POV Wednesday
Era entediante, a rotina monótona tinha se instalado no hospital e era completamente insuportável. Eu iria ficar aqui somente alguns dias e agora já se passaram 4 dias. E esses dias foram todos completamente iguais. Era possível dizer tudo o que aconteceu nesses quatro dias sem muitos detalhes. Comida, estudo, exames, fim. Não tinha mais nada a não ser isso, pedi que impedisse a entrada dos meus pais em meu quarto assim como todos da escola, somente quem poderia me ver era Enid Sinclair. Ela era quem eu podia confiar, a única que tinha esse voto único de confiança. Mas eu tinha consciência de que não poderia mentir por muito tempo, em algum momento, eu terei que dizer o que aconteceu e não terá nenhuma desculpa boa o bastante para despistá-los da verdade.
Atualmente eu estou sentada fazendo a única coisa que tenho feito desde que acordei nesse hospital fazendo minhas tarefas. Enid sempre vinha aqui e me entregava minhas atividades do dia, estava cumprindo com minha responsabilidade e com minha detenção. O que me lembra que voltei a conseguir dormir bem, depois de dizer sobre minha dificuldade para dormir com meu terapeuta eu agora tenho um remédio que me ajuda a ter sonhos sem exatamente sonhar. O doutor Diggory, meu terapeuta e também irmão da minha mãe, tem vindo me visitar todos os dias. Decidir tentar falar para ele somente as partes que realmente estavam me incomodando. Não iria tentar desabafar nada com alguém tão próximo… dela…
No terceiro dia foi irritante, ele tentava saber mais sobre mim, ficava especulando coisas, experiências e sentimentos que eu tinha na infância. Ele me conheceu quando eu era criança e simplesmente não entendia minha mudança súbita. Apesar de entender que adolescência mudava as crianças, ele não entendia tudo que havia comigo. Não disse nada além de sim e não(A maioria não) depois de ele propor um jogo. No segundo dia, resolvi dizer a ele parcelas de algumas coisas. Ele me perguntou se tinha alguma coisa que me fazia ferver de dentro para fora. Eu lhe disse as seguintes palavras: "Sonhos, adoro meus pesadelos, como são mórbidos, como são sanguinários… Mas de repente, começou a ser mórbido demais para eu querer voltar a dormir." Ele entendeu rapidamente o que quis dizer, porém, ele tentou arrancar de mim mais coisas, tipo: "O que você sonha?", "O quão mórbidos eles são?", "Quanto tempo está sem dormir?". Porém, não conseguiu mais do que aquelas palavras. Fiquei o tempo inteiro em silêncio.
Ele me receitou um remédio calmante, era um teste. Se nos três primeiros dias não fizerem efeito, ele iria me receitar outro dependendo do avanço da terapia. Não demorou muito e eu comprei e no primeiro dia já funcionou perfeitamente. Dormi por mais de 10 horas como uma pedra em meus maravilhosos sonhos profundos. No dia seguinte ele voltou e tratei de lhe contar sobre o efeito que o remédio fez em meu organismo, mas é claro, em minhas palavras: "A noite, tudo um nada aconchegante, sem som, sem imagens, apenas… o silêncio".
Nesse quarto dia, ele tentou se aprofundar mais sobre minha dificuldade em me expressar com as emoções, meu desconforto em contato físico, minha hipersensibilidade visual(também o motivo de odiar muitas cores), minha falta de interação social, minha impulsividade e minha obsessão com o Hyde no passado. Com uma caixa de papelão em mãos e um gravador de Fita cassete, o homem começou a ouvir vários áudios junto a mim. E a voz logo ficou na minha cabeça, pois eu sabia exatamente quem era.
"Dia 1#
Wednesday sempre parece fechada a qualquer estímulo físico ou psicológico. Não me deixa saber nada sobre ela e isso só dificulta meu trabalho. Ela nunca se deixa ser ajudada. Fugiu da sessão em alguns minutos pela janela do banheiro"
Valerie Kinbott, minha antiga terapeuta e a mesma que morreu para Tyler, o Hyde. Até hoje nunca visitei seu túmulo.
"Porém, sua personalidade, seu jeito de ser, sua dificuldade em olhar em meus olhos quando me conheceu, não posso afirmar nada mas isso sugere um transtorno neurológico"
Como? Encarei o homem na cadeira à minha frente sem esconder o semblante de dúvida, esse que manteve a expressão inabalável. Ele parou a gravação e foi para o próximo dia.
"Dia 2#
A mesma coisa, nunca me olha em meus olhos e não suporta qualquer toque. Ela não me disse nada, está sempre fechada, olhando pro relógio e me lançando respostas ríspidas, arrogantes e mórbidas. Não sente nenhum remorso por quem não conhece."
Pelo menos deixei meu legado antes de Kinbott ter o doce descanso da morte
”Mas vejo em seu olhar que ela é alguém bom apesar das circunstâncias. Suas ações e sua fala não condiz nada com sua personalidade. Ela é alguém muito calma e solitária, mas gosta disso. Não vejo algo realmente esquisito nela, ela não é psicopata, ela é somente diferente"
A fita acaba. Me vi perdida em pensamentos, Valerie conhecia mais sobre mim do que imaginava.
"Dia 3#
Wednesday é meio instável. Desde o dia anterior, ela jura de pé junto que um monstro matou um garoto da sua escola. Rowan, se me lembro bem o nome. Fica dizendo que precisa descobrir quem está matando as pessoas, ela duvida que seja um simples urso. Ela definitivamente está vendo coisas, talvez ela só esteja confusa?"
Revirei os olhos com essa parte. No fim ninguém acreditava em mim.
"Mas, sua personalidade mudou recentemente, definitivamente algo está errado com ela. Entrei em detalhes sobre seu livro, ela era uma grande escritora. Mas parece que Viper, a protagonista de seu livro, é um espelho dela mesma. Uma personagem fria, arrogante e com problemas em relação à mãe. Talvez Wednesday não queira ser igual a ela, mas ela ainda não se dá conta de que fazer as mesmas coisas de quando os pais eram jovens não lhe torna igual a eles."
Outra fita se esvai. Estava começando a ter dor de cabeça.
"Dia 4#
Sinto que a paciente Wednesday Addams está escondendo mais do que antes. A alguns dias atrás, ela só respondia de forma automática com frases fortes. Mas. Agora não parece querer falar comigo, ficou a sessão inteira em silêncio. Hoje os pais dela e seu irmão mais novo vieram em uma terapia familiar. Os pais são muito amorosos e seu irmão também parece amar a irmã de todos os jeitos."
Me forcei a não revirar os olhos com essa fala.
"Então por que ela é assim? Cresceu com pais amorosos e que a amam incondicionalmente, aceita seus erros, seu jeito e não parece ter nenhum problema com o irmão. Todos a amam então por que ela é tão fria e tão gélida com todos?"
…
"Sinto que a minha teoria de ela ser neuro divergente está cada vez mais perto. Vejo em seus olhos que ela também se sente diferente. Ela definitivamente não é igual aos pais, mas não entendo por que tem medo de ser."
A fita novamente acaba. Fiquei encarando o chão pensando.
—Essa foi a última fita dela antes de morrer—O homem fala guardando a fita e o gravador—Te conheço desde criança para saber que você sempre foi assim, afastada da realidade. Mas também tinha suas crises, você tinha muito problema para dormir quando era bebê—...—Talvez com essas fitas eu já saiba o que você tem. O que ela fala sobre você lembra principalmente TEA, ou seja, Transtorno do Espectro Autista. Para ser mais exata, ela desconfiava que você tivesse autismo de suporte nível 2 e eu também acho isso.
Já imaginava que ele fosse dizer isso. Eu já desconfiei mas sempre me recusava a procurar qualquer psicólogo.
Minha hipersensibilidade visual, ajuda a buscar essa resposta. Além de ter deixado a entender que prefiro armas ou lugares mais silenciosos e que odiava muito barulho e sentia desconforto com fogos de artifício. Quando era criança tinha hipersensibilidade auditiva e tentava mascarar isso pois via como uma fraqueza. Mas com o tempo isso realmente já não fazia tanta diferença, pode se dizer que eu me acostumei. Diferente de meu irmão que gosta de bombas e granadas, eu prefiro armas silenciosas e certeiras, tal qual como: Guilhotina, Arco e/ou besta e as espadas, outro motivo para apreciar a esgrima e a luta física.
Com a visão dele, muitas portas se abriram para mim e uma lâmpada se acendeu ao perceber isso. Ele me receitou novamente um remédio, um antipsicótico. Fazia novamente um teste, e para minha surpresa, esse remédio também iria estabilizar meu humor e agiria na instabilidade e irritabilidade. Odiaria ter que fazer terapia, porém essas sessões eram meu único entretenimento o dia todo e eram de certa forma, revelador. Aprendi muito mais de mim mesma.
Assim que a sessão chegou ao fim, ele me entregou o laudo médico. E apenas voltei a fazer as tarefas da detenção, terminei todo o caderno de história 1# e agora estou em matemática, mas, já estou no final. Uma batida na porta foi o bastante para tirar minha atenção do caderno.
—Senhorita Addams?—Cristina estava na porta com seu jaleco branco e a roupa azul por baixo—Seu almoço já está aqui—Ela me entregou uma sacola com uma vasilha de plástico e com uma prancheta e se sentou na poltrona na frente da minha cama.
Retirei meu caderno da mesa e pus na cabeceira ao lado da minha cama, me permitir relaxar pegando a sacola e abrindo revelando a vasilha que continha meu almoço favorito. Macarrão ao molho branco.
—Seus pais estão lá embaixo, trouxeram esse almoço para você e perguntaram se podiam te ver—Cristina diz tendo muito cuidado com suas palavras. Era óbvio, claro que ela quer que eu os veja.
—E por que ainda estão aqui?—Pergunto pegando o garfo e enrolando o macarrão.
—Por que tem tanto medo de ver eles?—a pergunta com uma expressão curiosa.
—Minha sessão de terapia obrigatória terminou a 1 hora—Falo para a mulher que manteve a cara séria. Revirei os olhos e disse logo o que se passava na minha mente, estava com muito sono para ficar debatendo—O que eu direi a eles?
—Oi, como estão?—Ela diz como se fosse óbvio.
—Como explicarei como eu fui esfaqueada?—Eu digo levando o garfo até minha boca e limpando com um guardanapo.
—E por que é tão difícil explicar?—Ela pergunta não entendendo meu ponto.
—Por que você é Normie, eu sou uma excluída. Essa facada que eu ganhei, não tinha sido dois dias antes de eu chegar no hospital. Eu fui esfaqueada muito antes—Falei com uma expressão carregada de seriedade a mulher se encontrava em choque.
—Está me dizendo que… é magia?—A mulher pergunta a mim que não digo nada. Cristina olha para baixo e então suspira derrotada, logo volta a me encarar, mas com um olhar muito mais confiante e sério—Não seria melhor você arrancar logo esse band-aid?—Ela diz e logo me viro para ela com uma expressão confusa. Não entendo essas gírias.
—Como?—A mulher suspira novamente, mas logo trata de explicar.
—Não seria melhor enfrentar seus pais agora para não ficar se remoendo de ansiedade no futuro? Pra que deixar para amanhã algo que você pode fazer hoje?—Ela diz e logo eu paro um pouco para pensar.
—... Certo…—Digo suspirando fundo—Deixe eles entrarem—Falo vendo Cristina me olhar espantada, não esperava que eu fosse ceder tão fácil, mas é a realidade. O que ela diz tem muito sentido.
—Muito bem… Você vai ganhar alta amanhã. Quer que seus pais venham te buscar e leve você para a escola?—Ela pergunta se levantando com sua prancheta. Paro e penso um pouco.
—Gostaria de passar em Jericó primeiro, não quero ir com meus pais. Vou mandar uma mensagem para uma amiga—Digo para a mulher e logo ela sai do quarto.
Solto um suspiro sôfrego e volto a comer o macarrão rapidamente. Me levanto da cama e me sento na mesma encarando a janela do segundo andar. A ferida já havia cicatrizado, ainda doía mas conseguia andar sem riscos maiores. E com meu celular mandei mensagem para Enid mesmo sabendo que agora era horário de aula dela, e para minha surpresa, ela respondeu rapidamente. Ela aceitou e disse que adoraria sair comigo até Jericó. Duas batidas foram ouvidas da porta e logo a mesma foi aberta, não me virei apenas me contentei em ficar na mesma posição.
—Wednesday?—A voz sensível da minha mãe foi a primeira coisa que eu ouvi.
—...—Me virei na direção da porta e vi Pugsley, meu pai e minha mãe parados com expressões neutras me encarando fixamente—Acho que já estava na hora de eu me contatar com vocês—Digo me endireitando na cama para olhá-los bem.
—Que bom que pensa isso…—Meu pai diz se aproximando com um sorriso triste no rosto. Ele me deu um abraço não compartilhado e logo se afastou. Pugsley e minha mãe continuaram no mesmo lugar.
—Sentem-se, tenho muita coisa para contar para vocês…—Eu digo e meu pai logo se senta na poltrona que a médica estava antes. Minha mãe se manteve no mesmo lugar encarando fundo meus olhos e Pugsley sentou-se ao meu lado na cama—Tudo começou… quando fui levada a Cripta por Laurel Gates…
POV Autor
E assim muitas palavras foram ditas. A narração foi longa e durou muito tempo, mas ela explicava bem tudo desde o início. Porém, ela novamente não conseguia contar tudo, a única coisa que ela escondeu foi o seu perseguidor, seu Stalker. Sempre que era essencial dizer sobre ele, Wednesday diz sobre visões. Houve momentos em que suas palavras engatavam em sua garganta e não conseguia de nenhuma forma dizer nada. Ela parava e respirava fundo nesses momentos e voltava a narrar às vezes com a voz mais melancólica, o que logo fazia questão de se repreender e estabilizar sua voz. Ninguém falou nada se não a filha mais velha, apenas se contentam em ouvir, pois sabiam que se a interrompesse, Wednesday não conseguiria voltar a contar-lhes.
Finalmente tudo que tinha a dizer já foi dito. Ninguém falou nada por longos minutos, absorvendo tanta informação ao mesmo tempo era difícil iniciar uma conversa. Mas por sorte, Pugsley foi o primeiro a iniciar uma conversa.
—Por que nunca nos disse nada?—Perguntou com a voz embargada de melancolia—Estivemos do seu lado o tempo todo…
—…—Wednesday olhou para o garoto ao seu lado—Porque é difícil dizer tudo o que tem em minha vida… Odeio que me olhem com esse olhos de pena e odeio estar nesse meu estado vulnerável—Disse após alguns segundos em silêncio.
—Mas é importante que desabafe connosco. Nem sempre podemos ajudar, mas é horrível viver com um peso desse no peito—Morticia disse e logo saiu do quarto.
Gomez se levantou e foi atrás de sua esposa. Pugsley fez o mesmo e antes de sair deu um abraço apertado em sua irmã. Wednesday agora sozinha no quarto suspirou aliviada com o silêncio confortável que se instalou. Ela suspirou em cansaço e se sentou na cama. Tinha sono, porém não podia dormir, ela ainda precisava terminar suas tarefas, tomar seus analgésicos e tinha que jantar antes de dormir. Sua alimentação recentemente estava muito desorganizada e somente agora ela parou um tempo para se cuidar. Pegou o caderno 2# e gastou esse tempo para terminá-lo, afinal, já estava acabando. E depois de horas, ela finalmente se preparou para dormir, e assim como no dia anterior, com ajuda dos calmantes, ela dormiu como uma pedra.
—Já pegou tudo?—Enid pergunta segurando uma caixa de papelão ao qual tinha todos os itens da Addams. Agora era 07:34 AM.
Wednesday usava uma blusa listrada preto e branco com um casaco negro largo que ia até o meio de suas cochas. Um short e sapato preto de couro de cano baixo. Enid já usava uma blusa verde acinzentada com um casaco branco estilo moletom aberto e short jeans azul claro com sapatos all-star branco de cano alto.
—Positivo—Falou Wednesday se levantando da cama e indo até a Loira.
—Bom… Posso te informar de tudo pelo caminho?—Pergunta abrindo a porta para a mais baixa que agradeceu e foi na frente.
—Tudo o que?—Estranhou a Addams encarando bem os olhos azuis da Sinclair.
—Tudo o que aconteceu na escola é óbvio!—Wednesday devia saber que seria isso. Bando de gente fofoqueira.
—Vá em frente, aproveite que hoje estou de bom humor—Disse enquanto descia as escadas do segundo andar.
Wednesday passou pela recepção e assinou seu nome em um documento que confirmava sua saída do hospital e da alta da mesma. Enid também assinou onde dizia acompanhante. As duas saíram de lá.
—Bom… Bianca perdoou você temporariamente até você explicar direito tudo. Yoko ainda está puta com você por conta do que você fez e—Antes de Enid terminar de dizer Wednesday a interrompeu.
—Que parte você não entendeu que não fui eu que fiz tudo aquilo?—Wednesday diz com uma dose de irritação.
—Eu sei… Mas todos pensam que foi você, então…—Enid diz como se fosse óbvio. Wednesday suspirou pesadamente por um momento e logo direcionou seu olhar para a farmácia do outro lado da rua, perto do cata-vento.
—Vamos—Falou em um tom autoritário e Enid logo seguiu-a com a caixa mediana da mesma em ambas as mãos.
—Pra onde vamos? Não devíamos chamar um Uber?—Enid pergunta confusa.
—Vamos passar na farmácia primeiro, depois quero tomar um quade no cata-vento. A enfermaria finalmente permitiu—Diz a mesma, ficando de frente para a estrutura.
Ambas entraram no lugar sentindo o cheiro padrão e enjoativo do hospital, o ar condicionado estava ligado e fazia frio lá dentro. Era um ambiente que trazia desconforto para a morena em vez de conforto e relaxamento. Uma mulher de estatura média, pele escura e cabelos encaracolados amarrados estava na recepção com uma cara de tédio, segurava a cabeça na mão direita e quando olhou para as duas garotas abriu um sorriso lindo de orelha a orelha, mostrando seus dentes brancos e alinhados. Tinha óculos de grau muito grossos e em seu crachá dizia Anastásia Oliveira.
—Bom dia garotas!—Disse a mesma voltando a postura séria—O que gostariam?—Disse ainda mantendo o sorriso em seu rosto.
Wednesday foi até a caixa nas mãos de Enid e abriu a mesma. Tirou de lá o segundo livro negro de sua detenção e de entre as páginas pegou o laudo médico que seu terapeuta lhe entregou. Enid aproveitou a oportunidade e pôs a caixa da Addams no balcão, cansada de segurá-la.
—Entende a letra de médico?—Perguntou Wednesday com divertimento em sua voz e estendeu o laudo até a mulher. Uma boa noite de sono melhorou muito seu humor.
—Pode ter certeza… —A mulher diz rindo e pegando o papel—Hm… Risperidona?—Perguntou a mulher enquanto olhava bem para a letra.
—Risperidona?—Enid repete com um olhar confuso.
—É Esquizofrênica?—Pergunta a mulher indo até a estante atrás de si, em um lugar bem alto e pegando o remédio em questão.
—Meu terapeuta suspeita que eu tenha TEA—Falou Wednesday enquanto a atendente escrevia com caneta na caixa.
—Tome de 12 em 12 horas e de manhã e de noite. Quer tomar agora?—Pergunta a mulher encarando a mesma e entregando a caixa—Deu 7 dólares—Falou para a morena que tirava uma nota de 10 dólares de seu bolso. Wednesday encarou o bebedouro atrás de si.
—Acho que sim… Isso significa que eu só poderei tomar novamente o remédio às 7:30 PM?—perguntou Wednesday.
—Oito horas na verdade—Diz a mulher constatando seu relógio de pulso e entregando os 3 dólares para a mais baixa.
—Certo…—Wednesday vai até o bebedouro e enche um copo—Enid?
Wednesday chama a atenção da loira que para de encarar o nada e se volta para a morena. A mesma estende a caixa do antipsicótico e a Sinclair logo entende abrindo o mesmo. Wednesday tomou a pílula e saiu do lugar com Enid atrás de si, que pegou a caixa de pertences no balcão.
—O que é TEA?—Perguntou Endi baixinho para a Addams enquanto saiam do aposento até o Cata-vento.
—Não estudou isso?—Perguntou ironicamente a morena enquanto entrava no aposento.
—Eu sempre durmo nas aulas, você sabe disso!—Falou Enid enquanto se sentava perto da janela em uma das mesas em frente a Wednesday que apenas revirou os olhos.
—Meu terapeuta desconfia que eu tenha Transtorno do Espectro Autista. Me mostrou alguns áudios da minha antiga terapeuta Kinbott e ela também desconfiava. Ele acha que tenho autismo de suporte nível 2—Falou a mesma enquanto olhava fixamente Enid.
—Mas isso não se descobre quando é criança?—Perguntou Enid, confusa.
—...—Wednesday ficou em silêncio e apenas foi em direção ao balcão.
A Addams pediu um café e Enid apenas um milkshake de morango. A Sinclair contava tudo o que a morena perdeu enquanto não estava em Nevermore. O papo fluía como normalmente, Wednesday não dizia nada e apenas ouvia a voz doce de Enid que contava com detalhes e às vezes interpretava a voz dos amigos. Isso tirava um sorriso mínimo do rosto da mais baixa e um largo sorriso da loira que contava animada tudo sabendo que Wednesday ouviu atentamente. Ficaram lá por mais tempo do que deviam, mas isso não importava de qualquer maneira, hoje era sábado.
—Por sinal…—Enid para do nada uma história que teve com Yoko e olha para o balcão com uma feição séria que a Addams desconhecia. A mesma suspirou pesadamente e tocou as cicatrizes em seu rosto com a ponta dos dedos—Soube pela nova diretora que o Tyler fugiu da prisão…
As vozes ao redor de Wednesday pararam, o mundo parecia ter parado. Ela se sentia desnorteada, nada mais parecia real. Tudo desmoronava com um estalo de dedos, ela pensava que isso seria problema do passado, mas novamente voltava a bater em sua porta. Todos os problemas que pareciam ter ficado no passado voltavam de repente o tempo todo. Tyler? O Hyde voltou!? O que ele iria querer dela? Ela sentia repulsa e nojo em imaginar que algum dia já "gostou" dele. Se já não bastasse Goody que agora já era passado, o Hyde também aparece. E agora com ele mais descontrolado… ele não tinha mestre mais. Agora ele é uma ameaça maior que antes.
Wednesday estava sentindo medo, culpa? Definitivamente, mas ela não precisava saber disso… Ela não precisava entender esse sentimento de amargura dentro do peito, que apitava toda vez que via Enid resmungando de dor em sua cama. Todas as noites mal dormidas da Sinclair, eram noites acordadas da Addams em que ela podia ouvir a lobisomem sussurrar no meio de seu pesadelo. Talvez se ela não tivesse sido tão incompetente, ninguém teria sofrido as custas dela. Xavier, Bianca, Eugene, Enid, até a própria diretora. Sem querer admitir, Wednesday sentia que carregava o sangue da antiga diretora em suas mãos. O sangue de Eugene, de Enid, de todos aqueles que sofreram com suas ações. Ela nunca foi uma heroína, ela não salvou a escola. Ela ajeitou seus próprios erros, erros que ainda não foram realmente reparados.
—Wednesday…—A voz de Enid tira a morena de seus devaneios sombrios e automutilados. A encara com uma feição séria e neutra, porém seus olhos mostram choque.
—Acha que ele vai atacar diretamente?—A Addams diz voltando para sua postura e expressão neutra, porém ainda com a preocupação evidente em seus olhos.
—Espero que não…—Enid fala olhando para a mesa com os olhos perdidos. Pensando nas cicatrizes marcadas na pele de seu rosto. Cicatrizes que ela guarda como recordação do maior erro que ela poderia cometer: batalhar contra um Hyde.
Ninguém disse nada por longos e tortuosos minutos. Wednesday levantou-se da mesa e pagou a conta das duas. Mesmo que Enid não goste disso, ela não falou nada. E enfim saíram do estabelecimento rumo a Escola Nevermore. Enid chamou um Uber, e pagou rapidamente o motorista que levou as duas excluídas para a academia. Assim que chegaram, foram até o dormitório que partilharam entre si.
—Não vai ficar?—A mais baixa perguntou baixinho vendo a loira saindo do aposento após ter deixado a caixa em sua escrivaninha.
—...—Enid se virou na direção da Addams—As coisas ainda não foram resolvidas… Me preocupo com você, mas enquanto você não confiar em mim. Eu não pretendo voltar para esse quarto—Disse saindo a passos apressados.
Mãozinha também não retornou. Wednesday ainda teria que resolver os problemas de Goody, e ainda teria que enfrentar a solidão. E enquanto todos estavam se preparando para o dia da interação, a Addams só pensava em uma coisa. O livro de feitiços. Como iria testar os dons mágicos amaldiçoados de Goody se todos observavam ela como um falcão? Wednesday não sabia, mas ela não poderia só deixar pra lá isso. As palavras que Goody disse desde o momento em que chegou em Nevermore passavam pela sua cabeça. Algo está muito errado.
A Addams correu até seu esconderijo no assoalho de madeira e pegou seu novo livro de feitiços, o livro da biblioteca beladona, o diário e a carta que Goody deixou para ela. Oliver Skull… Uma coisa eu tenho certeza, eu preciso encontrar ele. Ele é um assassino, foi ele quem matou sua ancestral, Goody Addams. Wednesday, queria vingança e faria isso acontecer. Mas não agora. Ela precisava por sua cabeça no lugar. Ela irá focar em sua própria vida agora. Era uma necessidade fazer as pazes com Coisa, Enid e todos aqueles que talvez ela considere como amigos. Chegou a hora de deixar de ser Wednesday Addams, e ser só… Wednesday.
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