Gritos agudos, lágrimas quentes, a mão pequena se esforçando para agarrar o tecido da saia que a deixava para trás.
O ar queimando as narinas, os pulmões se espremendo, o pânico assumindo enquanto era arrastada para longe de tudo que conhecia.
"Por favor, não me deixe..."
(Nome) piscou rapidamente, a mão estendida na direção das bicicletas, sua realidade voltando languidamente.
Sacudindo a cabeça para se livrar de mais pensamentos fugazes, ela prendeu sua bolsa com suas necessidades básicas com segurança no seu ombro e depois correu, tomando a rua que se lembrava levar em direção ao abrigo construído pela associação de heróis.
Centro comercial, cidade Z:
Infelizmente, para uma jovem com tantos talentos e potencial, (Nome) possuía uma memória terrível.
E, logo, ela retornou ao centro comercial.
Andara em círculos por cinco minutos sem perceber, gastando sua energia e fazendo as panturrilhas queimarem.
Vamos dizer apenas que: Correr não era seu forte.
— Puta que... — Sua voz engatou na garganta, quando ela tropeçou em uma coisa, o som de metal rangendo e batendo contra o chão logo em seguida fazendo com que erguesse as sobrancelhas em surpresa.
O cheiro de sangue fresco e óleo atingiu suas narinas com força, quando ela tomou uma baforada de ar para se recuperar da corrida.
Primeiro ela olhou para baixo, no que havia tropeçado, se encolhendo com a pele marrom, húmida e enrugada da pessoa recém mumificada aos seus pés, as órbitas vazias, os dentes ameaçando a cair, os fios loiros sendo o único indício que uma vez já fora um jovem saudável.
Depois, ela ergueu a cabeça, um enxame de insetos voava em círculos furiosamente, uma silhueta grande pairava no olho da tempestade escura.
Ela encarou inexpressivamente, a bolha de asco crescendo rapidamente no seu estômago ao reconhecer uma figura feminina emergir, rindo para si mesma, enquanto parecia admirar o próprio corpo, deslizando a mão peluda por suas curvas e se admirando nos vidros das lojas.
"Pelo menos eles já fugiram." Segurando um bufo, ela recuou devagar.
O enxame parecia tão distraído quanto a sua mestra e ela realmente desejou possuir uma distância maior entre elas.
— Rwaaaaar! Morraaaaaaaa!
Um maluco surgiu do nada, berrando em plenos pulmões, correndo atrás de algo invisível ao seus olhos, um inseticida na mão, as sandálias de borracha batendo furiosamente contra o concreto quente e surrado.
"Ta de sacanagem!?" Ela o agarrou pela cintura, quando ele passou por ela, puxando-o e cobrindo sua boca, prestes a xingá-lo quando a mosquito se voltou para eles, lambendo os lábios vermelhos.
De repente, algo se prostou na sua frente, assustando a ambos, a menina soltando o homem na surpresa, os dois admirando a nova figura e seus membros mecânicos.
"Quem é esse?" Ambos inclinaram a cabeça, mas o careca logo se distraiu com a nuvem de insetos, trocando olhares entre o inseticida e a quantidade amedrontadora que zumbia acima de suas cabeças, suor frio escorrendo pelo pescoço.
"Não senti esses civis aqui. Isso vai ser um problema..." O ciborgue pensou, suspirando internamente.
— Ei vocês, abriguem-se. A nuvem tem vontade própria e se perceber vocês vai atacá-los.
Suas íris amarelas estavam cintilando dentro das escleras pretas, porém elas não se voltaram para eles, os fios dourados cintilando no sol, suas peças mecânicas esquentando, na preparação para o próximo ataque.
O homem careca estremeceu, se encolhendo com nojo e receio.
— Que perigo. Vamos sair logo daqui... Não tenho inseticida pra isso tudo...
Mal ele terminou suas palavras e todos os mosquitos os rodearam.
Um bipe alto veio do ciborgue, enquanto seus sistemas processavam a situação.
E, esquecendo-se momentaneamente da presença dos civis (não estando acostumado a lutar e proteger), ele incendiou todos eles, o fogo lambendo suas asas e tostando seus corpos esguios, bem como destruindo os prédios ao redor, pequenas explosões soando perto deles.
— Como é capaz de falar, eu julguei que tivesse um grau de inteligência. Mas, vejo que não passava de um mosquito, apenas facilitou a incineração dos seus seguidores os reunindo de uma só vez. E, antes de chegar até você, eu averiguei a existência de qualquer ser vivo numa área de quinhentos quilômetros...
"Espere! Esqueci daqueles dois que chegaram de repente!" Seu sistema quase desligou em meio ao seu pânico e ele voltou-se, preocupado, apenas para encarar de boca aberta o homem careca, agora nu e ileso, enquanto a mulher lhe dava um olhar rigoroso, uma névoa estranha a rodeava, o ar mais úmido, resquícios de gelo no chão quebrado e leves queimaduras nas pontas dos seus dedos.
— Ahhh, você é incrível! Obrigado pela ajuda. Como você faz isso? Parece até um inseticida gigante. — O homem claramente não percebeu que se tratava de um ciborgue.
— Irresponsável. — Murmurou (Nome), uma irritação costumeira subindo a cabeça, os leves arranhões de objetos voadores alheios ardiam, só apimentando sua raiva. — Como pode esquecer de nós?
— Oh? Você está bem! Que sorte. — Por mais que não tenha dito por maldade, isso só fez a menina ainda mais irada, um sorriso forçado subindo no rosto, fazendo parecer que estava mais rosnando do que outra coisa.
— Hah. — (Nome) zombou levemente e considerou em lhe dar um pedaço da sua boca suja. Seu humor já estava azedo o suficiente. — Suas roupas não tiveram o mesmo destino. — Disse, por fim, bufando com o esforço de controlar o mal temperamento (e finalmente tendo sucesso).
— Ue? Que aconteceu com elas?
— Jura?! — Vendo-o se encolher com o volume da sua voz, ela suspirou e esfregou o rosto, imaginando que estava falando com Akira ou sua fofa kouhai para se manter sob controle. — Você não notou tudo pegando fogo?
— Ah... Era fogo? Eu não senti.
Seu rosto sério não lhe dizia nada.
Na verdade, (Nome) tinha quase certeza de que ele estava falando a verdade, seus ombros relaxando imediatamente, a raiva descendo por um ralo invisível em sua mente, enquanto ela lhe dava o olhar mais confuso que pode reunir.
— Você é o que hein? Mutação feita pelo governo? — Seus olhos se estreitaram e uma mão veio coçar o queixo, os vídeos sobre conspiração finalmente poluindo seus pensamentos.
Genos, que estava se acostumando a vida levada com poucas agitações internas se encheu de perplexidade.
"Como isso é possível?" Ele tinha plena certeza que a aparelhagem aplicada pelo doutor Kuseno era destrutiva e mortífera, mas eles resistiram a um ataque potencializado com tamanha facilidade como se isso não fosse mais que uma brisa de ar em suas faces.
— HO HO HO HO! — A mosquito gargalhou, (Nome) fazendo uma careta com o tom da sua voz. — Não preciso mais dos pequeninos.
Sua aparência mudou, os pelos ganhando uma coloração vermelho e preta, a perna que antes faltava foi regenerada, enquanto Genos só podia se preparar para o que estava por vir.
— Tudo graças a todo esse sangue que eles me trouxeram! Veja o quão forte eu me tornei, homem de lata.
De repente, o ciborgue começou a ser atacado o de todas as direções, seus sistemas de alta tecnologia sendo sobrecarregados com tamanha velocidade.
Partes dos eu corpo voaram, ela parando apenas para sacudir uma perna que havia arrancado zombeteiramente, até que ela avançou a toda velocidade, determinada a por um fim na sua existência.
Sua pata veio na direção do seu rosto, as garras se preparando para decapitá-lo.
Então, entrando de repente na sua frente em velocidade anormal e lhe dando um simples tapa, o homem careca a mandou voando, seu corpo explodindo ao entrar em contato com um prédio próximo, apenas a cabeça e as pernas restaram para contar história.
— Que mosquito irritante.
Tanto a menina, como o ciborgue olharam para o homem nu com incredulidade, quase soltando um som de surpresa quando ele simplesmente começou a ir embora.
— Espere! — Sem conseguir se levantar, o loiro apenas estendeu a mão. — Sou um ciborgue que luta pela justiça! Meu nome é Genos. Por favor, me diga o seu nome! — Para (Nome), ele quase suplicou.
— Hm? É Saitama. Por que?
Genos pareceu respirar fundo, tomando alguma decisão importante no maquinário de sua mente.
— Por favor, me faça seu discípulo!
Ambos os humanos se entreolharam, (Nome) confusa, Saitama ainda mais perdido que ela.
Um pouco sem jeito pelo pedido absurdo, ele coçou sua careca.
— Hm... Claro... — E se afastou devagar, como se testando se ele iria interrompê-lo novamente, antes de acelerar, andando rápido para por distância entre eles.
— Você... Precisa de ajuda? — A menina ofereceu segundos depois, apesar de não ter ideia de como socorria um ciborgue quebrado, as sobrancelhas franzindo em profundos pensamentos que logo foram interrompidos por quem ela questionara.
— Não se preocupe. Dr. Kuseno logo virá recolher minhas peças. Desde que meu núcleo esteja a salvo, ficarei bem. — Garantiu monotonamente. — Por favor, vá para casa e cuide das suas feridas.
"Ele notou isso?" Com uma centelha de constrangimento, ela escondeu as mãos chamuscadas atrás das costas, as bochechas rosadas inflando levemente.
— Bem.
Suas íris prateada encontraram as douradas por meros momentos, antes de se esquivar, as mãos agora vindo para torcer a alça da sua bolsa, um pouco de ansiedade social a atingindo quando ela não sabia mais o que dizer.
"Que diabos eu devo dizer a um ciborgue afinal?"
— Se cuida.
Dando um leve aceno (e hesitando levemente, seu olhar percorrendo suas partes danificadas), ela correu atrás de Saitama, resolvendo ficar por perto no caso de outra criatura surgir.
Genos apenas olhou para suas costas em silêncio, sua atenção permanecendo em seu cabelo sacudindo com a brisa.
"... Eu esqueci de perguntar o seu nome."
— Hey! — Chamou pelo careca, que reduziu levemente o ritmo e lhe deu um sorriso amigável. — Saitama, né? Sou (Nome). — Ele acenou com a cabeça, sem deixar de andar. — Então... Você mora por aqui?
Havia algo sobre o homem que estava enchendo-a de curiosidade.
"Como alguém tão forte não tem seu nome reconhecido?"
Também, havia um ar de solidão insistente sobre ele, um exílio tão opressor que o suprimia, cobrindo seu ser com nada mais que tédio.
De certa forma, isso a incomodava.
A fazia lembrar... De muito de si mesma.
— Ah, sim. Faz anos, na verdade.
— Sério? Eu também. Mas, nunca te vi por aqui. — Aproveitando a deixa para continuar a conversa, ela, passando a andar de ré, apontou para uma loja ao longe, ele seguiu seu dedo com curiosidade. — Trabalho naquele mercadinho faz dois anos.
— Dois? — Suas sobrancelhas franziram em concentração. — Ah, é lá que o Akira trabalha?
— Sim! Ele é meu colega! — Concertando sua postura, a menina o olhou com expectativa. — Você já foi atendido por ele?
— Ele me pôs pra fora só porque minhas botas estavam sujas, então eu nem voltei mais. — (Nome) deixou a cabeça cair em derrota.
"Porra." Ela quase riu na ironia. "Isso é bem a cara dele."
O homem deu uma pequena risada do seu comportamento infantil, mas logo ergueu as sobrancelhas, prosseguindo.
— Também, seus produtos são muito caros. Custa fazer uma promoção de vez em quando?
— Gha! — Recuando, ela agarrou a camisa dramaticamente. — A sinceridade dos clientes machuca! — De novo, ele deu uma risadinha, questionando num murmúrio: "Que diabos?" — Mas, sim. — Ela suspirou. — Eu admito que nosso gerente é um pouco sovina. As vezes eu me pergunto se alguns produtos possuem raspas de ouro escondidas no pacote para que ele aumente tanto as taxas.
E, antes que percebesse, ambos começaram a discutir sobre preços acima da inflação, reclamando de como os comerciantes podem ser incoerentes nas suas táticas de atrair clientes e sobre promoções em lojas menores, as perguntas que ela queria lhe fazer sendo totalmente esquecidas.
(Nome) tinha dificuldade em se relacionar com as pessoas.
Sua vida social se resumia aos seus colegas de trabalho, o relacionamento com seus clientes sendo uma fachada profissional, sem realmente jogar conversa fora.
Ainda assim, aqui estava ela, conversando despreocupadamente com um homem nu no meio da rua.
Os dois rindo de coisas idiotas que viam no dia a dia, como se já se conhecessem por dias.
"Isso é novo... Eu gostei."
Para alguém que se mantinha presa propositalmente na rotina, essa foi uma mudança bem vinda.
Quando tiveram que se separar, ela lhe deu seu número de telefone (escrevendo no seu braço com uma caneta verde perdida na sua bolsa), cada um seguindo para a própria rua enquanto (Nome) finalmente se perguntou se isso era uma boa ideia, enquanto o careca comemorava secretamente.
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