Galveston, no leste do Texas, 6 de dezembro de 1990
Um senhor ruivo desembarca de um ônibus no terminal rodoviário da pequena cidade do Texas com três crianças de seis anos de idade, uma menina ruiva, uma garotinha loira e um menino também ruivo.
Robert se espreguiça todo enquanto leva as mochilas das crianças. Jane e Jack estão correndo à frente do pai enquanto Judy está agarrada ao seu coelhinho de pelúcia e dando a pequena mãozinha para a do pai.
- Papai, estou nervosa. E se a vovó piorou durante essas vinte e seis horas que viajamos nesse ônibus? – A voz de Judy estava coberta de medo. Adorava a avó paterna, Solange Winters. Ela fazia as melhores panquecas do mundo.
- Faísca, a vovó Sol vai ficar bem. Ficaremos por dois dias com ela para vermos a situação, tá? – Robert adorava a meiguice da filha.
- Sim senhor, espero que ela fique bem! Ah papai! E se nos demorarmos mais que esses dois dias? – Judy pergunta um tanto eufórica. O pai lhe sorriu:
- Não se preocupe, minha faisquinha. Eu arrumo um rádio para você ouvir a premiação do Nobel de Medicina. É isso, não é? – Robert ergueu a sobrancelha, de forma brincalhona. Judy assentiu.
- S-Sim. Desculpe, papai. Não quero soar egoísta. Claro que me preocupo com a vovó Sol... Mas estou ansiosa para a premiação! – A pequena sorri para o pai.
- Imagino. Mas você ainda é compreensiva. Acredito que se sua irmã não ouvir quem vai ganhar na Física, é capaz dela nunca mais falar comigo! – Robert graceja. Judy arregala os olhinhos verdes:
- Ela está muito confiante com os quarks, é verdade. Não para de falar nisso nem um só momento. Fagulha até a pegou sussurrando sobre isso durante o sono.
- Hahahaha, bem a cara da Solar! E seu irmão, está empolgado também?
- Ah, sim! Ele quer muito jogar no MegaDrive sem ninguém o perturbar. Então, ele também está empolgado com a premiação, já que eu não vou querer o videogame... – A ruivinha corou violentamente. Sua irmã não gostava de jogos, então o pai comprava para Judy e seu irmão. Isso gerava pequenos conflitos por conta do uso. Robert gargalhou.
- É, eu também tô empolgado pra ver isso. O Fagulha quietinho...
Os quatro chegam na pequena casinha amarela na cidade, em frente a uma lojinha de quadrinhos. Jack se anima todo e pede para ir lá. Robert nega a princípio, falando que todos têm que ver a vovó sol primeiro. Judy arruma seu vestidinho branco e bate à porta da casa da avó.
- Oh Solange, você tem visitas! – Uma mulher de cabelos castanhos abriu a porta, assustando Judy, que correu para trás da irmã. Robert se apresenta:
- Olá, sou Robert Winters, filho da Solange! Esses sãos meus filhotes, Jack, Jane e Judy – O senhor aponta respectivamente para cada um – Digam olá!
- Bom dia, cara senhora! – Os três dizem em uníssono, numa clara obediência a educação imposta pela mãe, Helen Summers.
- Prazer, anjinhos. Sou Mary Cooper. Vim visitar a avó de vocês. Trouxe torta de maçã, alguém vai querer? – Mary sorriu para os três. Jack e Jane entraram as gargalhadas, empolgados com a expectativa de uma guloseima logo pela manhã. Judy ficou perto do pai.
- Minha mãe está em casa? – Ele pergunta enquanto entra na casa. Mary afirma:
- Está no quarto, ansiosa para vê-lo, Sr. Winters. Ela não para de falar no senhor e nos netos.
- Obrigado por visitá-la. Ela esteve doente esses dias e vim vê-la – Robert começa enquanto vai para o quarto da mãe, acompanhado de Mary e Judy.
- Ela me disse que o senhor é capitão dos bombeiros. Que profissão perigosa!
- Meu papai salva gatinhos! – Judy abraça o pai num sorriso. Ela sentia muito orgulho do pai – Me desculpe, acabei me intrometendo. Perdão.
- Tudo bem, querida! – Mary afaga os cabelos ruivos – Vou deixá-los com a Solange enquanto sirvo os dois pequenos – Mary sai e vai até a cozinha. Jack e Jane já estavam de mãos limpas e sentados à mesa. Esperando a torta.
- Nossa! Que educadinhos! – Mary se derrete – Já vou servi-los!
...
- Meu querido Robb! – Solange sorriu da cama, estava sentada lendo um livro. Judy correu para a avó.
- Vovó Sol, vovó Sol! – A ruiva senta-se ao lado da avó enquanto abre a mochilinha lilás – Trouxe livros novos! Posso ler para a senhora?
- Claro, meu amor. Logo após o almoço, tudo bem? – Solange sorriu para a neta. Seus cabelos loiros arruivados agora grisalhos. Seus olhos verdes mais opacos. Adorava Judy, com seu jeito doce. Robert abraçou a mãe apertado.
- Calma meu filho, vai me quebrar assim! – Solange riu. Quanta saudade de sua família – Cadê a Solar e o Fagulha?
- Estão comendo torta. Sabe como são seus netos. Formiguinhas!
- Ah sim, a Mary faz uma torta divina! E a Helen, onde está?
- Ah, ela tem muito trabalho na universidade, não pôde vir... – Robert confessou à contragosto. Helen nem sequer se deu o trabalho de tentar uma folga para visitar a sogra. Solange suspirou.
- Ela realmente é difícil de conviver... Enfim, vamos para a cozinha se não Judy não comerá torta.
Os três vão para a cozinha, testemunhando Mary sentada à mesa enquanto ouvia Jane discursar sobre quarks.
- Quarks se combinam para formar partículas compostas chamadas hádrons das quais as mais estáveis desse tipo são os prótons e os nêutrons, que são os principais componentes dos núcleos atômicos, sabia?
- Carambola Solar, para de falar nessas coisas! Que chato! – Jack se irrita com a irmã, enquanto comia um pedaço generoso de torta. Judy secava as mãos que tinha lavado na pia e sentava-se com os irmãos.
- Senhora Cooper, também gostaria de provar sua torta, por favor. Posso? – Judy pergunta enquanto faz seu coelhinho sentar na mesa. Mary tinha se afeiçoado a Judy e tinha ela como sua favorita, agora.
- Claro, docinho! Já vou servi-la – Mary serve um pedaço grande para a garota, que agradece de forma educada.
- Seus netos são uns amores, Solange. Leve-os para o pastor conhecê-los! – Mary diz animada. Robert disfarça uma careta.
- Claro que sim, querida – Solange concorda – Mas depois. Primeiro quero curtir meus pimpolhinhos! – A avó beija cada um, arrancando risos dos três.
- Venho mais tarde, querida! Talvez traga meus filhos também, serão ótimos coleguinhas para seus netos! Tchauzinho – Mary se despede, recebendo “adeusinhos” dos pequenos. Robert começa a rir quando a mulher vai embora.
- Ah mamãe, até que essa Mary é bem tranquila. Nem parece a religiosa fervorosa que diz nas cartas! – Robert começa a comer a torta também.
- Porque você não estava aqui antes. Ela me disse que adoeci porque não rezei o suficiente. Ela é uma mulher boa, mas precisa ouvir mais o filho caçula. Ele é muito inteligente, mas pouco apoiado na família. Gosto dele, vem me visitar às vezes.
- Ele é mais inteligente do que eu, vovó? – Jane fica enciumada, mas logo a avó lhe enche de beijos.
- Nunca, minha netinha linda! Somente seus irmãos podem se comparar a você!
- Eu sou mais inteligente, vó! Sei a tabuada até o 50, quer ouvir? 1 vezes 1 é igual a 2, 1 vezes 2 é igual a... – Jack começa, até ser interrompido pela irmã:
- Vovó Sol, vovó Sol! Podemos ir na loja de quadrinhos aí da frente? Por favor!! – Judy pede depois de acabar a torta. Os três a olharam súplices. A avó suspirou:
- Podem, claro. Mas cuidado, tem algumas crianças más nas ruas.
- Não se preocupe vovó Sol, a Solar vai nos proteger! E qualquer coisa eu grito bem alto pro papai vir nos salvar! O papai é um herói! – Judy comenta enquanto desce da mesa e corre para a porta da frente, sendo seguida dos irmãos. Solange sorri.
- Você os educou muito bem, Robb!
- A Helen também tem o mérito. Mas confesso que eles são bem mais alegres aqui. E como a senhora está, hein...?
...
- Quanto você tem, Solar? – Jack perguntou para a irmã enquanto iam para a loja de quadrinhos.
- Alguns dólares, devia ter pedido para a vovó! E você, Faísca?
- Só tenho o Seu Cenourinha comigo – A ruiva mostra seu coelho de pelúcia – E você, Fagulha?
- Alguns chicletes e esta pedrinha bonita! Olha que bonita, Faísca! – Jack mostra a pedrinha lilás para a irmã.
- Que linda, Fagulha! Ela tem brilhinhos, veja! – Judy olha feliz a pequena pedra. Seu irmão a segura com força na pequena mão.
- Podíamos fazer um colar pra vovó Sol! Vou ver se acho mais! Que acham?
- Uma ideia adorável, Fagulha! – Judy concorda.
- Podemos comprar um barbante colorido, também! – Jane complementa.
Os três trombaram com um grupo de nove garotos mais velhos na porta da loja de quadrinhos:
- Ora, ora, ora... Carne nova no pedaço – O que parecia o líder deles riu dos irmãos. Judy correu para trás da irmã. Jane fechou o punho.
- Vá embora, não queremos confusão! – Jane inflou seus pulmões, fazendo uma cara de brava. Jack preparou-se para o pior. Se precisasse, tacaria a pedra na testa de um.
- O que você tem aí, loirinha? Dinheiro? Pode passar pra cá! – Disse um deles, estendendo a mão aberta para Jane.
- Não! O dinheiro é meu e de meus irmãos! – Jane teima – Vamos comprar quadrinhos!
- Vocês não vão, não! São gente de fora. Tem que pagar se quiserem entrar na nossa loja! – O líder deles falou numa risada, que foi acompanhado pelo bando. Jack confrontou:
- Vocês não têm nem cérebro, quanto mais uma loja.
- O que você falou, cabeça de fósforo? – Um garoto gordinho empurrou Jack ao chão. Judy gritou:
- Não encosta no meu irmão, seu balofo! – Judy acabou mordendo a mão estendida do garoto que exigia o dinheiro de Jane. O garoto gritou enquanto Judy cuspia. Jane ajudou Jack a se levantar.
- Eca, que nojo! Você parece não gostar de banhos! – Judy comenta enquanto se cospe – Fagulha, me dá um chiclete!
- ORA SEUS... – O líder rosna e partiria pra cima do trio, se a porta da loja não tivesse aberto, dando na cara do garoto fazendo-o desmaiar. Dois meninos de nove anos surgiram do nada, alheios a pequena concussão que fizeram ao meliante:
- Estou dizendo, Tam, Slade Wilson não vai durar muito no Universo da DC e... – O garoto que usava uma gravata borboleta que abriu a porta olhou para o jovem caído no chão – O que houve?
- Você tá frito, esquisitão! – O resto do bando aponta para o garotinho da gravata borboleta – Ninguém bate na gente! Você e a ruivinha estão ferrados!
- CORRE! – Judy grita enquanto pegava na mão do garotinho e corria junto com seus irmãos. Jack jogou a pedra que acertou a testa do garoto gordinho.
- Que droga, a pedra da vovó!
Jane jogou os sapatos no bando. Guardou seu dinheiro no bolsinho do vestido azul que usava.
- O QUE ESTÁ HAVENDO? SOLTE-ME! – O garotinho berrava, enquanto Judy corria mais. Jane e Jack acabaram sendo pegos que brigavam com quatro dos garotos. Os outros corriam atrás de Judy e seu parceiro. Judy não sabia para onde fugir, então acabou presa numa rua sem saída.
- Você tá ferrada, ruivinha! – Os garotos surgiram do nada. Judy colocou-se à frente do garotinho.
- O que estão fazendo é errado! Ele não fez por querer!
- Dane-se! Vamos bater nos dois!
- Você não pode falar essa palavra. É palavra proibida, mocinho! – Judy se assusta com o palavreado. Sheldon continua sem entender porque uma garota menor do que ele o está defendendo de algo que ele nem sabia o motivo.
- Eu vou avisar à mãe de vocês, seus marginais! – Sheldon berra enquanto segurava seu quadrinho. O bando riu.
- Eu não tenho medo de dois pirralhos!
- Pois devia ter! – Judy comentou, batendo no garoto com o Seu Cenourinha, que absurdamente era muito duro para um coelho de pelúcia. Ela acabou batendo em dois até ter o Seu Cenourinha tomado dela.
- Diabo de coelho mais duro! – O garoto gordinho reclamou, pisando no coelho. Judy estava em choque ao ver seu bichinho ser estropiado, perdendo as orelhas e o enchimento de serragem se espalhar pelo chão. Sua avó tinha lhe dado o Seu Cenourinha.
Judy começou a chorar. Sheldon sentiu um peso no peito por ver uma garotinha tão bonita daquele jeito.
- Seus covardões! Por que não vão atrás de alguém do seu tamanho?!
- Como você, cdf esquisitão? – O bando ri e corre para Sheldon. Ele se agacha e pede em pensamento que a surra acabe logo. Mas a surra não veio.
- VOCÊS ESTÃO FERRADOS, AGORA! – Judy correu para o grupo, dando uma cabeçada em um garoto, fazendo-o arquejar pela falta de ar. Pulou nas costas de outro e começou a pisoteá-lo. Os dois que restaram resolveram fugir, mas deram de cara com uma Jane e um Jack com as mãos cheias de pedras:
- O dinheiro que vocês terão serão moedas de pedra, corja! DEIXEM NOSSA IRMÃ EM PAZ!
Os dois começaram a jogar as pedras no grupo, os afugentando dali. Judy estava aos farrapos. A cabeçada que tinha dado agora se transformava num galo que sangrava. Jack tinha perdido um dente e Jane estava enlameada da cabeça aos pés. O único incólume ali era Sheldon.
- Você tá bem, Faís...
- Eles mataram o Seu Cenourinha! – Judy berrou enquanto tentava secas as lágrimas. Jack olhou o coelhinho:
- Jesus, detonaram mesmo! Aquilo era a orelha?
- Eu devia ter batido mais neles. Aqueles bobões! – Jane resmunga enquanto abraça a irmã – Sinto muito, de verdade.
- Alguém pode explicar o que está havendo? – Sheldon pede para os três. Judy funga no colo da irmã:
- Você está bem?
- S-Sim... O-Obrigado por perguntar – Sheldon responde. Ainda se sentia mexido por aquela garota estar chorando.
- Aqueles panacas mexeram com as crianças erradas, foi isso! – Jane responde – Você nocauteou um, obrigada. Eles levaram a surra que sonharam que dariam na gente.
- Vem, vamos voltar pra casa da vovó. Ela está mal, veja – Jack comenta com Jane, apontando para Judy, que soluçava pela perda do seu coelhinho. Os três caminham de volta para a casinha amarela, deixando Sheldon sozinho.
Ele olha o puído coelhinho.
...
- E eu pensava que os netos da Solange eram educados! Eles bateram no Billy Sparks, acredita? E o Billy é um doce de menino!
A voz de Mary corria pela cozinha. Sheldon não quis comentar que ele também estava na “briga”. As notícias da briga das crianças já tinham corrido a pequena cidade. Sheldon nem sabia o nome do trio de irmãos. E ele não parava de pensar na menininha ruiva. Tão gentil e tão protetora.
- Mamãe, posso visitar a Senhora Winters? – Sheldon perguntou de forma inocente, mas esperta. Se eram netos de sua amiga Solange (ela tinha uma coleção sobre Física exemplar. Adorava conversar com a velha senhora), saberia seus nomes rapidamente.
- Nem pensar, Sheldon! Te quero longe daqueles selvagens! Eles são como o anjo Lúcifer. Eles enganam com aquela aparência, educação e inteligência... Fique longe deles, mocinho!
- Sim senhora! – Sheldon saiu da cozinha e foi em direção ao quarto da irmã, Missy.
- (toc, toc, toc!) Missy! (Toc, toc, toc!) Missy! (Toc, toc,toc) Missy!
- O que quer, Sheldon? – Sua irmã apareceu à porta. Sheldon pigarreou:
- Gostaria de saber se teria algum coelhinho de pelúcia que não precise mais.
- Pra quê? Você nem gosta de bichinhos de pelúcia.
- Não é para mim, é para... Uma pessoa. Uma garota.
- Sheldon! Você tem namorada? – Missy deu um sorrisinho divertido – Que acontecimento, vem! Entra e escolhe um coelhinho!!
...
- Como vou explicar esse dente faltando pra sua mãe, Fagulha?! – A voz de Robert ecoou pela casinha amarela. Solange ria enquanto limpava os ferimentos de Jane.
- Era dente de leite, papai! Ia cair de qualquer jeito... – O ruivo deu de ombros
- Mas não te dá o direito de cuspi-lo no moleque enquanto briga. Te ensinei a brigar limpo, Jack!
- E eu tentei! Mas a boca encheu de sangue. Usei contra o balofo, mesmo. Hunf! – Jack cruza os braços.
Uma batida na porta interrompe a discussão. Judy e a avó vão para a sala:
- Boa noite, senhora Winters! – Sheldon cumprimenta – Desejo falar com a sua neta.
- Oh, olá meu bem! Qual delas? – Solange sorriu para Sheldon.
- A ruiva, por favor.
- Querida, alguém quer falar com você – Solange diz para suas costas, fazendo uma Judy com um curativo na testa surgir. Sheldon pigarreia. Ela ainda estava bonita, com um vestidinho amarelo.
- Você quer entrar, querido? Trago leite com biscoitos – Solange sorriu para os dois. Sheldon entrou, mas sempre tomando distância de Judy.
- O que veio fazer aqui? – Judy perguntou curiosa. Sheldon tinha as mãos para trás do corpo.
- Vim agradecê-la por me proteger da briga. Não compactuo com o ato de dois ou mais adversários ou contendores baterem-se corpo a corpo. E muito menos sou simpatizante de lesões físicas.
- Ah, por nada. Não seria justo você apanhar... – Judy dá seu sorriso costumeiro, que faz Sheldon se arrepiar.
- Trouxe-lhe este regalo – Sheldon mostra um coelhinho de pelúcia marrom. Judy arregala os olhinhos, surpresa
- Para mim? – Judy caminha em direção à Sheldon, mas este dá um passo para trás.
- Não se aproxime. Disse a minha mãe que ficaria longe. Deixarei o brinquedo que se baseia na miniaturização de um coelho confeccionado em peluche aqui, em cima da mobília da sala – Sheldon deixa o coelhinho em cima do sofá. Judy não se importou com a reprimenda. Correu até o coelhinho e o abraçou.
- Obrigada, menino! – Judy o abraçou do nada, deixando Sheldon numa dúvida em repulsá-la e obedecer sua mãe ou deixar-se ser objeto daquela junção. Optou pela segunda alternativa.
- O meu nome é... – Sheldon começa, mas logo foi interrompido.
- Ora, quem é você? – A voz de Robert surgiu na sala. Judy correu para o pai com o coelhinho em mãos
- Olhe papai, meu coelhinho novo! Não é uma beleza?!
- Sim querida, é lindo. Quem lhe deu? – Robert perguntou. Sheldon pigarreou.
- Eu, senhor! Vim agradecer à sua filha pela proteção de mais cedo e oferecer minha ajuda em seus ferimentos. – Sheldon estendeu a mão. Robert apertou. Judy ria enquanto rodopiava com o coelhinho pela sala.
- Coisa rara hoje em dia, rapaz. Querendo comprar minha filhotinha com bichinhos de pelúcia, é? – Robert brincou. Achou muito estranho um moleque tão novo usando roupas tão formais.
- Não senhor! Meu interesse por sua filha não tem nada a ver com...
- PAPAI! Temos que planejar como ouviremos a transmissão do Nobel pelo rádio e... – Jane surgiu na sala, acompanhada de Jack e se surpreendeu em ver Sheldon ali – Oh, que faz aqui?!
- Veio dar à sua irmã um coelho novo – Robert explica – Ela adorou o mimo.
- Me desculpe, mas você disse que quer ouvir a transmissão do Nobel? – Sheldon pergunta – Que coincidência! Estou planejando um pequeno folguedo em minha casa para o mesmo momento! Gostariam de ir? – Sheldon convida, todo alegre.
- Ah, adoraríamos, mas estamos planejando ouvir em casa, em Nova Jersey! – Jane comenta alegre – Quero ter um grande sanduíche nas mãos quando o prêmio de física for para a descoberta dos quarks!
- O quê? Que ultraje! A escolha mais lógica é o prêmio ir para a descoberta dos neutrinos! – Sheldon se irrita com a garotinha loira. Judy se inclina para Sheldon.
- Você acha? – Judy pergunta sinceramente curiosa. Jane gargalha:
- MEU DEUS, que sandice! Devíamos ter deixado te baterem. Quem sabe a pancada te recobraria o juízo, garoto! – Jane continua a rir. Jack se aproximou do pai:
- Papai, estou com fome. Vamos jantar!
- Preciso ir, antes que sua irmã me dê mais náuseas – Sheldon comenta para Judy, que solta uma risadinha. Antes ela bateria em Sheldon por falar algo da irmã, mas agora até Judy queria que os tais neutrinos ganhassem, só para a irmã parar com a chatice de física.
- Te deixo na porta – Judy sorri enquanto caminha para a porta da sala, sendo acompanhada de Sheldon – Boa noite, e obrigada pelo coelhinho.
- Por nada. Uma pergunta: E qual seu palpite para o Nobel?
- Ah, estou torcendo para os estudos sobre transplantes de órgãos. O de física pode ser dos tais neutrinos, minha irmã bem que está merecendo uma lição. Mas meu fascínio é a Medicina! – Judy responde com um brilho no olhar. Sheldon segura a respiração. Realmente, a palavra “fascínio” explicava muita coisa agora.
- Boa noite, menina ruiva! E diga à sua avó que sinto muito por não ficar para o leite com biscoitos – Sheldon se despede, deixando Judy um tanto sorridente. Ele era um menino estranho.
...
Galveston, no leste do Texas, 7 de dezembro de 1990
Amanheceu na pequena Galveston. O trio estava com medo de sair de casa, com medo de mais confusões aparecerem. O que eles não sabiam é que as mães dos garotos em que bateram surgiram na porta da casa da avó, puxando seus filhos pelas orelhas. Sheldon cumpriu o que prometera: Explicou que os netos da Sra. Winters nada tinham de errado para as mães dos jovens. Que as crianças eram vítimas, assim como ele, da fúria injusta e férrea dos jovens adolescentes. A mãe de Sheldon ficou com muita raiva por ele ter omitido que havia estado na confusão, mas muito orgulhosa que ele tinha feito amigos. Deixou-o voltar a visitar a Sra. Solange. Coisa que ele fez com muita alegria.
- (Toc! Toc! Toc!) Sra. Winters! (Toc! Toc! Toc!) Senhora Winters! (Toc! Toc! Toc!) Senhora Winters!
- OI Sheldon, bom dia! O que deseja? – A senhora Winters surgiu. A visita dos netos e do filho lhe devolveram a saúde. Sheldon sorriu:
- Bom dia! Sua neta está?
- Sim, ela está com os irmãos no quintal de trás, estão brincando de casinha. Quer falar com ela?
- Adoraria! Obrigado! – Sheldon agradece enquanto arruma a gravata borboleta. Acompanhou a senhora até um pequeno jardim na parte de trás da casa. Judy sorriu abertamente para ele ao vê-lo:
- Oi! Quer se juntar a nós?
- Eu não brinco com o garoto-neutrino! – Jane logo se irrita.
- Eu brinco! Ei menino, cadê o quadrinho que comprou? Tenho alguns na minha mochila, quer ver? Gosto do homem aranha! – Jack saiu correndo atrás de sua mochila. Judy surgiu com um bule:
- Temos leite e biscoito. Você gostaria?
- Ah, sim por favor!
Sheldon percebeu que o trio brincava com comidas de verdade, com mesinha e cadeirinhas na medida para os três. Começou a comer os biscoitos.
- Para a sua informação, os neutrinos são muito mais importantes que os quarks! – Sheldon criticou Jane.
- Neutrinos são partículas fantasmas!
- O neutrino é uma partícula subatômica sem carga elétrica e que interage com outras partículas apenas por meio da gravidade e da força nuclear fraca! Qualquer um veria como eles são mais incríveis.
- Olha! Tá aqui meus gibis! – Jack surge, jogando várias revistinhas em Sheldon.
Apesar de suas ideologias quanto a necessidade de “brincar”, Sheldon achou muito agradável conversar com o garoto ruivo sobre super-heróis, discutir de forma lógica com a loira e sua teimosia sobre os quarks e acima de tudo, ficar na companhia da garotinha ruiva, quem ele achava que tinha o sorriso mais lindo do mundo.
Galveston, no leste do Texas, 8 de dezembro de 1990
Sheldon sentiu uma pontada no peito ao acordar. Seus mais novos amigos iriam embora pela tarde. E ele ainda não tinha perguntado o nome da garota sorridente que era extremamente inteligente (bem mais que a irmã e o irmão, fazendo Sheldon sentir uma certa cumplicidade com a garota). Se arrumou depressa e correu para a casa de sua nova amiga.
Com os trigêmeos, Sheldon não se sentia só. Nem estranho. Ele era ele mesmo e aquelas crianças o respeitavam e o incluíam nas conversas. Ele gostava daquela sensação. Era boa.
- Oi Sheldon, veio ver seus amigos? – Solange surgiu à janela. Sheldon estava ofegante. Ele havia corrido até a casinha amarela.
- Sim! Onde ela está? – Sheldon arrumava novamente a gravata borboleta, que segundo Judy “Achei uma gracinha, poderia arrumar uma pro nosso coelhinho?”. Sheldon tinha trazido para ela a gravata que mais gostava.
- Sinto muito, meu bem... Mas eles já foram para a rodoviária. Meu filho Robb teve que voltar, houve uma nevasca em Nova Jersey e ele tem que socorrer as pessoas presas na neve.
- O que? – Sheldon se entristeceu – Eu pensei... TENHO QUE IR! – Sheldon despediu-se de forma atrapalhada da senhora e correu para a rodoviária.
Quando chegou lá, viu uma juba de cabelos alaranjados de uma garota que estava nos braços de um senhor igualmente ruivo, no portão de embarque. Robert consolava a filha. Ela queria ter se despedido do amiguinho.
- Vamos, meu amor! Poderemos voltar no verão e você poderá revê-lo.
- Queria vê-lo agora, papai! – Judy fungou.
- Papai tem razão, Faísca! Podemos voltar quando os quarks ganharem! Hihihi – Jane riu até o irmão bater em sua testa – Ai!
- Espero que os nitrilos vençam, aí eu volto só pra caçoar de você com o C3-PO! – Jack gargalha.
- O nome certo é Neutrinos! – Judy corrige, sendo acompanhada de Sheldon. Ela abre o maior sorriso de todos ao ouvir aquela voz. Virou-se e o viu. Fez um auê para descer do colo do pai, abraçando o amiguinho:
- Você veio! Desculpe, tivemos mudanças nos planos e...
- Tudo bem, sua avó me contou. Vim me despedir...
- Podemos nos ver nas férias de verão? – Judy perguntou sorridente. Sheldon suspirou.
- Espero que sim, sentirei sua falta e de seus irmãos. Vocês são agradáveis de se conviver...
Judy segurou uma lagriminha. Não queria ir.
- Vamos, meu amor. Temos que ir... – Robert disse para a filha. Judy assentiu e segurou a mão do pai.
- Tchau...
- Até logo, menininha ruiva...
Sheldon viu os quatro embarcarem no ônibus e viu o mesmo partir. Como podia já estar sentindo falta dela se ela acabou de ir? Ele resignou-se. Iria transferir sua atenção para a festinha que estava planejando para a premiação do prêmio Nobel, que por causa daquela menina, acabou ficando em segundo plano durante aqueles dias.
Treton, Nova Jersey, 10 de dezembro de 1990.
Judy e Jane corriam pela casa durante o comecinho da noite do dia 10 de dezembro de 1990. Arrastavam suas pantufas e arrumavam a sala de estar com almofadas espalhadas pelo chão. Jack estava sentado no chão ao lado de um rádio antigo. Com a linguinha para fora e suando, ele tentava sintonizar uma determinada estação.
- E então, Fagulha? Conseguiu algo?
- Nadinha, Solar! Só chiados e chiados! – Jack responde cruzando os braços e tufando as bochechinhas rosadas. Jane soltou um muxoxo.
- Mas que porcaria! – Jane sacudiu as marias-chiquinhas enquanto colocava as mãos na cintura – A mamãe podia ajudar, mas ela preferiu ouvir a transmissão na Universidade e o papai está na garagem, arrumando o carro.
- Podíamos pedir a ajuda do papai, Solar! – Judy aparece com uma tigela grande de cereal. Jack correu para a irmã com um sorriso no rosto.
- CONSEGUI!!! – Jack comemorou quando conseguiu sintonizar na estação que transmitiria o prêmio Nobel. Jane e Judy sentaram-se perto do aparelho.
- Agora é só esperar! – Judy sorriu para os irmãos.
...
Galveston, no leste do Texas, 1990.
- E o Nobel de Física de 1990 vai para...
- Vamos, neutrinos! Vamos! – O jovem Sheldon sussurra consigo mesmo.
- ...Henry Kendall, Jerome Friedman e Richard Taylor pela descoberta dos quarks!
Sheldon permitiu-se chorar. Chorava repleto de tristeza. Sentia-se sozinho. Refletiu intimamente:
“Uma característica primária dos quarks é que eles estão sempre juntos. Mas agora, eu me sinto como um neutrino: destinado a ficar sozinho para sempre”.
Mais lágrimas caíram pelas bochechas do garoto. Era triste pensar assim com apenas nove anos de idade. Sentir-se só no mundo. Ele soluçou.
Pela primeira vez, percebeu o quanto era diferente dos outros coleguinhas da mesma idade daquela cidade tão pequena. Chamou quem conhecia para acompanhar a entrega do prêmio Nobel, mas ninguém apareceu. Cadeiras vazias, leite gelando, caixas de cereais que não seriam abertas.
Entre lágrimas, Sheldon suspira resignado e totalmente errado. Ele não está sozinho. Milhares de quilômetros da garagem em que ele acompanha o prêmio, o jovem Leonard também está antenado na transmissão. No mesmo momento, o garotinho Raj estuda sob uma pilha de livros, ainda na Índia. Howard joga videogame acompanhado da voz da mãe. Bernadette se prepara para dormir, e em um quarto muito bagunçado Penny ronca em um sono profundo.
Os amigos estavam lá, mesmo sem se conhecer ainda.
E o mais importante de tudo: Uma garotinha ruiva também acompanhava a premiação, aguardando ansiosa quem ganharia o Nobel de Medicina. Agarrada a um coelhinho de pelúcia enquanto espalhava farelos de biscoito pelo chão. Sua irmã, Jane, cantarolava pela sala por ter acertado quem ganharia o prêmio de Física, enquanto seu irmão e seu pai achavam aquelas duas muito esquisitamente fofas. Judy suspirou ao lembrar de sua pequena viagem a uma cidadezinha do Texas com seu pai. Será que o garoto com a gravata borboleta estaria bem? Afinal, os quarks venceram os neutrinos...
- E o prêmio Nobel de Medicina vai para Edward Thomas e Joseph Murray, pelas suas descobertas acerca do transplante celular e de órgãos no tratamento de doenças humanas!
- OH MEU DEUS, ELES CONSEGUIRAM! – Judy alegrou-se, espalhando todos os biscoitos pelo ar em sua comemoração. Ela tinha ouvido falar por alto no hospital geral sobre uma pesquisa pioneira sobre transplante de órgãos e ficou fascinada com o assunto. Pesquisou sobre e descobriu os cientistas por trás da fabulosa descoberta. Torcia muito para que algo tão incrível tivesse o devido reconhecimento. Que noite feliz.
Judy começou a limpar o chão quando viu seu pai e seus irmãos dormindo no sofá da sala. Ela sorriu para a cena e os cobriu com os edredons. Sentou-se perto da janela da sala e olhou para o céu estrelado. Soltou um suspiro.
Sheldon também suspirava enquanto olhava as estrelas, lembrando-se das três crianças que apareceram na casa vizinha. Especialmente da mais gentil delas, a garotinha ruiva. Como se sentiu bem com ela. Como sentia algo estranho no peito ao lembrar dela.
** E eu nem perguntei o seu nome... ** Sheldon e Judy pensaram isso um do outro, naquela noite do dia 10 de dezembro de 1990...
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