Nenhum horário deveria estar mais apertado do que o horário de Harry. Comecei a ficar preocupada com tanta coisa posta para cima dele, não bastava ter os deveres, ainda tinha os problemas relacionados ao Quadribol. Tudo bem, na minha cabeça, isso era menos importante, mas para ele era tão importante quanto possa imaginar. Segundo o que me foi dito uma semana depois do início do semestre, Sonserina jogou contra a Corvinal. E a casa de Salazar foi a vencedora, por causa disso o Wood ficou todo feliz e acrescentou se uma ótima notícia para Grifinória, pois assim seria mais fácil tirar os corvinos do segundo lugar. Por causa disso o número de treinos aumentou para cinco por semana.
Não era correto, mas como não sou o melhor exemplo para seguir regras e nem nada do tipo me oferecia para fazer seus deveres de casa. Porque não bastava ter os treinos exaustivos de Quadribol, ainda tinha as aulas anti-dementadores que eram bem mais exaustivas. Não só ajudei nos deveres como até adiantei a maquete de Astronomia que a Profª. Sinistra pediu.
Entretanto, o que mais me surpreendia era a Hermione. Todas, absolutamente todas as noites, sem falta, a garota era vista no mesmo canto da sala comunal com várias mesas cheias de livros, tabelas de Aritmancia, dicionários de runas, diagramas de trouxas levantando grandes objetos e ainda fichários e mais fichários de extensas anotações; ela pouco falava com alguém e ainda fiquei sabendo que respondia mal quando era interrompida. Deve ser por causa disso que não nos falamos mais tanto depois da nossa última conversa particular.
— Como é que ela está fazendo isso? — murmurou Rony mais para Harry do que para mim certa noite, quando me sentei com Harry para terminar uma redação difícil sobre venenos indetectáveis pedida pelo Seboso. Até ergui a cabeça para tentar ver a garota, mas era difícil avistá-la por trás da pilha instável de livros.
— Isso o quê? — disse Harry.
— Assistindo a todas as aulas! — disse Rony. — Ouvi Mione conversando com a Profª Vector, aquela bruxa da Aritmancia, hoje de manhã. Estavam discutindo a aula de ontem, mas Mione não podia ter estado lá, porque estava conosco na de Trato das Criaturas Mágicas! E Ernesto McMillan me disse que ela nunca faltou a nenhuma aula de Estudos dos Trouxas, mas metade das aulas são no mesmo horário de Adivinhação, e ela também nunca faltou a nenhuma lá.
Harry não parecia muito preocupado com o horário de Hermione, ele deveria estar mais preocupado com a redação que o Snape pediu. Olhei para o moreno e bisbilhotando sua redação, vi que ele mal tinha começado a primeira linha, enquanto eu já estava nas últimas.
— O que você acha disso, Susana? — murmurou Rony, chamando minha atenção.
— Eu não acho nada — respondi voltando minha atenção para minha redação. — Só sei que desse jeito ela vai ficar louca. Inclusive agora que me veio a dúvida sobre as matérias que ela está fazendo… Por que ela faz Estudo dos Trouxas? Sendo que a criatura é uma nascida trouxa, filha de trouxas e vive no mundo dos trouxas. Qual o sentido?
— Segundo ela é para saber como é a visão dos bruxos sobre os trouxas — falou Rony tentando imitar a voz dela.
Balancei a cabeça rindo mais pela cena do Weasley.
— Pronto! Terminei essa droga de redação — disse assim que coloquei o último ponto. — É melhor aquele Seboso me dar a melhor nota, pois além de estar perfeita minha mão agora está doendo.
Meus resmungos foram interrompidos por Olívio vindo falar com Harry.
— Más notícias Harry. Acabei de falar com a Profª McGonagall sobre a Firebolt. Ela... Hm... Foi um pouco grossa comigo. Disse-me que as minhas prioridades estavam trocadas. Parece que entendeu que eu estava mais preocupado em ganhar a Taça do que as suas chances de sobrevivência. Só porque eu disse que não me importava se a vassoura o derrubasse, desde que você apanhasse o pomo primeiro. — Olívio sacudiu a cabeça, incrédulo. — Francamente, o jeito como ela gritou comigo dava até para pensar que tinha dito alguma coisa horrível... Então perguntei quanto tempo mais ela ia ficar com a vassoura... — Olívio amarrou a cara e imitou a voz severa da professora: — “O tempo que for preciso, Wood”... Acho que está na hora de você encomendar uma vassoura nova, Harry. Tem um formulário de pedido no final do Qual... Vassoura... você podia comprar uma Nimbus 2001, como a do Malfoy.
— Não vou comprar nada que Malfoy ache bom — disse Harry em tom definitivo.
(...)
Janeiro transitou para fevereiro imperceptivelmente, sem alteração no frio extremo que fazia. Segundo Harry a partida contra Corvinal estava cada dia mais próxima, porém ele ainda estava sem vassoura nova. Ainda não tinha encomendado nada, preferiu falar primeiro com a professora McGonagall pedindo notícias da sua Firebolt. Conversa aconteceu depois da nossa aula de Transfiguração. Rony e eu ficamos ao seu lado, diferente de mim o ruivo estava todo cheio de esperanças, ao nosso lado, Hermione passava depressa com o rosto virado.
— Não, Potter, ainda não posso devolvê-la — disse a professora, antes mesmo que Harry abrisse a boca para perguntar. — Já a verificamos com relação à maioria dos feitiços comuns, mas o Profº Flitwick acredita que a vassoura possa estar carregando um Feitiço e Velocidade. Eu o informarei quando tivermos terminado a verificação. Agora, por favor, pare de me pressionar.
Em poucas semanas Harry e Rony se tornaram as pessoas mais próximas de mim em toda escola. Conversamos sobre várias coisas, vivia andando ao lado de ambos, além de tomar café da manhã, almoçar e jantar ao lado deles. Senti até que fiquei mais próxima do Harry em questão, já que ia sempre com ele para as aulas de anti-dementadores. Minha amizade com ele sentia que era bem forte, quem olhasse parecia que nos conheciamos a anos.
Tentei apoiá-lo quando o reparei desanimado, acredito que pela vassoura, mas ao olhar melhor seu desempenho baixo nas aulas anti-dementadores, vi que tinha muito mais na cabeça dele. Não era a primeira vez que o vi desanimado e decepcionado com ele, desde que mostrei meu patrono corpóreo ele ficou dessa forma.
— Harry já te disse que não é algo fácil — disse mais uma vez depois que ele me perguntou sobre o patrono. — Se a fumacinha já é superdifícil, imagina convocar um corpóreo?
Era isso que sempre dizia a ele depois das aulas e ele sempre reclamava sobre a única coisa que estava conseguindo produzir, um vulto indistinto e prateado. Cena era sempre a mesma com o dementador se aproximando, contudo, por ser um patrono demasiado fraco não era possível afugentar o dementador. O desejo de Harry com o patrono esgotou muito rápido sua energia. Se ele continuasse dessa forma o seu resultado seria zero.
— Você está esperando demais de si mesmo — disse meu padrinho com severidade, na quarta semana de treino. — Para um bruxo de treze anos, até mesmo um Patrono pouco nítido é um grande feito. Você não está desmaiando mais, não é?
— Eu apenas sei que meu Patrono está fraco... Incompleto — disse Harry desanimado.
— Incompleto? — repetiu meu padrinho confuso.
Harry então me olhou e entendendo a situação, também recebi um olhar do meu padrinho um tanto severo.
— É que eu mostrei o meu para ele — expliquei.
— Por acaso você conseguiu executar o Patrono Corpóreo?
Assenti.
— Já faz um tempinho que consigo fazê-lo se tornar algo, acabei mostrando ao Harry na noite da primeira aula dele.
— Hum… interessante, Susana. Eu posso saber qual é? — ele me perguntou um tanto curioso.
— É um cachorro grande e peludo.
Tudo o que vi foi a cor do meu padrinho sumindo, deixando-o mais pálido e acho que ele também perdeu o dom da fala.
— Pelo jeito o patrono dela é bem melhor do que o meu. É completo, não é mesmo? — Harry foi quem retirou meu padrinho do outro mundo.
— Existem duas formas de Patrono, o não corpóreo e a corpórea. O seu obviamente é um não corpóreo, Harry. Agora o da Susana é o corpóreo que como também deve ter visto tem uma forma claramente definida e é mais do que um vapor ou fumaça — explicou meu padrinho. — Como lhe disse no início tudo depende da habilidade do bruxo ou bruxa. Susana está praticando a anos, então ela apenas foi se aperfeiçoando.
— Consegui inclusive só esse ano — acrescentei.
— Então é por isso que preciso continuar — disse Harry decidido. — Preciso melhorar, preciso conjurar um igual o da Susana.
— Harry, me escute, o Patrono dela não é fácil. Você ouviu o que ela disse e o que eu disse, não acontece assim do nada.
— Só que o dela é bem melhor do que o meu. Não acho que o meu vai me ajudar no jogo contra a Corvinal, pois acredito que o Patrono deve fazer o dementador se transformar em algo… ou fazê-lo desaparecer.
— O verdadeiro Patrono de fato faz isso. Mas você já conseguiu muito em pouquíssimo tempo. Se os dementadores aparecerem na sua próxima partida de Quadribol, você poderá mantê-los à distância em tempo suficiente para voltar ao chão.
— O senhor disse que é mais difícil quando há um monte deles.
— Tenho total confiança em você — respondeu meu padrinho sorrindo. Tome... Vocês dois merecem uma bebida, uma coisa do Três Vassouras. Susana já deve conhecer, mas você não deve ter provado antes…
Meu padrinho tirou três garrafinhas da maleta.
— Cerveja amanteigada! — exclamou Harry sem pensar. — Ah, eu gosto disso!
Fiz uma careta ao Harry, deixando claro que ele disse o que não deveria, meu padrinho por sorte estava de costas.
— Ah... Rony e Hermione trouxeram para mim de Hogsmeade — mentiu Harry depressa, me olhando e olhando depois meu padrinho que logo se virou para me encarar com aquele olhar desconfiado que só ele tinha.
— Entendo — disse meu padrinho, embora continuasse a parecer ligeiramente desconfiado. Do jeito que o conheço ele deve ter acreditado em absolutamente nada, até recebi alguns olhares, mas ignorei.
— Vamos brindar ao que? — perguntei, mudando rapidamente de assunto, segurando uma das garrafinhas.
Tive que mudar de assunto o quanto antes porque senão eu é quem seria questionada, aí tudo ia por água abaixo.
— Bem... Vamos brindar à Grifinória sobre Corvinal! Não que, como professor, eu deva tomar partido... — acrescentou ele depressa.
Bebemos a cerveja amanteigada em silêncio, até que Harry quebrou o silêncio.
— Que é que tem por baixo do capuz de dementador?
O meu padrinho baixou a garrafinha pensativo.
— Hummm... Bem, as únicas pessoas que realmente sabem não estão em condições de nos responder. Veja, o dementador tira o capuz somente para usar sua última arma, a pior.
— Que é qual?
Olhei meu padrinho curiosa.
— O Beijo do Dementador — ele disse com um sorriso enviesado. — É o que dão naqueles que querem destruir completamente. Suponho que devam ter algum tipo de boca sob o capuz, porque ferram as mandíbulas na boca da vítima... E sugam sua alma.
Harry, sem querer, cuspiu um pouco de cerveja amanteigada.
— Quê... Eles matam?
— Ah, não — disse meu padrinho. — Fazem muito pior. A pessoa pode viver sem alma, sabe, desde que o cérebro e o coração continuem trabalhando. Mas perde a consciência do eu, a memória... Tudo. Não tem chance alguma de se recuperar. Apenas... Existe. Como uma concha vazia. E a alma fica para sempre... Perdida.
Remus bebeu mais um pouco da cerveja, depois continuou:
— É o destino que espera Sirius Black. Li no Profeta Diário hoje de manhã, o ministro deu aos dementadores permissão para fazerem isso se o encontrarem.
Por momento parei para pensar sobre as palavras ditas pelo meu padrinho, fiquei olhando a garrafinha de cerveja amanteigada e me perguntando como era ter a alma sugada pela boca. Ao mesmo tempo pensei em Sirius Black, pensei se ele realmente merece tudo aquilo. É claro que aquele homem merecia o pior, pagar por tudo que fez aos pais de Harry e… Só que merece ao ponto de ter sua própria alma retirada de si?
— Ele merece — disse Harry de repente.
Eu o encarei em silêncio, ao contrário dele que não me olhou.
— Você acha? — perguntou meu padrinho sem pensar muito. — Você acha mesmo que alguém merece isso?
— Acho — disse Harry resistindo. — Por... Causa de umas coisas…
Mais uma vez foi preciso tomar cuidado nas palavras que ia dizer, pois meu padrinho sabia das coisas só não sabia de tudo.
Durante aquele momento não mencionei mais nenhuma palavra, fiquei com o assunto preso na minha cabeça. Não que me importasse com aquele homem, mas era estranho pensar ou desejar algo do tipo para alguém.
— Foi mal se falei algo que não deveria sobre o… aquele homem — falou Harry em seguida.
— Sem problema — respondi, soltando meu cabelo do rabo de cavalo. — Não me importo muito… é aquilo, ele é apenas o homem que deu o espermatozoide, mas o meu pai de verdade que me criou e foi mesmo pai é aquele com quem você estava conversando.
Para mudar de clima e assunto, comentei com Harry a quase derrapada que ele deu com meu padrinho. Ele ainda tentou me explicar que saiu muito naturalmente sobre a cerveja amanteigada, rimos. Só paramos de falar sobre quando fomos interrompidos pela nossa professora de Transfiguração que acabei trombando bem no meio da escada.
— Preste mais atenção por onde anda, Srta. Black!
— Desculpe, professora…
— Potter, estava agorinha mesmo procurando você na sala comunal da Grifinória. Bem, tome aqui, fizemos tudo que pudemos imaginar, e parece que não há nada errado com a vassoura. Você tem um ótimo amigo em algum lugar, Potter…
Tanto o queixo do Harry como o meu caíram. A professora estava lhe devolvendo a Firebolt, cujo aspecto parecia que não tinha sido vítima tanto verificação. Eu mesma imaginei que a vassoura ia chegar toda arrebentada ao Harry.
— Posso ficar com ela? — perguntou Harry com a voz fraca. — Sério?
— Sério — disse a professora sorrindo. — Acho que você vai precisar pegar o jeito dela antes da partida de sábado, não? E Potter... Faça força para ganhar, sim? Ou vamos ficar fora do campeonato pelo oitavo ano seguido, como o Prof. Snape teve a bondade de me lembrar ainda ontem à noite…
Acompanhei até a Torre da Grifinória um Harry muito feliz. Quando dobramos um canto, vimos Rony, que corria ao nosso encontro, rindo de orelha a orelha.
— Ela devolveu? Que maravilha! Escuta, posso dar aquela voltinha? Amanhã?
— Claro... Qualquer coisa... — disse Harry.
— Quer saber de uma coisa... Aproveitando que tudo se solucionou perfeitamente bem — disse aos dois. — Acho que vocês deveriam fazer as pazes com a Hermione... Até porque ela apenas estava ajudando… ficou preocupada com o Harry.
Ambos me olharam, trocaram olhares e Harry suspirou.
— Ela tem razão, não concorda Rony? — Harry olhou Rony esperando uma resposta do amigo.
— Tudo bem — concordou Rony. — Ela está na sala comunal agora, estudando, para variar…
Chegando na passagem para a sala comunal, vimos Neville insistindo com Sir Cadogan, que aparentemente se recusava a deixá-lo entrar.
— Eu anotei! — dizia Neville com voz de choro. — Mas devo ter deixado cair em algum lugar!
— Vou mesmo acreditar! — brandou Sir Cadogan. Depois, avistou Harry, Rony e eu. — Boa noite, meus valentes soldados e minha cara dama! Venham meter este louco a ferros. Ele está tentando entrar à força nas câmaras interiores!
— Ah, cala a boca — exclamei quando Harry, Rony e eu emparelhados com Neville.
— Perdi a senha! — contou ele, infeliz! — Fiz Sir Cadogan me dizer quais eram as senhas que ia usar esta semana, porque ele não pára de mudar e agora não sei o que fiz com elas!
— Tudo bem. — Toquei o ombro de Neville que corou um pouco. — A senha é Odsbôdiquins — disse ao Sir Cadogan, que ficou desapontado e, com relutância, girou o quadro para frente para deixar a gente entrar. Coloquei meu braço no ombro do Neville e dei um sorriso debochado para o Sir Cadogan, dando um tchau e entrando na comunal.
— O-obrigado — agradeceu Neville com as orelhas vermelhas e se afastando o mais rápido de mim sem graça.
— De nada…
Garoto estranho, totalmente esquisito. Precisei segurar uma risada por como ele ficou pimentão, inclusive essa nem foi a primeira vez que ficou assim, já que ele fica dessa forma quando o defendo nas aulas de Poções. É um ato natural meu acabar rebatendo com o Snape nas aulas quando ele tenta diminuir o Longbottom, o que me faz perder pontos e ganhar uma detenção.
Harry ficou uns dez minutos mais ou menos sendo paparicado por causa da Firebolt. Fiquei todo esse tempo sentada em uma poltrona perto da mesa ocupada por Hermione. Tentei dar uma olhada nos pergaminhos delas e não via nada, mas era muitos pergaminhos. Vi Harry e Rony se aproximar dela e conversarem, provavelmente sobre a vassoura e depois Rony se ofereceu para levar ao dormitório a vassoura, pois ele iria também dar o tônico para ao Perebas. E fiquei observando a conversa de Harry com a Hermione sobre o tanto de matérias.
— Por que você não tranca algumas matérias? — perguntou Harry, observando-a erguer os livros procurando algo.
— Eu não poderia fazer isso! — respondeu Hermione, escandalizada.
— Aritmancia parece horrível! — comentou Harry, apanhando alguma coisa.
— E é horrível — disse para ele.
— Ah, não, é maravilhosa! — respondeu Hermione séria e me encarando com um olhar de discordância. — É a minha matéria favorita! É…
Não ouvi o resto do porquê Aritmancia ser tão maravilhosa. Naquele exato momento, um grito estrangulado ecoou pela escada do dormitório dos meninos. Todos na sala se calaram e olharam petrificados para a escada. Eu me levantei em um salto para olhar a escada e ouvi os passos apressados de Rony, cada vez mais fortes... E em seguida ele apareceu, arrastando um lençol.
— Olha! — berro ele, se dirigindo à mesa de Hermione. — Olha! — berrou de novo, sacudindo o lençol na cara dela.
— Rony, que...?
— Perebas! Olhe! Perebas!
Hermione procurava afastar o corpo, com uma expressão de total perplexidade. Me aproximei para olhar o lençol que Rony segurava. Havia alguma coisa vermelha nele. Fui aproximando mais a vista e foi aí que vi do que realmente se tratava. Aquilo se parecia com…
— Sangue! — brandou Rony no silêncio de atordoamento que invadiu a sala. — Ele desapareceu! E sabe o que tinha no chão?
— N... Não — respondeu Hermione com a voz trêmula.
Rony atirou uma coisa em cima da tradução de runas de Hermione. Ela, Harry e eu se curvamos para ver.
Eram vários pelos de felino, compridos e amarelo-avermelhados.
Aquele pelo era sem dúvidas do Bichento, pois ele era o único gato dessa cor e sabíamos que ele era o que mais perseguia o rato do Rony. Ok, agora as coisas complicaram para Hermione. Mesmo parecendo inútil, eu tentei acalmar Rony com alguma coisa.
— Rony, se acalma, talvez esse pelo não seja do Bicheto. Pode ser de outro gato, ou talvez, o Perebas possa estar escondido em algum canto do quarto de vocês — falei olhando de Rony para Harry e voltando para o Weasley.
— Claro que é do Bichento! Eu já o procurei e nada, tudo que encontrei foi isso! — berrou Rony e olhava Hermione ferozmente.
— Talvez você não tenha procurado certo, procura de novo, o Bichento nunca faria isso…
— Não venha defendendo aquele seu maldito gato! Você sabe perfeitamente que Bichento sempre ficou atrás do Perebas e você nunca fez nada para fazer o seu gato ficar afastado.
Era uma situação muito difícil para os dois lados, pensei em dizer alguma coisa, mas não fazia ideia do que dizer. Todas as provas culpavam o Bichento do ato cruel e independente de onde ele esteja, Perebas deve estar agora em seu estômago. Mesmo que alguém pense em defender Hermione, não ia dar certo, pois sabia que ela mesma não ajudou em nada nessa intrigada do gato dela com o Perebas.
Desde que os conheci naquele vagão soube como era a relação desses animais, Taran mesmo nunca deu problemas, mas o Bichento tantas vezes que o presenciei tentando pegar Perebas e a Hermione simplesmente nem aí. Harry deveria estar pensando o mesmo com tudo aquilo. Queria ajudar os amigos, mas não dava… além de que deve ter percebido que a amizade entre Rony e Hermione acabou.
O que dava mais raiva nisso tudo era a Granger continuar defendendo o gato dela. Mesmo Harry que acabou entrando na discussão, tentando mostrar a amiga todas as evidências apontando que Bichento comeu Perebas, não adiantava. Para pior mais ainda a sabe-tudo também ficou zangada com Harry.
— Tudo bem, fique do lado do Rony, eu sabia que você ia fazer isso! — disse ela com voz aguda. — Primeiro a Firebolt, agora Perebas, tudo é minha culpa, não é? Então me deixa em paz, Harry, tenho muito trabalho a fazer.
Rony estava realmente sofrendo muito com a perda do rato.
Harry e eu ficamos ao lado dele no sofá de frente para a lareira.
— Rony, não fica assim — dizia tentando consolá-lo.
— Vamos, Rony, você vivia dizendo que Perebas era chato — disse Fred para consolá-lo, sentado no braço do sofá ao meu lado. — E seu rato estava doente havia séculos, estava definhando. Provavelmente foi melhor para ele morrer depressa, de engolida, provavelmente nem sofreu.
— Fred! — exclamou Gina, a irmã caçula dos gêmeos e de Rony.
— Ele mordeu Goyle para nos defender uma vez! — disse Rony, infeliz. — Lembra, Harry?
— É, é verdade — confirmou Harry que estava sentado do outro lado do sofá.
— Então foi o ponto mais alto da vida dele — disse, mas incapaz de manter a cara séria.
— Como a Susana disse, foi o ponto mais alto da vida dele — falou Fred, incapaz de manter a cara séria com a mão apoiada no meu ombro. — Que a cicatriz no dedo de Goyle seja uma homenagem eterna à memória de Perebas. Ah, sai dessa, Rony, vai até Hogsmeade e compra um rato novo. Que adianta ficar se lamentando?
— Nisso eu concordo com o Fred — disse ao Rony. — É só comprar um outro bichinho, Rony. Sei que não vai ser a mesma coisa, mas pelo menos terá um novo companheiro.
Ele me olhou de canto e sorri como uma forma de conforto. Rony retribuiu com um sorriso fraco.
Numa última tentativa de animar Rony, Harry o convenceu a ir ao último treino do time da Grifinória, antes da partida com Corvinal, para poder dar uma volta na Firebolt quando terminassem. Isto pareceu, por um momento, desviar os pensamentos do Rony em Perebas.
— Grande! Posso tentar fazer uns gols montando a vassoura? — disse Rony parecendo um pouco animado.
Harry e eu nos olhamos sorrindo satisfeitos por ter conseguido mudar um pouco o ar triste do Rony. E saímos para o campo de Quadribol juntos.
Chegando no campo fui para a arquibancada com Rony e ficamos observando Harry e Cia. Madame Hooch ficou um bom tempo paquerando a vassoura do Harry, só depois que Olívio deu um toque dela para devolver que ela devolveu e os deixou começar o treino. Ela veio ao meu lado; não demorou muito para que ela pegasse no sono. Isso porque ela tinha que ficar de olho no Harry.
Terminando o treino, os outros jogadores se despediram e Harry veio em nossa direção para passar a vassoura ao Rony.
— Manda ver — disse Harry, entregando Rony a Firebolt.
Rony, com uma expressão de êxtase no rosto, montou a vassoura e disparou pela crescente escuridão. Fiquei acompanhando Harry em volta do campo observando Rony. Já anoiteceu quando Madame Hooch acordou assustada, ralhou com a gente por não a termos acordado e insistiu que voltássemos ao castelo.
Harry pôs a Firebolt no ombro, e saímos do estádio digno de uma história sombria. Os dois andavam mais a frente discutindo sobre a vassoura, por não entender absolutamente nada de Quadribol, fiquei um pouco atrás. Estávamos na metade do caminho quando algo do meu lado esquerdo, chamou minha atenção, paralisei naquele exato momento e senti meu coração acelerar — havia um par de olhos que luziam na escuridão e sabia que me observava.
— Susana — chamou Harry. — O que foi? — perguntou um tanto preocupado se aproximando com Rony.
Apontei na direção do par de olhos, Rony pegou a varinha e murmurou:
— Lumus!
Um raio de luz se projetou pelo gramado, bateu no pé de uma árvore e iluminou seus ramos; lá, agachado entre as folhas, estava Bichento.
— Dá o fora daqui! — brandou Rony curvando-se para apanhar uma pedra caída no chão, mas antes que pudesse fazer mais alguma coisa, Bichento havia desaparecido.
Mesmo assim minha respiração não voltou ao normal, um lado meu sabia que aqueles olhos não eram do Bichento, não era! Além de ser conhecido, não foi a primeira vez que os vi e… não era desconhecido. Problema que não me lembro de quem é.
— Está vendo? — exclamou Rony, furioso, largando a pedra no chão. — Ela continua deixando o gato andar por onde quer, provavelmente comendo uns dois passarinhos como guarnição para acompanhar o Perebas…
— Tudo bem? — perguntou Harry em voz baixa apoiando a mão no meu ombro. — Era o Bichento, não se preocupe.
— Eu juro que não foi o Bichento que vi — murmurou, Harry foi o único que ouviu e estranhou.
Harry ia dizer algo, mas Rony o interrompeu, chamando por nós para continuar.
Chegando na Sala Comunal, me despedi dos dois desejando boa noite e subi silenciosamente ao meu dormitório. Mesmo depois de estar toda preparada para dormir, não desviei os olhos da janela e a imagem daquele par de olhos não saiu da minha cabeça. Por um momento, mesmo sendo algo da minha cabeça, parecia que retornei a ver o que vi no caminho para o castelo.
— Francamente, Susana… já está ficando louca — grunhi, balançando a cabeça e me xingando por parecer uma idiota.
— Como está o Rony? — perguntou Hermione do nada, antes de se colocar debaixo da coberta. — Sei que você estava com ele e o Harry.
— Bem… Rony está bem, bem melhor depois que deu uma voltinha na Firebolt.
— Que bom — disse ela desanimada.
Já sentada na minha cama, olhei para ela já deitada na cama, encarando tristemente um ponto qualquer.
— Hermione, escuta… Hm, sequer um aviso ou conselho — comecei a falar chamando sua atenção — fica mais de olho no Bichento. Agora pouco quando estava voltando com os garotos vimos o seu gato lá fora.
Ela me olhou triste, se segurando para não chorar.
— Te digo isso para não correr o risco de vir outra pessoa reclamar com você. Sei que temos que deixá-los livres — e olhei o Taran deitado na minha cama —, mas também precisamos pensar em um todo. Principalmente pensando no bem deles… afinal nunca se sabe o que passa na cabeça dos outros.
Não recebi nenhuma resposta, ela apenas desviou os olhos de mim e cobriu o rosto com a coberta. Pouco me importou sua atitude, não ligo, pelo menos o aviso foi dado agora depende dela.
Deitei-me, coloquei de baixo da coberta e não demorou para pegar no sono.
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