Sasuke ouviu tudo o que Karin lhe contou. Cada palavra. Da explicação de tudo o que estava acontecendo nos últimos tempos e como tudo estava ligado a ele e Sakura.
Num primeiro momento, ele ficou sem reação. Depois ficou transtornado. E agora se encontrava de novo sem saber como reagir. Ou como encontrar palavras para dizer isso a Sakura.
Toda a confusão no andar de cima se devia à ausência de Sakura. E ele sabia que isso ia mexer muito com ela, assim que soubesse.
Ele não fazia a menor ideia de como iria contar isso pra ela. Porque sabia que era demais.
Exatamente por isso que demorou a procurá-la depois que falou com Karin. Ficou andando sozinho pelo palácio, tentando elaborar um discurso decente ou uma forma de explicar tudo melhor para evitar que Sakura surtasse e se desesperasse.
Ele só conseguia pensar em como ela ficaria apavorada com a ideia de ter que voltar a morar com a mãe. E sabia que, por isso, precisava chegar lá e despejar essa notícia da maneira mais gentil que encontrasse.
O problema é que ele nunca foi muito bom nisso de ser gentil e delicado. Então estava bem nervoso sobre como falar com sua esposa.
Horas depois, ele finalmente se encheu de coragem, depois de ensaiar sozinho várias vezes no próprio escritório tudo o que tinha pra falar. Até fez uma lista mental de todas as coisas que precisaria dizer, pra não esquecer.
E aí foi atrás dela.
Nem precisou procurar muito. A encontrou de primeira no quarto dele — deles, aliás.
Sakura estava sentada na beira da cama, olhando de maneira ansiosa para um canto qualquer. Ela imediatamente se sobressaltou ao vê-lo, porém continuou sentada ali.
— Oi. — Sasuke murmurou enquanto fechava a porta atrás de si e caminhava devagar até ela. — Precisamos conversar. É sobre algo sério.
— Tá bom. — Sakura assentiu de maneira nervosa. Parecia bem ansiosa com alguma coisa, e talvez já suspeitasse que tinha algo de errado acontecendo.
Na verdade, ela estava agindo como se tivesse culpa no cartório, igual a ele.
Sasuke tentou ignorar isso pra não ficar ainda mais agoniado e se atrapalhar todo nas palavras.
Assim que ele chegou perto o suficiente, se abaixou diante dela, colocando-se de joelhos à sua frente. Sakura engoliu em seco, respirando fundo.
— Eu queria pedir que você não me interrompesse até eu terminar, por favor. — ele falou com extrema cautela. — Senão posso acabar perdendo todo o fio da meada, e eu preciso falar tudo.
— Certo. — ela concordou, parecendo ainda meio ansiosa. — Pode falar, querido.
— Tá. — ele respirou bem fundo antes de começar. — Vou começar logo pela parte mais técnica. É sobre os mortais.
Sakura assentiu com a cabeça, incentivando-o a falar.
— Você deve ter percebido que ultimamente eu venho trabalhando bastante, por conta dos humanos estarem morrendo numa velocidade alarmante esses tempos. — ele disse e fez uma careta. — Na real, não é exatamente assim que funciona geralmente. Eles não costumam morrer tanto como tem acontecido nesses últimos tempos.
Sakura assentiu de novo com a cabeça.
— Isso é porque, ao que parece, lá em cima está cheio de neve há meses, de uma forma que não acontecia há muitos séculos, desde a época dos titãs. Então os humanos não estavam preparados para um frio tão grande assim, que além de estar matando-os de hipotermia, também acabou com a maioria de seus alimentos.
— Ok. — Sakura assentiu enquanto pensava nas plantações de sua mãe.
— Durante esse tempo todo, os olimpianos estavam atrás de descobrir o motivo disso estar acontecendo do nada assim, mas parece que eles já sabem o que aconteceu. — Sasuke mordeu o lábio inferior e levou uma mão até as de Sakura, segurando nos dedos dela, e percebendo que estava mais gelada do que o normal, o que indicava que estava nervosa. Ele voltou a olhar bem firme nos olhos verdes dela. — Pelo que eles me falaram, esse frio todo começou no dia exato em que eu trouxe você para o Mundo Inferior.
O rosto de Sakura se solidificou naquela expressão de nervosismo e ansiedade enquanto ela o esperava terminar.
— Sakura… — Sasuke suspirou. — Você é a razão de tudo lá em cima estar congelando.
Ela continuou calada, esperando ele terminar. Sasuke até estranhou que ela não arregalasse os olhos, começasse a gritar e surtar… mas ele preferiu continuar antes que ela fizesse isso.
— As flores que você traz para o mundo são só a ponta do iceberg. Você traz o calor para a Terra, e é por sua causa que nos últimos 1800 anos, não se via mais um floco de neve em lugar nenhum. Desde que você nasceu, toda vida lá em cima se tornou a sua responsabilidade. — ele engoliu em seco. — E agora… todos lá em cima precisam que você volte.
Ela continuou quieta, apenas olhando pra ele daquele jeito angustiado e contido.
— Já acabou? — ela questionou baixinho, porém, nesse momento, Sasuke se sobressaltou. Ele agarrou firme as duas mãos dela.
— Olha, se quer minha opinião, eu quero que tudo vá pra merda. — ele começou a falar rapidamente. — Não ligo se os outros deuses querem que você volte. Não ligo se os humanos precisam de você. Foda-se eles. Foda-se todo mundo.
— Sasuke, o que está dizendo? — Sakura perguntou confusa.
— Por que eu preciso abrir mão de você por causa dos olimpianos? Ou até pelos humanos? — Sasuke se colocou de pé, e parecia bem irritado. — O que todos esses miseráveis já fizeram por mim para que agora eu pense no bem estar deles? Os outros deuses não me suportam, e os humanos só lembram que eu existo quando estão à beira da morte, mas passam suas vidas inteiras me menosprezando ou sequer indo no meu templo fazer uma prece sequer. Por que agora eu preciso me importar com eles?
— Não diz isso, Sasuke. — Sakura ficou de pé também, ainda segurando nas mãos geladas dele. — Não seja tão egoísta a esse ponto.
— Por que não? Se todo mundo tem o direito de ser egoísta e me tratar como escória, por que eu não posso fazer o mesmo? — ele retrucou.
— Porque você é melhor que todos eles. — Sakura disse com complacência, levando uma das mãos ao rosto dele. — Eu sei muito bem disso. Eu sei que você está chateado e nervoso. Todos dizem que você é um deus mau, mas eu sei que não é. Não de verdade.
Ele ficou parado enquanto bufava em silêncio e apreciava os toques dos dedos dela sobre sua bochecha.
— Então eu… — ela mordeu os lábios nervosamente antes de continuar. — Quer dizer que eu sou a responsável por fazer a vida prevalecer lá em cima?
— Ao que parece, sim. — ele murmurou com os olhos fixos nos dela.
— Nossa. — ela parecia chocada. — É bem difícil de acreditar.
— Por quê? — ele riu sem o menor humor. — Porque você é uma deusa sem poder nenhum? — perguntou em tom de ironia. — Todos nós existimos por uma razão, Sakura. Todos temos um propósito a servir, alguns mais importantes que outros. E no seu caso, você é mais importante do que sempre lhe fizeram acreditar.
Sakura não disse nada enquanto assimilava essa ideia, ainda com dificuldade em aceitar isso.
Ela nunca pensou que suas flores pudessem ser tão importantes para o mundo como realmente eram. Nunca pensou que sua ausência e seu “desaparecimento” pudessem causar tanto estrago quanto estava causando.
Isso começou a pesar bastante em sua consciência, e ela nem precisou falar nada, porque Sasuke leu tudo em seu rosto.
— Ei, sem choro. — ele disse quase em tom de ordem. — Não é sua culpa. Você não tinha como saber que vir para o Mundo Inferior faria tanta gente sofrer lá em cima. Calma. — ele suspirou. — Se quer tanto achar um culpado, culpe a mim. Eu que trouxe você aqui. Eu que tirei você da sua mãe.
— Eu era prisioneira da minha mãe, você sabe. — ela murmurou pensativa. — E se não fosse por você, ainda seria até hoje.
— Sakura…
— Minha mãe é o verdadeiro motivo disso tudo estar acontecendo. — ela falou com firmeza enquanto voltava a encarar bem fundo nos olhos escuros dele. — E acho melhor contar a você logo.
— Contar o quê? — Sasuke voltou a ficar nervoso.
— Eu não quero voltar a ser prisioneira dela, Sasuke. — Sakura falou de maneira trêmula, nervosa com o que estava prestes a dizer pra ele. — Eu não quero ter que voltar lá pra cima, ficar trancada e… E nunca mais ver você. Então, eu… — ela engoliu em seco, com lágrimas nos olhos. — Eu pedi ajuda da sua mãe.
O rosto dele empalideceu mais ainda — se é que isso fosse possível, considerando quão pálido ele já era naturalmente.
— O que ela fez com você? — ele perguntou baixinho, de maneira muito assustada.
— Ela não me machucou nem nada, calma. — a deusa se apressou em responder. — Mas ela me… Ela me… — ela gaguejava, com medo da reação dele. — Ela me fez comer uma fruta do Mundo Inferior.
Se Sasuke já parecia assustado antes, agora ele parecia apavorado. Deu quase pra ver a alma dele saindo do corpo por uns segundos antes de voltar, enquanto assimilava as palavras dela.
Aí ele começou a surtar.
— Você comeu uma romã? — ele começou a gritar e andar pelo quarto como se tivesse acabado de saber que iriam para uma guerra de novo. — Eu não acredito que você comeu uma romã! Santos deuses, eu vou matar a mamãe!
— Calma, Sasuke. — ela tentou tranquilizá-lo. — Não é tão…
— Sakura, agora você é igual a mim e Karin. — ele disse como se isso fosse horrível. — Está presa ao Mundo Inferior assim como nós. Não vai poder ficar longe daqui por muito tempo e…
— Exatamente. — ela disse com seriedade, fazendo ele parar e encará-la abismado. — Exatamente isso. Essa é a minha garantia de que não posso mais ser prisioneira da minha mãe… e de que também não ficarei longe de você por tanto tempo.
Ele continuou parado, olhando-a com os lábios entreabertos, tentando entender qual era a ideia. Sakura deu um passo à frente, para chegar até ele e segurar seu braço com delicadeza.
— Não fica bravo com a sua mãe, ela só estava tentando nos ajudar. — disse com complacência. — Sasuke, eu sei que você está preocupado com o fato de que nós poderíamos nunca mais nos ver. E eu também estava, por isso comi a romã. Para garantir que ninguém, nem mesmo a minha mãe, poderá nos manter longe um do outro.
— Não devia ter feito isso. — ele murmurou baixinho. — Agora como vamos resolver esse problema dos humanos e do inverno lá em cima?
— Vamos pensar em alguma coisa. — ela tentou sorrir para tranquilizá-lo. — Tente ver isso como uma coisa boa.
— Como posso ver isso como uma coisa boa? Agora você é prisioneira do Mundo Inferior assim como eu. — o deus respondeu.
— Ao que parece, eu vou ser sempre prisioneira de alguém. — Sakura resmungou. — Mas se for pra escolher, preciso ser prisioneira daqui do que de lá. Sério, você não faz a menor ideia do quanto eu tenho medo de ficar presa na casa da minha mãe de novo.
— Não vai acontecer. Eu não vou permitir. — ele disse com aquela seriedade que fazia qualquer outro ser vivo tremer de medo, porém em Sakura, soava apenas como uma promessa de seu cuidado com ela.
— Sei que não vai. — disse e sorriu. — E de qualquer forma, já temos essa garantia agora.
Ele tocou no rosto dela, tentando imaginar e assimilar a cena dela comendo uma romã e se tornando parte daquele mundo tanto quanto ele.
Por um lado, isso lhe deixava agoniado. E por outro, agora que pensava melhor na ideia, ele começou a se sentir feliz por saber que, de fato, ninguém mais teria poder suficiente para mantê-los separados.
Nesse instante, ele a beijou. Um beijo que era uma mistura perfeita de nervosismo e felicidade.
Quando se separaram, eles mantiveram as testas coladas enquanto ficavam um tempo em silêncio, pensando em toda aquela situação.
— Mas e agora? O que a gente faz? — Sasuke questionou baixinho.
— Eu sinceramente não sei. — Sasuke disse no mesmo tom. — Karin disse que amanhã os olimpianos vão se reunir de novo para falar sobre isso.
— Você acha que eles vão tentar nos separar?
— Naruto vai fazer o que for preciso para acalmar a sua mãe, ainda mais porque ela quer arrancar a cabeça dele há semanas. — Sasuke resmungou. — Então imagine o que não vai querer fazer comigo quando me ver.
Os dois se encararam por alguns instantes antes dela fazer a pergunta de milhões.
— Você acha que… Deveríamos ir?
O olhar que Sasuke lhe lançou a fez tremer um pouco de nervosismo, porém aguardou pacientemente a resposta verbal dele.
— Você quer ir numa reunião no Monte Olimpo?
— Eu nunca fui. — ela deu de ombros. — É tão ruim assim?
— As reuniões no Olimpo são um porre. Da última vez, Naruto e eu quase nos matamos. — ele resmungou com raiva. — E olha que o destino do mundo nem estava em jogo naquele dia.
Sakura mordeu os lábios de novo enquanto pensava.
— Se forem fazer uma reunião para decidir sobre o meu destino e a minha vida, então quero estar presente. — ela disse bastante decidida, depois de se encher de determinação e coragem. — Eu quero estar lá e quero dar a palavra final.
Sasuke abriu um daqueles sorrisos de canto.
— Vai querer peitar os doze olimpianos? — ele perguntou divertido. — Inclusive a sua mãe? Sabe que ela é uma deles, né?
— Vou. E quero você lá do meu lado. — Sakura disse ainda com bastante firmeza. — Preciso de uma boa retaguarda pra não me fazer perder a coragem.
— Ah, eu não vou perder isso por nada. — ele disse, ainda sorrindo diabolicamente só de imaginar a cena. — Nada melhor pra uma quinta-feira do que ver a cara daqueles filhos da puta no chão.
Sakura revirou os olhos embora estivesse sorrindo. Ela percebeu que o aperto das mãos dele em sua cintura aumentou um pouco.
— Então… Amanhã vamos decidir como tudo vai ficar, não é? — ela perguntou com apreensão.
— Acho que sim.
— E se tudo der errado… talvez essa seja a última noite que vamos passar juntos.
Ele a encarou em silêncio, ainda apertando em sua cintura.
— Nesse caso… — ele aproximou seu rosto do dela, até que boca parasse sobre a orelha dela. — Então eu pretendo passar todas as próximas horas em cima de você. Só para garantir que vai ser uma noite do qual não vai se esquecer nunca.
Sakura até esqueceu de como se respirava nessa hora. E antes que se desse conta, Sasuke tinha lhe empurrado para a cama e se colocado em cima dela, exatamente como disse que faria.
#
Quando os primeiros raios de sol apareceram no topo do Monte Olimpo, na manhã seguinte, grande parte dos deuses estava esgotado, depois de mais uma noite de discussão e brigas intensas no palácio.
Tsunade estava colocando todo mundo pra enlouquecer com suas discussões frequentes com Naruto, onde os dois tinham criado o hábito de destruir tudo o que existia num cômodo enquanto brigavam, de ficar jogando coisas um no outro em meio aos gritos e xingamentos.
Ela o considerava um “rei de merda”, por ter sido incapaz de trazer Sakura do Mundo Inferior quando a viu lá. Dentre muitas outras coisas que vinha jogando na cara dele nos últimos tempos.
Por conta disso, o palácio estava um verdadeiro caos, e estavam todos de mau humor.
Naquela manhã, estavam na cozinha Naruto, Hinata, Shikamaru, Tsunade, Temari e Ino. Todos sentados em pontos bem distantes um do outro da mesa enquanto tomavam café da manhã. Naruto e Tsunade nas extremidades mais opostas da mesa, com os olhos fixos e furiosos um no outro. Ela com os olhos faiscando e bufando silenciosamente de raiva enquanto dava goles pequenos de seu chá.
Hinata estava recolocando lenha na lareira do cômodo, para tentar mantê-lo aquecido, já que as condições continuavam completamente inóspitas não só ali, como no mundo todo. Era por isso até que eles estavam todos tomando xícaras enormes de chá quente no momento.
— Bom dia. — Suigetsu murmurou assim que entrou no cômodo, com a cara amassada porque tinha acabado de acordar. Ele observou a forma como Naruto e Tsunade se encaravam, e não pôde perder a oportunidade de colocar ainda mais pimenta na situação, já que estava achando tudo muito divertido. — E aí? Chegaram num acordo?
Todos os outros o fuzilaram com os olhos. Naruto se empertigou na cadeira.
— Ainda não. Algumas pessoas parecem ainda não se lembrar de que sou eu quem mando nessa budega toda. — ele disse ainda fitando Tsunade com ódio puro.
— Fazer o quê, né? — ela retrucou em total ironia. — É que quando se age o tempo todo como um vagabundo de beira de estrada, é bem difícil vermos você como um rei de verdade.
— Sua… — ele se levantou puto da cadeira, porém Shikamaru já tinha corrido para lhe segurar.
— Calma, cacete! Tá muito cedo pra vocês recomeçarem essa patifaria toda. — ele chiou já cansado só de pensar que seria mais um dia daqueles.
— Você não consegue ter moral nem com seus irmãos, Naruto. — Tsunade continuou cuspindo verdades e ofensas na cara dele. — Sasuke pinta e borda com você há séculos, e a única coisa que você faz é ficar rindo pra cara dele. Ou então dando shows como o da última reunião, só pra não sair como frouxo na frente de todo mundo.
— Não fale o que você não sabe, Tsunade. — ele rugiu. — Minha relação com Sasuke não tem nada a ver com você.
— Ah, tem sim! — ela rebateu furiosa. — Porque agora ele está usando a minha filha como carta de trunfo nessa guerra entre vocês dois. Eu juro, Naruto… Se a Sakura estiver machucada, eu acabo com vocês dois.
— Hã… Com licença? — a voz da dita cuja soou na cozinha, fazendo todo mundo se calar e olhar para a porta.
Todos paralisaram, em choque.
Sakura estava parada de pé ali na entrada da cozinha, com Kiba ao seu lado, que rapidamente ficou nervoso ao ver todos os olhos indo para eles após interromperem toda a discussão.
Sasuke estava um pouco mais atrás, encostado no batente das portas destruídas da cozinha, com os braços cruzados e aquela expressão cínica na cara.
— Eu vim avisar que os dois estão aqui. — Kiba murmurou baixinho apontando para Sasuke e Sakura, já que tinha ido recebê-los assim que chegaram no Monte Olimpo, há poucos minutos. E assim que ele terminou de falar, foi se esgueirando para um canto seguro da cozinha, querendo sair do meio, caso as discussões e “batalhas” ali recomeçassem.
Sakura olhou para cada deus ali com nervosismo… e bastante surpresa. Porque ela nunca pensou nos olimpianos da forma como estavam.
Com as caras cansadas e amassadas de sono, cabelos despenteados de quem acabara de levantar, roupas meio velhas de pijama… e sem o menor esplendor do qual tanto ouviu falar sobre o Monte Olimpo.
E falando nisso, aquela cozinha era um verdadeiro desastre. As paredes estavam sujas de comidas e bebidas que eles tinham atirado uns contra os outros no dia anterior. Os móveis igualmente sujos e meio destruídos, as portas arrebentadas, tudo bagunçado, e um frio miserável que pareceu dar uma trégua assim que ela entrou no recinto.
Sakura se virou de novo para Sasuke, ainda chocada.
— Essa é uma reunião no Olimpo? — ela questionou, surpresa.
— Eu disse que não era essa glória toda. — ele deu de ombros, com deboche. — A diferença é que a maioria delas acontece no salão de reuniões lá do outro lado. — ele fez um aceno com a cabeça. — Mas é do mesmo jeito. — ele indicou o estado penoso do cômodo onde estavam.
Sakura fez uma careta de desgosto.
É, real oficial: ela preferia mil vezes o Mundo Inferior.
Todos continuavam chocados olhando para os dois, sem reação alguma. E Tsunade foi a primeira a se mover, correndo na direção da filha.
— Ai, meus deuses! — ela agarrou Sakura num abraço bem apertado. — Você está aqui! Eu não acredito que está aqui.
— Mãe, relaxa. — Sakura dizia enquanto tentava se soltar. — Relaxa.
— O que ele fez com você? — Tsunade a soltou e começou a inspecionar seus braços, seu rosto, suas pernas, procurando qualquer indício de que Sasuke lhe feriu. E depois se virou na direção do dito cujo. — O que foi que você fez com a minha filha?
— Bastante coisa. — o deus dos mortos respondeu com um sorriso que ostentava cinismo e malícia.
— Sasuke! — Sakura ralhou, sentindo o rosto ficar meio vermelho por estarem no meio de um monte de gente. — Para com isso.
Ele se calou, embora tenha continuado olhando pra Tsunade com bastante deboche e irritação. Já a deusa da agricultura o olhava como se fosse matá-lo.
Suigetsu até se sentou do lado de Temari, para assistirem a cena com ainda mais conforto, porque estava tudo muito divertido.
— Ah, bebê… Você está bem mesmo? — Tsunade voltou a checar Sakura de cima a baixo, enquanto ela tentava se desvencilhar.
— Mãe, eu tô bem. Para com isso. — Sakura chiou agoniada, se sentindo de novo uma criancinha, e se constrangendo ainda mais por estarem agindo daquela forma na frente de um monte de desconhecidos. — Não precisava desse escândalo todo por minha causa.
— É claro que precisava. Esse patife sequestrou você. — Tsunade acusou de forma furiosa, fazendo Sasuke erguer as sobrancelhas com ainda mais deboche.
— Agora diz pra ela o porquê de eu ter te sequestrado, Sakura. — ele disse em tom de provocação.
— Sasuke, para. Não piore as coisas. — Sakura murmurou pra ele.
— Vamos pra casa. — Tsunade decretou, ignorando todo mundo. — Vamos nos mudar pra um lugar mais seguro, onde ninguém vai achar você, e…
— Mãe, eu não vim aqui pra voltar a morar com você. — Sakura decidiu ir direto ao ponto, pra não dar margens para Tsunade. — Pelo menos, não definitivamente.
— O quê? — não só Tsunade como todos os outros perguntaram.
— Ah, não. Por favor. — Naruto começou a choramingar. — A única coisa que eu quero é dormir em paz, num quarto bem quentinho.
Sasuke lançou um olhar feroz, quase animalesco, na direção dele, o advertindo para que calasse a boca. Pela forma como ele estava, ficou bem claro que ainda estava com ódio puro do irmão, por conta das últimas vezes em que se encontraram.
— Que história é essa de que não pode mais morar comigo? — Tsunade questionou. — Isso é loucura.
— Foi exatamente por isso que viemos aqui hoje. — Sakura falou enquanto adotava uma postura firme e altiva, agindo com mais elegância e classe do qualquer um naquela sala estivesse acostumado. — Eu entendo que a minha posição é muito importante pra todos vocês e pros mortais, porém, não posso voltar definitivamente para este reino porque já estou ligada ao Mundo Inferior. Eu comi das frutas que crescem lá.
Todo mundo prendeu a respiração, esperando pra ver quem surtaria primeiro. Naruto. Tsunade. Sasuke — embora este último estivesse mais calmo e entediado do que qualquer um naquela sala.
No fim, foram Naruto e Tsunade que começaram a surtar depois de uns segundos.
— Você deu romãs pra ela? — o deus do céu começou a gritar. — Fez de propósito, só pra foder com a minha vida?
— Seu filho da puta, miserável! — Tsunade rugiu na direção de Sasuke. — Eu vou acabar com a sua raça!
— Mamãe, ele não fez nada. Eu comi por vontade própria. — Sakura interviu antes que a mãe voasse no pescoço de seu marido, que continuava olhando pra todo mundo de forma irritada e meio irônica.
— O quê? — Tsunade de novo olhou pra ela em choque. — Você comeu… Por que você faria isso?
— Justamente para impedir que a senhora ou qualquer um nos mantivesse separados. — Sakura respondeu na lata, ainda com bastante determinação estampada no rosto. — Eu sou casada com ele. — ela disse de uma vez, fazendo todos ficarem boquiabertos naquela cozinha.
— Menina, isso tá ficando muito bom. — Suigetsu sussurrou para Temari, que segurou uma risada. — Pena que o resto do povo tá dormindo e perdendo essa novela.
Tsunade olhou de novo para Sasuke daquela maneira feroz.
— Eu não acredito que você fez isso. — ela murmurou, meio em choque.
— Quer parar de agir como se ele tivesse feito tudo sozinho? — Sakura começou a gritar, explodindo de raiva. — Está vendo por que eu não quero mais voltar a morar com a senhora? Porque fica agindo o tempo todo como se eu fosse uma criança idiota, que não pode tomar as próprias decisões! Olha pra mim, sou eu que estou falando, não ele!
Tsunade olhou abismada pra ela, já que Sakura nunca tinha falado com ela daquele jeito antes.
— Eu estou cansada de ser tratada desse jeito. — a deusa das flores continuou. — Da senhora agir como se eu ainda fosse um bebê. Porra, mãe! Já faz séculos que eu não sou mais criança. Será que pode começar a me enxergar como uma adulta que tem direito a ter uma vida própria? A senhora quer decidir até qual sabonete eu posso ou não usar.
Até Naruto tinha parado de surtar pra assistir a discussão das duas.
— Eu tenho total direito de seguir com a minha vida sem precisar que a senhora fique se metendo nela o tempo todo. — Sakura continuou. — Eu tenho idade suficiente para escolher o que eu quero, inclusive se quero ter um marido ou não. E sabe uma das principais razões para eu ter começado a gostar de Sasuke? Porque desde o começo ele foi o total oposto da senhora: ele nunca me tratou como se eu fosse inferior a ele, mesmo quando eu achava que não tinha propósito nenhum no mundo. E agora que sei que tenho, isso não mudou nem um pouco.
Tsunade olhava pasma para a filha, como se não acreditasse na forma como ela agia e falava no momento.
— E beleza, eu vou assumir minhas responsabilidades perante o resto do mundo, e vou dar um jeito de manter o equilíbrio da vida, principalmente para o bem dos mortais, porém não vou mais baixar a cabeça pra ninguém. Nem para a senhora… — ela olhou na direção dos outros deuses, principalmente para Naruto. — Ou para qualquer um que ache que tem o direito de opinar no meu casamento ou no meu destino.
Tsunade engoliu em seco, tentando assimilar tudo aquilo, principalmente ao ver quão firme Sakura estava. Ela tentou agir com responsabilidade da melhor forma que conseguiu.
— Então, você… Você vai voltar a morar comigo só por um tempo? — perguntou tentando não parecer tão afetada quanto realmente estava. Mas era visível que tinha ficado atordoada com tudo o que Sakura disse.
— Na real, tem muitas condições que eu vou propor pra caso tenha que voltar a morar com a senhora. — Sakura disse, ainda bastante resoluta. — Mas antes, precisamos fazer um acordo quanto ao tempo em que vou passar na Terra.
— Como assim? — indagou Shikamaru, curioso.
— Ela só pode ficar longe do Mundo Inferior por seis meses. — Sasuke que respondeu, com aquela seriedade que causava medo nos outros. — É o máximo de tempo que dá pra ficar aqui sem adoecer ou perder as energias vitais.
E ele sabia disso porque, como Karin costumava passear entre os dois reinos, ela já tinha descoberto antes que o máximo que conseguia ficar longe do andar de baixo era por seis meses. Depois disso, começava a perder as forças e adoecia.
— Seis meses? — Tsunade arregalou os olhos. — Mas…
— Sasuke e eu conversamos bastante a respeito. — Sakura continuou. — E decidimos que o melhor seria que eu intercalasse esse tempo entre os dois reinos. Durante seis meses eu fico aqui, para que os humanos possam se aquecer e aprender a cultivar seus alimentos durante as semanas de calor e prosperidade, e durante seis meses eu fico no Mundo Inferior. Depois de alguns anos, os humanos já vão estar acostumados com essa rotina anual.
— Então vamos ficar metade do ano se afundando em neve? — Naruto reclamou. — Ah, pelo amor de…
— Se você me estressar, eu aumento ainda mais esse tempo, garanto. — Sasuke ameaçou de forma contida, porém bastante irritada. Os dois se encararam com bastante animosidade.
— Seis meses parece ótimo pra mim. — Shikamaru rapidamente disse. — É melhor do que nada.
— Por mim, tá beleza também. — Temari deu de ombros.
Todos rapidamente concordaram, tirando Naruto e Tsunade, que ainda estavam meio desgostosos com a decisão, cada um por seus motivos.
— Tá. — o rei dos deuses resmungou depois de um tempo. — Fechou então.
— Seis meses é o máximo mesmo? — Tsunade perguntou apreensiva enquanto mordia os lábios. Sakura confirmou com a cabeça. A mãe suspirou de maneira derrotada depois de um minuto. — Tudo bem, seis meses então.
Sakura sorriu mais aliviada e feliz pra ela.
— Então temos um trato. — Naruto anunciou ainda meio insatisfeito. — Metade do ano com um, metade do ano com outro. Agora dá pra vocês me deixarem em paz? Saiam do meu palácio!
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Na realidade, Sakura tinha imaginado que tudo aquilo aconteceria com muito mais formalidade, classe e elegância do que realmente rolou.
Ela tinha até acordado mais cedo só pra se arrumar para esse grande reencontro com a mãe, e para a primeira vez que conhecia os olimpianos. Trançou cada parte do cabelo, escolheu um vestido bem bonito… e no fim, foi uma manhã das bem mequetrefes.
Bom, não foi por falta de aviso. Sasuke disse para ela baixar todas as expectativas porque seria apenas perda de tempo e de energia.
Talvez quando os humanos fossem contar a história daquele dia, eles embelezassem tudo muito mais, já que tinham a fama de tornar até as menores histórias em grandes mitos épicos.
De qualquer forma, ela se sentia muito bem, mesmo enquanto estava no pátio do Monte Olimpo já, discutindo com a mãe e expondo todas as condições que queria colocar entre elas, antes de voltarem a morar juntas.
— A primeira coisa que a senhora vai fazer é se livrar daquelas ninfas desgraçadas. — ela disse com irritação só de lembrar. — Eu não preciso mais de babás, muito menos que sejam ridículas daquele jeito.
— Mas e quando eu não puder estar com você? — Tsunade choramingava.
— Eu vou ficar sozinha, oras. — Sakura disse o óbvio.
As duas estavam de pé no meio do pátio aberto, onde a neve já começava a derreter, deixando tudo com aspecto molhado e úmido. O próprio céu acima deles já estava se abrindo e clareando mais, deixando os raios de sol iluminarem bem o ambiente, longe de nuvens escuras e carregadas.
— Segundo: eu não quero a senhora me proibindo de sair para nenhum lugar. Se eu quiser passar o dia dando rolê por alguma cidade de humanos, eu vou dar rolê.
— Mas isso é loucura.
— Mamãe! — Sakura bateu o pé.
— Tá bom. — Tsunade chiou e olhou de novo com raiva na direção de Sasuke.
O rei do Mundo Inferior estava de pé ali perto, sob os degraus de uma das portas de entrada do palácio, observando as duas, encostado numa coluna grega enquanto se mantinha incrivelmente calado. Kiba e Suigetsu estavam do lado dele, tagarelando sobre alguma coisa que ele notavelmente não ouvia, porque estava mais ocupado fitando Sakura e a mãe dela.
A deusa das flores continuou impondo todas as suas condições, fazendo a mãe choramingar e debater com ela o tempo todo, porém sempre cedendo no final quando Sakura dizia que iria morar sozinha se ela não concordasse com tudo.
Em algum momento, Kiba e Suigetsu se afastaram, e quem veio de encontro a Sasuke foram seus dois irmãos mais novos.
— Você fez o certo, Sasuke. — começou Shikamaru assim que estavam de pé do lado dele. — Isso tudo vai ser muito bom para os humanos.
— Não agradeça a mim. — Sasuke respondeu sem olhá-los. — Só concordei com isso porque é o que a Sakura quer. Ela se preocupa muito com esses malditos mortais, mesmo que eles nem saibam da existência dela, ou sequer gostem de mim.
— Alguém tem que ser sensato dos dois, não? — Naruto murmurou baixinho, porém em tom de provocação.
Isso fez Sasuke olhar pra eles. Em especial, para o deus dos céus. Com aquele semblante e aura sinistra, que fazia o ambiente escurecer e pesar de maneira assustadora.
Shikamaru e Naruto ficaram aguardando que ele começasse uma nova briga ou discussão, porém os minutos passaram, e Sasuke apenas o fitava daquele jeito assustador.
No fim, quando ele falou, seu tom de voz era baixo, porém bastante cínico e ameaçador.
— Quer saber de uma coisa, Naruto? — ele indagou com um sorriso de canto. — Um dia, os mortais vão olhar pra você, e vão enxergar quem você é de verdade. Um deus patético, sem responsabilidade nenhuma, filho da puta, traidor e de dar pena. E vão parar de te idolatrar tanto, ó poderoso rei dos deuses. — ele debochou.
Naruto o fuzilou de volta com os olhos, bem sério.
— Pode não ser hoje ou amanhã, mas daqui a alguns séculos, isso vai acontecer. — o sorriso de Sasuke se alargou. — E eu espero muito ainda estar por aqui para assistir isso.
— Pois pode esperar sentado. — Naruto rebateu de volta.
Shikamaru só olhava de um para o outro, e resolveu intervir antes que eles continuassem com aquilo.
— Tudo bem, vamos aproveitar que estamos todos aqui, felizes, e talvez sentar para comer alguma coisa…
— Não tenho tempo para vagabundear com vocês. Tenho muito trabalho em casa. — Sasuke disse já dando as costas pra eles e descendo a escada para caminhar pelo pátio, na direção de sua esposa e sua sogra.
Naquele exato instante, elas tinham finalmente terminado todos os acordos, e Tsunade estava indo na direção dele porque ia entrar para pegar suas coisas. As duas voltariam para casa.
Ela parou bem diante de Sasuke assim que eles ficaram frente a frente na trilha majestosa. Seu rosto estava bem sério e contorcido numa expressão de decepção.
— O que foi que eu fiz pra você? — ela questionou parecendo confusa. — Sempre achei que tínhamos uma boa relação. Nosso ódio por esse bando de imbecis daqui sempre foi algo que tivemos em comum. Por que você fez isso comigo, Sasuke?
— Sinto muito se te chateei, Tsunade. — Sasuke resolveu ser bem sincero com ela. — Mas eu amei a sua filha desde o primeiro momento em que a vi. Nada foi proposital.
Ela continuava esperando por uma resposta decente.
— Eu prometo que jamais vou fazer mal para Sakura. Nós dois continuamos tendo muitas coisas em comum, inclusive que queremos vê-la feliz.
— Não aja como se fosse meu amigo. — Tsunade sibilou com ódio. — Você perdeu esse direito, Sasuke. Eu jamais vou perdoar você por tirá-la de mim. — ela cerrou os olhos. — Sempre achei que você fosse o melhor dos seus irmãos… mas no fim, vocês todos são farinha do mesmo saco. — e por fim, ela passou por ele e entrou no palácio para ir pegar suas coisas.
Sasuke esperou até que ela tivesse entrado antes de se virar e continuar andando na direção de sua esposa, que o olhava meio pensativa depois daquela conversa tão intensa que tivera com a mãe.
— E então? Acha que ela vai cumprir com o combinado? — ele questionou.
— Acho que vai demorar um pouco até mudar todos os hábitos supercontroladores. — Sakura deu de ombros. — Mas vai se acostumar em algum momento.
Ele sorriu minimamente para ela antes de erguer a mão e segurar seu braço, puxando-a para mais perto.
— Você sabe que eles estão olhando, né? — ela questionou apontando os irmãos dele ali perto.
— Esquece eles, olha pra mim. — Sasuke resmungou e ela obedeceu, chegando perto e passando os braços ao redor do pescoço dele, os rostos dos dois se mantendo perto enquanto conversavam. — Vou ficar seis meses sem você. — ele murmurou com pesar, se sentindo deprimido só de imaginar.
— Vai ser mais rápido do que você pensa. — ela tentou consolá-lo. E a si mesma também. — O bom de sermos imortais é que o tempo parece que passa bem mais rápido pra nós.
— Ainda assim… é muito tempo. — ele suspirou, com os braços ao redor da cintura dela, os dedos brincando com as pontas de seu cabelo róseo e bonito. — Ao menos você não vai precisar se preocupar com sua segurança. Eu controlo todos os espíritos das sombras que vagam sobre a Terra. Se um dos patifes ali tentar chegar perto de você enquanto estiver por aqui, eu mesmo subo pra dar um fim neles.
Sakura sorriu de maneira agradecida pra ele enquanto continuava pensando nisso.
Seis meses longe dele.
É, era muito tempo. Ela ficava deprimida só de imaginar, embora eles tenham passado a noite anterior inteira discutindo e assimilando isso. Além de terem feito outras coisas também.
Era visível que Sasuke estava pensando nas mesmas coisas que ela agora enquanto os dois se fitavam em silêncio daquele jeito intenso e carregado já de saudade.
Sasuke levou uma das mãos ao rosto dela, o polegar acariciando seu lábio inferior enquanto ela suspirava só de lembrar da maneira como ele sempre lhe tocava com tanto ardor.
— Não deixe a sua janela trancada de noite. — ele sussurrou bem baixinho.
Sakura piscou, confusa.
— Por quê?
Sasuke abriu um sorriso de canto.
— Porque às vezes, eu saio para dar uma volta quando não estou cheio de tarefas. — ele disse baixinho, como se confessasse um segredo ardiloso para ela.
Depois de uns segundos, ela entendeu. Porque se forçou a segurar um sorriso.
Sasuke lhe puxou para um último beijo de despedida. Um daqueles tão intensos e apaixonados que faziam as pessoas em volta suspirarem só de olhar.
— É cara, você já tinha razão. — Shikamaru murmurou para Naruto. — Ela é realmente a maior gostosa.
No segundo seguinte, ele tinha recebido uma “bolsada” tão forte nas costas que até foi jogado pra frente, caindo pelos degraus no chão no pátio. Tsunade bufava ali atrás, porque tinha acabado de voltar com suas coisas.
Ela lançou um olhar feroz pra Naruto, que rapidamente se encolheu, com medo de levar uma coça também, mas ela só o ignorou.
— Tudo bem, vamos embora! — ela anunciou, descendo os degraus e passando por cima de Shikamaru, estatelado ali no chão.
Sakura se separou de seu marido, que fez questão de beijar seu pulso uma última vez antes de deixá-la ser levada pelo braço com a mãe, as duas indo na direção da saída do Monte Olimpo.
Essa era uma lembrança que Sasuke tinha muito claro em sua cabeça. De algo que aconteceu há tantos séculos, mas que ainda era bem vívida em sua mente.
O dia em que a primavera foi criada. Quando sua esposa e sua sogra caminharam para longe dele, o deixando sozinho ali no meio do pátio todo molhado e repleto de neve derretendo.
Sakura tinha olhado pra ele. Olhado uma última vez para trás, antes dela e da mãe começarem a descer as trilhas da montanha, de volta para sua casa.
O olhar esverdeado dela era bem claro e alto:
“Eu vejo você em seis meses. Por favor, não esqueça que eu te amo.”
Sasuke, porém, jamais esqueceria isso.
No fim, ele suspirou de derrota.
É, parecia que as moiras não gostavam mesmo dele. Porque tinham traçado um destino dos mais cruéis para ele: o de encontrar sua alma gêmea, e ser condenado pela eternidade a viver longe dela por metade de cada ano.
Às vezes, ele queria muito enlouquecer como seu pai. Ser egoísta como ele, e pensar apenas em si mesmo e suas vontades.
Mas aí se lembrava de Sakura, e em como ela sempre o viu como um deus bom. Talvez a primeira pessoa em milênios que não o julgou mal em nenhum momento.
Era por ela que ele iria sofrer. Era por ela que iria aguentar.
E era por ela que ele existiria para sempre. Por toda a eternidade.
Porque finalmente tinha encontrado alguém que o fazia feliz.
E para sempre, ele estaria esperando pacientemente pela chegada de cada inverno. Porque sabia que a neve era o indício de que teria sua esposa de novo em casa.
Porque a neve era o símbolo de que a rainha do Mundo Inferior estava de volta ao lar. E de volta aos braços dele.
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