- Pai, eu não vou para a empresa! Não quero ter o compromisso de todos os dias ter que levantar cedo, colocar um terno chato e ir para uma empresa chata e participar de reuniões chatas! – eu já não aguentava mais discutir isso com meu pai, e agora, nem mesmo o café da manhã e conseguia comer em paz.
- Chenle...não fale bobagens! Essa empresa chata é a sua empresa!
- Minha não, sua!
- Você está sendo uma criança Chenle, essa empresa tão insuportável assim está na nossa família há gerações, o próximo presidente dela é você! Está na hora de aprender a comanda-la! Já possui 17 anos meu filho.
- Pai, entenda... Eu não quero ser o presidente dessa empresa, quero ser piloto de avião!
- Chega de discussão! Enquanto morar embaixo do meu teto, você obedecerá às minhas ordens! Vá se trocar, estou te aguardando. Em 20 minutos saímos para a empresa. – meu pai era irredutível. Nem mesmo a desculpa de “tenho aula” iria adiantar, já que eu estudava em casa.
- Droga! Não vejo a hora de ser adulto! – levantei irritado da mesa, deixando meu pai furioso.
Meu pai definitivamente não entendia os meus sonhos....minhas vontades. Ele sempre quer impor sua vontade sobre minha vida, o que eu quero, ele jamais leva em consideração.
Agora estou aqui, na frente do meu closet, tendo que escolher um terno para ir com meu pai para nossa empresa de telefonia.
Tá, é realmente legal ser dono da maior empresa de telefonia da China, esse fato me dá muitas vantagens, sou privilegiado sim e gosto disso. Eu só não queria ter que ser o presidente dela...
Quem começou essa empresa, foi meu avô, pai do meu pai. Começou pequena, como uma terceirizada que instalava pontos de telefone fixo nas grandes empresas. Conforme a modernidade foi chegando, nossa empresa caminhou com passos ainda mais rápidos. Hoje somos a maior da China e com orgulho meu pai sempre diz que somos o concorrente asiático da empresa americana, aquela, da maçã.
Eu já fui muitas vezes para a empresa, conheço o pessoal que trabalha lá, pelo menos os diretores e engenheiros chefes. Até que me dou bem com eles, mas eu acho que eles ainda me veem como aquele moleque ranheto e magricela que ficava escondido debaixo da mesa do meu pai jogando vídeo game.
Eu particularmente gosto muito de quatro dos diretores. Kim Doyoung, um coreano que tem pose de arrogante, mas na verdade é um cara muito legal. Ele é o braço direito do meu pai, é o diretor financeiro. Lee Taeyong, esse cara é estranho demais, coreano também, mas é meu preferido, é o diretor de importação e exportação. Me dou muito bem com ele. Tem um dos engenheiros que olha, se fosse para escolher uma profissão, sem ser a de piloto, eu seria engenheiro eletrônico, por causa desse cara, Hendery. Tem esse nome de americano metido, mas é tão chinês quanto eu e possui claramente 2 parafusos a menos, mas é um gênio, não posso negar. Agora, a minha diretora preferida, casaria com ela se a mesma não fosse 10 anos mais velha que eu. S/n seu nome, uma brasileira maravilhosa e extremamente inteligente e competente, é a diretora de programação. A mulher é um gênio, meu pai paga tanto pau pra ela, que vai mandar a mulher para comandar a filial do Brasil. Acho que até por isso meu pai anda tão estressado. Enfim, é uma equipe legal, nossa empresa é um sucesso, tenho meus luxos graças a essa empresa, mas definitivamente eu não queria morrer afundado na cadeira de CEO. Queria voar alto, ser piloto de avião, igual o irmão da minha mãe, meu tio Kun. Mas ainda sou menor de idade....tenho que obedecer o velho.
Aqui estamos. Sala do presidente e eu sentado numa das cadeiras de frente com a mesa, rodando e brincando com a ponta da minha gravata. Meu pai está há 20 minutos conversando com um cara americano sobre tantas coisas que até parei de prestar atenção.
Já estava entediado ao extremo, querendo pular da janela, até pularia se não fosse no vigésimo andar. Ouvi o telefone tocando e logo meu pai falando “mande entrar”. Alguém estava ali para falar com ele. Mais conversa chata....
Então meu mundo de repente ficou tão iluminado que parecia que haviam derrubado um potinho de glitter nas minhas pupilas. Quem entrou na sala, com aquele sorriso lindo foi a diretora de programação, a brasileira. Mas não é dela que estou falando, sim, ela realmente poderia iluminar uma cidade com seu sorriso, mas estou falando da menina que entrou junto com ela.... Um anjo, um verdadeiro anjo. Fiquei tão mudo que meu pai teve que pigarrear para eu me levantar e cumprimentar a diretora e a garota.
- Oi S/n, tudo bem?
- Como vai Chenle? Pronto para começar a comandar a empresa?
Sorri amarelo para ela. S/n era educada demais e não merecia ter meus olhos revirando para ela. E também a menina que estava quase nas costas dela, me observava atenta e curiosa. Não queria passar por mal educado por esse anjo lindo de franjinha nos olhos.
- Então S/n, essa é a sua sobrinha que veio para estudar em Shangai?- perguntou meu pai, distraindo meus pensamentos.
- Exato Sr. Zhong, Titi ficou muito agradecida pelo senhor ter dado essa oportunidade, dela estagiar aqui na empresa.
- Imagina! Se ela for tão competente quanto a tia, tenho certeza que logo passará de estagiária para ser uma de nossas designers juniores. Seja bem vinda Titi.
- Obrigada pela oportunidade Sr. Zhong, darei o meu melhor.
- Tenho certeza que sim. Bom, deixa eu te apresentar meu filho, esse é Chenle, o futuro CEO da empresa. Filho, você é muito criativo, portanto trabalhará juntamente com Titi. Já mandei arrumar a sala para vocês no final do corredor. Ela será sua assistente nas revisões de criação. Claro, qualquer dúvida você fale com a Ane ou até mesmo com a S/n e o Hendery. Mas darei uma função para você que eu sei que gosta e também terá uma companhia de sua idade, para aprenderem juntos.
Cara....
Eu não sabia se abraçava meu pai, se ficava nervoso, se abraçava a Titi (juro que estava morrendo de vontade dessa terceira opção, mas provavelmente me acharia maluco) ou se apenas ria. Sim! Eu era mesmo bom com desenhos e criações. Por mais que a Ane, a designer chefe, outra brasileira e amiga da S/n, também fosse muito legal, eu conversava pouco com ela. Sabe, meio fechadona, mas eu amava ficar no setor dela vendo a mulher criar e ela já tinha me falado várias vezes que eu levava jeito para essas coisas.
Meu pai estava mesmo empenhado em me fazer pegar gosto pela empresa, já que preparou um escritório só para mim e ainda por cima me colocou no setor mais legal da empresa. É, a sala não seria exatamente só para mim, Titi, esse anjinho com sardinhas no rosto e olhos de jabuticaba, iria dividi-lo comigo, e eu estava adorando a ideia.
Como um rapaz educado, a cumprimentei.
- Seja bem vinda Titi, será bom ter alguém da minha idade para trabalhar comigo.
- O prazer é meu Chenle. – seu sorriso era idêntico ao de S/n, isso definitivamente era a característica mais adorável da diretora de programação e com certeza de sua sobrinha também.
Nossa...eu já falei que o inglês dela era perfeito? Sim, obviamente ela era fluente em inglês, como sua tia. Será que fala mandarim? S/n deve ter ensinado alguma coisa, já que mora aqui há tantos anos e fala chinês muito bem.
Ficamos nos olhando igual dois bobod, até que escutei a risada de S/n e do meu pai. O que? Porque estão rindo? Perdi alguma piada?
- Então Chenle, vá com S/n e Titi, ela irá mostrar a sala de vocês e passar instruções da função de vocês. Filho, confio no seu potencial e trate Titi bem, ela será sua companhia diária.
Por que meu pai pediu para eu tratar ela bem? O que ele acha que eu sou?? Só porque da última vez que tive que aguentar um estagiário chato eu fiz questão de derrubar café nos papéis que ele separava?? Que isso, que falta de confiança em mim. Fiquei magoado.
Enfim, Titi não parece ser chata, aliás, estou bem empolgado em trabalhar com ela. Seremos a melhor dupla da empresa.
Segui S/n e Titi para fora da sala do meu pai e fomos para o final do corredor. Quando entramos na sala fiquei super feliz. Meu pai havia decorado com coisas que eram minha cara! As cores pastéis, detalhes cromados, caixas de som e duas mesas, uma ao lado da outra e uma um pouco maior, redonda e posicionada no centro, com dois notebooks em cima. Deduzi que seria ali onde trabalharíamos.
- Chenle, Titi, vocês trabalharão aqui, os projetos serão mandados para vocês fazerem suas considerações e também poderão criar em conjunto. Caso Ane não possa dar seu parecer, falem comigo ou Hendery, ok?
- Ok tia – Titi foi a primeira a falar, já que eu ainda estava processando minhas novas funções.
- Está bem S/n, pode ficar tranquila.
A diretora por fim deu as últimas instruções, nos orientou do que fazer e saiu da sala nos deixando sozinhos.
Titi parecia tímida ali, sozinha comigo. Eu a entendia, pois também estava um pouco sem jeito. Comecei observar seu jeito, como olhava as coisas do escritório, então resolvi puxar assunto e quebrar aquele silêncio incômodo.
- Então, você está em Shangai desde quando? – Titi se virou para mim e lançou aquele lindo sorriso tímido, me fazendo sorrir de volta.
- Cheguei faz dois meses, acabei o ensino médio e vim.
- Pensa em fazer faculdade aqui?
- Talvez... Minha tia me chamou para passar um tempo com ela, e se eu me acostumar, pode ser que eu faça a faculdade por aqui sim.
- Gostaria de fazer o que?
- Programação, igual minha tia, ela é a melhor que eu conheço.
- Tem razão, sua tia é a melhor programadora mesmo. Se seguir os passos dela será muito boa também.
- Assim espero. Meus pais já me permitiram ficar aqui, eu só preciso ver se me acostumo. Preciso aprender o mandarim também, já que somente com o inglês não vou conseguir me comunicar com todos.
- Já que vamos passar várias horas do dia juntos, posso te ajudar com isso, o que acha?
- Não, por favor, não quero abusar, afinal, você é meu chefe.
- Não, seu chefe é meu pai, no caso, é meu chefe também, e para mim não custa nada.
- Então eu aceito!
A menina disse isso e esticou sua pequena mão na minha direção, aquele sorriso encantador fazendo novamente meu coração acelerar...
Se era uma estratégia do meu pai, ter contratado essa menina para trabalhar junto comigo e assim me convencer a vir para a empresa todos os dias, olha, ele havia acertado em cheio.
Eu nunca me senti tão motivado para levantar cedo e me arrumar para vim para a empresa de telefonia da família. Até mesmo minhas aulas, as últimas matérias que faltavam para eu concluir o similar do ensino médio, eu havia pedido para o professor ir somente aos sábados. Eu ia cedo com meu pai e voltava no final do dia.
Passava a manhã toda analisando os desenhos que os designers faziam e quando chegava a hora do almoço, que era a hora que Titi começava, eu já ficava agitado.
Já estávamos trabalhando juntos há dois meses e pelo que escutava do meu pai, Titi estava indo muito bem. Isso me deixava particularmente feliz, já que muito do que ela aprendia, era eu quem ensinava.
Meu pai desde sempre me quis dentro da empresa. Quando criança me levava e me deixava brincando pelo seu escritório, ou pedia para alguém ficar de olho em mim enquanto eu passeava pelos setores de criação e produção. Eu curtia mesmo ir para a empresa. Mas conforme fui crescendo, confesso que meu interesse foi diminuindo, até que me apaixonei pela profissão de piloto, quando o tio Kun me levou numa viagem e deixou que eu fosse dentro da cabine com ele. Desde então, meu sonho era ser piloto de avião.
Mas agora, confesso que nos últimos dois meses, tenho me sentido cada vez mais motivado e feliz para ir para a empresa. Eu já tenho 17 anos, quase 18, preciso mesmo começar a pensar no futuro. Não desisti de ser piloto, de jeito nenhum, mas acho que seguir a carreira do meu pai talvez não seja tão ruim assim.
Claro, minha grande motivação tinha nome, sobrenome, possuía lindas sardinhas nas bochechas, cabelo preto com franjinha, olhos escuros como a noite e um sorriso mais branco que a neve. Titi. A estagiária que entrou para aprender a função de sua tia e acabou conquistando meu coração.
Pareço adolescente bobo apaixonado, mas acho que é exatamente assim que estou. Nunca tinha me apaixonado, e é uma sensação muito estranha.... Sabe como descobri? Numa de tantas conversas com meu primo e melhor amigo, Renjun. Ele perguntou porque eu andava tão distraído...
“Chenle, o que você tem? Parece tão aéreo”.
“Nada... Eu acho. Na verdade, eu venho me sentindo estranho. Sabe, tem uma garota aí...”
“Hum...garota? Quem é?”
“Titi. Ela é estagiária na empresa, sobrinha da S/n, a diretora de programação. Veio para passar um tempo com a tia e meu pai acabou contratando-a.”
“É bonita?”
“Como anjo...tão inteligente, dedicada, bem humorada, linda por fora e por dentro.”
“ E o que você sente perto dela?”
“Que pergunta estranha Injunnie...”
“Vamos, me fala, quando vocês estão perto, o que você sente?”
“Não sei... É estranho. Sabe quando suas mãos suam sem estar calor? Ou quando seu coração acelera tanto que você acha que vai sair pela boca? Ou aquela sensação estranha se estômago vazio com cócegas? Fora que mesmo sem querer ela sempre está nos meus pensamentos...e sonhos.”
“Você está apaixonado.”
“O que??? Não não, claro que não.”
“Você nunca se apaixonou?”
“Não... você já?”
“Claro... Pela minha melhor amiga, e foi exatamente assim que fiquei. Mas eu fui bobo, e não quero que você seja e passe pelo que passei. Eu sofri em silêncio por mais de 3 anos, a perdi por bobagem. Mas sabe, quando uma coisa precisa acontecer, nada e caminho nenhum a impede de se concretizar. Hoje ela é a minha companheira de laboratório e minha namorada”.
“Então a primeira garota por quem você se apaixonou foi pela menina que trabalha com você no laboratório da universidade”?
“Foi...a primeira e única. E sabe de uma coisa? Minhas mãos ainda suam perto dela, meu coração ainda acelera na mesma intensidade e meu estômago ainda sente as famosas borboletas. Não perca tempo Chenle, fale para essa menina o que você sente.”
“ E se ela me recusar? Rir de mim? Falar que gosta de outra pessoa? Ou sei lá...”
“Você só saberá se tentar. Você disse que passa o dia quase todo com ela, certo? Trabalham na mesma sala.”
“Sim.”
“Então para mudar o ambiente e não ficar constrangedor, a chame para tomar um sorvete. Seja sincero com seus sentimentos. É sempre o melhor caminho. Se ela por acaso não sentir o mesmo, paciência, pelo menos você tentou.”
“Obrigado Renjun. Eu vou tentar.”
E foi assim que eu descobri estar apaixonado. Até meu pai já havia notado e sorria orgulhoso para mim, tanto pela minha dedicação como por eu estar descobrindo sobre o amor.
Mas e a coragem de falar com ela? Puxa vida...eu parecia um idiota perto da Titi... Tão meiga e delicada. As vezes eu a via me olhando e quando isso acontecia seu rosto ficava instantaneamente corado. Era a coisa mais adorável desse mundo...
Porém eu havia decidido. A previsão era de sol e calor para sábado, portanto a chamaria para dar uma volta comigo, somente nós dois. Iria tentar falar sobre o que sentia. Esperei até sexta de tarde para falar, para não parecer que eu estava ansioso. Mas na verdade nem dormindo direito eu estava.
- Titi, vai fazer alguma coisa amanhã?
- Acho que não... Minha tia vai sair com os outros diretores, eles sempre vão num bar que não entram menores de idade. Então irei ficar em casa mesmo. Por que?
- Bom... Estava pensando, amanhã vai estar calor, vamos comigo tomar um sorvete, podemos dar uma volta no Jardim de Yuyuan, o que acha?
- Claro! Será ótimo!
- Combinado! Eu passo na sua casa te pegar. Vamos com o motorista do meu pai, é mais fácil de andar e podemos ficar até de noite sem perigo, pode ser?
- Por mim tudo bem.
Aquela resposta, seguida de seu sorriso brilhante, me tirou completamente do eixo. Não dormi essa noite...só pensando em como eu falaria sobre meus sentimentos.
Enfim chegou o sábado e meu coração parecia que iria parar a qualquer momento. Esse negócio de paixão é complicado demais.. chega doer.
Coloquei uma roupa bem bonita, caprichei no perfume e segui para o endereço de S/n. Nem precisei pedir para Titi, já que eu já havia ido lá, numa festa surpresa que a S/n fez para a advogada da empresa, sua amiga e namorada do Doyoung, o diretor financeiro.
Quando o motorista estacionou na frente do prédio eu estava nervoso e suando, e nem estava tão calor assim. O motorista percebeu meu nervosismo e falou.
- Calma Chenle...desse jeito você vai assustar a menina. Mantenha a calma e ela também ficará calma.
- Obrigado Hangeng.
Desci do carro e fui até a portaria, pedi que avisassem Titi que eu havia chegado. Esperei apenas uma minutinhos e então meu estômago havia sido preenchido por um mundo de borboletas...
Ela estava linda, com um vestidinho florido, um pouco rodado e até os joelhos. Usava tênis, o que a deixava ainda mais adorável. Seu cabelo escuro solto e sua franjinha apenas completavam a beleza de seu rosto angelical.
- Oi Chenle.
- Oi Titi... Está linda.. Vamos? - Quando eu vi, já tinha elogiado ela. Seu rosto mais uma vez ficou vermelho e meu coração agitado.
- Obrigada. Vamos sim.
Entramos no carro e pude ver o sorriso cúmplice do motorista do meu pai. Seguimos para o grande jardim da cidade de Shangai, era lindo e todos gostavam de passear por lá.
- Você já veio aqui? – perguntei enquanto a gente descia do carro e íamos para o outro lado da rua, onde ficava o jardim de Yuyuan.
- Não, minha tia disse que iria me trazer, mas sempre tínhamos outros lugares para ir. Estou feliz de ter vindo com você.
- Que bom! Eu amo esse lugar, me traz paz, é um dos poucos lugares tranquilos aqui em Shangai. Você irá gostar.
Caminhamos pelo parque todo e aproveitei para conhecer mais dela. Não que a gente não conversasse na empresa, mas sempre tínhamos muito trabalho, então a gente sempre conversava sobre trabalho. Sabia pouco de sua vida. Somente que ela era do Rio de Janeiro, tinha um irmão mais novo e sua tia era como sua mãe, ela a considerava demais.
Durante as horas que passamos naquele parque, descobri suas comidas preferidas, músicas, livros, alguns de seus sonhos e desejos. Descobri que seu sabor preferido de sorvete era chocolate com avelã. Descobri que ela tinha alergia a flores, mas mesmo assim amava chegar bem perto para sentir seu cheiro.
Descobri também que eu estava completamente apaixonado e mesmo depois de 3 horas conversando e rindo sobre tantas coisas, eu ainda não tinha ideia de como eu iria falar para Titi que eu gostava dela bem mais que apenas um amigo.
Eu nunca tinha feito isso, nunca havia namorado. Havia dado um beijo apenas numa garota, numa festa de aniversário. Beijo roubado diga-se de passagem. Porém eu sentia cada vez mais que eu tinha que falar. Estávamos há mais de 2 meses trabalhando juntos e meu coração perdia totalmente seu rumo perto daquela menina. Era arriscado? Era, mas eu não tinha outra opção.
Eu já sabia que ela não tinha ninguém no Brasil, numa de nossas conversas, no escritório, ela havia mencionado que não tinha ninguém esperando por ela, somente sua família mesmo. Reuni toda a minha coragem e a puxei pela mão para sentarmos num banco, na frente de uma fonte, bem no meio do jardim.
- Dizem que essa fonte atende pedidos se jogarmos a moeda nela. – falei olhando para frente, evitando seus olhos.
- É mesmo? Já tentou?
- Não, mas hoje irei tentar. E você?
- Também quero! Acho muito legal esse tipo de coisa, vai que funciona mesmo?! Não custa nada!
Olhei para Titi e dei meu melhor sorriso, era agora ou nunca.
- Titi, você já sentiu que talvez tivesse encontrado sentido naquilo que antes parecia não fazer sentido?
- Como assim? Parece até questão de química isso...
- Na verdade pode ser química mesmo...meu primo namora uma especialista em química, e ela uma vez me disse que tudo no nosso corpo é química.
- Que conversa estranha Chenle...
- Desculpa... Estou um pouco nervoso. Vou tentar ser mais claro.
- Está bem, mas não fique nervoso, somos amigos, não é mesmo?
- Sim... Somos... Bem isso também pode ser sobre amizade. Presta atenção. Você já sentiu sua pele arrepiando apenas pela proximidade da hora de ver alguém? Ou o coração tão acelerado que mais parecia uma bomba relógio? Ou aquela saudade e vazio sem explicação, como se seu mundo já não tivesse sentido sem a presença de determinada pessoa? Ou já sentiu seu sorriso se abrir em seu rosto involuntariamente e quando percebeu estava rindo igual um bobo? Ou aquelas borboletas batendo asas na barriga, te dando sensação de vazio e preenchimento ao mesmo tempo? Já sentiu isso? – Titi estava me encarando com olhos esbugalhados, boca semi aberta e tão estática que mal respirava. Aproveitei disso e peguei em sua mão, levando até o meu peito e fazendo ela sentir como eu estava acelerado, apenas por estar com ela e me declarando.
- Chenle....
Ela disse isso e rapidamente tirou a mão de cima do meu coração, se levantando e indo para a frente a fonte. Senti meu coração se despedaçar, mas eu não a deixaria sozinha. Levantei do banco e fui para o seu lado, observei quando ela tirou uma moedinha de dentro de sua bolsa, fechou os olhos, esperou alguns segundos e jogou a moeda.
Sem dizer nada, eu fiz a mesma coisa, tirei uma moeda do bolso, fiz um pedido e joguei na fonte. Quando eu acabei de fazer isso, Titi se virou para mim e falou.
- Tudo o que você falou para mim, é exatamente o que venho sentindo... Nos últimos dois meses... – seu rosto estava abaixado, mas ainda assim eu consegui ver suas bochechas coradas. Adorável Titi....
Aproximei minha mão do rosto dela e a fiz olhar para mim. Ficamos nos encarando alguns segundos e mesmo achando que eu teria um ataque a qualquer momento, mesmo com minhas mãos suando e minhas pernas tremendo, aproximei vagarosamente meu rosto do dela e observei seus bonitos olhos se fechando, como um espelho, fechei os meus e juntei nossos lábios num beijo delicado e apaixonado. O melhor beijo da minha vida.
Suas mãos foram para os meus braços, tão delicadas e trêmulas... Eu sentia sua respiração pesada e ofegante. Ela também estava apaixonada.
Quando por fim separamos nosso beijo, vi seu sorriso se abrindo de orelha a orelha. Não resisti e falei.
- Essa fonte é mesmo milagrosa. Pedi um beijo seu e ela me atendeu imediatamente. – seus olhos brilharam para mim, fazendo meu coração se aquecer e derreter, mais uma vez no mesmo dia.
- Eu também fiz um pedido e fui atendida.
- E o que você pediu?
- Que tudo o que você tinha me falado, não fosse sonho, uma ilusão da minha cabeça. E como prova, você me beijou.
Minha primeira paixão. Nada poderia ser mais perfeito e mágico. Abracei Titi e sem me importar com os olhares curiosos, a levantei do chão e a girei, fazendo nós dois quase cair no chão.
- Obrigado por ter mudado minha vida, ter entrado no meu coração e feito meus dias ainda mais iluminados, só pelo fato de sorrir.
Mais uma vez naquele dia, na frente daquela mesma fonte, beijei a minha Titi.
Ainda não era minha namorada, mas seria, a primeira...
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