A cidade de Atenas era ainda maior do que Sasuke tinha imaginado. Ao que parecia, os humanos não tinham poupado despesas na hora de construí-la, e muito menos de inaugurá-la.
As ruas estavam cobertas de todos os mais variados tipos de enfeites. Flores, fitas, faixas, tecidos, lanternas de papel, velas. Nas portas das casas, nas calçadas, nas ruas de tijolos queimados, nas entradas dos templos.
Por todo lado tinha gente andando, conversando, desfilando, tocando instrumentos, cantando, vendendo coisas.
A maioria estava usando jóias de prata e ouro nos pulsos, pescoços e orelhas, junto a togas e túnicas em cores variadas de branco, em homenagem à deusa da sabedoria.
Na rua principal da cidade, estava acontecendo um grande desfile cheio de artistas fazendo apresentações enquanto as pessoas se amontoavam nas calçadas para ver. Na frente, iam várias mulheres dançando com véus e fitas, seguidas pelos artistas tocando instrumentos e pelos cantores.
Pelo que Sasuke percebeu, o desfile passaria pela cidade inteira antes de chegar no Partenon, o maior dos templos da cidade, que ficava na parte mais alta da cidade, visível a quilômetros de distância.
Bom, uma coisa Sasuke conseguia concluir sobre os humanos: desde a última vez em que passeou entre eles, com certeza tinham ficado mais espalhafatosos em comemorações como aquela.
Ele nunca viu tanta gente reunida e fazendo tanto barulho quanto naquela manhã em Atenas.
Nem mesmo durante a guerra contra os titãs eles fizeram tanta algazarra assim.
Tinha gente gritando, famílias brigando umas com as outras, instrumentos pra todo lado, assim como aquele cheiro de flor empesteando o ar.
Tinha tantas por tanta parte que o lugar estava com um cheiro muito enjoativo de flores por toda parte. Ele estava quase ficando com dor de cabeça com aquele exagero todo.
Ok, os humanos tinham realmente ficado mais irritantes com o tempo. E a tendência era piorar.
E ainda assim, Sasuke preferia mil vezes estar passeando entre eles do que convivendo com os outros deuses como ele.
O deus dos mortos estava de pé na porta de um pequeno santuário na rua principal da cidade, num lugar mais seguro daquele desfile todo que estava acontecendo no momento.
Na verdade, o desfile estava terminando de passar em frente ao santuário em que Sasuke estava, escondendo-se dos raios de sol fortes da manhã, apoiado numa coluna grega nas sombras, para ficar mais sossegado enquanto observava todos aqueles humanos comemorando tanto por tão pouco.
Afinal, Atenas ainda era só mais uma das várias cidades da Grécia. Se acontecesse qualquer coisa, ela seria destruída igualmente — e nem precisava ser necessariamente porque tinha gente lá em cima querendo manter maremotos para sacanear com os humanos por puro egocentrismo.
No fim das contas, Sasuke invejava um pouco os humanos, por conseguirem ser felizes por futilidades como aquelas.
A parte principal do desfile tinha passado por completo, e agora só tinha gente andando pela rua, seguindo os artistas enquanto eles iam em direção ao Partenon numa velocidade mais moderada.
Sasuke ficou observando aqueles civis carregando velas, flores e fitas, conversando e andando uns com os outros em grupos, para continuarem seguindo a multidão.
Foi quando ele notou algo diferente no meio daquelas pessoas. Um brilho dourado que com certeza não vinha de nenhum reflexo de jóias nem nada.
Sendo o deus dos mortos, Sasuke conseguia enxergar a alma de todos os seres vivos que existiam, e dependendo da cor, ele conseguia saber bem quando a vida de alguém estava mais perto ou não de acabar.
Todos os humanos costumavam ter almas cinzentas, por serem muito frágeis e morrerem em poucas décadas de existência. Quanto mais cinzenta, mais perto da morte estavam.
Mas no meio daquele monte de humanos de alma cinzenta, Sasuke percebeu uma garota com uma alma brilhante e dourada. Como ouro, que nunca enferruja, nunca envelhece, nunca perde o valor.
Definitivamente, a alma de um deus.
Ele piscou algumas vezes, achando que estivesse vendo coisas. Mas quando percebeu que era real, ficou chocado em saber que tinha outro deus ali na cidade naquele momento. Afinal, todos deveriam estar lá em cima ainda, naquela reunião idiota no Monte Olimpo.
Ele olhou melhor para a garota. Era bem jovem e sorridente, parecendo animada enquanto conversava com os humanos ao seu redor, no grupo que ela estava acompanhando pela rua.
Sasuke percebeu que nunca tinha a visto antes. E isso era muita coisa, considerando que ele conhecia todos os deuses que existiam pelo mundo.
Mas aquela garota nunca tinha cruzado seu caminho antes, definitivamente. Porque ele com certeza se lembraria dela.
Ela tinha uma estatura mediana. Cabelos longos e cor-de-rosa, que estavam presos numa trança única pra trás, imitando os das outras mulheres humanas que a cercavam no momento. Olhos verdes e brilhantes como orvalho matinal. E o rosto mais bonito que Sasuke já tinha visto em vida.
Por alguns instantes, ele mal se moveu enquanto a observava, surpreso e confuso a seu respeito.
Afinal, quem era ela?
Ele só percebeu que precisava sair dali porque ela começou a desaparecer de sua vista enquanto continuava subindo a rua e seguindo o desfile junto aos outros humanos.
E movido pela mais pura curiosidade, Sasuke se desencostou da coluna e desceu os pequenos degraus do santuário, saindo dali de volta para a calçada e para as ruas, com a intenção de ir e chegar até ela.
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Sakura tinha andado pela floresta o mais rápido que podia no começo daquela manhã, porque não queria dar o tempo das ninfas notarem sua ausência e tentarem impedi-la de sair. Ou pior: de chamarem sua mãe. Porque parecia que a função delas no mundo era essa: serem suas babás, e fazerem de sua vida um inferno.
De qualquer forma, ela conseguiu chegar numa estrada de terra que estava cheia de humanos. E assim que parou um grupo de moças para perguntar se estavam indo para a cidade de Atenas, ela prontamente responderam que sim, muito simpáticas.
Aparentemente, todas aquelas pessoas andando pela estrada eram estrangeiros, vindos de cidades vizinhas, que estavam indo para o festival de inauguração, visitar e conhecer a cidade. E como eles estavam sendo muito gentis com ela, Sakura decidiu acompanhá-los. Porque eles presumiram que ela fosse uma estrangeira chegando à cidade também.
— Você é de onde? Delfos? — uma das moças perguntou animada. — Você tem super a cara de Delfos. Eles sempre se vestem assim. — ela apontou o vestido branco que Sakura estava usando, cheio de pequenas florzinhas brancas adornadas nos lugares certos.
— Hã… É, sou. — Sakura confirmou com um sorriso, embora não fizesse a menor ideia do que elas estivessem falando.
— Nós somos de Tebas. Fica aqui perto também. — as moças continuaram a tagarelar enquanto Sakura as observava com atenção.
Ela começou a trançar o próprio cabelo — que costumava sempre ficar solto — ao notar que todas elas estavam com os cabelos presos. Ficou um pouco mais aliviada ao perceber que todos estavam usando branco, mas tentou ficar o mais invisível possível, já que seu vestido ficava mais destacado naturalmente por ter mais detalhes delicados do que as túnicas simples que todos usavam.
Mas no fim das contas, ela percebeu que os humanos eram ainda mais amigáveis do que sempre pensou. Porque eram muito gentis e simpáticos.
Não demorou nem cinco minutos acompanhando aquele grupo de moças estrangeiras e elas já tinham lhe entregado uma vela para segurar enquanto caminhavam pela estrada.
E quando chegaram à cidade, Sakura ficou boquiaberta com o tamanho do lugar e com todas aquelas pessoas.
Ela nunca tinha visto nada parecido. Tantas casas, tantos templos, tantas pessoas.
Tinha conversa, música, enfeites, truques com fogo, flores. Pra onde quer que olhasse, era tudo muito colorido e cheio de vida.
E para uma deusa que passou a vida inteira isolada do resto do mundo, era quase como um paraíso e um sonho sendo realizado.
As moças com quem ela estava andando queriam ver tudo. Elas pararam em cada templo pelo caminho, entraram para admirar o interior, para comprar flores na rua, para seguir o desfile. E óbvio que Sakura foi com elas, porque sabia que estaria mais segura se fosse acompanhada. E além disso, era divertido ter gente com quem conversar, ainda mais humanos, que pareciam tão interessantes.
Ela observou com muita atenção enquanto as moças reclamavam um pouco do calor, por estarem suando — enquanto ela própria não sentia o menor incômodo com nada. Também observava com curiosidade quando elas se afastavam dos rapazes que estavam fazendo truques com fogo pelas calçadas, aparentemente com medo de se queimarem.
Os humanos eram ainda mais interessantes quando os observava de perto. Ainda mais por aparentarem serem tão frágeis.
De certa forma, Sakura finalmente se sentiu um pouco menos inútil quando estava perto deles. Porque não era tão frágil quanto eles, ao menos.
Ela e o grupo de moças estrangeiras estavam seguindo o desfile, e em determinado momento, aproveitaram para parar em mais um dos templos pelo caminho.
O templo da deusa da agricultura, Sakura percebeu assim que entraram, já que se tratava de sua mãe.
Assim como nos outros templos, as pessoas estavam deixando flores e outras pequenas oferendas pelo chão do lugar, antes de fazerem uma oração de agradecimento ou de pedidos para abençoar a colheita daquele ano, principalmente na região da cidade agora.
Sakura observou enquanto suas amigas iam deixar flores num canto do chão mais próximo de uma grande estátua do que deveria ser a sua mãe.
Mas não parecia muito com a sua mãe. Primeiro porque a mulher na estátua tinha o cabelo todo cacheado, e com certeza muito mais quilos do que sua mãe tinha de fato.
Ela torceu o nariz, meio incomodada com a falta de realidade embutida ali. E ficou pensando no que a mãe diria se soubesse que os humanos a imaginavam daquele jeito. Com certeza ficaria furiosa, porque ela vivia reclamando que desde que teve Sakura, tinha ganhado uns quilos a mais mesmo, embora continuasse sendo uma deusa bem esguia.
Sakura ficou parada num canto enquanto aguardava as amigas terminarem suas preces, ainda segurando a vela nas mãos e observava com o cenho franzido a estátua esquisita da sua mãe.
— Não é muito fiel à realidade, não é? — um rapaz tinha se aproximado e se encostado na mesma coluna que ela estava encostada, só que do outro lado.
— Acho que não. — Sakura comentou de volta, de bom humor, lançando um olhar rápido pra ele. — Mas imagino que o pessoal daqui tenha presumido que, por ela ser a deusa da agricultura, não deveria ser magrinha igual as outras deusas.
— Não se ofenda, mas eu acho que a única deusa que eles quiseram fazer bonita mesmo foi a deusa da sabedoria. — ele resmungou. — Provavelmente só porque ela é a patrono da cidade. Eles não podiam deixar de puxar o saco, não é?
Sakura riu um pouco.
O rapaz tinha se encostado de lado, com os braços cruzados enquanto também olhava a estátua de Tsunade, assim como ela.
— Como retratam ela de onde você vem? — Sakura presumiu que ele era um estrangeiro, então por isso fez o comentário. Deveria ter uma outra visão de Tsunade, por ela ser retratada de outra forma no lugar onde ele nasceu.
O rapaz sorriu de lado, como se achasse graça enquanto continuava a observar a estátua.
— Ela é mais esbelta. Tem o cabelo liso e loiro. E com certeza não parece tão bem humorada quanto essa daí. — ele respondeu num tom divertido.
Sakura ficou surpresa com os detalhes que ele deu. Porque eram completamente verídicos à realidade.
Ela o olhou melhor, percebendo que estava todo vestido de preto, bem diferente do restante da cidade. Ela notou a pele bem pálida, em excelente contraste com os olhos e cabelos negros, que passavam um ar mais sombrio. Ele parecia quase um fantasma, mas era muito bonito.
Nesse exato momento, ele a olhou. E seus olhos se encontraram pela primeira vez.
Sakura percebeu com surpresa um arrepio quente descer por sua coluna quando os olhos escuros a fitaram daquela forma espirituosa.
Até o momento, ela não tinha encontrado nenhum humano assim. Com uma presença tão alastrante e dominante desse jeito.
De repente, ela se sentiu como se tivesse acabado de ser pega numa tempestade de última hora, cheia de ventos que a arrastavam para algum lugar.
Para ele.
— Ei! — só naquele momento, quando as estrangeiras lhe chamaram de novo, que percebeu que ela e o rapaz estavam se encarando há um tempo considerável sem dizer absolutamente nada. — Você ainda vem com a gente?
— Hã, eu… — Sakura olhou pra elas antes de olhar de novo para ele. — Podem ir na frente. Encontro vocês no Partenon.
— Tudo bem. — elas disseram e saíram do templo, deixando Sakura e o estranho sozinhos, se não considerassem os outros humanos rezando por ali em silêncio.
Ela se voltou totalmente pra ele agora, desencostando da coluna para observá-lo melhor.
— De onde você é? — Sakura questionou, curiosa a respeito.
— De um lugar bem distante daqui. — o rapaz respondeu com aquele ar obscuro, que fazia Sakura se contorcer ainda mais de curiosidade. — E você?
— De um lugar não muito distante daqui. — ela deu de ombros.
Ela notou o cheiro dele. Era diferente. Mais forte que o dos humanos com quem tinha falado até então.
E mais do que isso. Cheirava a algo que ela nunca tinha sentido em mais ninguém antes.
— Você não é humano. — ela sussurrou devagar.
— Você também não. — ele cochichou de volta e sorriu de lado.
Ok, agora Sakura estava realmente com medo. Porque encontrar com outro deus, justamente aqui, era a última coisa que ela esperava.
Agora sim estava ferrada, ainda mais pela forma como ele a olhava. Apesar do jeitão meio tranquilo, os olhos dele estavam fixos nos dela, e passavam um ar quase predatório.
— E a julgar pelo efeito que você causou no lugar, imagino que seja a filha dela. — ele pronunciou enquanto apontava para a estátua de Tsunade.
— Efeito? Que efeito eu causei? — Sakura questionou sem entender.
Aí ele apontou o chão ao redor deles.
Todas as flores do lugar estavam praticamente vivas e brilhantes, bem diferente de como estavam antes de Sakura entrar. As que estavam ali há mais tempo estavam murchas, já ficando secas, mas agora estavam totalmente cheias de cores e vida, como se tivessem acabado de ser colhidas.
Sakura olhou de novo para o rapaz. Ou melhor, para o deus à sua frente.
— Escuta, você tem permissão para estar aqui? — ele indagou erguendo uma sobrancelha. — Porque até onde eu sei, a filha da Tsunade não sai nunca do esconderijo dela.
Sakura engoliu em seco, nervosa. Mas por outro lado, também ficou um pouco mais aliviada.
Porque a impressão que ela teve, foi que aquele deus conhecia sua mãe. O que poderia ser levado em conta, caso ele estivesse pensando em fazer alguma coisa com ela. Afinal, não era qualquer um que gostaria de comprar briga com um dos 12 olimpianos.
— Na verdade, ela não sabe que eu estou aqui. Por enquanto. — Sakura deu de ombros, tentando não parecer tão assustada quanto estava.
Ela estava tentando se manter o mais calma possível, considerando que não tinha a menor chance contra outro deus. E também estava com um pouco de medo da forma como aquele cara a olhava.
Porque ele parecia estar se divertindo com alguma coisa.
— Está nervosa? — ele perguntou baixinho.
— Não. — Sakura respondeu. — Por que estaria?
— A vela está tremendo nas suas mãos.
Ela olhou pra baixo, percebendo a chama da vela tremelicando em suas mãos. Quando voltou a olhar o rapaz, percebeu que ele estava sorrindo de lado.
— Relaxe. Não vou fazer nada com você. Só achei curioso ter uma deusa andando por aqui. — ele respondeu dando um passo para trás. — Não achei que veria outros deuses, considerando todo mundo na reunião lá em cima.
Sakura ficou um pouco mais aliviada, baixando mais os ombros, ao saber disso.
O rapaz saiu de dentro do templo, descendo as escadas enquanto voltava para a rua.
Sakura sabia que tinha que deixá-lo ir e se afastar o máximo possível dele. Mas movida pela curiosidade, ela acabou saindo do templo logo em seguida, indo atrás dele. E contrariando todos os seus instintos de autopreservação e cuidados.
— Não vai me dizer o seu nome? — ela perguntou enquanto se postava ao lado dele e agora os dois caminhavam subindo a rua, seguindo a maior parte da multidão.
— Por que não me diz primeiro o seu? — ele retrucou com tom de ironia. — Afinal, é você que o resto do mundo não conhece.
— É Sakura. — ela respondeu fechando a cara. — E eu me sinto bem mais à vontade com a ideia de que sou eu que não conhece o mundo.
Ele sorriu de lado mais uma vez.
— É, dá pra ver muito bem que você não é daqui. — Sasuke comentou. — Não parece fazer a menor ideia sobre como os humanos conseguem ser perigosos quando querem.
Ela o olhou com bastante irritação, e apressou ainda mais o passo, não só para acompanhar o ritmo dele, mas agora também para conseguir parar na frente dele, fazendo com que parasse também, justamente antes deles chegarem ao fim da rua.
Sasuke ergueu uma sobrancelha de novo, e estava prestes a perguntar porque ela estava no caminho dele quando ele percebeu que a rua diante deles agora estava cheia de cavalos, de outra parte do desfile que estava acontecendo naquele momento, onde os cavalos levavam as carruagens de batalha, para mostrá-las aos habitantes locais sobre como seriam os equipamentos de guerra da cidade.
E Sakura tinha acabado de pará-los antes que se adiantassem mais e fossem atropelados pelos animais.
Ela devolveu o sorrisinho irônico pra ele.
— Eu aprendo rápido. — ela deu de ombros pra ele antes de se virar e olhar melhor o desfile dos cavalos.
Assim que eles passaram, ela se pôs a segui-los, subindo a rua, ainda com a vela nas mãos, e dando as costas para o deus dos mortos, que estava levemente surpreso. De uma maneira positiva.
E agora, ele que voltou a tarefa de segui-la.
— Então você é a famosa deusa das flores, hein? — ele comentou enquanto voltavam a caminhar lado a lado, agora seguindo o desfile das carruagens.
— Famosa? Minha mãe anda por aí falando de mim? — ela perguntou com curiosidade enquanto o olhava de novo com um sorriso.
— Não mais do que o necessário, acredite. — ele respondeu. — E de qualquer forma, eu nunca fui do tipo de ficar perguntando também. Mas todo mundo sabe que a Tsunade tem uma filha do qual ela se orgulha de esconder do resto do mundo.
— Ah. — Sakura tentou não revirar os olhos ao saber disso.
Sasuke observou que conforme eles andavam pelas ruas, as flores ao redor que as pessoas seguravam ou enfeitavam os lugares deixavam de ser murchas e voltavam a brilhar de maneira viva quando Sakura passava por perto.
— O que você está fazendo aqui, aliás? — a garota lhe perguntou com curiosidade. — Pensei que todos os deuses estivessem lá em cima, no momento. Na tal reunião.
— Ah, minha presença não é muito requisitada. — ele resmungou com deboche. — Achei que seria mais útil tirar um dia de folga.
— E você tira seus dias de folga entre os humanos? — ela o olhou surpresa. — Pensei que a maioria dos deuses achasse que os humanos fossem meros… mortais idiotas. — ela repetiu o que sua mãe sempre dizia.
— E eles acham, eu não. — Sasuke deu de ombros enquanto olhava a multidão ao redor. — Acho eles interessantes.
— Mesmo? — Sakura estava bem surpresa em saber. — Eu também sempre achei. Embora esta seja a primeira vez que os veja, mas…
Ele a olhou de novo com um sorriso de lado.
— E o que está achando a respeito deles?
— São interessantes mesmo, como você falou. — ela disse animada. — Quer dizer, quem é que faz uma festa só por causa de uma cidade? — ela indicou o lugar ao redor deles. — A cidade pode ser destruída semana que vem por inimigos, ou sofrer um terremoto, ou ser queimada num incêndio acidental. E mesmo assim eles estão comemorando como se não houvesse amanhã.
— De certa forma é um pouco ingênuo, não? — ele comentou.
— Nem tanto. — Sakura sorriu. — Na verdade, é quase romântico. Os humanos parecem ser muito sonhadores, não acha?
— Acho eles inocentes demais. — ele murmurou e apontou para um casal na calçada, ali perto de onde eles passavam no momento. — Está vendo aqueles dois?
Sakura olhou, observando a mulher bonita usando um lindo colar de ouro no pescoço, postada ao lado de um rapaz igualmente bonito e parecendo ser bastante cheio de si.
— São noivos. — Sasuke explanou. — Ela acha que ele é rico, mas na real, ele está endividado até a alma, e provavelmente está contando com o dinheiro da família dela para se dar bem.
— Como você sabe? — Sakura questionou confusa.
— Porque o colar não é de ouro. É uma imitação. — Sasuke fez uma careta debochada. — Acredite, eu sou o deus das riquezas. Entendo dessas coisas.
Sakura ficou surpresa em saber. Mas ok, ela tinha uma informação a mais sobre ele agora.
Ele era o deus das riquezas, e como ela nunca tinha ouvido Tsunade falar nada dele, imaginou que ele não fosse um dos 12 olimpianos, o que significava que, de fato, ele não estava entre os deuses mais fortes existentes, o que tornava tudo mais seguro para ela.
— Bom, eu acho que ele realmente gosta dela. — ela opinou enquanto olhava de novo o casal. — Só não sei se ela vai continuar gostando dele depois que casarem e descobrir os problemas financeiros dele.
— Como você pode saber?
— Porque ele tem cheiro de tulipas vermelhas, que significam paixão. — ela respondeu com simplicidade. — Já a mulher tem cheiro de bromélias verdes, que normalmente significam interesse em dinheiro ou bens materiais. — ela encarou Sasuke com ironia. — Se o casamento for terrível, vai ser culpa dela, com certeza.
Ele a olhou de maneira divertida.
— Quer dizer que sabe tudo sobre qualquer humano porque os compara com flores?
— Na verdade, todo mundo tem cheiro de alguma flor, e daí eu consigo saber exatamente como a pessoa é. — ela respondeu com um sorrisinho afetado. — Consigo ler a essência das pessoas assim como consigo saber das flores.
— Interessante. — Sasuke murmurou antes de olhar em volta e apontar para um senhor sentado na porta de uma casa ali perto. Pela cor da alma, ele sabia que o velho não tinha muito mais que um ano de vida. — O cara ali tem cheiro de quê?
Sakura fitou o senhor.
— Flor de maracujá. Acho que ele anda meio amargurado há bastante tempo. Deve ter deixado a mulher que amava casar com outro na juventude. — ela fez uma careta. — Mas eu acho que ele está doente, porque tem um cheiro meio fraco.
Sasuke teve que se segurar muito pra não rir.
— E elas? — ele apontou duas adolescentes vendendo flores ali perto para estrangeiros.
— Irmãs. Mas a mais nova tem inveja da mais velha, provavelmente porque ela vai se casar com o cara que ela gosta. — Sakura deu de ombros. — Ela tem cheiro de rosa amarela.
— Quer dizer que existem flores que significam coisas ruins? — ele ficou surpreso em saber. — Bom saber disso. Nunca mais dou rosas amarelas pra ninguém.
Sakura riu um pouco.
— Ela? — ele apontou uma mulher rezando na porta de um templo de Hinata, pelo qual eles estavam passando na frente naquele instante.
— Flor de cacto. — Sakura respondeu prontamente. — Ela está grávida, e ama muito o filho. E a julgar pelo templo em que ela está, imagino que esteja pedindo bênçãos da deusa do casamento e da família.
Sasuke fez uma careta de deboche, imaginando se Hinata estaria ouvindo, afinal, devia estar mais ocupada lá em cima, observando Naruto dar em cima das deusas menores presentes na reunião.
— Tudo bem, já me impressionou. — ele murmurou e sorriu de novo para Sakura. — E eu? Tenho cheiro de alguma flor?
— Fez toda essa volta só pra perguntar de você? — a deusa das flores retrucou com ironia. — Não era mais fácil ter perguntado logo de cara?
— Eu estava te testando. — ele respondeu no mesmo tom. — Queria saber se é boa mesmo.
Sakura só sorriu com escárnio, revirando os olhos.
— Você tem cheiro de gamão. — ela murmurou e lançou aquele sorriso debochado na direção dele. — E eu não estava tentando te impressionar. — ela acrescentou antes de sair caminhando mais depressa, porque queria parar no templo de Naruto mais à frente.
Sasuke parou uns segundos com a informação. Gamão?
Ele a observou de costas, enquanto ela se afastava e subia as escadas para entrar no templo de seu irmão.
O que gamão queria dizer?
Ele subiu as escadas também, adentrando o templo.
Assim como os outros, estava cheio de flores e velas pelo chão, e havia gente por ali rezando baixinho, como sempre.
Sakura estava parada em frente à estátua do deus dos céus, observando sua fisionomia. Sasuke parou ao lado dela.
— E aí? Ele está mais fiel à realidade que a minha mãe ou não? — ela perguntou sem olhá-lo, mas sentindo a presença forte dele ao seu lado.
— Não. — Sasuke resmungou observando a bonita e imponente estátua. — Está muito melhor do que ele é realmente.
— Sério? — ela riu ao saber.
— É. Ele não é tão bonito assim. E muito menos tem essa pinta toda de guerreiro invencível que esse artista retratou. — ele resmungou. — Só é valentão quando está com o raio-mestre nas mãos.
— Nossa. Você parece a minha mãe falando. — Sakura comentou achando engraçado. — Ela também parece detestar a vossa majestade aí.
— E com razão. — ele continuava resmungando de mau humor, aparentemente. Sakura imaginou que ele também não fosse com a cara de Naruto.
— Sempre imaginei que os Três Grandes seriam a representação máxima de poder e autoridade no nosso mundo. — ela comentou pensativa enquanto ainda observavam a estátua irrealista do rei dos deuses. — Mas pelo que a minha mãe fala, dá a impressão que os três são só um trio de patetas. Quer dizer, ela fala muito mal do Naruto e do Shikamaru. Vive dizendo que eles sim são o maior perigo para todos nós, e não os titãs.
Sasuke a observou pelo canto do olho.
— E o outro? O mais velho deles? O que ela fala sobre ele? — ele perguntou como quem não quer nada.
— O deus do submundo? — Sakura indagou e ficou pensativa de novo. — Hã, que eu me lembre agora, nada. — ela própria pareceu surpresa com esse fato. Mas no fim, deu de ombros. — Bom, presumo que seja uma coisa boa, então. Se ela não fala nada dele, então ele não deve ser tão ruim quanto os outros.
Talvez aquela tenha sido a primeira vez em milênios que Sasuke se sentiu bem quisto no mundo. Pelo menos uma dentro.
— Mas sério, não é esquisito? Como é que deixaram eles se tornarem reis dos Três Reinos? — ela voltou ao assunto principal. — Como é que você deixa os caras mais irresponsáveis que existem governando o mundo?
— Eu me pergunto isso até hoje. — Sasuke resmungou com deboche e voltou a olhá-la. — Mas deve ter a ver só com puxa-saquismo por eles terem ganhado a guerra contra os titãs.
— Total. — ela concordou e o olhou também.
Seus olhos se encontraram de novo, e Sakura tomou consciência mais uma vez da forte presença que aquele deus tinha no ambiente.
Era até estranho. Porque ele parecia ter uma aura ainda mais forte que a mãe dela, que era uma olimpiana. E pelo que ele tinha dito, ele não era um olimpiano. Mas ainda assim, causava uma atmosfera poderosa no ambiente.
Ou talvez fosse só porque Sakura tinha se acostumado com a própria mãe, já que conviveu apenas com ela desde que nasceu. E agora que estava diante de outro deus, estava estranhando a forte presença dele.
Ainda assim, ele continuava tendo um cheiro muito bom e atraente, e isso sem contar sua aparência, que apesar de meio sinistra, era muito bonita também.
Sakura desviou os olhos e voltou a encarar a estátua de Naruto antes que corasse na frente do tal deus das riquezas.
Sasuke, por outro lado, continuou observando-a, agora de perfil.
— Está a fim de comer alguma coisa? — ele perguntou com gentileza. — Ou prefere continuar admirando a beleza irreal do idiota aí?
Sakura o olhou de novo, e percebeu pelo olhar dele, que provavelmente seria uma ideia legal. Divertida. E com certeza inesquecível.
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Depois de almoçarem juntos, os dois continuaram passeando pela cidade, parando para entrar em cada templo que viam pelo caminho, só para Sasuke dizer se as estátuas eram parecidas ou não com cada deus.
Sakura aproveitou para enchê-lo de perguntas sobre tudo que sua mãe sempre se recusava a responder. Ou até para comparar as respostas dele com as de Tsunade.
— Ino? — ela perguntou sobre a deusa do amor e da beleza.
— Se existe alguém no Monte Olimpo mais egocêntrica e metida do que Naruto e Shikamaru, com certeza é a Ino. — ele zombou.
— Suigetsu? — sobre o deus do vinho e das festas.
— Até que ele é divertido. Quando não exagera demais na bebida.
— Gaara? — sobre o deus da guerra.
— É igual Naruto. Só se garante quando está com uma arma na mão.
— Santos deuses. — Sakura estava morrendo de rir. — Tem algum deus de quem você goste?
— Karin. Quer dizer, mais ou menos. — ele revirou os olhos, embora estivesse sorrindo. — Deusa da magia. Ela também não é muito de frequentar o Monte Olimpo, igual a mim.
— Ok, se antes eu tinha dúvidas, agora tenho certeza. — Sakura anunciou com sarcasmo. — Parece que o requisito principal para ser um olimpiano é ser um desgraçado.
— Mas deve ser mesmo. — Sasuke concordou.
— Verdade? Então por que você não é um deles? — Sakura ironizou de volta. — Porque pelo que eu percebi, você também é bem sacana.
— Não devo ter puxado muito o saco do Naruto na época que os deuses se dividiram. — ele respondeu com um sorrisinho. — Por isso não fui escolhido para ser um dos 12 olimpianos.
— Ah, isso explica tudo. — Sakura riu de novo.
Na verdade, ela tinha passado a tarde inteira rindo. O deus das riquezas era muito divertido, como ela jamais imaginou que ele fosse, considerando sua aparência quase sinistra, mas que ela achava muito atraente.
E também não era nada do que ela esperava de um deus. Pelo menos, não depois de passar a vida inteira ouvindo a mãe falar sobre como todos os deuses eram incontroláveis com as próprias calças, ainda mais se tratando de alguém tão bonita quanto Sakura.
Já se passavam horas que estavam passeando juntos por Atenas, e ele ainda não tinha lhe cantado nem uma única vez.
De vez em quando ficava olhando pra ela sem dizer nada, mas ela imaginou que fosse o jeito dele mesmo, embora se sentisse meio arrepiada e nervosa quando ele fazia isso. Mas nenhum dos dois comentou nada a respeito.
De qualquer forma, ele devia ser casado. Ou Sakura imaginava que ele fosse casado e estivesse respeitando a própria esposa — embora isso fosse bem incomum entre os deuses, ela sabia.
Não importava. Porque no fundo, isso não deveria importar, já que ela nunca mais o veria. Mesmo que não fosse pega pela mãe, provavelmente nunca mais teria coragem para sair assim, sabendo dos riscos que correria se encontrasse com outros deuses.
Ela nunca mais o veria. Então não tinha porque se importar se ele era casado ou não. Ou se sequer tinha sentido alguma atração por ela. Porque em poucas horas, estaria de volta à campina escondida de sua mãe.
De qualquer maneira, pouco antes do sol se pôr, eles finalmente terminaram o passeio por Atenas, junto ao próprio desfile da cidade, que passou por todas as ruas devagar, até finalmente chegar ao Partenon.
Assim como as centenas de pessoas na cidade, os dois subiram as escadarias para chegar lá, e entraram no saguão repleto de enfeites e oferendas à deusa da sabedoria. Sakura deixou finalmente a vela que tinha nas mãos ali no chão.
Ela não precisou perguntar nada. Só pela cara que Sasuke fez ao olhar a enorme estátua de dez metros de altura de Temari, dava pra saber que não passava nem perto da realidade. A deusa das flores riu de novo.
Os humanos ao redor deles começaram a comemorar de novo agora que o desfile tinha oficialmente terminado e a noite se aproximava. As apresentações com fogo duplicaram pela cidade, e as ruas começaram a se encher de novo de música agora que Atenas estava oficialmente postada na Grécia para o resto do mundo.
Sakura e Sasuke saíram do templo e foram se sentar na escadaria, imitando várias pessoas por ali, que estavam aproveitando o fim de tarde e o começo da segunda parte do festival.
— E então? — Sakura perguntou sorridente para Sasuke. — Imagino que você já tenha ido em outras inaugurações. Essa daqui foi das boas?
— Que eu me lembre, foi a mais divertida a qual já fui. — ele deu de ombros, de bom humor. — E os humanos estão ficando mais criativos com as festas. E mais enérgicos também.
— Ou talvez tenha sido a minha presença. — Sakura brincou. — Tenho fama de ser bem divertida.
— Ah, eu imagino que sim. — ele resmungou, fazendo-a rir.
O sol ia baixando cada vez mais sobre a colina do templo, mergulhando-os num banho de luz alaranjada de fim de tarde.
Sasuke voltou a encarar a moça daquele jeito concentrado e intenso. A deusa precisou se esforçar muito pra não se encolher, ainda mais considerando que eles estavam sentados lado a lado sobre os degraus.
— O que significa o gamão? — ele perguntou.
— Hã? — ela não entendeu a princípio.
— De manhã você me disse que eu cheirava a gamão. Mas não me disse o que significava. — ele explicou antes de repetir a pergunta. — O que significa?
— Ah. Isso. — Sakura se encolheu, meio sem graça de explicar. — Não é nada de mais.
— Então por que não me diz?
— Bom, não sei se você vai ficar muito satisfeito com a resposta. — ela parecia intimidada agora, como se tivesse medo de uma má reação dele.
— Por que não arrisca? — ele a desafiou de bom humor.
Sakura voltou a encará-lo por uns segundos antes de responder.
— Gamão é a flor que representa a solidão. — ela disse baixinho. — Você tem cheiro de solidão.
O rosto dele ficou sério de novo. Na verdade, perdeu aquele brilho divertido nos olhos pela primeira vez, o que fez Sakura já ficar meio desconfortável, porque sabia que isso iria acontecer assim que explicasse.
Desde o começo ela sabia que ele provavelmente ficaria meio constrangido ao saber de algo assim. Não é todo mundo que gosta de ser explanado dessa forma. E talvez ele tivesse sentido a própria privacidade invadida com o comentário dela.
Ela começou a se preparar para uma possível discussão ou até explosão de raiva.
Mas um minuto se passou, e o rapaz continuou calado, embora a olhando com seriedade. Em nenhum momento ele desviou os olhos dela. E ela daria qualquer coisa para saber o que estava se passando na cabeça dele no momento.
Mas quando ele voltou a falar, foi algo totalmente inesperado.
— Como é um gamão?
Sakura piscou, confusa.
— Acho que eu nunca vi um gamão. — Sasuke continuou, parecendo curioso. — Como é?
— Ah. — a deusa das flores se endireitou, meio desconcertada. — É assim.
Sasuke apenas observou enquanto ela movia as mãos e fazia brotar uma flor em seu colo do nada. Assim que ficou pronta, ele a pegou e examinou melhor.
De fato, nunca tinha visto uma flor como aquela. Ela tinha um caule bem verde e duro, porém as flores eram brancas e com pétalas bem macias e compridas, com linhas bem vermelhas saindo bem do centro de cada pétala, além de brotinhos amarelos adornados ao redor delas.
Era uma flor grande, com um cheiro levemente amadeirado, que dava a impressão dela pertencer a grandes e refinadas árvores.
Era muito mais bonita e agradável do que Sasuke pensou a princípio.
— Eu gostei. — ele murmurou, ainda observando a flor em suas mãos.
— Mesmo? — Sakura ficou surpresa em saber, e um pouco mais aliviada também. — Pode ficar com essa muda se quiser. Plante na sua casa. Mas já deixo avisado que ela é pior que erva daninha. Se multiplica igual uma praga. — ela riu um pouco. — Só não deixa no sol, senão ela murcha.
— Pode deixar. — ele sorriu quase cínico, considerando que sol era a última coisa que tinha em sua casa.
O deus das riquezas voltou a encará-la, com aquele sorriso ladino de volta aos lábios. Sakura engoliu em seco, sentindo uma sensação estranha no próprio estômago ao ser encarada por ele.
— E então? Não vai mesmo me dizer o seu nome? — ela questionou.
— Por que isso importa tanto pra você? — ele rebateu divertido. — Não basta saber apenas que eu sou o deus das riquezas?
Isso não era exatamente uma mentira, mas também não era totalmente a verdade.
A questão é que Sasuke estava com medo de dizer o próprio nome e ela sacar na hora quem ele era realmente. E a última coisa que ele queria era que ela começasse a tratá-lo como os outros deuses: com receio e uma reverência que definitivamente não queria. Não depois de passar o dia inteiro se divertindo com ela.
— Bom, daqui uns anos, quando eu estiver me remoendo na minha prisão domiciliar solitária, quero poder me lembrar do seu nome, pelo menos. — Sakura disse de maneira animada. — Assim posso saber com quem eu estava no dia mais maneiro da minha vida.
— É só isso? Quer algo legal para se lembrar de mim daqui um tempo? — Sasuke devolveu a questão com certo cinismo, e um brilho desafiante nos olhos. — Porque acho que consigo te dar algo muito mais maneiro do que um nome.
— O quê? — ela franziu o cenho, confusa.
— Fique parada. — ele disse quase numa ordem. Sakura obedeceu, esperando seja lá o quê.
Foi quando ele parou de sorrir, se endireitou melhor para que seus rostos ficassem bem de frente um para o outro.
Sakura arregalou um pouco os olhos ao notá-lo se aproximando mais dela, porém ela não fez nada para afastá-lo, descobrindo-se mais ansiosa e curiosa do que realmente amedrontada.
Quando ele estava bem perto, ela sentiu a respiração gelada batendo contra seu corpo, lhe causando arrepios.
E aí de repente, os lábios dele estavam sobre os seus, lhe causando quase um choque térmico com a diferença gigante de temperatura entre eles.
O deus era muito mais frio do que ela tinha imaginado. Seus lábios e a pele dos dedos dele sobre suas bochechas causavam arrepios quase chocantes em Sakura.
Mas ela gostou da sensação. E gostou ainda mais da sensação dos lábios dele sobre os seus.
A garota fechou os olhos e entreabriu mais os lábios, dando passagem a ele para se mover melhor, e sua língua adentrar a boca dela, entrelaçando-se com a sua.
Os lábios dele se moviam com delicadeza sobre os dela. Uma delicadeza que surpreendeu o próprio Sasuke, já que ele percebeu ter um autocontrole ainda maior do que sabia que tinha.
Porque sinceramente? Ele passou o dia inteiro querendo beijá-la, e agora que o tinha feito, percebeu que era ainda melhor do que imaginara.
Muito melhor. Definitivamente melhor. Infinitamente melhor.
A boca dela tinha um gosto doce, que era milhões de vezes melhor que qualquer manjar dos deuses. E que tirou o fôlego dele.
Sua vontade era de jogá-la sobre os degraus e fazer muito mais do que apenas beijá-la, mas ele se pegou se controlando mais do que o normal. Talvez porque soubesse que ela jamais tinha feito nada daquilo antes.
Mas mais do que tudo, ele sentiu um forte desejo que jamais tinha sentido antes, em milênios de existência. Nunca tinha sentido nada parecido assim antes.
Sakura o beijava com ansiedade, querendo sentir mais um pouco daquela sensação gelada que ele passava, que parecia mais acolhedora do que qualquer coisa. Sem perceber, as mãos dela agarraram as roupas pretas do peito dele, se firmando ali enquanto ela continuava movendo os lábios sob os dele com tanto ou mais desejo que o deus das riquezas.
Àquela altura, ela nem estava mais se perguntando se ele era casado ou não. Só queria beijá-lo e esquecer que o resto do mundo continuava existindo ao redor deles.
Nem respirar ela queria mais direito. Sentia que precisava mais dele do que de ar.
Mas no exato segundo em que os dois se separaram por um pequeno instante que Sakura arregalou os olhos ao notar o rosto dele. E como a luz do sol estava ficando cada vez mais fraca sobre a pele pálida dele.
A deusa das flores olhou apavorada na direção do horizonte, percebendo o sol realmente estava desaparecendo atrás das montanhas, com apenas um fiozinho dele ainda iluminando a cidade de Atenas.
O dia tinha acabado. E provavelmente a reunião lá em cima também.
— Santos deuses, eu tenho que ir! — ela se levantou num pulo, aterrorizada.
— O quê? — Sasuke arregalou os olhos, e automaticamente sua mão agarrou o braço dela, impedindo que ela começasse a correr.
Sakura se virou para olhá-lo, e parecia realmente apavorada.
— Eu preciso ir. A minha mãe vai voltar a qualquer momento, e se eu não estiver lá, ela vai me matar. — ela chiou desesperada. — Me solta!
— Mas eu… — o próprio Sasuke não notava que estava a segurando ainda. — Pelo menos pode me dizer onde fica a campina da sua mãe? Eu quero te visitar.
— Eu não sei explicar. Não tenho o menor senso de localização. — Sakura choramingou. — Por favor, me solta!
Ele a soltou. Porém o jeito como ele a olhou fez Sakura continuar parada sobre os degraus, o encarando.
Sasuke parecia tão determinado e tão resoluto do que queria, que suas próximas palavras saíram quase sombrias.
— Eu vou encontrar você, prometo.
Sakura mordeu o lábio inferior, ansiosa e quase esperançosa por ele.
— Bom, estarei torcendo por você. — ela murmurou e sorriu uma última vez pra ele antes de se virar e começar a descer os degraus de maneira rápida.
E assim que chegou lá embaixo, saiu correndo pelas ruas o mais rápido que podia, tentando sair da cidade e retornar o mais depressa possível para a casa de sua mãe, deixando o rei do Terceiro Reino para trás.
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