23/09/1990
Passado
Antes de sair da casa, Katsuki parou na frente do quarto da mãe e encarou a porta fechada. Desde que havia percebido que era gay, foram dias agonizantes se perguntando como os seus pais iriam reagir, querendo tanto, mas tanto, ser sincero com Masaru e Mitsuki, em especial após ter iniciado um relacionamento com Eijirou. Desejava contar aos pais, como seus colegas faziam, e vê-los felizes por estar vivendo seu primeiro relacionamento. Mas a realidade para um garoto que se descobriu gay, na década de oitenta, não era a mesma de um garoto hétero que poderia conversar com os pais sobre garotas e relacionamentos.
Bakugou apertou os lábios, pensando no que o Stalker havia lhe dito na ligação. Ele saiu de casa, após ter deixado um bilhete preso na geladeira — ao lado de um desenho que havia feito quando era criança, contendo traços tortos e cores chamativas —, avisando onde estaria, para o caso da sua mãe acordar e não o encontrar em casa, porque tinha certeza de que ela não lembraria o que seu filho havia contado durante o jantar.
Estava relativamente atrasado; a ligação deixou Katsuki perturbado, o levando a esquecer, brevemente, o compromisso marcado com seus amigos e o namorado, de irem comemorar os dezenove anos da Momo em uma pista de patinação recém-inaugurada, a atividade preferida da garota.
Pedalou com mais rapidez até o lugar marcado, ignorando os pensamentos acelerados e o quanto a vontade de se assumir, pelo menos para a sua mãe, o desestabilizou completamente.
— Está atrasado — Kirishima comentou, não em tom crítico, mas reconhecendo a preocupação na voz dele, Bakugou tentou sorrir para acalmá-lo. O restante do grupo estava próximo a porta dupla, sendo o namorado o único a se aproximar de si enquanto guardava a bicicleta. — Aconteceu alguma coisa?
— Não, eu só... tentei passar um tempo com a minha mãe. — Katsuki sabia o motivo da separação, não porque seus pais haviam contado, e sim por escutar as brigas quando os dois achavam que ele estava dormindo. A única coisa que não sabia, era quem eram os seus meios-irmãos. Não parecia importar antes, mas será que deveria descobrir? Se fosse importante no futuro?
— As coisas ainda estão ruins em casa? — Com corpo cobrindo o do namorado de possíveis olhares curiosos, Eijirou afagou seu braço.
— Ela nem olha na minha cara direito. Meu pai deveria ter vindo me visitar, mas ligou, deu uma desculpa idiota e disse que eu deveria me cuidar, por causa dos assassinatos. — Revirou os olhos, largando a chave do cadeado da bicicleta no bolso traseiro da calça jeans. Desejava puxar o outro garoto para um abraço, mas permaneceu com os braços ao lado do corpo; haviam desconhecidos demais ao redor e não queria arriscar um contato mais íntimo. Yaoyorozu merecia ter um bom aniversário. — A mesma merda de sempre.
— Precisa de algo?
— Depois a gente da um perdido nos extras e se pega no banheiro — Bakugou sussurrou as palavras ao pé do ouvido de Kirishima, fazendo-o reagir dando-lhe um empurrão no seu ombro, mas concordando silenciosamente com um balançar sutil de cabeça. — Vamos, Shark.
— Finalmente, Cinderela — Himiko disse, as mãos na cintura e os lábios cintilando com o gloss. — Se os patins com o meu número tiverem acabado, vou enfiar a sua cabeça no vaso do banheiro! — Os dois mostraram a língua um para o outro.
— Duvido que tenham acabado. Já viu o seu tamanho, Pintora de Rodapé?
— Vejo que a noite começou bem — com bom humor, Kyoka comentou, e ao cruzar os braços, sua jaqueta de couro fez barulho. — Podem tentar não serem expulsos, como quase acontece toda vez que vamos ao boliche?
— Se ele não roubasse em todas as rodadas, isso não aconteceria. — Toga tentou se defender, apontando uma unha decorada na direção do recém-chegado.
— Eu não tenho culpa se você é ruim e uma péssima perdedora — Katsuki rebateu e se Eijirou não começasse a empurrá-lo na direção da porta, a dupla loira teria fôlego para discutirem à noite inteira.
A aniversariante achava graça da situação, soltando risadinhas baixas; até Ochako e Tokoyami parecia melhores do que nos dias anteriores, rindo das alfinetadas, apesar das olheiras denunciarem o quanto eles estavam mal pela morte da Asui.
Bakugou teria continuado reclamando, se a aparição de Todoroki não o fizesse calar a boca. Óbvio que o senhor perfeito estaria presente, afinal, Momo e Shoto eram próximos desde a infância por causa das suas famílias, apesar de nunca terem sido, exatamente, os melhores amigos do mundo como seus pais propagavam por aí, chegando até a cogitar a ideia incrível dos filhos se casarem no futuro. Katsuki achava graça quando ouvia os absurdos dos pais da melhor amiga, ah, se eles soubessem que ela era lésbica, iria pirar completamente.
Devido a careta desgostosa moldando as feições do namorado, Kirishima respirou fundo e, sutilmente, sua mão encontrou o pulso do Bakugou e seus dedos se fecharam ali.
— Por favor, Blasty, podemos ter uma noite civilizada? — pediu.
— Se ele não abrir a boca pra falar merda, podemos.
— Estou falando sério, Katsuki.
— Eu também estou, Eijirou. — Eles se encaram até ser considerado desconfortável por quem estivesse olhando. Teria continuado, se o funcionário não tivesse interrompido com suas perguntas sobre o tamanho dos seus calçados.
Após todos pegarem os patins, pagando os valores promocionais pela abertura recente do lugar e de serem convidados da aniversariante, foram procurar bancos para poderem se sentar e espaços no armários, onde poderiam guardar possíveis pertences e os tênis que usavam.
— A última vez que patinei foi com a Asui, ela nunca largava a minha mão, porque sabia o quanto eu sou ruim... — Uraraka murmurou e Bakugou viu o quão abalada a amiga estava. Porém, o que chamou a sua atenção foi o olhar fixo de Toga na pista, antes dela se mexer afobadamente, erguendo-se do banco e parando na frente de Ochako, oferecendo as suas mãos.
— Posso te ajudar, não sou tão boa quanto a Tsuyu patinando, mas não vou te deixar cair. — Ela piscou o olho direito, arrancando uma risadinha envergonhada da Uraraka que segurou as mãos da garota em pé à sua frente. Com as pernas bambas, foi seguindo Himiko até a pista de patinação, infiltrando-se no meio das pessoas que já rodopiavam pelo espaço.
— Me pergunto o que a Asui viu nessa garota.
Katsuki — sentado na ponta do banco ao lado do Eijirou —, podendo escutar seu namorado conversando sobre alguma trivialidade com Izuku e Momo, teve um leve sobressalto ao ouvir a alfinetada vinda atrás de si. Ele se virou parcialmente no assento e encontrou o mesmo olhar vidrado no rosto de Fumikage, um vinco nascendo entre as suas sobrancelhas ao observar Ochako e Toga patinando.
— O quê? — perguntou ao colega, sem entender o motivo do comentário anterior.
— Se ela não tivesse namorada a Uraraka, tenho certeza de que estaria viva agora.
— Por que você acha isso?
— Talvez o assassino seja homofóbico. Você não viu as fotos que vazaram? Aquilo me pareceu ter sido feito com muito ódio — Tokoyami comentou, parecendo casual demais. Bakugou não havia visto as imagens, pois achava desrespeitoso com a memória que possuía da garota. — Você sabe, nós saímos antes, se ainda estivéssemos juntos, talvez nada disso tivesse acontecido. — Katsuki sempre esquecia que Tsuyu e Fumikage eram ex-namorados, devido ao relacionamento deles ter durado poucos meses.
— Você parece mais um ex-namorado inconformado — comentou, tentando não parecer tão agressivo com a alfinetada. Tokoyami riu, sem um real humor por trás. — Não tem como ter certeza se ela ainda estaria viva, nem que o crime tenha sido por causa de homofobia. Nós só sabemos que a Asui não era hétero, porque somos amigos dela.
— Mas pareceu pessoal. Você deve, pelo menos, ter ouvido o estado que ela foi encontrada.
É, não teve como escapar daquela informação. Todos os corpos encontrados até o momento, dos adolescentes desaparecidos, tinham algo extremamente em comum além do método: foram extremamente mutilados, ao ponto de os enterros terem precisado ser executados com o caixão fechado, devido o nível de desfiguração do corpo e rostos das vítimas.
— Você é policial agora, para saber se foi pessoal ou não?
— Não, mas meu irmão mais velho é. Além do mais, seu pai também é, deve ter ouvido algo sobre crimes com cunho pessoal. Os corpos acabam bem mais destroçados do que em casos que não são.
— Claro — murmurou, se sentindo desconfortável com o rumo da conversa e o quanto Fumikage parecia aéreo; o olhar vazio, fixo na figura pequena de Ochako. — Mas ainda não temos como saber se foi pessoal, cara.
— Você deve ter razão. — Tokoyami ficou em pé, enfiou as mãos nos bolsos da calça preta e foi deslizando com os patins até parar do lado do colega. — Também tem razão quando diz que pareço um ex-namorado inconformado. Apesar de termos mantido a amizade, eu ainda era, e sou, apaixonado pela Asui. No fundo, eu torcia pelo término; achava que assim ela... — Ele se deteve, engolindo a saliva acumulada na boca, como se completar a frase em voz alta pudesse torná-lo uma pessoa horrível.
— Ela voltaria para você?
— Sim. — Fumikage o encarou Bakugou, cuja as entranhas se remexeram, como se estivessem sendo reorganizadas por algo querendo sair de seu estômago. — Você tem sorte, Bakugou, nunca precisou lidar com a inveja; o ciúmes, de ver a pessoa de quem você ama com outra. Foi difícil continuar gostando da Uraraka quando soube do namoro delas.
— Eu... imagino que sim… — Foi a única coisa que conseguiu dizer, assombrado pela confissão repentina do colega. Tokoyami o encarou uma última vez, antes de seguir em direção a pista.
Demorou para Katsuki ouvir Eijirou o chamando, fazendo o garoto notar que todos os seus amigos já haviam ido patinar, sobrando apenas os dois ali no banco.
— Você parece meio pálido, comeu antes de vir? — Kirishima o questionou, enquanto deslizavam com as rodas até a área de patinação.
— Sim, pai — resmungou e, com a mão segurando o braço do namorado, encenou uma possível queda, apenas para poder tocá-lo sem ser encarado como se estivesse cometendo um crime. — Minha mãe trouxe comida e jantamos juntos.
Todas as vezes em que patinavam, eles colocavam em prática um esquema: um dos dois fingia que era péssimo na atividade, e se apoiava no outro. Estava na vez de o Bakugou fingir não saber e do Eijirou se mostrar um exímio patinador.
— Há quanto tempo você não come algo que não seja comprado?
— Por que quer saber? Pretende mostrar suas habilidades culinárias e cozinhar para o seu futuro marido? — Ele deu um puxão no braço do Kirishima, aproximando os seus corpos. Buscando ficar fora do foco dos outros clientes, eles deslizavam pelas laterais.
— Eu não confiaria muito nisso, com certeza ele vai por fogo na cozinha — Jirou comentou, surgindo, com Yaoyorozu, atrás do Eijirou.
— Eu deveria defendê-lo, mas preciso concordar. — Bakugou viu Kirishima revirando os olhos, mesmo estando ciente da sua capacidade como cozinheiro. — Vai ficar bem longe da cozinha quando formos morar juntos, porque até lavando a louça você consegue ser desastrado.
— Vou ficar com quais tarefas?
— Com a de lavar o banheiro, é claro. Depois pensamos no resto.
Eijirou pareceu concordar e as duas garotas riram.
— No próximo ano, todos nós seremos universitários e vamos alugar uma casinha juntos — disse Momo. Katsuki sentiu o peito apertar ao se lembrar de que estaria, supostamente, morto no ano seguinte. Ele não conseguiria realizar o sonho de morar com seu namorado e as suas duas melhores amigas.
Não podia deixar aquilo acontecer. Ele fez planos, existia uma vida para ser vivida, não podia acabar tão cedo e rápido.
— Espero que esteja certa, Yaomomo — Kirishima gemeu, frustrado ao se lembrar das suas notas anteriores; Bakugou deu um tapinha nas suas costas.
— Deixa disso, Eijirou, você vai se sair bem. — Apesar de não se sentir confiante o suficiente, Kyoka encorajou, tentando levantar o astral alheio.
— Esse é o meu pedido de aniversário, logo, é óbvio que vai se realizar. — Yaoyorozu sorriu. Seus olhos brilhavam com a ideia, porque ter um cantinho para si, aproveitar o lugar sem sentir medo do que pensariam apenas por namorar outra mulher, tendo apenas os seus dois melhores amigos como testemunhas, era um de seus maiores desejos. — E seja lá quem for esse assassino, nem ele, ou ela, pode atrapalhar os nossos planos.
Katsuki se perguntou se mais alguém havia tido a sensação de que estava sendo observado e, ao dar uma conferida no lugar, viu o olhar de Fumikage pairando sobre si.
25/09/2020
Presente
Kirishima encarou a caixa de papelão em cima do sofá; Riot estava tomando sol na varanda após os dois retornarem do passeio matinal. Desde que trouxera os pertences do ex-namorado, ainda não havia mexido em nada, mas, antes de sair — pois iria ao shopping comprar presentes aos gêmeos das melhores amigas —, decidiu rever o que havia trazido consigo. Ele pegou a caixa, deu uma última olhada no seu cão — um salsicha de pernas curtas — e foi para o quarto, ainda assombrado com a lembrança de ter visto Ground com Bakugou no antigo quarto dele.
Uma sala completamente diferente da sua, mais moderna, porém, o mesmo cachorro e uma versão mais velha, madura, do Katsuki. Passou tanto tempo se perguntando como Bakugou seria, caso ele tivesse tido a oportunidade de envelhecer, e agora que possuía a resposta; estava apavorado, porque aquilo significava que outras linhas do tempo existiam e, em uma delas, seu ex havia sobrevivido. Mas e Eijirou? Teria morrido naquela noite? Seu namorado estava certo, e eles estavam vivendo um ciclo sem fim, onde um tentaria sempre salvar o outro, esquecendo-se completamente de como o outro podia vir a se sentir no futuro, por que estavam imersos demais na própria dor de terem se visto morrer e não conseguido fazer nada para mudar isso?
Kirishima sentou na cama e largou a caixa na sua frente, seus olhos o observaram a tampa levemente aberta, dando um spoiler do conteúdo. Havia pegado muitas fotos, algumas que sequer lembrava da existência, mas que haviam ficado com o ex-namorado. Ele nunca teve coragem de pedir à Mitsuki para visitar o quarto do Bakugou, muito menos, pedir qualquer coisa que pertencesse ao falecido filho dela.
Agora que teve a oportunidade, tentou não ser invasivo demais, entretanto, as poucas coisas trazidas consigo foram o suficiente para acalentar o peso em seu peito.
Além das fotos — uma variação do Katsuki sozinho, consigo e com os amigos deles —, Eijirou também recuperou duas figures de Red Riot e Ground Zero, dadas por ele à Bakugou, no segundo aniversário de namorado deles, após torrar três meses de mesada economizada. Elas eram muito semelhantes as que o próprio Katsuki lhe deu, no mesmo aniversário de namoro, e agora fariam parte da sua pequena coleção ao lado das que pertenciam-lhe há anos.
Mitsuki manteve poucas roupas do filho, ficando com as mais significativas, sendo uma delas uma camiseta do Metallica, cujo a estampa estava tão desbotada — porque a mulher lavava esporadicamente a peça —, que era quase impossível ler os nomes das cidades que fizeram parte da turnê da banda naquela época. Kirishima sorriu, tendo certeza de que se o namorado estivesse vivo, teria amado Slipknot e as demais bandas que surgiram após a sua morte. A camiseta servia em si — por ser um número exageradamente grande —, sendo a única roupa que decidiu levar embora, , mas não conseguiu mantê-la vestida por muito tempo. Ele quis levar a camiseta preta com a caveira também, contudo, o olhar de Mitsuki na peça o impediu, ele não poderia tirar aquilo também dela.
Retirou alguns quadrinhos e livros — todos contendo marcações feitas por Bakugou —, tendo certeza de que a caixa deveria estar completamente vazia, mas um papel escapou de um dos livros e caiu no fundo, chamando a sua atenção. Ao pegá-lo, Eijirou notou que era mais uma foto.
Kirishima engasgou um grito ao ver que era uma fotografia sua, porém, a imagem parecia borrada, como se tivesse sido tirada no reflexo de um lago, igual a quando viu Bakugou em seu antigo quarto, pelo espiral estranho na parede. Era ele; uma expressão surpresa enfeitava o seu rosto, mas não a sua versão adolescente, e sim a adulta, com quarenta e oito anos. Embaixo, no espaço costumeiro deixado pelas polaroides, estava a data 25/09/1990, com os zeros cortados ao meio.
Ou seja, a foto havia sido tirada hoje, só que trinta anos antes.
Algo no seu interior se remexeu, Eijirou enfiou a polaroide no livro que ela havia sido guardada nos últimos anos e o deixou largado em cima da cama. Sentia suas mãos queimando, o coração acelerado, como se algo muito ruim estivesse prestes a acontecer.
Aquela foi a deixa para ele se despedir do Riot e sair da casa.
O shopping estava cheio, o que estranhamente apaziguou o sentimento de pânico crescendo no seu peito. Kirishima focou nos presentes, daria alguns conjuntos — ou tentaria combinar o máximo possível — de roupas para as crianças, porque isso agradaria as mães, só que também presentearia os gêmeos com brinquedos, se gabando posteriormente sobre o quanto conhecia os gostos deles.
Por ser uma sexta-feira, o local estava relativamente cheio. Eijirou tentou manter a mente nas compras e nas tarefas que teria no dia seguinte, ao ajudar Momo com a decoração da festa surpresa dos seus filhos, ignorando o sentimento borbulhando no pé da sua barriga.
Contudo, no corredor das bonecas da Disney, sua vagou até a foto: então, Bakugou do passado, passou a acreditar em si? Porque ele tinha uma prova concreta de que estava falando com Kirishima do futuro. Será que aquilo significava que estava indo pelo caminho que considerava certo, criando uma nova linha temporal? Ou sabe se lá como essas coisas funcionavam. Havia até a chance de acabar desaparecendo, como havia visto em algumas produções.
Precisava, urgentemente, conversar com algum dos seus colegas nerds, mas não era próximo de ninguém além de Jirou, e não estava preparado para ser visto como maluco por ela. Por outro lado, ainda havia alguém, Eijirou percebeu e quase deixou a caixa — contendo bonecas da versão humana da Fera e da Bela, ambos sendo do filme live action lançado alguns anos atrás, da cena do baile — cair no chão:
Shinsou Hitoshi.
Aquela era a dica que o homem do telefone vinha tentando dar? Kirishima deveria procurar Shinsou, certo? Se não fosse isso, por qual outro motivo ele citaria o divórcio dos pais do Bakugou?
Será que... estava conversando com Hitoshi da outra linha temporal, que o levava a buscar o Shinsou da sua própria realidade? Faria sentido, ele era mais próximo do Katsuki na época da escola. Será que sabiam sobre o parentesco? E se os dois eram irmãos — mesmo que só por terem o mesmo pai —, ainda poderiam ter comportamentos semelhantes, o que explicaria porque o desconhecido agia exatamente como ele, além de saber o motivo de tornar as coisas mais confortáveis para si, ao se comportar como o seu ex-namorado.
Mas por quê? Quais motivos Hitoshi teria para lhe ajudar? E como ele faria isso?
Eijirou bateu a caixa na testa; Bakugou com certeza teria ligado os pontos muito mais rápido.
Agora, onde encontraria o meio-irmão do seu ex-namorado? Estudaram na mesma universidade e não o via desde que se formou em Administração. Não poderia contatar Denki — vagamente sabia que os dois ainda se falavam —, apesar de manterem contato mesmo após o término, seria esquisito. Nem cogitava perguntar a Mitsuki ou Masaru sobre Shinsou, o que restava... bom, as redes sociais, mas seria estranho se chegasse sendo tão direto.
A menos que o Hitoshi da sua linha temporal, de alguma forma, soubesse o que estava acontecendo e o estivesse esperando entrar em contato. O que, definitivamente, seria ainda mais bizarro, levando em consideração que Kirishima nem ousava pensar em como a situação podia ficar ainda mais inusitada.
Depois de pensar por mais tempo do que o aceitável — no corredor da Disney —, foi em direção ao corredor dos carrinhos e pistas de corrida elaboradas. Após efetuar o pagamento dos brinquedos, se retirou da loja de brinquedos e foi atrás de alguma que vendesse roupas. Sabia mais ou menos o que agradaria as suas amigas e os filhos delas ao mesmo tempo: o garoto e Momo gostavam de tons mais pastéis e a menina e Kyoka preferiam tonalidades escuras.
— Kirishima? — Ao ouvir o chamado, virou a cabeça na direção da voz. — É você mesmo, quanto tempo!
— Uraraka, oi. — Eijirou não mantinha contato com muitas pessoas que estudaram consigo, a única constância em sua vida eram Yaoyorozu e Jirou. Entretanto, as mulheres haviam cultivado mais amizades daquela época do que ele, e Ochako era uma dessas pessoas. Os dois se viam de forma esporádica e sempre se encontravam quando Momo e Kyoka davam algumas festas, fosse para si mesmas — em seus aniversários —, ou em comemoração à data de nascimento dos seus filhos. Portanto, a última vez em que se viram foi no ano passado.
Apesar de Yaoyorozu ter completado quarenta e nove anos, dois dias antes, Kirishima havia apenas mandado uma mensagem de felicitações, porque levaria o presente da amiga e a veria apenas no dia da festa dos filhos, já que ela estava extremamente ocupada na delegacia por causa de casos recentes envolvendo desaparecimentos.
— É bom te ver, como tem passado? — Ele sabia, antecipando a resposta da mulher, que para ambos, aquela época do ano era difícil. A diferença era que Uraraka levava um pouco melhor a morte de Tsuyu, apesar de haver algo a mais. Na época da universidade, ela e Izuku estavam namorando e ele foi uma das vítimas antes do serial killer ter sido pego. Ochako foi acometida pela perda de dois ex-namorados, em um período relativamente curto de tempo.
— Eu estou bem, muito tempo se passou, hoje lido melhor com as minhas perdas. — A mulher mexeu nas roupas largadas em seu antebraço, mas sua cabeça estava erguida, encarando o ex-colega de classe. — Como você está? Eu lembro que essa época do ano não é fácil, ainda mais porque foi no dia do seu aniversário.
— Já tem algum tempo que eu consigo não chorar nessa data. — Ele brincou, arrancando um sorriso tímido dela. — Todos os anos eu visito o túmulo dele. Costumo me perguntar como as coisas seriam se o Katsuki estivesse vivo.
— Eu me faço a mesma pergunta. — Como se quisesse dizer mais alguma coisa, Uraraka pareceu ponderar por um momento, entretanto, algo parecia impedi-la. — De qualquer forma, você veio aqui comprar presente para os gêmeos?
— Eu vim e você? Está aqui pelo mesmo motivo? — Eijirou evitou comentar o quanto o comportamento dela estava esquisito.
— Estou sim, mas parte dos presentes eu comprei semana passada. — Ela fez uma pausa, voltando a remexer nas roupas escolhidas. — Você já almoçou? Eu ia fazer isso depois de pagar. O que acha de me acompanhar, como nos velhos tempos?
Mesmo que já tivesse feito uma refeição, ele teria concordado. Kirishima gostava de Ochako, ela conseguia entendê-lo como nenhum dos seus amigos o fez na época em que perdera Bakugou, afinal, os dois foram um apoio enorme ao outro após o funeral do seu ex-namorado. Por outro lado, no dia em que a morte do Izuku foi noticiada, os dois estavam juntos, Uraraka estava angustiada por não saber o paradeiro do — na época — namorado e ao descobrir, o mundo dela parecia ter sido destruído pela segunda vez; Eijirou não conseguiu ajudá-la a reconstruí-los. A mulher havia ficado tão devastada que se afastou de todos os amigos, andava feito um zumbi pela universidade e evitava qualquer tipo de contato, o que a levou a ficar um semestre inteiro de DP e trancar o curso posteriormente, tendo se formado um semestre mais tarde do que os demais. Foi naquela época que os afastou, contudo, o homem ficava feliz em saber que a amiga havia retomado a amizade com Jirou e Yaoyorozu.
Após efetuarem o pagamento no caixa, atualizando o outro de como as suas vidas andavam, eles saíram da loja e foram até a praça de alimentação. Enquanto esperavam os seus pedidos — sentados um de frente para o outro —, Kirishima notou o anel solitário juntamente da aliança no dedo anelar de Uraraka, e se lembrou que nem todos os amigos da mulher haviam sido afastados na época da morte do Midoriya: Toga Himiko permaneceu, e elas engataram em um relacionamento alguns anos depois. Ele descobriu em uma das festas de aniversário que Momo insistia que Kyoka desse para comemorar a data. Eijirou nunca foi próximo de Himiko, ela era mais amiga do Katsuki e dos outros, mas algo na forma como a mulher parecia sempre estar rondando Ochako o incomodava. Era como se Toga fosse a sombra de Uraraka; além de ele achar a mulher sinistra, pela vezes em que a flagrava olhando tão fixamente para a amiga, parecendo tão centrada nela que mal piscava e não notava as coisas acontecendo ao seu redor.
— Toga e você noivaram? — perguntou, depois das suas divagações silenciosas.
— Ah, sim. — Ela sorriu, levemente impressionada ao encarar os anéis enfeitando o seu anelar. — Dá pra acreditar? Depois de tantos relacionamentos fracassados, achei que estava muito velha para essas coisas, mas fui dar certo justo com a minha melhor amiga, quem diria?
— Fico feliz por vocês.
— Quanto a você e o Todoroki? Como as coisas estão?
— Nós terminamos, e foi pelo mesmo motivo que terminei todos os meus antigos relacionamentos. — Demonstrando compreender, Ochako agarrou a mão do Kirishima por cima da mesa. — Eu nunca... Depois do Katsuki, eu nunca consegui me apaixonar por outro homem. Por mais que eu tente, acho que parte de mim ainda está congelada em trinta anos atrás. Só sinto muito por ele; Shoto disse que... é apaixonado por mim desde o ensino médio, acredita? — Ele riu, tentando soar descontraído e esperava a mesma resposta dela, uma risadinha, até um sorrisinho constrangido estaria bom, porém, ela ficou subitamente séria — ainda com o polegar acariciando as costas de sua mão — quando respirou fundo.
— Kirishima, acho que você é a última pessoa a descobrir isso. Todo mundo sabia na época da escola.
— Então, você está me dizendo que o Katsuki sempre esteve certo em ter ciúmes do Shoto?
— Não exatamente certo, mas ele tinha os seus motivos. É como a Himiko, ela me falou a mesma coisa quando começamos a namorar e disse o quanto morria de ciúmes dos meus ex-namorados.
Um arrepio percorreu a espinha do Eijirou com tal informação e ele voltou a se lembrar do olhar vidrado, tão fixo em si que parecia ver a sua alma; saber todos os pecados que a sua versão de dezenove anos havia cometido. Mas e todo aquele vermelho? Kirishima sabia que não era apenas sangue, havia algo a mais ali: uma peça de roupa? Sapatos? Cabelo?
Os olhos do homem que foi preso como o serial killer daquela época são azuis, tão claros quanto o céu em um dia sem nuvens. Aquele olhar não era tão azul e nem como o de quem esteve presente naquele dia — o seu maldito aniversário dezenove anos —, Eijirou teria reconhecido imediatamente, porque era a única coisa que ele conseguia se lembrar daquela fatídica noite.
Durante madrugadas ruins, Kirishima sentia que estava sendo observado pelos mesmos olhos da pessoa que matou Bakugou. Ele era atormentado pelas lembranças escondidas na sua memória, sem conseguir evocá-las e se tornar uma peça útil na investigação. Aos poucos, soube o quanto havia se afogado no luto interrompido, na depressão e em suas crises de pânico com a chegada do horário noturno e do silêncio em seu apartamento. Devido a tudo, adotou Ground Riot; não suportava viver sozinho. O som das patinhas, dos grunhidos e latidos, a festa que seu cão fazia quando chegava em casa e até o barulho do animal comendo e bebendo água o ajudaram a sair daquela situação deplorável.
Uraraka foi quem buscou os pedidos.
— ♡ ♡ —
Deixando os presentes — pacotes devidamente embalados com papéis coloridos tendo estampas infantis — em cima do balcão, Eijirou cumprimentou Ground, limpou a varanda e arrumou as vasilhas do cão; o salsicha sempre muito fominha. Kirishima pensou no hábito do animal de sempre esconder a ração nas primeiras semanas que foi morar com seu dono, levando-o a lembrar vagamente da conversa que teve com os responsáveis da feira de adoção e da ONG que os animais dispostos ali viviam. A moça contou que Riot viera com seus irmãos e a mãe, após uma denúncia, pois a sua família era abusiva e deixava os bichinhos passarem fome. Demorou algum tempo até Ground largar tal mania, relaxando de vez, apenas quando teve certeza de que Eijirou não faria o mesmo que os seus antigos donos. A memória levou o homem a ficar alguns minutos brincando com o animalzinho, dando-lhe o máximo de atenção possível, porque não queria que ele se sentisse perdido como seu dono estava.
Mesmo depois de ter tomado banho, Kirishima ainda pensava na conversa que teve com Uraraka. A chuva estava forte do lado de fora, tendo começado no exato segundo em que os portões do prédio se fecharam atrás do seu carro. Ele observou a água caindo pela janela do quarto; a caixa vazia onde havia trazido as coisas do ex-namorado ainda estava em cima da cama, assim como o livro contendo a sua fotografia.
Não sabia como proceder, e o telefone não podia ter tocado no pior momento possível, mas Kirishima não conseguiu ignorar; em um piscar de olhos, estava segurando o fone fora do gancho, esperando ansiosamente por qualquer tipo de contato vindo do outro lado.
— Meu telefone não está com problema — Bakugou disse. — Fui até uma assistência técnica, o cara foi legal e não me passou a perna. Ele falou que o meu telefone queimou. Não era pra essa droga estar funcionando, Stalker. Quando eu pareci incrédulo demais para falar, ele até conectou na tomada e me mostrou o quão morto essa merda tá. Só que quando cheguei em casa e fiz a mesma coisa, a linha estava de volta. Então, talvez... eu acredite em você, porque não tenho outra explicação para esse fenômeno, e se eu comentar com alguém, vão me chamar de maluco.
— Se você não fosse tão cético, não teríamos perdido tanto tempo comigo tentando te convencer de que eu não sou um stalker tarado que te persegue.
— Você que é idiota e acredita muito fácil nas coisas. Mas como eu ia imaginar que uma merda dessas fosse possível?
— Eu quis acreditar, porque sinto a sua falta, Katsuki. Vai completar trinta anos que eu te perdi, e sinto saudades como se tivesse acontecido ontem.
— Eu... sinto muito. Você sabe que eu não queria ter morrido, né? — Bakugou sorriu do outro lado da linha ao escutar a risada do Eijirou, pois soava idêntica a do seu namorado, tendo apenas uma nuance mais grave e cansada no som. — Liguei mais cedo, você não atendeu, queria saber e fiquei me perguntando se foi visitar o meu pai...
— Ainda não criei coragem de visitar o Masaru, quando acontecer, eu te conto. Mais cedo eu... fui ao shopping comprar o presente dos gêmeos da Kyoka e da Yaomomo.
— Elas ainda estão juntas e tiveram filhos? — Katsuki arregalou levemente os olhos, visto que havia a dúvida se as suas amigas conseguiriam manter o relacionamento após a formatura.
— Houve uma época em que terminaram, mas reataram. Sim, elas adotaram um casal de gêmeos que vão completar dez anos amanhã.
— Você teve filhos?
— Se você considerar o meu cachorro, sim, eu tenho um filho.
— Claro, qual o nome dele? Não me diga que você inventou de botar Red Riot?
— É Ground Riot. Eu pensei que... juntar os nomes dos heróis seria um acordo em que nós chegaríamos.
— Você estava pensando em mim quando decidiu o nome do seu cachorro? Isso... Obrigado, senhor Stalker. Mas eu colocaria Red Zero.
Kirishima ficou chocado, porque era o mesmo nome que o Bakugou da sua visão havia chamado o seu cachorro. Ele queria ver novamente e olhar o rosto do Katsuki com atenção, o que dessa vez, aconteceu tão rápido, que nem tivera a chance de...
A chance do quê? Gritar e perguntar se aquela versão do namorado estava tentando salvar a sua de dezenove anos e pedir que não fizesse isso, porque preferia estar morto a suportar um futuro sem ele?
— Consigo te escutar ainda, está chorando?
Notou que sim, estava.
Eijirou limpou as lágrimas das bochechas e respirou fundo, trêmulo; ele estava prestes a se sentar na cama quando notou uma ondulação sutil na sua parede e a luz acabou. A ligação ainda acontecia.
— Quando fui ao seu antigo quarto, algo estranho aconteceu. Eu vi uma versão mais velha sua, por causa de uma espiral estranha na parede. — Apertando os lábios, ele se aproximou da anomalia. — Acho que está acontecendo de novo.
— Isso soa como papo de maluco, mas levando em consideração que estou conversando com você mesmo com meu telefone pifado, devo estar louco também. Vai tocar nisso? — Em seu quarto, Bakugou se mostrava impaciente com a perna balançava freneticamente. — Ei, senhor Stalker? Não continue na ligação me ignorando! — esbravejou, estava sozinho em casa e não precisava conter os ânimos.
— Sim — Kirishima respondeu de forma vaga, com o rosto a apenas alguns centímetros da espiral. Era idêntica a que havia visto antes, mas diferente de outrora, não hesitou, tocou na ondulação e quase se afastou devido ao choque da sua mão ter atravessado alguns centímetros na parede. O retrato redondo expandiu alguns centímetros inicialmente e a imagem do outro lado, antes embaçada, começou a tomar forma devagar.
Katsuki ia chamá-lo mais uma vez, entretanto, foi interrompido pelo que parecia ser o som de água corrente e logo uma luz forte na parede do seu quarto chamou a sua atenção. Ele se virou na direção — o fone ainda pressionado em sua bochecha — e os seus olhos dobraram de tamanho, assim como os da figura familiar a sua frente, envolto por uma moldura de corpo toda em um formato oval.
— Que merda... — Se deteve ao ver o telefone vermelho nas mãos do homem à sua frente: era Eijirou, uma versão mais velha do seu namorado, mas ainda era ele.
— Katsuki?
Bakugou quase largou o fone. Apesar de não ter escutado o homem falando, viu seus lábios se mexerem e ouviu a voz dele pela ligação.
— Caralho.
Para Kirishima, em sua linha temporal, ele viu e ouviu a mesma coisa.
Em um pulo, Katsuki aproximou-se da estranha anomalia na parede do seu quarto e, como aquela versão do namorado era alguns centímetros mais alta, foi obrigado a erguer levemente a cabeça. Agora, os dois se encaravam, segurando seus respectivos telefones e observando o passado e o futuro.
— Então é verdade, você é mesmo o Eijirou.
— Eu te disse que não era nenhum stalker tarado.
Bakugou riu e a sua mão, largada ao lado do quadril, hesitou; as pontas dos dedos se contorceram em direção a palma.
— Eu preciso tirar uma foto disso.
— Eu sei, encontrei essa foto em um dos livros que peguei do seu quarto.
Katsuki engasgou um som irritado no fundo da garganta e buscou sua câmera — de fotos instantâneas — embaixo da cama, guardada em uma caixa de papelão onde dezenas de fotos tiradas desde que ganhara o eletrônico ficavam. Ele apoiou o fone entre o ombro e a lateral do rosto, sentou na cama e posicionou a polaroide. Kirishima permaneceu parado, mas diferente da foto que havia visto mais cedo, dessa vez ele estava sorrindo, e não com a expressão assustada da imagem fotografada trinta anos atrás.
— O que fazemos agora? — perguntou, sem encarar Eijirou, pois estava com os olhos fixos na foto aparecendo lentamente depois de ter sido impressa pela câmera.
— Eu não sei, mas te ver agora é tão... bom. É diferente de olhar fotos. — Bakugou ergueu a cabeça e não gostou de ver como Kirishima parecia desolado. Era assim que seu namorado parecia após a sua morte?
— Quanto tempo isso dura?
— Não faço ideia, durou pouco da primeira vez. — Eijirou sentiu sua mão começando a ser expulsa da anomalia, mordeu o lábio inferior, mas tentou sorrir: precisava, ainda mais agora, salvar a vida do Katsuki. — Você pode me prometer uma coisa?
— O que... o que você quer? — Não soou grosseiro como das outras vezes, uma vez que ainda parecia perplexo com a verdade sendo esfregada na sua cara.
— Não banque o herói, porque foi assim que você morreu. Não tente me salvar, por favor, Katsuki. Eu quero ir no seu lugar.
— Por que os dois não podem ficar vivos, Eijirou? Por que preciso escolher entre me salvar ou te salvar?
— Porque eu não sei se existe uma linha do tempo em que nós dois estamos vivos. Você deve ter razão, estamos em um looping e a única forma de sairmos dele, é se um de nós ceder. — Largando a câmera e a foto na cama, Bakugou se ergueu rapidamente ao ver a moldura retrocedendo rapidamente. Kirishima estava chorando de novo, mas, dessa vez, ele sorria e isso partiu ainda mais o coração do Katsuki, que tropeçou nas próprias pernas até conseguir alcançar a parede, como se pudesse impedir que anomalia se fechasse completamente. — Se você realmente ama o Eijirou da sua linha temporal, por favor, você precisa ceder.
— Não, Eijirou-
Diferente da última vez, a mão do Eijirou não foi a única parte expelida pela espiral com o seu fechamento abrupto: o seu corpo foi jogado com força para trás. Ele xingou alto ao bater as costas e a cabeça no chão; a energia retornou e a linha telefônica ficou muda.
26/09/2020
Presente
O telefone não estava mais funcionando. Deveria ser assim desde o início, apenas um item de decoração, mas por que encará-lo machucava tanto ao ponto de Kirishima precisar enfiá-lo na gaveta da cômoda? Havia feito o que estava ao seu alcance, trinta anos os separavam e ele não conseguiria parar o assassino; dependeria completamente do que Bakugou sabia e pretendia fazer com as informações que tinha agora, mas ainda assim, Eijirou sorriu, analisando a polaroide em suas mãos. A foto realmente havia mudado, porque agora ele sorria de volta para si, quase conformado com o que aconteceria a seguir.
Guardando a polaroide no livro em que havia a encontrado anteriormente, Kirishima saiu do quarto, se despediu do Ground e, pela primeira vez, começou a cogitar seriamente adotar outro cachorro para que o seu atual não ficasse tão sozinho. Lembrou-se do que Shoto havia dito, sobre a feira de adoção e, por mais que não tentasse pensar no policial, algo no comportamento alheio vinha o incomodando, em especial após ver o telefone que pertenceu a Katsuki na casa dele. Ou seria aquele a réplica? Se fosse o caso, por que Todoroki possuía algo assim?
Tendo aqueles pensamentos em mente, Eijirou dirigiu até a casa em que Yaoyorozu e Jirou viviam. Momo estava de folga e seus filhos não sabiam disso, portanto, Kyoka levaria o pretexto como desculpa para sair com eles, deixando os olhares curiosos das crianças longe da residência, dando a sua esposa e ao melhor amigo tempo para decorarem.
Ao parar em um sinal vermelho, mandou uma mensagem para a policial, alertando-a da sua chegada. Não foi uma surpresa encontrar o portão da garagem aberto e a mulher na frente, apenas o esperando.
— Como a minha tenente favorita está? — ele perguntou, após sair do carro e ver Yaoyorozu entrando na garagem. O portão se fechava atrás dela lentamente.
— Cansada. Não dormi nada nos últimos dias por causa dos desaparecimentos recentes.
— Conseguiram chegar a alguma conclusão?
— É muito precipitado, mas encontraram outro corpo e achamos... — Parecendo ponderar se continuaria falando ou não, Momo bateu levemente o controle do portão no queixo. — Que é um serial killer.
Eijirou sentiu o seu estômago embrulhar. Algo estava errado.
— Eu estou te contando isso, porque quero que se cuide, está bem? — Yaoyorozu tocou nas costas do amigo e o guiou até a porta que dava acesso ao interior da casa. — Desde que o primeiro corpo foi encontrado, vimos que existe um padrão nas pessoas desaparecidas posteriormente, mas o mais estranho é que não é um padrão físico, como costuma acontecer.
— O que é, então?
— Bem... Você não anda vendo muito o noticiário ultimamente, né?
— Desde aquela época, eu evito. Por quê? Tem algo que eu precise saber?
— Eijirou, as pessoas que estudaram conosco no ensino médio estão sumindo. Essa é a única coisa que interliga as vítimas, todas estudaram juntas na mesma escola e no mesmo período.
— Está acontecendo de novo? Pela terceira vez?
— Infelizmente, quatro pessoas desapareceram e dois corpos já foram encontrados, mas não sabemos se é alguém querendo copiar ou... — Ela hesitou na soleira da porta, Kirishima deu alguns passos à frente, mas parou e girou nos calcanhares, tendo uma visão ampla do quanto o rosto da sua amiga parecia sombrio. — Eu revisitei os casos antigos, mesmo sob o protesto do Shoto, porque está tudo estranho, entende? Mesmo se fosse um copiador, tem algo errado e o Todoroki não quer aceitar a minha teoria.
— Não me diga que...
— Sim, eu acho que prenderam o homem errado; desde a época do julgamento, na verdade. Acho que o serial killer dos anos noventa ainda está solto. Só sinto medo, entende? Eu tenho dois filhos agora, mas não posso ignorar o que está gritando bem na minha cara, porém… sinto que pode acontecer comigo o mesmo que aconteceu com o Iida.
— Momo, não... meu Deus, não diga isso! — Eijirou se aproximou da amiga e segurou seus ombros, conseguindo sentir a tensão nela.
— Eijirou, estou fazendo a mesma coisa que o Iida, quando os desaparecimentos voltaram a acontecer anos atrás e os corpos foram sendo encontrados: ele revisitou os casos e achava que tinham prendido o homem errado. Ele morreu um mês depois de revelar essa teoria para o nosso capitão da época, e ninguém quis escutá-lo, só para descobrirem depois que o Iida estava certo! — A mulher se mostrou exasperada, a voz subiu alguns tons e ela bateu os punhos fechados na testa. — Eu sinto medo por mim, pela Kyoka e por você. — Seu tom suavizou e ela encarou o melhor amigo, exibindo um misto de horror, preocupação e amor em seus olhos.
— Você não vai abandonar esse caso, não importa o que eu diga, não é? — A tenente negou com a cabeça e a frustração queimou a garganta dele; não suportaria perder outra pessoa importante. — Momo... se cuida, por favor. — Kirishima puxou o corpo menor de Momo em sua direção, e a mulher enlaçou a sua cintura com os braços, apoiando a lateral do rosto em seu peito. O abraço compartilhado acalentou os seus corações frenéticos. — A Kyo sabe?
— Ainda não tive coragem de contar a ela, mas minha a mulher é esperta; Kyoka sabe mais ou menos que tem algo rolando. Eu estou me cuidando, porque não suporto a ideia de a Kyo ficar como a Hatsume... — Ou como você, ela pensou, mas não disse em voz alta, porém, o amigo sabia e sentia o mesmo, afinal, não queria que ninguém ficasse tão miserável quanto ele.
— Ah, ela era noiva do Iida, não era? Não lembro muito, mas sei que ela também estudou conosco, só que em outra classe.
— Era sim. Ela ficou desolada na época, eté hoje, acredito que isso ainda a assombre. Hatsume também... acho que enlouqueceu um pouco. A última vez que a vi, ela me falava sobre viagem no tempo e como estava próxima de conseguir algum resultado. — Kirishima sentiu o corpo congelando, e se Yaoyorozu notou, não disse nada.
A cientista maluca que o desconhecido havia falado no telefone e o seu problema com o luto.
— Parece que alguém está a ajudando com essas ideias malucas, sinceramente... — Ela respirou fundo, apertou a cintura alheia e se afastou. — Bem, obrigada por ouvir o meu desabafo, eu achei que ficaria maluca se não falasse com alguém além do Todoroki sobre a minha teoria.
Alguém? Seria a versão dessa linha temporal do homem que falava consigo no telefone? Poderia ser Shinsou?
— Não contou a ninguém além dele?
— Ele me proibiu. Disse que precisamos investigar isso bem, antes de criar um possível pânico na delegacia.
— Obrigado por confiar em mim, Yaomomo. Pode sempre contar comigo. — Entre os fios curtos da franja na testa de Momo, Kirishima deixou um cálido beijo. — Agora, por que não focamos em outra coisa? Temos um jardim para decorar! — Ele agarrou as mãos da amiga e foi puxando-a em direção aos fundos da casa, sabendo de cor e salteado o caminho por, praticamente, essa ser a sua segunda casa.
A casa das amigas era onde Eijirou sabia que poderia procurar um refúgio quando estivesse mal, ou nos momentos em que a saudade do Katsuki apertava tanto que era insuportável, apesar de a frequência na qual procurava as suas melhores amigas tenha diminuído consideravelmente nos últimos anos. Inicialmente, queria dar privacidade às mulheres com seus filhos — após a adoção ter sido concluída —, e mesmo sendo extremamente bem-vindo por toda a família, optou por lidar com seus pensamentos acelerados, a dor e as memórias daquela noite sozinho. Só que não conseguiu aguentar muito tempo, decidindo adotar Ground Riot e voltar a terapia.
Ajudou, e ele passou a não ser tão dependente das melhores amigas, ou necessitar estar sempre acompanhado — motivo que o levou a pular de relacionamento em relacionamento, raramente ficando mais do que quatro anos solteiro após o falecimento do Bakugou —, fosse por amigos, colegas do trabalho ou seus ex-namorados. Kirishima ainda sentia um vazio enorme dentro de si, porém, passou a ser mais suportável. E, depois ter tido uma última oportunidade de ver Katsuki e falar com ele, imaginava que finalmente poderia seguir em frente.
Eijirou apertou sutilmente a mão de Yaoyorozu antes de soltá-la; eles haviam alcançado a porta que dava acesso aos fundos da residência. Por sorte, uma grande parte da área era coberta, não havendo a necessidade dos convidados se concentrarem, em sua maioria, dentro da casa.
— O tema da festa é... fadas e super-heróis? — A sobrancelha direita subiu levemente ao ver a decoração dentro das grandes caixas de papelão.
— Eles entraram nessa fase, o que nós podemos fazer? — A policial deu de ombros. — Aliás, trouxe roupas para se arrumar aqui, né? Não vale a pena ir para casa só pra isso.
— Está tudo no carro ainda. Vai ser como nos velhos tempos.
— Nós morávamos naquele cubículo, você mal cabia no banheiro. — Eles riram, revivendo memórias da época de universitários.
Durante a maior parte da formação deles, os pais da Yaoyorozu achavam que Jirou era sua melhor amiga — fato do qual não estavam, exatamente, enganados — e Eijirou o namorado dela, por isso os três andavam sempre juntos. O trio demorou para negar, porque era cômodo e não trazia dores de cabeça a nenhum deles. Acabou sendo um choque quando a realidade veio à tona. Os pais da Kyoka abraçaram o casal real facilmente, entretanto, demorou uns bons anos para o senhor e a senhora Yaoyorozu aceitarem a filha e sua namorada. Atualmente, as duas famílias se davam bem e seus pais eram avós extremamente cuidadosos, mimando até mais do que deveriam os seus netos e noras.
— Eu sinto falta, acredita? Mesmo com pouco dinheiro e acomodações que não eram exatamente confortáveis, bate aquela saudade quando revejo fotos antigas.
— Em noites que consigo voltar para casa antes da Kyo estar apagada na cama, nós relembramos esses momentos e também sentimos falta. — A mulher começou a retirar as decorações das caixas, obtendo ajuda do melhor amigo no processo. — Também me questiono se as coisas teriam sido muito diferentes, caso eu me formasse em engenharia.
— Você se arrepende?
— Não. — Momo foi enfiando as caixas vazias dentro das outras; seus gatos fariam a festa mais tarde com o tanto de papelão ao dispor. — Eu disse que honraria o sonho do Katsuki de se tornar policial, e o fiz. Meu único arrependimento é não o ver no dia da formatura da academia, acho que ele teria ficado incrível como orador da turma, ao invés de mim. — A cada palavra, Yaoyorozu não conseguiu controlar a voz, saindo mais trêmula pelo choro contido. Kirishima largou a caixa vazia dentro da mais próxima e se aproximou da melhor amiga, tocou os ombros dela e beijou sua testa.
— Katsuki teria ficado orgulhoso por você, não só por ter sido a oradora e a melhor aluna da classe, mas por ser tenente atualmente. — Ele a sentiu apoiar a bochecha em seu peito. Momo era uma mulher alta, entretanto, parecia tão pequena dentro do seu abraço, semelhante ao momento em que se abraçaram durante o funeral do Bakugou.
— Mas não resolvi me tornar policial só para realizar o sonho do meu melhor amigo... — Os dedos dela tocaram na cintura do Kirishima e se enrolaram na camiseta com um sutil cheiro de amaciante. — Eu queria ajudar no caso e pegar o assassino dele. Só que quando aconteceu, apesar de ser uma novata, não senti absolutamente nada. Parecia... errado. A teoria do Iida só confirmou ainda mais as minhas paranoias, e com esse novo caso, acredito que essa história não tenha terminado ainda e estou aterrorizada.
— Gostaria de poder te ajudar, mas não faço ideia de como.
— Só... Se você lembrar de algo, me conte primeiro, okay? — Eles se afastaram, o olhar cúmplice foi o suficiente para que entendessem. — Melhor voltarmos a arrumar aqui, os convidados vão chegar logo.
— ♡ ♡ —
— Surpresa! — os convidados gritaram com o surgimento de Kyoka, Eri e Izumi. Jirou sorriu, tendo um filho emburrado por terem assustado a sua irmã, que havia agarrado a parte de trás da camiseta do gêmeo, observando as pessoas presentes por cima do ombro dele.
Eri só conseguiu sorrir ao encontrar Eijirou e Momo no meio do amontoado de gente; a expressão do Izumi suavizou ao ver sua mãe e o padrinho.
Apesar dos gêmeos não serem sociáveis, por motivos completamente diferentes, eles possuíam alguns amigos próximos que logo saíram do aglomerado para parabenizá-los devidamente. Kyoka pode se afastar brevemente, indo de encontro a sua Yaoyorozu e o amigo, mais próximos a mesa decorada.
— Fizeram um bom trabalho — Jirou disse, após estalar um beijo nos lábios da esposa. — Izumi estava desconfiado, ele disse o tempo todo que lembrava de você não ter sido escalada para trabalhar hoje.
— Ele é muito observador, me lembra muito o Katsuki — Eijirou comentou, conseguindo tirar risadinhas das mamães.
— É tão ranzinza quanto ele, às vezes. Poderia facilmente ser um filho perdido do Katsuki — Momo falou, com o olhar acompanhando seus filhos sendo cumprimentados pelos demais convidados; os quatro avós estando entre as pessoas que queriam parabenizar os gêmeos por mais um ano de vida. — Eri é mais doce, ela me lembra você, Eijirou.
— Acho ela muito mais parecida com você, Momo — ele rebateu.
— Queria que ele estivesse aqui — sem citar nomes, Kyoka murmurou, porque sua esposa e melhor amigo saberiam de quem se tratava. Silenciosamente, eles concordaram. — Tento pensar como as coisas seriam, e recrio algumas memórias com a presença dele. — Ela esfregou os cantos dos olhos; a risada saindo sem som. — Acho que ele se daria tão bem com as crianças...
— Katsuki dizia que não gostava de crianças, mas aposto que iria adorá-los. — Kirishima refletiu. — Mas hoje não é um dia para ficarmos tristes.
— Tem razão — Yaoyorozu concordou e deu batidinhas no ombro de cada um. — Vamos aproveitar esse momento, não é sempre que temos um tempo calmo como esses, porque tenho certeza de que a delegacia vai estar uma loucura na segunda.
Eijirou notou a expressão estranha no rosto da Jirou, mas não comentou, julgando que poderia apenas ser a sua imaginação falando mais alto devido aos últimos acontecimentos.
Portanto, a conversa foi finalizada e eles se dispersaram pela área; Kirishima enfim falou com as crianças, desejando — devidamente — os parabéns a cada uma e prometendo entregar seus presentes no fim do dia, quando restasse apenas eles e suas mães na casa. Izumi tentou não se mostrar ansioso; em contrapartida, Eri quase escalou o padrinho, porque estava querendo saber muito o que ele havia comprado, porém, logo a garota teve a sua atenção tomada pela chegada de Uraraka e Toga.
Silenciosamente, Eijirou agradecia por suas amigas não serem próximas do Shoto; saber que seu ex-namorado não iria aparecer ali, acalentava o coração acelerado no peito. Vinha evitando ainda mais as mensagens e ligações dele desde que o viu e cometeu o deslize de acabar transando com ele, após o término.
— Tio? — Izumi chamou, atraindo a atenção do Kirishima. — Aquele seu namorado bizarro não vem? — O garoto estreitou os olhos, como se estivesse apenas esperando Todoroki surgir pela porta que dava acesso ao fundo da casa.
— Ah... Nós terminamos — esclareceu, porque ainda não havia tido a oportunidade de abordar sobre o seu antigo relacionamento, e as crianças não perguntavam com frequência sobre seus namorados, já que a curiosidade vinha apenas quando os dois não tinham notícias de seu parceiro há algum tempo. — Nunca entendi porque você não gostava do Shoto. Foi o primeiro namorado meu que você conheceu e disse abertamente sobre o seu desgosto. — Kirishima sabia o quanto Izumi era uma criança ciumenta com as pessoas especiais para si, só que Todoroki foi o primeiro namorado dele a causar uma verdadeira aversão ao garoto, sendo que a maioria acabava conquistando o menino depois de alguns meses.
Mesmo Eri, sempre gentil e educada com todos, tendo gostado de absolutamente todos os ex-namorados do padrinho até então, não parecia confortável próximo a Shoto, apesar de tentar ao máximo ser agradável com ele, diferente do irmão. Tal constatação levou Eijirou a evitar deixar os três sozinhos no mesmo ambiente e considerar muitas saídas com as crianças sem o policial, porque considerava os dois e Ground Riot como as suas prioridades. Havia algo sutil na forma como Todoroki parecia não se importar com aquilo, que deixava Eijirou alerta, pois ele sentia que era falso, pela quantidade de vezes que flagrou o policial encarando os três — incluindo as suas melhores amigas —, como se não estivesse os vendo realmente; o olhar fixo, vazio...
Vermelho, havia muito vermelho, por toda a parte. Kirishima balançou a cabeça e desejou que Izumi não tivesse notado a forma como havia se distanciado dali; devaneio que não o impossibilitou de notar a expressão preocupada no rosto do garoto e que o fez se preocupar também.
— Izumi, não aconteceu nada? Shoto fez alguma coisa? — Agarrando os ombros do menino, Eijirou o virou para si, mas apesar de um pouco assustado, o afilhado negou com a cabeça. — Tem certeza? Você pode me falar absolutamente tudo, sabe disso, não é?
— Eu tenho, tio. Todoroki nunca fez nada, ele só era... esquisito. Mamãe sempre brigava quando eu comentava e pedia pra não falar isso na sua frente. — Kirishima o soltou e riu, era a cara de Yaoyorozu fazer algo assim. O garotinho suavizou a expressão e deu um soquinho amigável no ombro do padrinho. — Está tudo bem? Ele podia ser esquisito, mas você parecia feliz.
— Estou bem, o término foi a melhor opção. Meio que não estava mais dando certo. — Era engraçado ter duas crianças como confidentes, mas eles não o questionavam como as suas mães e nem assimilavam as coisas tão rápido a eventos do passado. Eijirou desejava que o Katsuki de outra linha temporal tivesse a oportunidade de conhecer os gêmeos. — Você deveria ir aproveitar a sua festa, ao invés de ficar aqui escutando os lamentos do seu velho, Zumi.
— Eu vou, só fico preocupado com você, tio. Sempre achei que parecia mais triste nessa época do ano, mas acho que é por causa daquele amigo seu e das mamães que faleceu, não é?
— Você é observador demais para o meu gosto. — Kirishima bagunçou os fios escuros de Izumi, ganhando alguns resmungos e empurrões leves no braços. — Esse amigo foi o meu primeiro amor e namorado. Ele faleceu no dia do meu aniversário, essa época acaba sendo mais difícil por conta disso. — Eijirou observou o garoto com um sorriso. — Vocês teriam se dado bem.
— Sinto muito, não queria pressionar o senhor a me contar que ele era seu namorado.
— Juro que estou bem e não foi nenhuma pressão. Agora, vá aproveitar o seu aniversário. — Empurrou levemente o afilhado na direção das outras crianças aglomeradas. Izumi hesitou por um momento, e antes de acatar ao pedido, ele voltou a se aproximar, beijou rapidamente a bochecha do padrinho e saiu correndo. Kirishima tocou a área beijada e sorriu.
Ao menos, ele sabia que sempre teria o apoio das suas melhores amigas e das crianças.
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