3 DIAS APÓS
ALEXIA
Quem aquele maldito velhote pensa que eu sou para ficar me dando ordens de explicar a uma novata sobre o que está acontecendo?, foi o primeiro pensamento que passou pela minha cabeça à medida que a morena se aproximava de mim para eu fingir ter boa vontade em ajuda-la a entender tudo. Ao menos achava a sua personalidade interessante visto que em algumas partes ela agia como eu. Porém, no caso, achava que ela não tinha um talento nato como eu de ter atenção dos demais naturalmente.
Tentei explicar de maneira mais sucinta possível, esperando que ela compreendesse mais ou menos o que estávamos procurando e com qual finalidade. No fim, ela pareceu entender mais ou menos, embora tenha percebido que suas olhadelas para Natália no centro da roda não tenham sido nada amigáveis. Todavia, eu fazia questão de prestar bastante atenção nos dois, apesar de ter perdido a parte final do que discutiam por estar tendo que explicar a situação para a moça perdida.
Mesmo assim, não tinha como não pensar que tudo parecia estar fluindo fácil demais para quem ainda não sabia por onde seguir. Porém, meus pensamentos foram interrompidos quando a morena ao meu lado precisou levantar para ir atender a porta já que alguém acabara de tocar a campainha. Não me surpreendo em ver Robert adentrando o apartamento, mas perco o fôlego ao ver que Richard está bem atrás dele.
Um milhão de xingamentos se passam pela minha cabeça. Não conseguia acreditar que Robb realmente contara a ele sobre tudo, embora tenha pedido para ele não envolver seu irmão mais velho nisso.
— Me atrasei muito? — perguntou Robb depois de Melissa fechar a porta atrás dos dois ruivos.
Os olhos castanhos de Richard alcançaram os meus violetas e por um segundo cheguei a desviar o olhar, mas isso não o impediu de vir até mim, se sentar ao meu lado no sofá. Contive um xingamento de desgosto. Fazia praticamente duas semanas que não nos víamos pessoalmente e eu meio que não sabia como agir naquele momento, afinal, não fazia ideia do que exatamente Robb dissera a ele.
— Não muito — Natália respondeu Robb enquanto Arthur abria espaço para Robb se sentar ao seu lado no outro sofá.
— Tavam falando que provavelmente acharam a localização da primeira flecha — disse Henrique.
— Isso. No parque, não é? — disse Yago.
Natália e Gilbert confirmaram com a cabeça.
— Então vocês já estavam marcando de ir lá agora? — perguntou Robb.
— Não! — disse Nath.
— Bom, não seria uma má ideia — completou Gilbert. — Mas acho que ir assim de supetão pode ser perigoso por não terem noção do que podem enfrentar.
— Por ser algo mágico, realmente. Talvez tenha... guardiões? — sugeriu Robb.
Um arrepio percorre minha espinha ao ouvir aquela palavra guardião. No fundo, aquela palavra específica tinha um sentido muito importante para mim.
— Exatamente, por isso temos que nos preparar antes — falou o antigo professor deles.
— Já que você costuma ter palpites certeiros — contive o tom de alfinete contra o homem —, o que você acha que vamos enfrentar ao chegar lá?
— Não sei. E, na verdade, tudo o que estou contando a vocês não é totalmente certeiro como está sugerindo, senhorita Hollister. Como já disse, a deusa H me poupou de muitos detalhes talvez já prevendo que um dia eu iria romper com ela, então mais uma vez não, não sei o que poderão enfrentar lá. Nem se lá é o local certo, inclusive.
— Acho que vamos ter que ir para descobrir o que vamos enfrentar — falou Natália por fim, talvez sentindo a pequena tensão que surgira entre mim e Gilbert.
— Vai todo mundo? — perguntou Yasmin.
— Eu deveria ir — comentou Melissa.
— Como não temos certeza de nada graças ao senhor Gilbert — um pouco de deboche escapou na minha voz —, que tal se nos dividíssemos? Parte fica para continuar debatendo a localização das demais flechas e parte vai pro parque.
— Quantas pessoas? — perguntou Yago.
— Talvez a quantidade de um carro — sugeriu Robb.
— E se fosse eu, Nath, você e o John? — disse Henrique.
— Por que essa panelinha? — implicou Melissa.
— Se quiser eu posso ir também, aí fecha cinco pessoas — ofereceu Bela, ignorando o comentário de Melissa.
— Claro que você pode vir com a gente — disse Nath, seguindo o exemplo de ignorar a morena, dando um sorrisinho para Bela. — Aí Lexa, você pode ficar responsável por comandar os que ficarem a debaterem mais sobre as demais flechas.
Confirmei com a cabeça, aceitando a condição. Estava até feliz que enfim iria começar a mandar em alguma coisa por ali, ainda mais com o título que carregava nas costas.
— Dois dias é o suficiente para vocês se prepararem? — questionou o mais velho dentre todos.
— Acredito que sim, prof — disse Natália para ele. — Aliás, acharia bom vir com a gente também? Já que você sabe mais ou menos onde está localizada a flecha.
— Não, não. É melhor irem sozinhos. É bom que eu e Alexia tratamos de ajudar os demais a se inserirem melhor nesse cenário caótico, certo? — Os olhos escuros dele alcançaram os meus e eu apenas confirmei silenciosamente, embora odiasse a ideia de ter que trabalhar com aquele homem. Apesar da insistência da Natália para que eu confiasse nele, não conseguia fazê-lo. Para mim, ainda havia algo errado, porém também precisava confiar na Natália como eu mesma pedira a mim, por isso continuava aguentando aquilo, apesar da minha intuição estar gritando justamente o contrário.
— Certo — concordou em voz a Natália, mas no fim sequer acabou olhando na minha direção em busca de alguma confirmação, pois sabia que eu não estava muito contente com aquela decisão.
— E agora? — questionou Yasmin. — Acabou? Foi só isso?
— Até o momento sim — disse Nath. — Acho bom confirmarmos essa opção do parque. Se estiver lá e conseguirmos captura-la, talvez possa haver pista da próxima flecha por lá.
— Realmente, é uma boa opção — concordou Robb.
— Então está acordado. Investigamos o parque daqui dois dias e voltamos pra nossa próxima reunião.
Vi diversas cabeças assentindo em confirmação e me neguei a olhar para o lado para saber quais as expressões Richard estava fazendo. Nem sequer fiz questão de dirigir a palavra a ele até agora.
— Já que decidimos a parte mais difícil, vamos pra cozinha — pediu Gilbert. —. Preparei algumas coisinhas pra esses meus antigos alunos famintos...
ϟ
Depois do Gilbert nos empanturrar com diversas comidinhas que ele havia encomendado para o momento, os ex-alunos do homem foram saindo do seu apartamento, com o próximo encontro marcado em mente, talvez daqui há três dias. De qualquer forma, não conseguia focar meus pensamentos nisso, visto que tinha um problema muito mais urgente para resolver naquele instante. Problema este que possuía nome e sobrenome: Richard Ross.
Apesar de eu ter sido a primeira a dar o fora daquele apartamento, Richard não conteve esforços para me seguir nesse caminho, porém sem a companhia do seu irmão. E, quando as portas do elevador já estão se fechando depois de eu ter apetado o botão do térreo, vejo seu braço colocar-se entre as portas, fazendo com que elas voltassem a se abrir a tempo.
— Podemos conversar? — ele questionou, ainda segurando a porta, apesar de não ter entrado.
Comprimo meus lábios por um momento ao encará-lo. Ficara bem óbvio que eu o ignorara durante toda a reunião, não querendo chegar naquele tipo de oportunidade para conversarmos sobre o que precisávamos. Todavia, não havia como fugir. Precisava enfrentar o problema que Robert me trouxera.
— Claro, entra aí — digo por fim.
Nisso, o ruivo adentrou o elevador e enfim as portas se fecharam diante de nós. Houve um breve momento de silêncio antes dele dizer:
— Há algo que queira me dizer?
— Não exatamente, mas acredito que tenha muitas perguntas a se fazer.
— Robb me contou algumas coisas, mas eu meio que queria ouvir isso de você — começou. — É verdade essa história toda de que você é… uma deusa?
Engoli em seco, fazendo questão de demorar um pouco novamente para falar algo. Era a segunda vez em menos de uma semana que me faziam aquela pergunta e algo me dizia que não seria a última.
— Sim, é verdade. O maldito do Robb contou tudo, não é?
— Uau… — escapou dele. — Quero dizer, é real então? Você veio de dentro de um videogame?
— Não me faça perguntas difíceis. — Um baixo suspiro me escapou. — Mas pelo que entendi da história, acredito que não. Eu que invadi o videogame na tentativa de alertar alguns Jogadores.
— Ah, é mesmo, ele comentou que você está sem memória.
Assenti com a cabeça.
— Deixei um recado para mim mesma num diário e lá dizia que fiz isso, perdi a memória, exatamente para conter a grandiosidade dos meus poderes. Porque, bem, um corpo humano igual a esse não aguentaria a carga de uma deusa.
Podia perceber as milhares de perguntas se formando através de seus olhos, porém ele se encontrava perdido em seus pensamentos, provavelmente refletindo sobre tudo o que eu acabara de dizer. O elevador chegou no térreo e as portas se abriram. Felizmente, não havia ninguém esperando do outro lado para entrar, por isso acabei saindo, mas acabei sendo impedida de continuar caminho quando ele segura meu pulso.
— E a gente?
— O que tem a gente? — perguntei.
— Como fica? Porque não acho que tem a intenção de fazer a Terra seu lar.
— Não existe "a gente", Richard. O que tivemos foi só…
— Mas eu quero que exista.
— Não, não, não, não — falei, puxando meu pulso para poder lhe dar as costas e continuar caminho. Ele acabou saindo do elevador também, seguindo pelo saguão do prédio até a saída. — Já tenho coisa demais em jogo, não posso envolver mais alguém nisso.
— Isso significa que você quer?
Parei na saída. Dessa vez, havíamos como espectador o porteiro que, apesar de estar concentrado em seu trabalho, sabia que estava ouvindo a nossa conversa no fim das contas. Àquela altura, estava de costas para o ruivo, sem saber exatamente quais palavras eu lhe diria naquele momento.
— Talvez — a palavra em escapou num murmúrio. — Mas no fim disso tudo, é você quem vai se machucar, em todos os sentidos — digo, olhando por cima do ombro brevemente. — Então acho que essa pergunta deveria ser minha. Tem certeza que você quer, mesmo com todos os riscos e probabilidades de dar errado?
— Pode me chamar de louco — começou, embora eu tenha sentido seus dedos encontrando os meus após seus dizeres —, mas sim, eu quero. — Dito isso, acabei cedendo que ele me puxasse para perto e simplesmente preenchesse seus lábios com os meus em um beijo que aceitei de bom grado.
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