Depois das revelações dadas por Jennifer, as coisas foram seguindo um pouco mais tensas. Apesar de algumas dúvidas terem sido esclarecidas e que agora sabíamos claramente o que poderíamos ou não fazer, ainda haviam algumas confusões. Eu estava realmente engatada em um romance com Sam e com os dias fomos nos aproximando e nos amando cada vez mais e mais. Sua mãe já resolvia os assuntos relacionados ao nosso casamento que aconteceria em breve. Enquanto nós duas tentávamos resolver os problemas com as nossas vidas.
Resolvemos juntas, levar a vida normalmente, sem pensar no medo ou sem ter raiva da impunidade quanto ao pai de Alan. Mesmo que conseguíssemos denunciá-lo, neste país, pessoas ricas infelizmente não têm tantos problemas quanto pessoas mais humildes teriam. Talvez Alan ficasse preso, mas seu pai não. Sam deixou claro que por ela, ignoraria a existência daquela família. A pessoa que mais nos machucou estava morta. A pessoa que levou todo o mal.
Mas me sentia péssima por Jennifer. Com ela foi tudo diferente. Não foi somente Alan que a feriu. Até porque ele nem sabia que se tratava dela ali. Acreditava realmente ser Sam. Ele a feriu diretamente e por conta de Jennifer, somente por ela, eu sentia falta e necessidade da vingança.
Mas, o período da Faculdade estava chegando ao fim e era comum os estudantes realizarem uma festa de confraternização, devido ao final daquele período letivo. Sam e eu éramos de turmas separadas, mas as pessoas de ambas as turmas eram conhecidos uns dos outros e conseguimos acertar com que todos participassem de uma mesma festa e que essa festa fosse inesquecível. Como é em qualquer instituição e já é de conhecimento de todos, os alunos gostam de causar e alguns alunos estavam finalizando seus cursos, o que aumentou ainda mais a possibilidade de uma grande festa acontecer.
- Vai ser uma zona – Sam disse rindo em uma das reuniões.
- Claro que vai e precisamos que seja.
Clarissa era uma das amigas de Sam, estudava na mesma sala e era a principal organizadora da festa, ao lado da loira. Gabriel era seu namorado e também iria participar ativamente dos trabalhos. Os outros eram Victor, Luan, Sabrina e Alana. Luan e Sabrina eram da minha sala, havíamos feito grupos de estudos juntos. Todos estávamos sentados em volta a uma mesa, embaixo da árvore perto do refeitório. Queríamos uma ideia genial para o tema da festa, que aconteceria no centro de convenções do Campus. Que era uma área aberta, com espaço suficiente tanto para pequenos stands de bebidas, quando para DJ e pista de dança.
- Eu ainda acho que seria melhor você cantar, Sam – Clarissa disse com a caneta na boca e uma expressão peralta.
- Eu?
- Claro, faz nascer aquela roqueirinha de novo. O que acha?
- Sei não.
- Por favor, o Gabriel e o Victor te acompanham.
- Pode ser, só se... – Sam se aproximou de mim e me abraçou pela cintura, puxando para perto de si – você tocar também.
- Eu? Como? Levando um piano para lá?
- A gente arruma um teclado, Ash.
- Meu Deus – eu ri.
- Vamos, vai ser foda – Gabriel disse animado – Tem um teclado na sala de música, podemos solicitar os instrumentos daqui mesmo e soltar um som bacana pra galera.
- A gente já economiza até no DJ.
- Está louca? – Sam berrou – E a gente vai ralar a noite toda e não curtir nada? Pode chamar o DJ também, mocinha e a gente faz a participação especial.
- Isso dá um agito massa – Victor comentou – A galera curte muito isso.
- Então combinado – Clarissa anotou no caderninho e continuou – Banda e DJ, vamos combinar isso direito. Agora as bebidas. Bebidas prontas, cada um pega o seu ou vamos contratar um serviço de bar?
- Serviço de bar – Sam disse se jogando em meu colo – Acho mais apropriado. Mas não chama aquele que tava na última festa não, porque ele não sabia nada de bebidas. Tive que ensinar a ele muitos truques pra poder funcionar.
- É, eu lembro que tava uma bosta mesmo – Alana comentou.
- Tudo bem – Clarissa mais uma vez escreveu e bateu com a ponta da caneta nas páginas – Então só fica faltando reservar tudo com a coordenação e começar a comprar tudo. Luan e Sabrina compram as bebidas, vou pedir a lista ao serviço de bar, se deixarmos isso nas mãos deles, eles compram tudo com o triplo do valor. Melhor ter deles só o serviço de bar lá na hora mesmo. Victor, eu e Gabriel vamos atrás do DJ e do melhor serviço de Bar. Também dos enfeites, temos que pensar direitinho nas cores e nas ideias. Victor, como você é da área de artes, já pode dar uma força. Devíamos criar até um nome foda né? – Clarissa riu – E vocês duas, vão ver isso dos instrumentos, já que Ashley é da área.
- Fechado – Sam disse se levantando.
Todos foram se organizando para irmos resolver nossas partes. Sam se aproximou de Clarissa e as duas riam de alguma coisa, quando Luan parou ao meu lado com um sorriso manhoso. Eu não sabia por qual razão Luciano não estava naquela reunião ou sequer ao nosso lado. Ele se afastou bastante durante um tempo, na verdade, desde que Sam e eu começamos a ter um relacionamento um pouco mais sério. Fiquei até na duvida se ele era realmente gay ou não, se na realidade ele tinha algum amor não correspondido por Samantha.
Luan passou a mão pelos cabelos. Ele era um rapaz bonito, de olhos cor de mel, porém claros, bem atraentes. Os cabelos lisos que escorriam pelos olhos e ele inutilmente afastava ou com as mãos ou com um movimento da cabeça. Ele era magro, não tinha um corpo atlético como a maioria dos rapazes ali, mas tinha uma beleza que chamava a atenção.
- Ash... eu estava pensando aqui... a gente já se conhece a um tempinho.
- Claro, somos colegas de sala, Luan – ri do comentário dele.
- Na verdade, eu já queria falar isso há um tempo. Eu sempre tive um interesse em você, Ash e queria saber se a gente não poderia sair qualquer dia desses... se conhecer sem ser na sala de...
- Luan – senti meu rosto queimar, arder, meu coração disparar.
Era a primeira vez que me encontrava naquela situação. Assumir para Alan foi algo necessário e diante das condições que nos encontrávamos, não havia outra saída. Mas ali, naquele momento, parecia diferente.
- Então, Luan – olhei para os lados – Acho que não vai dar.
- Você está comprometida? – ele perguntou curioso – É que ouvi rumores de quem você havia terminado um namoro e que tava complicado. Se for isso...
- Eu estou bem comprometida, até demais – mostrei o anel em meu dedo e ele abriu os olhos surpreso – Eu e a Sam estamos juntas e pretendemos levar isso adiante.
- Você e a... a Samantha? – ele perguntou chocado.
- Isso, a Samantha.
- Você é... – ele estava visivelmente incomodado com a situação e eu já consegui o controle dela – Você é gay?
- Eu não preciso me rotular a nada e nem preciso que você o faça. Estamos juntas, vamos casar, nos amamos absurdamente e por conta disso não posso sair com você da forma que deseja. O que não quer dizer, que não possamos sair todos juntos.
- Sei... – a decepção era evidente em seu rosto – Olha, desculpa, eu não... bom... é segredo?
- Não – ri – Mas também não existe razão para sair por aí gritando pelos sete cantos, não é? Acho que ninguém fica espalhando os casais.
- Claro, eu não quis dizer... bom, você sabe...
- Oi – Sam se aproximou de nós – Vamos logo na coordenadoria da ala de música? Daí já resolvemos nossa parte e ainda vai dar pra curtir um pouco o sábado.
- Claro – disse sorridente.
- Antes de tudo... espero que não fique um clima diferente – Luan disse tímido – E eu desejo, de coração, felicidade às duas.
- Oi? – Sam me olhou surpresa – Que clima?
- Eu explico – sussurrei e me direcionei a ele – Não se preocupa, você não sabia de nada. Fez o que qualquer um poderia ter feito e agradeço ter sido tão bem educado.
- Vai rolar um convite pra festa? – brincou.
- Meu querido – Samantha me abraçou pela cintura – Vai ser a maior festa do ano e vocês vão estar todos convidados, tenha certeza disso.
Ele sorriu e se despediu educadamente antes de se juntar aos outros, enquanto Sam e eu saíamos em direção ao bloco de música. Sam estava animada, não havíamos mais tocado no assunto do pai de Alan desde que conversamos com Jennifer. Sabíamos que não teria nada o que ser feito a não ser obedecer a ordem que ele deu quando me ameaçou. Não poderíamos somente denunciá-lo e se fosse necessário fazer isso para seguir normalmente, o faríamos. Claro que a angústia de termos sofrido tanto nas mãos deles e ver a impunidade acontecendo, revoltava bastante.
- Mas me diga, o que Luan queria?
- Queria sair comigo – eu disse rindo.
- Mas aquele moleque – ela fingiu irritação e deu a volta, encenando um ataque de ciúmes.
- Ei...
A puxei pelo quadril e ela se jogou em meus braços, me enlaçando pelo pescoço e beijando meus lábios com carinho. Eu a abracei, apertando-a contra meu corpo e afastei meu rosto, olhando fixamente para o par de olhos verdes que tanto me encanta.
- Eu te amo, Sam – disse sem controle.
- Eu acho isso ótimo, porque logo, logo estaremos casadas – ela riu e se afastou de mim, voltando a caminhar em direção ao prédio – Aliás, temos que conversar.
- Sobre o que?
- Eu estava pensando da gente se mudar para uma casa por aqui mesmo, sair dos dormitórios e terminarmos os cursos. Depois compramos uma casa na cidade que quisermos – ela comentou animada.
- Será que não seria mais seguro continuarmos no Campus?
- Eu acho que não, Ash. Se ele entrou no seu quarto com tanta facilidade, que até agora não entendo como o fez, acho que aqui é mais inseguro do que uma casa. E podemos procurar uma casa que nos dê total segurança. Com muro alto, cerca elétrica, grade. Eu quero ficar confortável com você, sem refeitórios, sem banheiro fora do quarto, sem quarto apertado.
- Nossa, pensando dessa maneira, até eu já quero isso.
- Então podemos procurar?
Eu olhei para ela surpresa, achei que era só um desejo dela e não que realmente fosse acontecer. Mas vi que ela falava sério e não pude evitar pular em seu pescoço e cairmos juntas na grama.
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