A chegada até a casa foi tranquila, apesar do silêncio de todos durante a viagem. Meu pai, mais animado com meu retorno, ainda comentava de vizinhos ou conhecidos que falavam ou perguntavam a meu respeito. Minha mãe, mais fria, mais distante, observava a estrada calada, sequer comentou qualquer assunto que possivelmente surgiu na viagem. Sam estava atenta a tudo, sorria, apertava minha mão. Ela estava em uma variação surpreendente de humores, momentos alegres, eufóricos, que apontava ou mostrava qualquer coisa diferente avistada na estrada, como angústia e tristeza em silêncios infinitos. Eu tentei contornar aquela situação, que sabia ser um pouco desconfortável para ela.
Natal é um daqueles tempos que você costuma se unir a família, sentar-se em uma grande mesa, compartilhar de comida e bebida, conversar sobre os feitos naquele ano que estava chegando ao fim. Compreendo que o Natal é o dia do nascimento do menino Jesus e que judeus não compartilhavam desse tempo de festas. O curioso é o ar festivo que nos damos neste final de ano, festejar uma data religiosa e tão próximo uma mudança de ano. É deixar para trás tantas coisas ruins e começar com algo novo.
Meu pai estacionou o carro e mal puxou o freio de mão, minha mãe desceu. Ele me olhou um pouco preocupado, querendo dizer algo sobre ela ou até mesmo se explicar em seu lugar. Algo estava errado! Eu podia ver isso e não tinha nada haver com a vinda de Sam, até porque foi ela mesma que a chamou para o Natal.
Ao lado de Sam, ajudei meu pai com as bolsas e subimos para o meu quarto. Havia um quarto de hóspedes, mas por motivos lógicos eu iria optar por deixá-la comigo. Fechei a porta atrás de mim e a loira olhava tudo ao redor. Meu quarto era único, era decorado e cuidado por mim, com a minha cara e ela percebeu isso. Havia um piano pequeno em um canto do quarto, com fotos sobre a madeira e uma toalha azul clara como proteção. As cortinas brancas, a parede em um tom rosa chá, delicado. A cama de casal, tipo princesinha e não que meus pais tenham vendido um rim para comprar, claramente não tínhamos condições. Mas meu pai sempre quis me dar um quarto de princesa e trabalhou muito, mas comprou usada, pois de todas as novas, aquela usada era a que ele dizia ser para mim, que precisava ser minha. Ele estava certo. Uma pequena mesinha de estudos e um guarda-roupa ocupavam a parede e por mim, uma porta branca, com alguns enfeites pendurados, dava acesso ao banheiro.
- Que quarto fofo, Ash - Sam disse.
Mas seus olhos ficaram distante ao olhar as prateleiras que ficavam sobre a mesa, assim como os meus se arregalaram e o meu ar faltou. Eram fotos, porta retratos da minha vida antes de tudo aquilo mudar de vez. Duas delas me tiraram todo o conforto conquistado até ali. O rosto de Alan, sorridente, da forma como o conhecia, ao meu lado, que também entre sorrisos, festejava uma virada de ano. Outra foto, em um aniversário. Nós éramos felizes daquele jeito, sem nos conhecermos. Era engraçado por outro lado, ver o sorriso simples, sem esforço, mas sem naturalidade. Era diferente o que sentia ao lado de Samantha, era diferente o sorriso bobo que se formava em meu rosto sem sequer eu esperar ou me preparar para ele. Simplesmente sorria!
Me aproximei da prateleira e peguei as fotos, despejando em uma lixeira ao lado da mesa. Sam me encarou surpresa, mas sentia em seu olhar, o brilho e a gratidão. Sorri para ela e estava me aproximando para abraçá-la, quando a porta do quarto se abriu e meu pai surgiu com um largo sorriso no rosto.
- Se arrumem, o jantar chegará às 22 horas, assim como seu tio Henrique e sua vó.
- Certo, pai. Estaremos prontas!
- Fico muito feliz que esteja aqui novamente, Ash - ele se aproximou e beijou minha testa - Mas devo pedir um pouco de paciência com sua mãe.
- O que houve?
- Querida... - ele olhou para Sam e ficou um pouco inseguro - Nós fomos avisados pelo que passaram.
- O que? - minha voz saiu presa, um pouco alterada, mas ainda assim expondo minha decepção.
Eu não sabia se eles haviam sido informados, se Alan disse algo. Meus pais não me ligaram, não me visitaram nos finais de semana, sequer deram notícia e quando eu ligava, não atendiam. Sossegada fiquei quando meu pai havia me mandando uma mensagem dizendo que estavam muito ocupados, trabalhando e cuidando da minha vó, que estava passando por problemas de saúde. Saber que eles tinham conhecimento do ocorrido e que sequer foram me visitar ou dar suporte, aquilo me destruiu por dentro. Eu era a única filha que tinham, como não se preocuparam com isso?
- Por que não foram visitar a filha de vocês? - a voz de Sam surpreendeu tanto a mim quanto a ele, que a olhou envergonhado.
- Querida... nós...
- Pai... eu precisava de vocês - uma lágrima subiu em meus olhos - Eu realmente precisava de vocês.
- Eu não posso te explicar tudo agora...
- Explicar? Eu não vou sentar naquela mesa sem saber uma razão para não terem me apoiado quando mais precisei de vocês. Eu não vou descer - disse sentando na cama, Sam me acompanhou - Sam e eu sofremos muito e vocês sabiam.
- Querida... meu Deus, ela vai me matar se eu contar - ele disse colocando os dedos nos olhos, tentando organizar as palavras - No dia que Alan veio aqui, falar do rompimento de vocês, sua mãe ficou descontrolada. Sabe que para ela isso daria em casamento, que no fundo ela estava esperando para estar na igreja e nos ver entrando, oferecendo nossa única filha para um bom sujeito como Alan. Sua mãe ficou doente... muito doente. Não era sua vó que passava por sérios problemas de saúde, mas sua mãe.
- E por qual razão não me disseram?
- Porque sua mãe quis assim. Eu estava muito preocupado com a gravidade da situação e achei mais apropriado cuidar dela, obedecendo suas vontades.
- Pai, se ela morresse? Eu não a visse?
- Ela não queria mais falar ou ver você, Ashley. Todos os planos e sonhos que ela tinha com você, foram se destruindo desde o dia que você foi aceita na bolsa.
- Mas era o meu sonho, pai...
- Eu sei... mas não o dela para você. Ela queria você bem casada, com filhos.
- Esposa e dona de casa? Era esse o sonho que ela tinha para mim? Dependente de um homem e cuidando de uma penca de crianças? Que nojo, pai. Você viu quem era ele de verdade? Viu do que ele foi capaz?
- Como?
- Vocês... meu Deus - olhei para ele em choque. Ele não sabia.
Sam me olhou surpresa e segurou minhas mãos com força. Ele havia envenenado minha mãe provavelmente, devia ter dito coisas horríveis a ponto dela adoecer e se recusar a falar comigo.
- Filha, nós soubemos que você foi raptada somente quando a encontraram. Sua mãe havia tido uma crise de ansiedade, nos impedindo de ir correndo te ver. Soubemos que o agressor havia morrido e que vocês estavam bem. Por isso que sua mãe resolveu convidá-la para o Natal, pois se sentia culpada por tê-la deixado sozinha.
- Pai... vocês sabem quem era o agressor? - perguntei.
- Eles têm um nome? - ele perguntou preocupado, surpreso e visivelmente irritado.
- Pai...
- Ashley - Sam chamou minha atenção - Infelizmente nós não temos, senhor. Ela perguntou na esperança que soubesse de algo que não nos disseram.
Ele olhou para Sam com um peso, uma angústia. Ele segurou minhas mãos, assim como as mãos dela. Uma lágrima subiu em seus olhos e ele segurou o quanto pôde para que não a deixasse cair. Ele sorriu, beijou meu rosto, em seguida o rosto de Sam, afagou nossos cabelos e foi até a porta do quarto.
- Apesar disso tudo, meninas, desçam na hora que falei. Sua mãe ficará muito feliz.
- Sim, senhor - mais uma vez Sam tomou o controle.
Assim que a porta fechou, eu a olhei surpresa. Eu precisava alertá-los, inclusive minha mãe, que fazia de Alan um santo. Eu precisava dizer do que ele foi capaz de fazer a nós duas, eu queria dizer o que Sam sofreu por fazer parte dessa história de alguma forma.
- Por que você...
- Ash - ela segurou minhas mãos e olhou fundo em meus olhos - Sua mãe esteve bastante doente por conta de um sonho destruído. Se ela souber que o homem dos sonhos que ela tinha para você, era um homem como Alan, se ela souber o verdadeiro homem, ela ficará muito pior. Acabar com os planos dela, sobre alguém que sequer ela conhecia. Enquanto ela pensar que foi uma farra de faculdade que te fez abrir os olhos e acabar com tudo isso, para ela, a dor já foi superada. Causar uma nova agora, será esperar pelo seu fim.
- Sam...
- Eu sei que é difícil agora, ser a vilã dessa história. Mas pelo bem da sua mãe, que sei que apesar de tudo, você a ama. É o melhor a se fazer.
Ela estava certa. Infelizmente eu teria que carregar a bandeira da boa filha e também a da surtada que por causa da faculdade abandonou o futuro marido. Sam sorriu com minha expressão de criança birrenta e o bico que estava fazendo e com o jeitinho que só ela sabia fazer, ela se inclinou para cima de mim, beijando meus lábios com doçura e me empurrando para trás com o próprio corpo. Deitei na cama quase que forçadamente e ela ficou sobre mim, descendo seu corpo até que se colasse ao meu, ainda me beijando com sofreguidão.
Sam era envolvente e qualquer coisa que fazia, deixava meu coração disparado, sem controle. Levei minhas mãos às suas costas, massageando com carinho. Faltavam algumas horas até que servissem o jantar ou que os convidados chegassem, então eu me permiti.
A loira pressionou sua pélvis contra a minha, em um movimento lento, suave, mas que me causava pontadas fortes de excitação e desejo a cada toque. Entreabri os lábios e ela intensificou o beijo de tal forma que pensei que ela me sugaria a alma. Senti que ela estava ficando descontrolada, eu não lembro quando foi que ela perdeu o controle. Joguei-a para o lado e pude ver suas pupilas dilatadas, e um sorriso tomou conta do meu rosto, fazendo com que ela me olhasse surpresa.
- O que foi? - ela perguntou ofegante.
- Você é a pessoa mais linda que eu já vi em toda a minha vida.
E eu não menti quando disse isso. Sam era perfeita em todos os aspectos. Tanto fisicamente, com sua pele macia e suave, com seus lábios rosados e levemente carnudos, com os cabelos dourados, que escorriam pelas suas costas de forma tão impactante. Os olhos, aqueles olhos maravilhosos, da cor de esmeraldas. Eu sentia um desejo absurdo de tomá-la para mim, de tê-la eternamente comigo. Sam nua era ainda mais fantástica, levantei sua camisa e abri seu sutiã, deixando seus seios médios livres, olhando-os como nunca parei para olhá-los. Senti que ela segurava meus braços com força, me olhando espantada, surpresa e acima de tudo, curiosa. As auréolas rosa chá, de tamanhos médios, com seus bicos eriçados entregando tamanha excitação. Com a ponta do dedo, suavemente toquei um deles, enquanto descia devagar pelo seu abdômen, contraído e liso, de quem não se deixava engordar ou de quem não engordava com facilidade. Abri seu short com cuidado, descendo um pouco junto com sua calcinha branca. Ela tinha o costume de se depilar por completo, mas todos os pequenos pelos de seu corpo eram de um loiro tão belo, que me deixavam besta.
Ela ainda estava ofegante, sentia os músculos de suas pernas contraídos, e seus poros levemente eriçados, o que mostrava o arrepio em seu corpo. Sem me fazer de rogada, desci meus lábios em direção aos seus seios, tomando um deles na boca. Suas mãos, ainda presas aos meus ombros, apertaram com força e com uma leve olhada para cima, pude ver que ela jogava a cabeça para trás. Com a outra mão, encontrei sua nuca e seu cabelo, segurando com força, ouvindo seu gemido e me erguendo, sentando em seu ventre e puxando seu rosto para mim.
- Eu sou louca por você, Sam - disse tomando seus lábios em seguida.
Consumar o ato ali era o que mais eu queria. Mas fomos pegas de surpresa ao ouvir os passos de alguém no corredor. Imediatamente ajudei-a a se recompor, me endireitando logo em seguida. Não demorou muito até ouvir uma batida suave na porta.
- Pode entrar, está aberta.
Sam sentou-se na cama e ficou ao meu lado, com a maior expressão de culpa do mundo. Eu ri por dentro daquela situação. Eu não me lembrava se algum dia passei por desconforto parecido, até porque meu namoro foi completamente arranjado, mas era gostoso sentir aquela sensação de perigo.
Lentamente a porta se abriu e minha mãe entrou. Seu olhar era desconfiado, incomodado. Minha expressão animada logo foi tomada por uma curiosidade diante aquele olhar inquisidor.
- Querida, queria conversar com você... antes do jantar.
- Agora?
- De preferência.
- Tudo bem... - olhei para Sam.
- Tudo bem, posso te esperar aqui? - ela perguntou com um sorriso doce nos olhos.
- Claro.
- Estou te esperando no escritório de seu pai.
Assim que minha mãe deixou o quarto, Sam se aproximou do meu ouvido suavemente e com um sorriso safado nos lábios disse...
- Essa noite, quero que meu presente seja completo.
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