28 DIAS ANTES
ALEXIA
O vestido preto a qual eu havia escolhido encaixava perfeitamente no meu corpo. Não era um vestido preto comum de qualquer forma. Este possuía detalhes brilhantes que se destacavam caso recebessem algum foco de luz. Era o vestido perfeito para aquela noite. Meus cabelos também estavam ajeitados, ondulados graças ao babyliss que decidi passar. A maquiagem baseada em sombra preta com purpurina e um batom vermelho bem marcado me deixavam extremamente irresistível. Era o papel perfeito que eu precisava assumir naquela noite em que laçaria o coração de Richard Ross. Não podia conter minha própria ansiedade com a situação. Ainda não tinha recuperado a memória a respeito de Richard. Tudo parecia embolado em minha cabeça, porém não me importava.
É claro, meu irmão tentou me impedir de ir. Fazia pouco tempo desde o acidente do raio e eu não parara direito até então. Apenas no dia anterior que eu descansara plenamente, todavia o dia de hoje havia sido recheado de atividades. Passei a manhã e a tarde na faculdade por ser integral, almocei com as minhas amigas, flertei um pouco com gente que sequer sei o nome e ali estava eu me apressando pra não atrasar quando a carona chegasse. Ou, devo dizer, quando Cristal e Jade chegassem. Arthur acabou indo antes de mim, sozinho, e eu não me importei. Não era como se vivêssemos grudados o tempo todo.
Terminei de calçar os saltos pretos altos e me olhei no espelho de corpo inteiro, satisfeita com o que estava vendo. O vestido preto curto e justo entrava em contraste com a pele branca, dando um destaque incrível. Estava me admirando no espelho quando ouço uma buzina do lado de fora. Abri um largo sorriso e corri até a janela, vendo um carro conversível vermelho. As duas estavam bem arrumadas e acenaram para mim quando me flagraram na janela. Me afastei para pegar minha bolsa e desci correndo os degraus para o primeiro andar. Saí de casa, trancando a porta ao sair por ela e logo estava seguindo ao carro de luxo, desfilando como se a rua tivesse virado uma passarela. E, antes de chegar no carro das duas gêmeas, um carro com um homem dentro passou por mim na rua, dando uma buzinada rápida para chamar minha atenção e me lançando um olhar descarado de cima a baixo. Mesmo assim, lhe lancei um beijinho antes de seguir caminho após a sua passagem.
— Nem preciso dizer o quanto você está linda, né? — comentou Cris quando me aproximei do carro e abri a porta dos bancos traseiros.
— Claro que não, Cris. — disse Jade. — Ela tá se achando parando o trânsito desse jeito.
Um sorriso convencido brilhou em meu rosto enquanto eu colocava o cinto de segurança sobre o corpo. Elas aceleraram o carro, o pondo de volta na estrada.
Já havia escurecido e, pelo horário, a festa já havia começado. Não havia graça de chegar no horário ou um pouco antes. Gostava de chegar sempre um pouco depois para me tornar o centro das atenções. Chegar antes disso não me proporcionava a mesma sensação de ser admirada se houvesse poucos convidados para me ver.
— Se eu não vier pra causar, não tem motivo pra vir — declaro convencida.
As duas acharam graça. Quem estava dirigindo o conversível vermelho de luxo era Jade. Ela não economizava na velocidade, fazendo meus cachos se mexerem por causa do vento que nos cercava. Como a maioria dos conversíveis, a capota deste estava recolhida, nos dando uma boa visão da estrada e do céu noturno. A noite estava adequada, nem tão calorenta, nem tão fria.
— Não corra tanto, Jade — contesto. — Vai acabar bagunçando meus cabelos. Vou chegar lá parecendo um espantalho.
— Ah, por favor Lexa. Já tá suficientemente gata. Um pouquinho de feiura não lhe faria mal.
— Quer que eu tenha sucesso em ficar com o Rick hoje ou não? — digo fazendo um breve drama.
— Ah, bem lembrado! — exclamou Cris. — Vamos lá. Vamos começar o resumão do boy. Por favor preste atenção porque tenho muita fofoca pra te contar.
ϟ
A casa de Chad Miller era enorme. As meninas estacionaram na rua e seguiram comigo para a entrada a qual precisamos apertar o interfone e dizer que havíamos vindo para a festa. A porta nos foi liberada e entramos, a fechando em seguida. Logo um amplo jardim se estendeu diante de nós, onde alguns convidados já bebiam e conversavam enquanto a música percorria o ambiente, vindo da casa propriamente dita. Nós seguimos adiante, adentrando aquela casa onde haviam ainda mais convidados dançando sob a música alta e luzes coloridas percorrendo o ambiente escuro. Um sorriso se alargou em meu rosto diante daquela cena e, não demorou muito até que eu estivesse segurando os pulsos das minhas melhores amigas e as puxando para o centro de toda aquela muvuca, começando a dançar com ambas.
Tinha uma paixão imensa por música eletrônica. Ela simplesmente me dava vontade de dançar e era essa energia maravilhosa que eu estava sentindo no meu corpo naquele instante. Nós ficamos um bom tempo nos remexendo com as demais pessoas até irmos buscar um copo de cerveja para cada uma. No entanto, isso não me impediu de continuar dançando com ele na mão, bebericando vez ou outra.
— Ainda não vi o Rick por aqui, amiga — digo para Cris, perto da sua orelha, tentando soar mais alto que o som para ela me ouvir.
— Ele deve estar mais pra dentro da casa. Por que você não dá uma vasculhada? — sugeriu.
Assenti, terminando o copo de cerveja que tinha em mãos antes de seguir caminho entre as várias pessoas na minha frente. As pessoas me empurravam sem querer enquanto dançavam. Lembro de alguns caras terem tentado falar comigo, mas eu estava determinada a achar o Richard, então mal dei atenção. Só teve um que me fez parar e não foi em um sentido muito bom. Segurei o pulso do homem que ousou tocar minha bunda sem permissão enquanto eu andava.
— Não te contaram que é falta de educação tocar uma dama sem permissão? — digo, me virando na direção do indivíduo com uma expressão fechada. Afastei sua mão de mim.
O rapaz tinha cabelos castanho-escuros e olhos da mesma cor, ao menos naquela escuridão da casa. Poderia até chutar que tivesse uma pele bronzeada, porém não tinha total certeza e não me importava de qualquer forma.
— Não te contaram que você é bonita demais para que eu resista?
— Não te contaram o quanto você é escroto? Ei, não toca em mim! — exclamo, realmente brava quando ele tenta tocar minha cintura dessa vez, mas eu me esquivo a tempo. Porém, acabei atingindo alguém atrás de mim e precisei murmurar um pedido de desculpas. — Eu não quero que você me toque...
— Henrique — respondeu como se eu precisasse falar seu nome em seguida.
— Te perguntei? — não me incomodei em esconder a grosseria e me odiei por estar dando assunto ao idiota na minha frente.
Não havia nada de especial nele que me incitasse a ignorar o assédio inicial, por isso, apenas lhe dei as costas. Puxando meu braço quando tentou me segurar. Apressei o passo, dessa vez sem pedir licença, esbarrando nas pessoas em busca do Rick. Enfim chego à escada principal da casa e a subo, dando de cara com mais pessoas dançando. O centro do andar era aberto, por isso a música soava tão alto lá em cima quanto lá embaixo. E, apesar de haver pessoas dançando ali em cima, era claro que a maioria dessas pessoas eram casais, buscando um pouco mais de privacidade.
Caminhei, disposta a não prestar muito atenção, embora tivesse reparado em um casal a qual a garota soltava risadinhas enquanto o rapaz lhe beijava o pescoço. Os cabelos cacheados dela brincavam na parede onde ela estava prensada. E, talvez percebendo que havia alguém observando-os brevemente, ela abre os olhos. Minha primeira intenção é desviá-los para fingir que não estava prestando atenção, porém acabo flagrando sua expressão mudar de divertimento para susto e então surpresa. Guardiã, a palavra soa na minha cabeça como um murmúrio. Bem-vinda à família dos Guardiões, as palavras continuam surgindo e não eram na voz daquele estranho que falara comigo, mas era na minha própria voz em um pensamento involuntário da minha parte. Não sabia explicar aquela sensação esquisita, porém a garota cutuca o rapaz que lhe beijava e aponta discretamente pra mim. Pisco saindo do transe e penso em uma solução rápida: toco a maçaneta da porta ao meu lado e adentro o cômodo aleatório, querendo escapar do constrangimento de observar um casal alheio.
Um grito soou do lado de dentro quando eu entrei. Meu coração cavalgou no peito pelo susto enquanto eu dava de cara com um casal em um momento íntimo na cama de casal daquele quarto. A mulher puxou os cobertores sobre seu corpo nu e o homem virou o rosto na minha direção. Não tinha como não reconhecer os cabelos ruivos de Richard Ross. Minha expressão se fechou de imediato. Não trocamos uma palavra sequer quando nossos olhares se encontraram brevemente e eu não me incomodei em pedir desculpas ao dar as costas para a cena e sair do quarto, batendo a porta ao sair.
Quando olho na direção do casal que estava ali do lado de fora há pouco tempo, os dois já não estavam mais naquele lugar e eu pisco, logo ignorando aquela sensação esquisita que tive ao olhar para a garota desconhecida. Talvez tenha sido só uma alucinação momentânea devido os efeitos colaterais do raio. De qualquer forma, estava furiosa demais com o ruivo babaca a qual eu tinha criado uma expectativa, mesmo sem lembrar direito da sua existência. Mas não importava mais. Afinal, ninguém fazia Alexia Hollister de trouxa.
Ninguém.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.