Cap. 31 – Extrapolando os limites parte II
A floresta se moveu....
Skelletor se debatia enquanto as vinhas e raízes o tragavam para o interior da mata, envolvendo seu corpo num aperto mortal. Quanto mais força fazia mais apertado ficava, tentava em vão usar sua espada para cortar suas amarras, mas não conseguia girar o punho para isso... então tomou a decisão mais incômoda e relaxou seu corpo se concentrando nas palavras antigas e logo a temperatura do corpo do feiticeiro aumentou freneticamente, fazendo-o explodir em chamas. As arvores o atacavam de todos os lados. Skelletor abusou de sua telecinese para medir forças com alguns galhos enquanto com sua mão direita fazia brotar fogo.
A alguns quilômetros dali, Perfuma estava em posição de lotus, com os olhos fechados, e um semblante sério, naquele momento, ela estava conectada com toda a Floresta do Sussurro e as raízes eram como uma extensão de seus sistema nervoso, ela tinha consciência de cada folha, e de cada flor, ela conhecia todos os caminhos, e ela sentia cada golpe do feiticeiro contra as árvores como se fosse em seu próprio corpo. Atrás dela, Madame Razz estava em pé, cantarolando uma antiga ladainha, e curando o corpo da princesa na mesma medida em que ele era ferido, ainda assim ela se contraía de dor sempre que era atingida. Arrastando o inimigo cada vez mais para seu interior na direção do Coração.
Scorpia era um soldado a vida toda, quase não tinha lembranças de sua vida antes da Horda, ela estava acostumada com dor, mas não aguentava ver Perfuma sofrendo, aquilo lhe deixava aflita e se sentia inútil na posição que Catra lhe delegara, apesar de por hora as coisas parecerem sob o controle da princesa que atordoou o gar vindo de todos os lugares e de lugar algum ao mesmo tempo. A antiga capitã da Horda ainda estava abismada pelo feito de sua amada, que em poucos dias aprendera com a velha louca como ser uma só com a Floresta do Sussurro, mas temia pelo preço de seu esforço.
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Catra pode ver do alto o confronto, Evil-Lyn estava diferente, muito mais forte, muito mais violenta e sua magia muito mais selvagem, suas sombras agiam como que por instinto atacando quase como extensões de seu corpo. Teela e He-man estavam defendendo-se como podiam, ele colocando seu corpo forte sempre na frente do dela quando podia para protege-la e ela usando as brechas que ele abria para atingir as trevas densas solidificadas com sua espada ou seu escudo.
- Vamos descer com tudo. – She-ra avisou antes de puxar o corpo da gata para seu colo, naquela forma ela era muito maior que a morena e carrega-la era muito fácil.
- Só para constar, eu odeio voar nesse pangaré. – Catra enlaçou o pescoço da loira que a segurou protetivamente.
- Você sabe que estará completamente exposta ali embaixo no meio da luta, não é? – A loira perguntou encarando os olhos bicolores que não demonstravam nenhuma hesitação.
- Adora... a gente faz como sempre, você salva o mundo e eu salvo você, só me dá cobertura até as coisas começarem a funcionar, por que eu não tenho como ferir aquela doida por enquanto. – E a gata a beijou nos lábios com carinho instantes antes da princesa saltar deixando Swift Wind reclamando para trás.
A princesa do poder não pode evitar de sorrir com a gata lhe cravando as unhas enquanto seguiam em queda livre, apertou seus braços fortes pelo corpo esguio dela e a segurou com firmeza quando atingiram o chão, afundando em uma pequena cratera. Assim que sentiu estar em terra firme, Catra saltou para o chão, mas não sem antes lançar um olhar irritado em resposta ao sorriso bobo da namorada que havia apreciado demais o voo até ali.
- Teela pega o grandão e protejam a Floresta, Perfuma não vai segurá-lo para sempre, aconteça o que acontecer não deixe o Skelletor chegar ao Coração. – A gata já ordenou de imediato, alto o suficiente para que todos ouvissem, inclusive a feiticeira, que pareceu bem ofendida, exatamente como Catra queria, além disso, Teela conhecia o plano.
-Skelletor? – A voz da maligna estava tomada de uma fúria bem conhecida, era orgulho ferido e ódio. – Aquele patético macho limitado que teve poder demais nas mãos e inteligência de menos para usá-lo para conquistar Etérnia. É com ele que você se preocupa gata imunda?
- Sabe como é... eu já sei que é ele quem segura a sua coleira. – Catra debochava, mas não parava muito tempo no mesmo lugar, se movia com a agilidade que seu corpo felino lhe conferia, evitando as sombras que brotavam de absolutamente qualquer lugar, como se a luz fosse incapaz de afastá-las. Felizmente ela havia trazido consigo sua própria luz.
Não demorou para que o brilho da She-ra ficasse intenso, e as sombras de Evil-Lyn passaram a ter dificuldade de sem manter contra a princesa do poder. E a feiticeira se envolve em energia arcana em resposta, manipulando as trevas e as manipulando a seu bel prazer como extensões de si mesma.
- Homem algum segura minha coleira, gata imunda. Eu sou Evelyn Morgan, Rainha Maligna de Zalesia por direito e senhora de mim mesma! – Urrou a feiticeira enquanto recolhia parte da escuridão que invocara para criar um construto que se expandia acima de seu corpo como uma série de tentáculos sólidos e inteligentes que a se moviam com violência e a tinham a grossura de uma tora. Um deles atacou como precipitando-se sobre as recém chegadas, e a princesa do poder o aparou com as mãos nuas, segurando o membro feito de pura treva que era rígido e pesado como uma árvore grande, não era nem a primeira vez no dia que ela fazia aquilo mas então Evil-Lyn bateu seu cajado no chão e o mesmo se abriu num rastro que passou por entre as pernas de She-ra vertendo calor e separando as faixas de terra afastando seus pés um do outro ainda mais. A princesa precisou usar sua força para deslizar o braço pesado de treva para o eixo de seu ombro e então deixa-lo cair no fosso que se abria saltando para o lado evitando de cair.
- Para alguém com tanta pompa você parece bem irritada. - Debochou ainda mais a gata. She-ra, no entanto estava um pouco confusa e não compreendia aonde ela queria chegar deixando a feiticeira ainda mais irada, mas estava focada em proteger Catra que cada vez mais era o alvo principal da inimiga. – Não me espanta que foi tão fácil fazer com que fosse traída. Sabe que nem foi preciso manipular muita coisa, bastou um sussurro aqui, outro ali e seus subalternos estavam ansiosos para te esfaquear pelas costas.
Evil-Lyn deslocou o vento numa lufada de ar potente com sua mão e She-ra contra atacou com um movimento rápido de sua espada em arco, criando uma onda de energia, ambos os ataques colidiram jogando a todos para trás.
- Está sugerindo que foi você? - A voz de Evil-Lyn falhou por um instante, suas mãos tremiam, mas ela procurou disfarçar isso com os movimentos rápidos de um traçar de runas. E os raios agora não vinham do céu, mas das mãos da feiticeira irada.
- Não é uma sugestão... é um fato. Ou você achou que poderia mandar um presentinho infiltrado para minha casa sem que eu fizesse o mesmo? Você me enviou um feitiço da verdade, eu lhe enviei um espião.... Double Trouble me manteve informada e manteve os seus homens motivados em querer sua cabeça, aliás, você sabe que está presa em Ethéria, não é? Seu equipamento para abrir o portal.... já era.
Evil-Lyn tentava a todo custo atingir Catra com suas sombras, e She-ra se colocava entre as duas de todas as formas de maneira insistente, dissipando as trevas com sua luz e contra atacando na mesma medida que a feiticeira.
- O Vale dos perdidos, foi você quem arquitetou a explosão também.... – A feiticeira concluiu rapidamente, agora suava e sentia calafrios, estava febril... Mas ignorou, lidaria com isso depois, a She-ra também suava devido ao esforço de manter a companheira sorrateira viva.
- Nessa tenho de dar o crédito para a ruiva, foi ela quem sugeriu explodir o lugar, eu só providenciei os meios. Você teria notado os explosivos sendo colocados, mas estava tão ocupada não morrendo depois do nosso ultimo encontro e fazendo festinha com o seu mestre.... olha que para quem diz não ter coleira você geme bem submissa pra ele...
Catra podia sentir o ódio de Evil-Lyn, e percebia o quanto a She-ra estava tendo dificuldades em segurá-la com seus oito tentáculos de trevas brotando de suas costas e os ocasionais raios que caiam do céu, atrás dela a Floresta estava em chamas, não dava para ver, mas ela podia sentir o cheiro, precisava pressionar mais um pouco, por que para seus olhos felinos os sinais já estavam lá, pequenos tremores, o suor frio... ela estava sentindo os efeitos Evil-Lyn não iria aguentar, e se aguentasse...
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Assim que Skelletor entrou em combustão mágica as vinhas e raízes recuaram, mas o feiticeiro foi rápido em agarrar uma raiz em sua mão e recitar uma formula mágica simples, em alguns segundos ele sentiu sua consciência percorrer por quilômetros de troncos, galhos, folhas e raízes até que ele a viu. Encarou com seus lumes sobrenaturais as orbes castanhas da princesa e a sentiu estremecer de medo.
- Eu te achei.... e vou te buscar! – sibilou ele ciente de que ela ouviu cada palavra e então cortou a conexão. Criou uma runa no ar e depois conjurou uma segunda magia por cima da primeira, concedendo a sua criação alguma habilidade, sua sombra se desprendeu de seu corpo e voou em busca de seu alvo.
Conseguiu enviar seu servo antes de ser atingido com muita força pelas costas, o impacto do atropelamento o arremessou contra uma árvore que prontamente o atacou com um galho grosso atingindo-o no maxilar.
O feiticeiro caiu bruços no chão ligeiramente zonzo, mas não levou sequer um segundo para compreender que He-man fora aquele que o atropelara.
- Não acabamos nossa conversa Skelletor. – O príncipe alardeou enquanto saltava sobre o feiticeiro que rolou para não ser pisoteado. Assim que se viu de barriga para cima e com contato visual conjurou uma magia de repulsão que arremessou o guardião de Grayskull a alguns metros de distância, mas o corpo musculoso dele foi amparado pelas árvores que minimizaram ao máximo o impacto. Teela não lhe deu muito tempo para pensar e desceu sua espada em direção ao seu crânio e ele aparou a lâmina com suas duas palmas, incendiando-as com o fogo mágico que rapidamente aqueceu a arma fazendo com que a capitã a soltasse para não queimar a mão.
Skelletor se pôs de pé, e He-man já o buscava com um soco potente, mas o feiticeiro gingou para o lado dando dois passos. No primeiro passo deixou um clone mágico em seu lugar trocando socos com o guardião brônzeo e com o segundo se virou para a ruiva atingindo-a com um chute no estômago que ela não previu a tempo de aparar. Felizmente um galho desceu de uma árvore próxima impedindo que o gar pudesse emendar os golpes em sequência.
- Até quando vai usar os mesmos truques? – retrucou He-man agarrado no pescoço do clone enquanto lhe desferia uma potente cabeçada na testa inimiga, rachando o crânio da mesma e fazendo a magia se desfazer.
- Até quando eles funcionarem.... mas se quer algo novo...- Skelletor invocou uma bola de chamas em sua mão, mas em vez de dispará-la contra eles golpeou chão, criando uma onda de calor ao seu redor e queimando vegetação mais nova e frágil, ele queimaria até a última árvore daquele lugar.
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Perfuma suava.
Scorpia observava sentindo-se impotente enquanto sua princesa contorcia sua expressão em dor e gotas de suor lhe tomavam a testa. Um grito fugiu da garganta dela enquanto ela sentia o queimar das raízes a quilômetros de distância. Madame Razz em transe acelerava sua ladainha tentando acompanhar o ritmo do dano, e manter a conexão entre elas amenizando o sofrimento da princesa. A artrópode já havia tentando falar com Perfuma e com a idosa, já a sacudiu, já chamou por ela, e agora só conseguia andar de um lado para o outro impaciente, por sorte sua preocupação, apesar de gigantesca não suplantou seus instintos treinados de soldado, e conseguiu correr na direção da princesa a tempo de agarrar com sua pinça algo sólido porém invisível que se movia perigosamente em direção ao pescoço de Perfuma.
Segurou com força tensionando todos os seus músculos enquanto a mão com dedos compridos e ossudos começou a ficar gradativamente visível era uma sombra completamente sólida, com um corpo masculino, sem rosto, e tentava em vão alcançar seu alvo agora investindo com a outra mão livre que Scorpia também agarrou. Ela agradeceu mentalmente por Catra tê-la permitido ficar ali, não se importava em se ferir, mas não suportava a ideia de que algo acontecesse com a garota das flores. E com toda a potência que pode reunir empurrou a criatura para trás, colocando-se entre ele e a princesa. Se ele podia ficar invisível ela não poderia se dar ao luxo de soltá-lo, aconteça o que for, precisava abater a criatura sem deixa-lo fugir.
Ambos os braços erguidos, ele forçando para frente, ela fincando os pés no chão como uma muralha, ele se debatia, ela apertava suas pinças. Ele lhe deu uma cabeçada com força, ela ficou zonza, mas não o soltou. Tensionou suas panturrilhas e coxas e com vigor deu um passo, depois mais outro e mais outro, empurrando-o para trás.
Ela soltou o agarrão da pinça direita e investiu com ela em direção ao que seria o rosto da criatura que foi atingida em cheio. Se tivesse um rosto estaria com o nariz quebrado com toda a certeza, e ela sentiu seu ombro queimar, mas o puxou com a pinça esquerda para mais perto e o socou novamente com a direita. Ela sentiu um chute em suas costelas recém coladas magicamente por Casta e seu tronco ardeu, mas ela não o soltou e socou novamente com violência.
- Você não vai se livrar de mim! – Scorpia rosnou torcendo o pulso que mantinha preso em sua pinça e afundando o joelho no estômago da criatura. – Você não vai chegar perto dela.
A criatura não tinha boca, mas um buraco negro se abriu aonde deveria haver uma e um urro selvagem se fez ouvir. Scorpia o empurrou mais um pouco, e tentou atingi-lo com seu ferrão, mas ele desviou a cabeça para o lado e chutou novamente as costelas frágeis da princesa que estava determinada a vencer a disputa de resistência.
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She-ra quicou duas vezes no chão antes de se recompor, havia sido atingida por um tentáculo de treva, um dos vários que brotavam das costas de Evil-Lyn, Catra estava numa situação pior, pois seus golpes não surtiam efeito nas trevas da feiticeira, e ela não conseguia alcançar a mesma o suficiente para lhe golpear o corpo, restando-lhe fugir e tentar se aproximar como podia.
A princesa do poder estava com a visão ligeiramente turva do golpe ainda, mas cuspiu sangue no chão e limpou a boca com as costas da mão livre se colocando de pé novamente apertando o cabo de sua espada na mão direita, ignorando o tremer de seus joelhos, não podia deixar Catra exposta, embora ela estivesse se virando muito bem, até que o pé da gata escorregou em alguma coisa qualquer no pisar, num pequeno lapso um tentáculo negro a prendeu firmemente contra o chão. A gata enterrou suas presas com força na escuridão sem muito sucesso, ela sabia o que viria agora, conhecia bem o procedimento de uma mulher orgulhosa... ela mesma o era. Sabia que a feiticeira iria castiga-la um pouco, mas não a mataria de longe, então se deixou capturar, afinal Adora não poderia protege-la para sempre. E como o esperado ela foi erguida, precisou se concentrar em relaxar o corpo para não se ferir desnecessariamente quando o impacto viesse, lutou contra seu instinto de se contorcer buscando cair em pé, mesmo por que a sombra que a segurava não permitiria, seria desperdício de energia. E então o tentáculo desceu, bruto, sem aviso. Ela sentiu o choque contra o solo pela segunda vez, doeu.... mas não mais do que ouvir o grito da companheira que investiu contra o tentáculo partindo-o com sua espada mágica, impondo sua luz sobre ele outra vez. Estavam mais próximas agora, talvez o suficiente para uma investida certeira. Catra correu, puxou seu chicote pela primeira vez naquela luta e o prendeu com força no tentáculo que estava mais alto, usando o impulso para vencer a distancia antes que ela o abaixasse sobre elas novamente, e se lançou contra Evil-Lyn.
As garras da gata rasgaram a pele da feiticeira, embora não fundo o suficiente, num corte tão fino e preciso que levou uns instantes para que quatro finas linhas de sangue brotassem ao longo do pescoço subindo pelo maxilar e marcando a bochecha esquerda dela. Evil-Lyn por sua vez agarrou a garganta da gata apertando-a com força. Catra se debateu e cravou todas as suas garras no braço da inimiga na tentativa de se soltar, ela tremia e suava, mas tinha uma determinação invejável.
- Você.... não deveria..... – Catra se esforçou para falar cada palavra por conta da asfixia - beber........... qualquer merda... que te dão.
E então os olhos da feiticeira se arregalaram, lívidos de ódio ante a compreensão de por que os elixires depois do primeiro não surtiam efeito por tempo prolongado e por que se tornavam mais dolorosos. As sombras que ela comandava magicamente atacavam furiosamente a loira que tentava se aproximar de todas as formas, ela jogou a gata no chão e pisou em seu peito afundando seu salto no externo apertando com força. Ignorou a dor quando a sentiu enterrar as garras em sua perna para se soltar. Seu braço já pingava sangue e isso não importava no momento.
- O que você fez? - Urrou a feiticeira.
Catra tossiu com a dificuldade em respirar ali prensada no chão, mas encarou a inimiga que estava em pé com um sorriso no rosto.
- Não achou que eu coloquei meu espião debaixo do seu nariz só pra saber com quem você transa né? Aliás... bem triste a sua vida... mas não justifica a piranha amarga que você é. Vai por mim... minha vida também não foi lá das melhores. – A gata se encolheu quando sentiu um pisão mais forte contra seu peito. Doeu.... mas nem tanto, ela estava perdendo a potência e gastando tudo que tinha de poder para lutar contra a She-ra, embora nem se desse ao trabalho de olha-la. Na verdade, ela ainda tinha muito poder mágico para gastar, só não conseguia controlar isso sem ferir o próprio corpo mais.
- Você sabotou meu elixir... – Ela sibilou com ódio e chutou a gata que rolou quase um metro, uma lâmina negra de pura treva se formou em sua mão. Ela pensou em atacar, mas foi interrompida por uma dor lancinante quando a She-ra lhe acertou com uma rajada de luz bem no meio do peito num baque seco, fazendo-a cambalear para trás.
- Se afasta dela! – Ordenou a princesa do poder com autoridade.
- Ou o quê? Vai me matar? Você é nobre demais para isso e nós duas sabemos, você vai me bater, e eu vou voltar, pior. – A expressão dela já não trazia quase nada de sanidade, a voz já não trazia muito de humana - E enquanto eu tiver forças eu vou dedicar cada segundo na tarefa de escalpelar essa gata imunda e aquela capitã frígida e depois vou arrancar o coração de Skelletor...
- Se afasta dela! - A She-ra avançou mais um passo e disparou outra rajada, seus olhos brilhando em ressonância com o planeta, cada princesa em Ethéria sentiu seu corpo inundado por um novo fôlego. Evil-Lyn sentiu a primeira convulsão em reação a luz da princesa do poder, que era cada vez mais intensa, cada vez mais ameaçadora para as trevas de sua alma tão diligentemente cultivadas por anos.
She-ra se ajoelhou ao lado de Catra, e lhe ofereceu o braço forte ainda com seu corpo iluminado pelo brilho quase divino, o mesmo brilho de quando a resgatou na nave de Hordak e o mesmo brilho de quando exorcizou Hordak Prime. A gata se ergueu com um pouco de dificuldade, ela falava no comunicador com Glimmer... a tal segunda onda de assalto.
- Adora, me dá a capsula, precisa ser agora. – Catra lhe pediu, mas em vez de entregar o conteúdo, ela recebeu um beijo na testa, breve, mas o suficiente para voltar a respirar sem dificuldade, eram os poderes de cura dela em ação. She-ra sorriu ao vê-la em pé por si só e lhe fez um rápido afago no rosto, mesmo com aquela aura quase divina Catra reconheceu o olhar de Adora por trás da She-ra. Então a princesa caminhou de maneira firme em direção ao turbilhão de sombras, vento e eletricidade que se formava ao redor de Evil-Lyn.
A espada voltou a ser um bracelete, e a cada passo que a She-ra dava naquele chão castigado grama e flores voltavam a crescer. Ela entrou em meio ao turbilhão protegida por sua luz, pegou o corpo fustigado da feiticeira nos braços ela fez menção de ataca-la, e provavelmente tentaria mata-la num esforço poderoso, mas foi completamente desarmada quando a princesa do poder colou seus lábios nos dela. A feiticeira instintivamente reteve seu impulso assassino e se agarrou na loira que apenas por estar ali lhe queimava a pele com sua luz, quando abriu os lábios sentiu a língua da princesa lhe invadir, empurrando algo pequeno dentro de sua boca, o beijo foi interrompido assim que o gosto amargo se espalhou. Outra convulsão, e suas veias se tornaram de um vermelho pulsante, marcando sua pele, os vasos sanguíneos e Evil-Lyn perdeu completamente o último resquício de controle que tinha do próprio corpo. A She-ra a soltou, e a feiticeira sentiu seu rosto contra o chão, não conseguia mais sentir seu próprio corpo, embora sentisse a dor...
Ela era inteligente o suficiente para saber que estava infectada com um parasita mágico e que toda a extensão de seus poderes estaria longe de seu controle, Evil-Lyn se viu sozinha presa na pior prisão que poderia imaginar, dentro de si mesma em plena catatonia, consciente de tudo ao seu redor e completamente alheia ao mesmo tempo.
A She-ra não entendeu o que houve quando o turbilhão foi controlado, Castaspella e Glimmer estavam ali ela não sabia desde quando, mas a cintilante tinha aquela aura e aquele brilho no olhar graças a ressonância. Catra gritava com o comunicador, mas a princesa não conseguia se fixar nas palavras.
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Teela jamais havia visto He-man daquele jeito. Havia uma aura luminosa ao redor dele, e seus olhos agora eram pura luz, quase divino, o chão ante seus pés se recompunha desfazendo o fogo e fazendo crescer grama verde e flores novamente, ele socou Skelletor com força uma, duas, três vezes e então o chutou para longe. Zonzo o feiticeiro mal notou quando a floresta se abriu atrás dele, formando um caminho, ele gargalhou triunfante enquanto se recuperava.
- Idiota! Sua melhor chance era me manter por perto! – Skelletor traçou uma runa no ar, e disparou um raio mágico na direção do guardião de Grayskull.
- Agora! - Gritou Teela
No mesmo instante várias coisas aconteceram. Glimmer surgiu atrás de Skelletor com Evil-Lyn inerte largando-a ali. He-man sacou sua espada e a segurou com toda sua força para bloquear o raio mágico que veio com uma potencia considerável, forte o suficiente para romper o lacre de Castaspella na joia de Shadow Weaver. Liberando todo o poder da tempestade elétrica que Evil-Lyn confinada na joia com a ajuda de Hordak...
O feiticeiro gar não esperava o rebote de seu próprio ataque, muito menos a potencia dele combinada com o poder se sua aprendiz e sua barreira mágica erguida se supetão se rompeu na mesma hora, incapaz de segurar o ataque. Ele e Evil-Lyn foram varridos por metros e mais metros, seus corpos sendo tragados pela onda mágica que ganhou a força de uma correnteza implacável com Glimmer disparando por cima tudo que tinha em uma única rajada contínua, até que ambos os inimigos foram jogados dentro da conhecida caverna que abrigava o Coração.
Assim que ambos estavam lá dentro, Castaspella selou a entrada, e Glimmer se colocou ao seu lado reforçando a magia e a própria floresta se fechou ao redor da entrada, comandada por Perfuma formando uma barreira com videiras, galhos e troncos das árvores mágicas ancestrais, garantindo que nada entraria ou sairia dali.
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Por toda Ethéria as princesas ressonavam junto com a She-ra, varrendo inimigos num surto de poder que embora breve, consolidou a incontestável vitória, quando Evil-Lyn surtou as feras ancestrais que atacavam furiosas perderam seu ímpeto, e boa parte delas se tornou pacífica ou adormeceu, a sombra que Scorpia continha com esforço se desfez diante de seus olhos, e por toda Ethéria isso se repetia. E quando a ressonância acabou, a princesa do poder voltou a forma de Adora. Que tremia um pouco, com o esforço mágico que fizera, provavelmente ela dormiria novamente para se recuperar quando a adrenalina passasse, mas naquele momento só queria se certificar que a gata estava bem.
- Você realmente beijou aquela louca na minha frente? – Catra lhe encarou com a voz ainda um pouco ofegante.
- Preciso te lembrar que você transou com a Scorpia? – Adora rebateu, mas não era um tom acusatório. - Ela ia me rasgar a garganta se eu me aproximasse de uma forma agressiva! E não achei outro jeito de fazê-la engolir aquele treco... só improvisei. Estava tentando não morrer!
- Duvido que ela conseguisse lhe rasgar a garganta naquela forma, mas aprecio o esforço de “tentar não morrer” ... É por isso que eu planejo! Você improvisando é um desastre! – Catra rebateu. E depois tocou o ponto do comunicador. – Estão selados?
- Sim..., mas tem certeza de que vão ficar presos lá? - Respondeu Glimmer no comunicador.
- Por mais piegas que seja.... sim. - Catra respondeu com certeza. – O coração reage as emoções de quem entra lá dentro, sem esperança ou amor... é impossível sair de lá. E Quem os resgataria? Eles não amam nem a si mesmos, e.... Evil-Lyn vai ficar catatônica presa na própria mente por conta da infecção, se Skelletor tentar usar a magia dela para fugir terá o mesmo destino que ela... ele vai ficar ali preso até que o próprio Coração do planeta se livre dele...
A gata até ia terminar sua fala, mas Adora fechou os olhos e amoleceu, Catra a aparou.
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Dessa vez foram apenas dois dias de sono para Adora, quando ela abriu os olhos ainda sonolenta estava no quarto, Melog deitado na cama aos seus pés e Catra encolhida dormindo ao seu lado com uma das mãos sobre a sua barriga. A princesa se ajeitou na cama com cuidado, não queria acordar a gata, mas quando fez menção de se levantar a mão dela se fechou agarrando o tecido de seu pijama.
- Eu não quero nunca mais que uma de nós levante da cama sem um beijo. – Retrucou a gata num sopro, enquanto contraía o corpo levemente para depois espreguiça-lo ao abrir seus olhos bicolores.
- Quanto tempo dessa vez? – Adora perguntou dando um beijo carinhoso em Catra que se aninhou no ombro da loira abraçando-a.
-Um pouco mais de dois dias... – a felina respondeu.
- Eu não lembro muito bem das ultimas coisas que aconteceram, mas acho que dessa vez foi você quem salvou o mundo....
- A She-ra e o He-man podem levar o crédito fora dessas paredes, mas acho que já é a segunda vez, não é? - Catra parecia se divertir com a ideia.
- O crédito é seu. Não resta dúvida que você, Teela e Glimmer quem salvaram todos nós. – Adora reiterou cheia de orgulho apertando o corpo da gata contra o seu. – Mas afinal o que você fez?
- Quando descobrimos o feitiço da verdade eu pensei em formas de contra-atacar e mandei DoubleTrouble para lá. Era fácil se infiltrar num lugar com tantos escravos. Ele passou a me informar do que conseguia, e instigar a intriga entre eles, não que precisasse de muito, eles se odiavam já sem ajuda.
- Mas eu vi DoubleTrouble aqui, te substituindo na sua pequena fuga. – Adora lembrou.
- Sim, eu o chamei por dois motivos, o primeiro era me dar cobertura e o segundo era levar com ele alguns presentinhos. Nós já tínhamos visto o que a Evil-Lyn poderia fazer, e eu sabia das experiencias dela drenando magia e transformando em elixires, se aquilo funcionasse ela teria tanto poder que poderia superar a She-ra e o He-man mesmo na sua melhor forma, que você ainda nem controla cem por cento.... Então Hordak trabalho em formas de dispersar o efeito e deixa-la vulnerável. Foi ele quem percebeu que nada adiantaria os poderes quase divinos num corpo frágil incapaz de contê-los... então sabotamos o corpo dela o quanto pudemos, não consegui, mata-la envenenada e olha que eu tentei.
- E o que vocês fizeram com a joia da Shadow Weaver e a espada do Adam? – Adora questionou, sem deixar de se admirar com como Catra esteve no controle da situação.
- Sabemos que Shadow Weaver já drenava magia e a armazenava a anos, nenhum de nós sabia fazer, mas Casta, Micah e Hordak puderam ativar a função que a velha havia programado naquele fragmento, então quando eu e Teela lutamos contra Evil-Lyn durante um pico de poder, usamos a tecnologia da Entrapta para aprisionar o máximo de magia negra que pudemos dentro da joia, capturamos a tempestade e guardamos para usar contra o Skelletor, já que nós o atraímos para cá.
- Vocês o trouxeram para cá de propósito? – Adora agora estava confusa.
- Isso foi ideia da ruiva, atraímos ele com um sinal enviado do Vale dos Perdidos pelo equipamento deles. Ela percebeu o funcionamento do Coração depois da milionésima vez que ouviu sobre ele, e percebeu que aqui havia a chance de prender o Skelletor de uma forma que em Etérnia era simplesmente impossível, então tecnicamente, salvamos dois universos dessa vez.
Adora estava abobalhada... Catra fora menosprezada por tantas pessoas por tanto tempo, e embora ela mesma jamais tivesse menosprezado a gata, nunca cansava de se maravilhar com o que ela era capaz de fazer. A felina explicava como se fosse apenas lógica, pensava como estrategista desde muito nova, mas aos olhos da loira ela era a mais incrível magia do universo.
- Eu não tinha um presente para receber? – Ela questionou com aquele sorriso bobo ainda encarando a gata com o olhar amortecido de admiração.
- Isso depende, ainda pretende sair beijando feiticeiras sombrias por aí? – Catra rebateu com uma pontada de cinismo natural, mas sorria enquanto buscava embaixo do travesseiro a pequena caixinha.
- Que tal a gente só esquecer isso e focar nas partes boas? – Adora sugeriu, e não pode evitar de sorrir ao lembrar o que aconteceu naquele quarto quando Catra lhe fez essa mesma sugestão dias atrás. A gata lhe estendeu a mão com a caixinha em sua palma, ela pegou. A gata observava atentamente conforme a princesa abria o pequeno embrulho revelando dois anéis delicados de ouro com um filete vermelho no centro. Eram bem simples, mas nenhuma das duas jamais tiveram uma joia na vida, então para Adora aquilo parecia perfeito.
- Você sabe o que significa isso aqui em Lua Clara não sabe? – Adora perguntou sem conseguir tirar um sorriso do rosto.
- Significa que você é minha, eu sou sua e nós pretendemos ficar assim para sempre, não é? - Catra confirmou hesitante com medo de ter feito algo errado, embora tenha tido a ajuda de Glimmer para conseguir o presente, ela não estava acostumada com a maneira como as coisas eram feitas fora da Horda. Adora a beijou, dissipando sua dúvida.
- Gostei das cores, me lembra de nós. – Disse a princesa colocando a própria aliança e pegando a menor para colocar no dedo da felina.
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Adam só se acordou um dia depois da irmã. Ainda confuso, levou um tempo para que ele compreendesse o que houve, nunca antes havia sentido o He-man se conectar com a magia daquela forma, ele não sabia que as princesas eram capazes disso quando a She-ra estava com poder total.
Teela não estava no quarto quando ele acordou, mas ela veio assim que soube pela maquina de monitoramento, estava ocupada ajudando no que pudesse enquanto ainda estavam ali já que logo teriam de regressar ao lar. Quando ela entrou, ele já estava de pé, apenas com uma calça de pijama e uma camiseta larga. Olhando a janela.
- Nem parece que estávamos em guerra...tudo está tão tranquilo lá fora. – Ele disse assim que ela entrou.
- Você dormiu três dias dessa vez, sua irmã acordou ontem. - Teela o abraçou e lhe deu um beijo, ele não esperava, mas não reclamou.
- E como ela está? – ele perguntou preocupado.
- Aparentemente noiva. – respondeu a ruiva. E ele arregalou os olhos em surpresa, mas com um sorriso. – Nesse passo logo logo terei um sobrinho e ainda nem levei ela conhecer nossos pais! Sério, eu não faço ideia de como explicar para o velho que Adora está viva, noiva de uma gata e vivendo em outro mundo.
- Acho que teremos de ir um passo de cada vez. – Teela riu da situação, seria muita coisa para explicar realmente. – Mas talvez não seja tão difícil sua mãe mesmo, veio de outro mundo, e na Terra creio que tenham histórias de amor como a da sua irmã...
- Aliás... já que falamos sobre essas coisas. - Adam hesitou. – Eu pensei em conversar com o mentor... talvez pedir-lhe permissão para...
A ruiva colocou um dedo sobre os lábios dele antes que ele continuasse.
- Se pensa em pedir uma mão para meu pai espero que seja a dele, por que a minha você terá de pedir para mim e ninguém mais. – A capitã o fuzilou com o olhar e ele compreendeu. Fazia sentido, ela era dona de si mesma... não poderia esperar menos.
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