotas que...
- Bom. Namorar uma pessoa quando é rico e fodão é fácil. Não é? - me encarou.
- O que você quer dizer com isso?
- Por que você acha que elas gostam de você? Elas nem mesmo falam com você então por que gostam? - Suga se apoiou na mesa e ergueu a mão - Um. Você é rico. Dois. Você é muito rico. Três. Porra, você é rico pra caralho cara. Você pode sair daqui conseguindo a primeira pessoa que quiser. Você pode até achar alguém. Sim. Pode achar. Mas você nunca - apontou para mim - Vai achar uma pessoa igual o Jin. Isso eu tenho certeza. Amor mais inocente que aquele. Sem interesse nenhum? - balançou o indicador em negação - Por que você acha que o Jin gosta de você Namjoon. Por que você é rico? Se fosse assim ele já teria se aproveitado de você para o levar em cada lugar desse mundo. Mas nããão. Quis ficar jogado nessa sala quase o dia inteiro só pra ficar colado ao seu lado. Nenhum interesseiro aguenta. Vejamos então. Beleza? Olha. Quando você era mais jovem..... Você era bem....
- Não precisa me lembrar - falei rapidamente.
- Você sabe então - me olhou, presumindo - Qual outro interesse dele? Hmmm... Ah. Não tem. Não é?
- Nem todo mundo é interesseiro Suga. Eu posso achar alguém...
- Tá certo. Então vamos fazer um programa. "Achando o par perfeito para Kim Namjoon. Vagas abertas. Atenção: não aberto a interesseiros! ". Convenhamos. Nem hérero você é, porra. Capaz de eu e você dar mais certo do que as 30mil meninas que irão tentar.
- Deus me livre.
- Isso mesmo. DEUS ME LIVRE.
- Tá. Tá. Já entendi que vou ficar pra tio. Mas não importa. Não importo com o amor.
- .... Não importa?
- É?
- Não importa?
- Sim.
- Mesmo?
- Onde você quer chegar?
Suga bufou e deu uma girada completa com sua cadeira móvel.
- SE NÃO SE IMPORTA ENTÃO DIGA LOGO PRA ELE QUE NÃO O QUER - resmungou. Batendo na mesa, novamente, dessa vez com mais força - Você acha que ele está bem? Você acha que ele está bem, que nem você?
- Eu não estou bem Suga!
- Foda-se, você não se importa com o amor, não é? Porque criou esse jogo então? - levantou da cadeira e em passos rápidos caminhou até sua sala - Palhaçada. Onde já se viu isso - bateu a porta com força. Fazendo voar alguns papéis de cima da minha mesa.
Credo. Ele ficou bravo mesmo.
Mas... Não foi nesse sentido que eu quis dizer. Ele entendeu errado.
Eu me importo com o Jin.
Mas eu não me importo se eu ficar sem alguém.
De qualquer forma.
Não é como se eu fosse capaz de esquece-lo...
Eu já desisti de tentar esquecer.
Pov Jin on.
- Você está muito avoado Jin. O que aconteceu enquanto eu estava no banheiro?
- Você estava com uma diarreia? - ri.
- A PERGUNTA FOI PRA VOCÊ. NÃO PRA MIM.
Não consegui segurar uma risada e a menina bufou.
- Fala logo - bateu em braço.
- Nada. Só... Estou pensando em umas coisas.
- Não minta pra mim.
- .... - a olhei, ela encarava no fundo da minha alma, por fim, me dei por vencido e suspirei - Jennie esteve aqui. Ela veio falar comigo.
- Jennie? Frequentando esse lugar? Não é a cara dela.
- Na verdade, parecia que estava de passagem. Nem mesmo se sentou pra comer algo. Parecia que sabia que eu estava aqui.
- Estranho. Muito estranho. Sempre venho aqui. Mas ela nunca está. Nem mesmo de passagem. Não acha isso estranho?
- Como assim?
- Alguém pode tê-la mandado.
- Mandado?
- Siiim. É muita coincidência. Não acha? Talvez o Namjoon?
- Não. Ele não seria capaz...
- Por que não?
- Bem... Só sei que não é ele.
- Então quem poderia ser? Não contei pra ninguém que viríamos aqui.
- ... - balancei a cabeça - Deixa pra lá. Não importa...
- Claro que importa! O que ela te disse?!
- Hum.... Sobre o Nam ter terminado com ela..
- AH!!!!! - a garota levantou rapidamente do banco, me assustando - EU SABIA QUE ELE NÃO GOSTAVA DAQUELA---.... - então interrompeu sua fala e olhou ao redor. Onde todos nos encaravam perplexos.
Cobri minha cara com as mãos.
Não conheço essa garota.
- Relaxem amigos. Só descobri algo muito importante. Podem voltar a tomar seus cafés matinais que eu não gritarei de novo - Joe se "desculpou" e voltou a se sentar como se nada tivesse acontecido.
- Isso. Conta aí o que a Jennie falou para o meio mundo e mais o sol - resmunguei.
- Sinto muito. Mas eu esperava MUITO por isso. Já era hora hein. Ele estava prolongando muito esse relacionamento abusivo.
- Abusivo?
- Sim. Querendo ou não Jennie se abusava dele um pouquinho. Talvez não proposital. Mas é lógico que ser namorada de um dono de empresa tem as suas vantagens. Não vamos mentir. Todos querem ficar com o Namjoon pelo seu dinheiro e por nada mais.
Abaixei a cabeça.
"Não me interessa o dinheiro dele...."
Joe percebeu minha expressão e levantou minha cabeça com a mão.
- N-Não estou falando de você Jin! É por isso que eu estou apoiando tanto vocês dois. Você é o único que eu realmente sei que gosta dele de verdade.
- E como pode saber isso? Eu cheguei há uns dias atrás. Apenas.
- Eu sei - Ela sorriu - Eu sei....
- Você sabe....?
- Quando Namjoon te trouxe em casa pela primeira vez. Ele chegou chutando a pobre porta pois ninguém abria a mesma pra ele. Não sabíamos que ele chegaria assim tão de repente. Geralmente ele avisa. Mas pelo visto esteve tão.... Desconcentrado que esqueceu de nos avisar. Acabou por assustar todos os empregados ali, incluindo eu - riu - Quando ele chegou com você.... Eu vi algo diferente.... Algo.... Não sei. Eu olhei e já pensei que aquele seria o par perfeito pro Nam. Sabia muito bem que ele não tinha parentes e pela roupa que você usava... Meio desgastada e estranha. Além de estar super ferido. Deduzi rapidamente que Namjoon te ajudou. E ele NUNCA ajuda ninguém. Quer dizer. Ele ajuda. Claro. Mas não nesse nível. Imagina se o dono de uma empresa resolvesse sair fazendo caridades por cada canto da cidade. Salvando as pessoas machucadas de noites chuvosas. Qual seria a sua imagem e o quão abusado de suas ações ele seria depois? Namjoon não é burro. E foi o que mais me chamou atenção quando ele te ajudou. Ele arriscou. E muito. Quando você disse que era um amigo de infância dele. Eu me lembrei do jogo. E então eu acreditei fielmente na minha teoria de que o RJ é uma mistura de "RM" com "Jin"...
- RM?
- Deixa eu te contar uma história que aparentemente Namjoon não te contou... - ela se apoiou nas mãos - "Suga". Suga não é o nome do seu advogado. Claro. Ele é chamado pelas pessoas e funcionários de Sr. Yoongi. Min Yoongi. Seu nome. Lindo né? Assim como ele. É tão a cara dele. Não é?
- Hum....
Não sou obrigado a responder essa pergunta.
- Bem. Vou continuar. Suga é um apelido da época que eles ainda estavam na faculdade. E é claro. Se Yoongi tinha um apelido. Namjoon também tinha. Obviamente. Não me pergunte por que Yoongi se tornou "Suga". Só sei que os dois gostavam de cantarem rap juntos. É o que eles têm em comum. Afinal. Como pessoas tão distintas virariam amigos? Namjoon é gentil e responsável. Suga é um filho da puta e irresponsável até demais quando não quer fazer algo. Então como? Claro. O rap.
- Interessante... - nunca parei pra pensar nisso....
- Não sei muito a história deles. Suga te contaria melhor. Mas não prolongando muito essa história. Com certeza você vai ouvir depois. O apelido do Namjoon. É RM. (Pronúncia: Ár-em). Atualmente, ele deixou de lado esse apelido. Um dono de uma empresa chamado por esse apelido fica meio estranho, não é? Ele prefere que agora o chamem de Namjoon. Mesmo. Nem mesmo Suga menciona mais esse apelido. Ele respeita o amigo, por mais incrível que pareça.
- RM....
- RJ - ela sorriu - Mistura de RM com Jin. Entendeu minha teoria?
A olhei. Surpreso.
- Quando ele criou o jogo ele não sabia direito que nome colocar. De repente um dia apareceu com uma ideia depois de ter saido com o Suga na noite anterior.
- "Saido"?
- He..... Namjoon e Suga quase ficaram. Por isso que eu sei que os dois são gays. No último minuto eles perceberam que não eram nada mais que amigos em bromance de morte. Ainda bem. Suga não combina nada com o Nam. E o Nam merece alguém como você... Não estou dizendo que Suga é um mal candidato. Claro.
- E-Eu....
- Você é um garoto muito bom Jin. Você é um homem muito bom...... - a outra segurou minha mão - Vocês se amam. Ficarei triste se.... Você for embora amanhã... Namjoon precisa de você.
Balancei lentamente a cabeça e dei um suspiro prolongado para tentar manter a calma, não vou tomar nenhuma decisão precipitada.
- Sei que você quer que eu fiquei Joe. E eu realmente fico muito feliz por isso. Mas.... O Nam não quer... Ele mesmo que arranjou esse transporte e.... Eu seria um problema pra ele aqui... Não posso ficar com ele.
- Problema? Eu não vejo problema nenhum na relação de vocês, Jin. Namjoon nunca esteve tão feliz no último ano como nessa semana. Eu acho que você realmente fez bem a ele. Não vejo o que de mal você faria. Além de ser um homem. No final as pessoas aceitam. De nada elas podem fazer para impedir pessoas que se amam. No fim ninguém mais vai ligar. Só os homofobicos. Mas eles não farão diferença se vocês se manterem unidos...
- Não é esse o problema. Bem. Também. Mas tem outro.
- Outro...?
A olhei.
Será que eu conto?
Ou não conto?
....
Ah.... Vou contar. Eu confio nela.
E preciso que ela saiba o grande problema. Pra que ela possa me ajudar.
- Joe... Eu tenho que te revelar uma coisa....
[Pulo de tempo - No dia seguinte]
Pov Namjoon on.
- Obrigado por ter deixado dormir em sua casa, Suga. Não ia conseguir voltar para a minha. Estava quase dormindo no volante - disse enquanto saia de sua casa.
- Percebi. A reunião foi tensa. Mesmo - Suga bocejou enquanto se encostava na porta de entrada. Me encarando - Mas não acha que está se esquecendo de algo Namjoon?
Olhei em minhas mãos. Minhas roupas e minha mala estavam comigo.
Franzi o cenho e neguei com a cabeça.
- O Jin - meu coração parou - Ele vai embora hoje. Se não se lembra. Na verdade - Suga olhou em seu relógio de pulso - Esta indo agora. Em 10 minutos.
- Merda..... Merda. Merda. Merda. MERDA - corri pro meu carro e joguei minha mala pelo banco do passageiro.
Eu não voltei ontem a noite para me desculpar! Eu não falei com o Jin.
Ele vai embora sem eu me despedir....
Não... MERDA.
- Nam! - Suga me gritou antes que desse a partida, se prendendo no vidro do carro,seu rosto calmo e ao mesmo tempo tão desesperado me fez o olhar com atenção - Se prepare. Agora vá - disse antes de se soltar e fazer um gesto para eu ir.
Afirmei com a cabeça, confuso, no entanto, agradeci. Não sabia o que ele queria dizer, mas....
Não tinha tempo para pensar.
(...)
Abri o portão da casa e entrei correndo pela sala.
- CADÊ O JIN?!?!? - gritei, olhando ao redor. Nenhum funcionário falava nada. Se entre-olharam e balançaram a cabeça.
Apenas me contentei em subir as escadas e correr para o quarto do outro.
Enquanto corria. Minhas pernas pareciam relutar. Uma força estranha me puxar para trás e o nervosismo tomar conta de mim.
"Eu deveria ter voltado ontem" foi a única coisa que pensei antes de abrir a porta de seu quarto na esperança de que ele estivesse ali.
Eu estava decidido em beija-lo se ele estivesse lá. Implorar para que ficasse e me desculpasse pelo quão estúpido eu fui.
Mas não estava.
Não havia nada lá.
Estava exatamente do mesmo jeito, antes dele chegar.
Não havia nenhum sinal.
Nenhum resquício.
O quarto vazio, escuro, sem vida. Era o que restava naquele cômodo.
Balancei a cabeça várias vezes e dei uns passos para trás.
Não queria aceitar.
Não queria aceitar aquilo.
Eu cheguei tarde demais....
Olhei para o chão. O tapete roxo se fazia presente em meus pés.
....
Silêncio.
....
E então finalmente eu aceitei a verdade.
Ele foi.
Ele foi embora.
...
- Não.... Eu estraguei tudo...
Senti minhas pernas perderem os sentidos e cai de joelhos no chão, fechando os olhos.
- Estraguei tudo...
Aquele silêncio infernal se fez novamente presente e nada pude ouvir ou sentir além de meu coração se apertar em um choro segurado.
- É.... Ele partiu - escutei a voz da Joe atrás de mim, me virei lentamente e ela estava parada na porta. Apenas sua silhueta escura sendo iluminada pela luz do corredor - E você deixou.
Trinquei o maxilar.
Eu não queria...
- Vá até o lugar que vocês se viram pela última vez. Uma surpresa te aguarda... - ela disse, antes de sumir da minha visão.
O último lugar? Foi meu quarto...
Me levantei e caminhei pelo corredor, atordoado. Parei em frente à porta e relutei em tocar a maçaneta. Não sei por que ainda tenho esperanças de que ele esteja ali.
Esperança que foi esvaziada quando abri a porta e não vi nada mais do que uma pequena carta rosa disposta em cima da cama.
Congelei em meu lugar e encarei a carta.
O que é isso?
Pensei e mordi minha língua.
Uma carta pra mim?
Do Jin?
O Jin escreveu pra mim?
Fechei o punho e respirei fundo.
Estava com medo de ler aquela carta.
...
Mas eu tinha que ler....
Eu tinha.
Engoli ruidosamente em seco e me vi forçando meus pés a caminhar até aquela cama que parecia querer me matar.
Sentei lentamente na mesma, afundando no edredom macio e segurei a carta em minhas mãos.
Para: Namjoon.
Minhas mãos tremeram e eu relutei.
Coragem Namjoon.
Tenha calma.
Tenha calma.
Respire.
Abri a carta e tirei de dentro dela um bilhete. Todo dobrado. Abri e me vi diante de um texto. Todo escrito a mão. Caligrafia claramente do Jin.
Senti vontade de chorar na hora que vi sua letra.
Não posso!
Calma.
1....2....3....4....5....6....7....8....9....10.
Comecei a ler a carta.
Quando eu era jovem. Encontrei o amor pela primeira vez em um sorriso contagiante que iluminava o meu dia. Nas suas pupilas negras que reluziam quando me encaravam, encontrei gentileza em suas mãos firmes quando me puxavam para as mais diversas belezas do mundo que nunca havia visto. Encontrei um sentimento puro. Livre de males. Encontrei o calor, o amor que sempre precisei. Em você. Você era tudo pra mim.
Não acredito...
Quando mais velho, revi o seu sorriso contagiante. No entanto, me vi perdido em meio a um mundo que nunca tinha visto. Tive medo. Muito medo. E pensei que ia morrer. Me vi seguro novamente ao sentir suas mãos gentis me acariciarem, como antes. Em seus olhos brilharem para mim. Como antes. Sentir um.... Sentimento tão puro. Como antes. Você me trouxe confiança a esse novo mundo. E percebi que era bem diferente do que eu imaginava. Nem todos são ruins. Perceber isso, só me fez me tornar mais frágil. Não pude me impedir de que sorrisos sinceros contornassem meus lábios direcionados a você. Não pude impedir que um mar de sentimentos e frias correntezas me atingisse toda vez que pensava em você. Porque eu nunca te esqueci. Nunca esqueci o que você fez por mim. Nunca esqueci o quão bem você me fez. Uma pessoa tão boa. Tão... Incrível. Que por pura ignorância minha, eu a deixei escapar por entre meus dedos.
Ambos amadurecemos. Sim. Amadurecemos. E muito. Depois da grande tempestade que atingiu minha vida, quando foi embora. Passei meses sem sorrir. Sem me divertir. Nada era igual sem você. Eu sentia falta de você. Eu sentia falta do seu amor. Mas o amor estava tão afogado no meio daquele mar denso que nem mesmo pude mergulhar fundo para recupera-lo. Eu senti tanta falta. Tanta falta. Pensei que nunca mais ia amar.
Agora. Estando aqui. Eu reconhecia meus limites. E sabia que. Não podia mais me intrometer na sua vida. Eu não fazia mais parte dele. Pois eu já tinha saido dela faz tempo. Há três anos atrás.
Pensei que eu pudesse entrar no meio de sua história. Mas só você sabe tudo o que passou durante todos esses anos.
Você não começa um jogo pelo final. Certo?
... Ah....
Eu queria ter feito parte da sua caminhada.
Queria ter sido um bom amigo.
Ter saido do mar com você.
Mas eu fui tão egoísta... Não fui?
Eu fui.... Eu sinto muito por isso.
E agora. Estou pagando o preço da minha ignorância.
Irei mentir se disser que não estou chorando enquanto escrevo essa carta. É verdade que sou sensível. Sempre fui. Mas nunca quis demonstrar. Você sempre foi mais forte que eu. Nunca quis admitir. Mas acho que finalmente irei deixar o meu orgulho de lado e dizer que você é muito mais forte do que eu. Porque eu fui um fraco durante todo esse tempo. Sofrendo por um amor quebrado. Enquanto você lutou pelo seu sonho.
Você é um guerreiro. De verdade. E eu admiro isso. Você é uma das pessoas que mais admiro no mundo. Já disse que você é incrível?
Ah.... A folha está acabando.... Você leria duas folhas? *risada. Melhor não. Você tem seu trabalho...
...
Bem... Eu te amei. Eu sei que te amei. Desde a primeira vez que te vi. E nunca te esqueci. Nunca. Essas são as únicas certezas que já tive na minha vida. E ainda tenho. Por esse motivo. Eu quero abrir portas para mais certezas e construir minha vida. Nunca vivi depois que você se foi. Está na hora de eu recomeçar. Não poderei ficar dependendo de sua companhia pra sempre. Né? *outra risada. Desculpe. Não sei o que dizer. Estou tentando me acalmar.
Eu sinto muito por tudo o que causei de ruim na sua vida. E sobre as coisas boas. Eu espero que elas se tornem ótimas lembranças para que você leve para vida. Não quero que elas sumam.
Eu estarei sendo egoísta novamente se disser para não me esquecer? Eu não quero que me esqueça. Mas sei que você tem que esquecer. Então.... Irei te fazer um pedido.
O meu último pedido.
Por favor me esqueça.
Eu juro que farei o máximo para te esquecer.
Eu te amo Namjoon.
E por mais que eu fale que irei te esquecer.
Nunca esquecerei o que um dia já fez por mim.
Isso nunca.
Obrigado.
Sempre seu. Kim Seokjin.
...
Abraçei a carta e deixei minhas costas caírem com tudo na cama, cobrindo meu rosto com as mãos e deixei as lágrimas caírem. Elas já estavam caindo. Enquanto eu lia a carta. Mas não percebi.
- Como você quer que eu te esqueça se me escreve uma carta dessas...?..... Kim Seokjin por que você faz isso comigo?? - balbuciei e senti o gosto salgado da minha lágrima em minha boca.
Água salgada....
Reli a carta várias vezes enquanto tentava pegar cada ponto daquela carta sentimental que me abalara.
E então novamente senti minha lágrima cair em minha boca.
....
Pov Jin on.
Você não vai se arrepender. Não vai. Com certeza não vai....
Apertei a carta do Suga em minhas mãos.
Havia..... "Chorado" tanto com aquela carta. E mais ainda em escrever a minha. Me pergunto se o Namjoon já a leu. Ou se ele ainda está dormindo na casa do Suga. Não sei.
Mas sei que... Sou um covarde.
Balancei a cabeça e olhei pela janela, onde a neve ousava cair do lado de fora.
Agora já está feito. Não posso voltar atrás.
...
Mas como será que o Nam vai reagir a minha carta? Ele vai chorar? Porque eu chorei quando a escrevi.
E muito.
E muito.
Ainda dói....
Olhei a carta do Suga e pela décima vez eu vou a reler.
Olá. Espero que seja educado e comportado, como uma certa pessoa diz cof cof cof, e leia isso apenas se não encontrar o Nam até a noite. Mas sei que irá ler só depois, de qualquer maneira.... Enfim.
Isso é uma carta de despedida escrita por mim. Min Yoongi. Em nome do trouxa Kim Namjoon.
Não sei escrever porras sentimentais e caralho a quatro. Então tu não vai chorar com essa merda. Mas era pra ser uma carta sentimental, só que isso ficou uma bosta. ENTÃO ATENÇÃO: ISSO NÃO É (NÃO É) UMA CARTA SENTIMENTAL. Se estiver chorando antes de ler isso. Recomendo que pare. Respire. E leia isso depois. Ou leia agora mesmo. Foda-se. Enfim. Namjoon te ama. Você está ligado né?
Não vou ficar de cu doce e enrolação nessa porra. Nem sei porque não te mandei um email ou um zapzap. Mas sei que você, humano do mar, não manja das nossas tecnologias. A não ser que vocês tomem choquões em baixo do mar (essa palavra existe? e.e)
Oh. Feche a boca. Não se sinta surpreso. Eu sei que você é do mar. Sim. Namjoon me contou. E também sei que o Namjoon também é. (Ou era?)
Bem. Estou escrevendo pra falar de você e não de mim.
Mas sinceramente não sei escrever, nem carta de amigo secreto eu sei criar. Eu xingo todo mundo mesmo. Só estou aqui pra falar (ou escrever) que.... Bem. Namjoon não vai chegar a tempo, antes de você ir embora. "Oh god, você é um vidente?!"... Não. Não sou. "Wtf. Então como você sabe?!" Porque eu vou enrolá-lo. Ele provavelmente vai vir para minha casa depois das reuniões. Então farei questão de segura-lo o máximo possível.
E por que isso?
....
Isso vai ficar um pouco longo (merda, mais do que eu esperava. Mas agora é sério! Irei falar sério. Ou escrever sério. A mesma merda. Qual a diferença? Tá. Tanto faz.)
Voltando a pergunta anterior.
E por que isso?
Bem. Não é de hoje que Namjoon precisa tomar um choque de realidade bem no &#&÷*#;. Enfim. Ele precisa acordar. E do jeito que o conheço. Ele vai se arrepender de sua decisão. Ah. Eu sei que vai. Ele sempre se arrepende quando sabe que está errado.
Resumindo. Você tem que meter o pé daqui. Vaza o mais rápido possível antes que ele mude de ideia.
Irei fazer um drama pra ele.
Aproveita. E escreva uma cartinha. Isso o vai tornar muito sentimental. Eu sei.
Não se preocupe com o fato de você estar indo embora. Apenas se certifique de deixar uma mensagem pra ele. No fim.
Vai dar certo.
Você deve saber.
Eu sempre tenho razão ;)
É só isso mesmo.
Só faz o que eu estou falando que vai dar certo.
Se não fizer, eu mato vocês dois, os prendendo em um quarto escuro sem comida nem água. Porque sinceramente? Vocês não tem salvação.
Aviso dado. Só isso mesmo. Minha caneta está parando de pegar. Paguei caro nessa merda e já está dando pau. Quer um conselho? Use canetas baratas. Tchau.
Ah não, pera.
Eu não escrevo só merda. Toma aqui algo pra você. Se você for burro que nem o Nam. Provavelmente não vai entender. Mas quem liga?
"Se você chega às 14:30. Vou estar surpreso. Como um gato assustado. Não conseguirei entender.
Se você chega às 15:00. Vou estar muito nervoso e pensativo. Não saberei o que fazer.
Se chega às 15:30. Vou estar quase morrendo, com o coração a mil. Mas saberei o que dizer.
Se chega às 16:00. Vou estar preparado para te ver. Saberei como agir.
Se chega às 16:30. Meu coração estará calmo como o final de uma noite silenciosa. Tudo ocorrerá bem. Eu quero te ver sorrir.
...
Mas se você chega a qualquer hora.... Nunca saberei. Como te farei feliz?"
Eu juro que chorei.... De rir. Dessa carta. Eu de início não consegui a entender perfeitamente e tive que reler umas 10 vezes para pegar todos os detalhes. Inclusive o final que até agora não consegui entender. Tem algo por trás disso? Bem. Isso nunca irei saber. Talvez eu seja burro igual o Nam.
Mas se foi o Suga mesmo que escreveu isso.... Bem. Parabéns pra ele.
Por que eu não entendi nada.
Mas ficou bom.
...
Sim.
Ficou bom...
(...)
- Ei. Jovem?
Senti uma mão encostar em meu ombro e me balançar.
- Hum? - abri os olhos.
- Chegamos. Estamos na frente da praia - o outro disse e então me mostrou a paisagem afora.
Não se via nada além de uma paisagem inteiramente feita de neve. Os flocos caindo. A neve cobrindo por inteiro a antiga areia. Não se via nada além de um infinito branco.
- Vamos? Estamos em casa - O homem disse.
O olhei. Incrédulo.
- Em casa?
- Sim. Eu sou igual a você. Perdoe-me por não ter te explicado antes. Mas tinha que me concentrar na rodovia. O que importa é que deu tudo certo. Podemos sair agora.
O homem, que aparentava ser muito mais velho do que eu. Abriu a porta da van.
- Um dia alguém me disse que não podemos encostar na neve. Disse que podemos desidratar - falei relutante. Observando a neve que começava a entrar no interior do veículo.
- O mar está bem ali. Não há riscos. Só precisamos caminhar até o mar. Não iremos desidratar em dois minutos - explicou. Apontando pro mar em nossa direção.
- Você vai deixar a sua van aqui? Parada? No meio da rua? - olhei ao redor.
- Essa cidade está sendo evacuada. Segundo os meteorologistas essa "forte" e "inexplicável" frente fria irá piorar nessa cidade. Tão frio que irá congelar tudo. As pessoas estão saindo daqui. Em mais alguns dias não haverá ninguém nessa cidade. Já não há quase ninguém.... E também. Não sei se pretendo voltar - o mesmo bateu no assento - Não poderei voltar. Também.
- Não poderá volt--...
- Vamos! Não vamos perder tempo jovem. Minha Henna esta quase quebrando - desceu do carro, sem antes pegar uma picareta e começou a caminhar em direção ao mar.
Sem escolhas. Desci do van. Seguindo o outro.
No momento que abandonei a van. Um grande vento gelado se chocou com minha cara e eu resmunguei. E de fato. Os flocos de neves estão grudando em minha face. Como se minha Henna fosse uma cola.
Apenas escondi minha cara por baixo da blusa e caminhei até o homem que já se aproximava do mar.
No começo. Eu não percebi. Mas na medida que ia me aproximando. Notei que o mar estava...
Totalmente congelado.
Tipo. Congelado.
Como uma Antártica.
Essa é mesmo a minha cidade?
Como pode ficar tão frio assim?
A ponto de.... Congelar um mar...?
- POR QUE O MAR ESTÁ CONGELADO? - gritei para o homem afim de que ele ouvisse, já que o vento estava tão forte que distorcia qualquer som presente.
- PORQUE O DEUS DO MAR QUIS ASSIM - gritou de volta.
- DEUS DO MAR?! O QUE ELE TEM A VER COM ISSO?!
- JOVEM. VOCÊ NUNCA ESTUDOU HISTORIA? - olhou para mim e então parou de andar na beira do mar. Congelado.
Olhei pra baixo. Tentando me lembrar de algo. Mas definitivamente não me lembro de nada.
- TÁ. DEIXA PRA LÁ - o homem se virou e levantou a picareta a levando com tudo contra o gelo. O rachando.
Ele repetiu esse processo várias vezes até que conseguiu quebrar uma parte do gelo. Uma entrada.
- UMA VEZ QUE ESTRARMOS AQUI NUNCA MAIS PODEREMOS SAIR - Gritou, jogando a picareta no chão - AFINAL. NÃO PODEREMOS QUEBRAR O GELO POR BAIXO DO MAR. TEM CERTEZA DA SUA DECISÃO?
Se eu tenho certeza...?
Olhei pro homem e então pro buraco no gelo, que já começava a se fechar.
Eu não sei se tenho certeza.
Eu não sei.
Não sei.
Não sei.
Meu corpo tremia. Estava me sentindo desconfortável com minha Henna. Não estou conseguindo me manter me pé.
E o homem percebeu isso.
- AGORA JÁ É TARDE. VAMOS ENTRAR OU VAMOS MORRER AQUI - me pegou pelo braço e me puxou.
No momento que senti a água do mar encostar em meus pés. Me senti melhor. Eu pensei que a água ia estar muito fria e agitada.. No entanto. Ela estava morna. Calma.
Afundamos por completo e então eu observei a superfície. O enorme paredão de gelo se localizava acima de nós. Um pouco distante. Estava a entrada por qual passamos. Aparentava muito menor que antes.
Se fechava como um portal. Até que finalmente se fechou, por completo.
- Bom. Agora não tem mais como voltarmos - o homem disse. Por fim. Se virando pra mim.
- A água não deveria estar fria? - questionei. Ainda surpreso.
- Não.
- Não?
- Vocês jovens não aprenderam sobre historia?
- Algumas coisas. Aprendemos sim. Mas não relacionado a isso.
- Mas "isso" é o mais importante.
- E o que é isso então...? Está querendo dizer que... Toda essa frente fria... Tem a ver com o nosso povo? Porque aqui está normal então? - me virei pra olhar a cidade de Arcadia. Ao longe. Ela estava intacta. Pelo menos de longe.
- O frio só está acima da superfície. O Deus do mar nunca desejaria nosso mal.
- E nem dos da superfície - argumentei - Os humanos da terra estão tendo grandes problemas por causa disso.
- O deus do Mar está triste. Você tem que entender isso. Apenas entramos numa fase que aconteceria de qualquer forma.
- O que? Entramos? Fase?
- Sim. Que ocorre a cada 1000 anos. A Turkólia.
Tur.... Kólia?
- Pra ser mais específico. Já que vocês jovens não aprenderam isso. Seria o "limpa mal".
- Como assim...? - o encarei, assustado.
- Seria o evento em que nós seres do mar entrariamos em hibernação. Escapando da frente fria. E metade dos seres da terra iriam ser atingidos por elas. Morrendo. Poucos sobreviverão. Meio que é uma forma de regular a população.
- Isso é loucura!!! Vão matar milhares de vidas! Deus do mar quis isso??
- Ele não quis. Os humanos da terra quiseram. Se nunca tiveram partido e abandonado o Deus do mar. Não precisaria disso - o outro virou as costas pra mim - Isso é apenas a consequência da ingratidão humana. De um pai que fez tudo pelo filho. Mas o filho resolve o deixar sem nunca mais dar notícias. Deus do mar é o nosso pai. E sempre seremos filhos dele. Você sabe. Jovem. Se não por que teria voltado para cá? - deu um sorriso de lado e então começou a nadar, se distanciando de mim, sem me dar mais respostas.
...
....
Os humanos vão morrer...? O Nam vai morrer?
No desespero eu gritei.
- Existem humanos que tem seus sonhos! Um pai nunca poderia impedir um filho de sair de casa quando este tem seu sonho! Sendo assim nunca seria um pai! Muitos humanos não saíram daqui por ganância e egoísmo. E sim porque tinham seus desejos. Deus do mar nada poderia fazer se o mar não tem tudo o que a terra tem. Aqueles humanos não merecem morrer! Nem todos são ruins! Nem todos são culpados. Não é justo!
O homem parou de nadar e se virou pra mim. Sorrindo.
- Eu sei. O amor da minha vida esta lá... - deu um sorriso triste e olhou em meus olhos - Mas nada podemos fazer pra mudar isso. Não é como se Deus do mar fosse nos ouvir agora.... As coisas não são assim.... Só temos que aceitar.... - deu de ombros.
- Por que voltou aqui e deixou o seu amor lá? - Perguntei - Não se importa que ela vá morrer? Não a ama de verdade?
- Como assim? Ousa dizer que eu não a amo??? Claro que eu a amo! Estou aqui porque ela pediu para eu voltar. Porque ela me ama. Ela quer meu bem. Afinal. É a minha esposa. E se ela sabe que eu posso me salvar. Então é isso que ela vai fazer. Me deixar ir. Eu quero viver. Sabe. Jovem? E ela sabe disso. Também. Portando me deixou ir. Ela não me seguraria sabendo que iria morrer com ela.
- Eu preferiria mil vezes morrer com a pessoa que amo do que deixá-la pra morrer sozinha....
- Então por que voltou?
- Porque eu não sabia? Porque eu não sabia de tudo isso? Porque.... Porque eu fui muito covarde para falar pra essa pessoa pessoalmente que a amava... - abaixei a cabeça.
Sabia que ali eu não podia chorar, igual fora do mar. As lágrimas não saiam.
Mas eu ainda sentia meu coração apertar.
- ....
- ... Tudo o que eu mais quero agora é voltar....
- ... Desculpe.
O olhei.
- Mas agora só te resta a opção de aceitar - deu um mínimo sorriso triste e se virou - Ou de conversar com o Deus do mar. Mas este nunca irá te escutar. Vai por mim. Deus do mar nem mesmo está escutando os humanos daqui. Ele parece ocupado com alguma coisa. Mas caso queira tentar. O altar está sempre a visita de todos. Você sabe.
Eu sei...
Olhei para a superfície.
E é isso que eu vou fazer.
...
Balancei a cabeça.
Pra mim só tem dois finais.
Ou eu tento concertar essa situação toda, chamada de Turkólia.
Ou eu me sacrifico para tentar salva-los.
Porque o final que o Namjoon morre.
Ah. Esse eu não vou aceitar.
Nunca vou aceitar. Eu vou salvá-los.
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