8 de junho de 2014 •• Londres
— É otária mesmo. — Dylan falou relaxando um pouco os braços ao meu redor e soltou um risinho nasal ao balançar a cabeça. — Você beijou o Zayn? Quanto ele cobrou por isso?
Engoli em seco o fitando e mordi com força a parte inferior da minha bochecha. Eu continuava embaixo dele enquanto seu corpo e suas mãos me prendiam.
— Se não me engano eram cem pratas devolvidas, ou seja, você está com cem pratas a mais. Certo? — debochou ao me olhar. — Quando eu penso que você está progredindo, você regride, Holdings. Fala sério, pensei que já tinha cansado de ser vagabunda.
Debati-me na tentativa de afasta-lo, mas não tive bons resultados visto que ele permaneceu intacto me olhando. Firmei o maxilar enquanto tentava me controlar. Eu não iria deixar Dylan desviar do real motivo daquela conversa. Eu sabia que ele queria me manter distraída com aquelas ofensas para esquecer sobre a pergunta anterior.
— Não, ainda não cansei de ser vagabunda. — sorri olhando em seus olhos. — Acho que vai demorar um pouco para isso acontecer.
Ele sorriu me analisando procurando algum vestígio de irritação em meus traços, mas assim que a música que soava parou de tocar nós dois desviamos nossa atenção para o rádio. Engoli em seco ao perceber que Henri nos fitava com um misto de emoções. Ele desviou o olhar apenas por um segundo ao apertar novamente no botão iniciando a música Radioactive — a música que eu e ele costumávamos ouvir... — para depois pausar.
— Quando vocês terminarem com a pegação já podem ir almoçar.
Henri apenas disse isso e deu as costas. Eu e Dylan nos entreolhamos preocupados e ele finalmente soltou meus braços me dando liberdade de movimento.
— Espera ai! — pedi depressa tentando tirar Parker de cima de mim. — Sai garoto!
Wright parou de caminhar e ficou analisando um ponto a sua frente que eu não consegui identificar. Enquanto tentava ficar em pé com a ajuda de Dylan formulava alguma desculpa qualquer em mente para amenizar a situação que nos encontrávamos.
— Nós não estávamos nos pegando! — murmurei me sentindo tola ao falar aquilo. — De onde você tirou essa ideia?
Ele riu debochado e com calma encontrou meu olhar. Eu já tinha presenciado momentos em que ele perdia o controle e tinha a certeza que ele estava perdendo naquele exato momento.
— Sério Every? — perguntou amargurado. — Vai continuar até quando pulando de irmão em irmão? Primeiro Dylan depois eu, ai volta o Dylan. Agora vai ser eu de novo?
— O que.. — sussurrei tentando falar, mas ele me impediu.
— Não precisa mentir, eu já conversei com a Sasha, mas, por favor, não se preocupe — ele riu ao olhar para os lados. — Ela não faz ideia que antes você era minha namorada. Já que nem isso você teve coragem de falar para ela. Quem sou eu para dizer, certo? E pode ter certeza que cada um aqui em casa apoia essa coisa que você e o Dylan estão tendo. Sei lá, pegação. Isso? Mas dessa vez, me tire desse seu ciclo idiota. Eu realmente não quero pegar baba do meu próprio irmão.
Engoli em seco enquanto ajeitava meu short puxando-o para baixo me sentindo envergonhada com toda aquela situação. Henri tinha razão... Eu ficava pulando de irmão em irmão sem ao menos me importar com aquilo.
— E você, Henri? — a voz de Dylan soou atrás de mim. — Já contou para a Every que está noivo? Já que você está criticando tanto ela por conta de um beijo estúpido creio que ela também pode fazer isso visto que você está noivo há quase dois meses.
Olhei para o lado de imediato avistando Parker vidrado no irmão. Henri estava noivo? Minha boca se abriu e naquele instante eu nem ao menos conseguia respirar devido àquela revelação. Ele estava noivo? Noivo de quem?
— Não achei que fosse importante. — ele olhou pra mim. — Não sou importante pra você há muito tempo.
Continuei sem ar e sem palavras enquanto ele saía de dentro da academia completamente frustrado. Eu não conseguia pensar em ninguém ele pudesse estar namorando quem dirá noivo. Meu coração estava disparado não sabia se era por conta daquilo ou por causa de alguns minutos atrás.
— Noivo de quem? — sussurrei ainda olhando para a saída. Dylan permaneceu quieto apenas me olhando. — Quem ele pensa que é? — gritei perdendo minha paciência. — Ele pode vir aqui e me ofender sendo que está noivo? Por que diabos ele fica me cobrando algo que ele nem ao menos cumpriu? E essa merda de “não sou importante há muito tempo” — imitei-o com desdém. — Será que ele esqueceu o que tinha feito? O certo seria eu correr atrás dele de novo? Quantas vezes eu fiz isso quando estávamos namorando? Quando ele tinha aquelas crises ridículas de ciúmes por causa do Erick. — ri balançando a cabeça. — Por Deus, Erick é gay e um dos meus melhores amigos. Será que o seu irmão não tem cérebro? Ai ele vem com o papinho de não ser importante? Ah vá se danar! Eu não liguei pra ele, mas ele também não fez o favor de fazer isso por mim. Afinal, eu que deveria ir atrás né? Eu deveria continuar sendo idiota por ele. Claro, é o certo. E..
— Deu Every? — Dylan me interrompeu segurando o riso. — Calma ai, eu não sou Henri. Será que você sabe disso?
Cerrei a mandíbula frustrada por ele ter me interrompido em um momento de raiva. Murmurei palavrões enquanto tirava irritada aquelas luvas das minhas mãos.
Merda!
Quem ele pensava que era? Droga! Eu sentia todo meu corpo se aquecer de raiva. Eu nem ao menos conseguia distinguir o que estava sentindo no momento. Só sabia de uma coisa: Eu queria bater em Henri! Era a única coisa que eu tinha em mente.
— Você vai acabar estragando as luvas desse jeito.
Dylan puxou minhas mãos para perto e tirou-as com cuidado, em seguida as ataduras. Fiquei olhando para minha pele enquanto imitava Henri com a voz baixa.
— Eu não sou importante há muito tempo.. blá blá blá.. Vai ficar pulando de irmão até quando? — puxei minha mão direita com raiva quando Dylan terminou de tirar as ataduras. — Até parece que eu o obriguei a fazer isso. Claro, obriguei-o a me namorar e me aturar por três meses seguidos pra depois vir e pegar você. Com certeza! Isso estava em meus planos. Aliás, você pode dizer isso pra ele? Dizer que eu tenho um cronograma idiota como o Zayn tinha.
Por mais que eu não estivesse olhando para Parker eu sabia que ele estava rindo devido a seus sussurros baixos. Eu não me importava se ele estava rindo da minha cara, eu estava com raiva demais para ligar para aquilo.
— Droga!
Passei uma mão na outra tentando tirar a vermelhidão que estava por conta das faixas brancas ao redor. Dylan tirou o equipamento que estava e me olhou sorrindo como idiota enquanto franzia a testa. Provavelmente se perguntando se era somente aquilo que eu tinha a falar.
— O que foi? Nunca me viu? — perguntei irritada. — Seu irmão é um idiota! Você é um idiota! Droga! Até o Zayn é idiota! Vocês todos são idiotas. Três idiotas! Três irmãos idiotas!
Novamente Dylan prendeu a respiração. Seu sorriso se desfez e deu lugar a um cara completamente irritado. Com tudo aquilo eu só tinha certeza de uma coisa... Dylan e Zayn eram irmãos! Ele provavelmente riria da minha cara e debocharia até o fim caso fosse mentira... Mas não era, sua reação demostrava claramente aquilo.
— De onde..
— Eu sei que é verdade. Está bem? — esbravejei olhando para ele. — Zayn me contou! Ele disse que vocês dois eram irmãos hoje no shopping. Ele apenas confirmou a minha suspeita. — Dylan continuou a me olhar procurando por algo em minha expressão. Eu sabia que estava mentindo a respeito daquilo, mas queria que ele acreditasse em cada palavra da minha boca. Eu precisava saber se era verdade ou não. — Então pare de mentir!
Depois de um tempo ainda me analisando, ele soltou um suspiro alto... Aquilo era uma confirmação. Certo?
— Você não pode contar isso pra ninguém, Every. — falou baixo ao direcionar o olhar para o meu. — Entendeu? Ninguém sabe sobre isso. Ninguém além de Trisha, Yaser, meus pais, Ricky e Zayn. — ele deu alguns passos para frente e segurou em meus braços me sacudindo quando fiquei em silêncio. — Você entendeu? Se eu descobrir que alguém mais sabe sobre isso, eu vou ter a certeza que foi você que contou.
Droga! Então era verdade. Dylan e Zayn eram irmãos sim! Tudo na minha volta parecia estar girando enquanto me mantinha vidrada em um Parker completamente irritado em minha frente. Seus olhos estavam mais escuros que o normal e sua expressão era de ódio. Ele estava sentindo ódio de mim? Ou ódio por supostamente Zayn ter “confirmado” aquilo?
— Entendi. — sussurrei.
Ele olhou para as próprias mãos ao redor do meu braço e limpou a garganta ao me soltar com cuidado. Ele estava se acalmando aos poucos. Eu pelo menos desejava que aquilo estivesse acontecendo.
— Como você descobriu isso? — perguntou ao olhar para trás de mim. — Quem te falou? E nem pense em mentir porque eu vou descobrir a verdade, Every. Você sabe disso.
E eu realmente sabia daquilo. Quando eu e Sasha mentíamos sobre onde seria o local de alguma festa ou sobre algo importante, ele sempre descobria. Ele não sossegava enquanto não confirmasse suas suspeitas.
— Sinceramente? — murmurei respirando fundo. — Eu juntei todas as peças. O J no seu sobrenome ou nome, sei lá. O fato de você e Zayn terem brigado. As palavras de Yaser no carro perguntando com qual dos filhos dele eu estava namorando dessa vez. E... — mordi minha bochecha com força ao olhar em seus olhos. — E você acabou de me confirmar isso.
Pronto, Every Holdings, agora você está morta!
Ele franziu a testa e entreabriu a boca olhando para mim. Seu peito subia e descia por conta da respiração descontrolada... E lá se vai o Dylan tentando se acalmar.
— O que você disse?
Dei de ombros e me encolhi já prevendo suas próximas palavras. Eu preferia contar a verdade de uma vez por todas do que ficar me remoendo depois pensando na briga que Dylan e Zayn teriam.
Parker permaneceu em silêncio por mais tempo que eu imaginava. Ele apenas sustentava seu olhar completamente irritado em mim.
— Não fique bravo! — pedi em tom baixo. — Poxa, vocês vivem me escondendo as coisas e eu tenho que descobrir tudo sozinha, e não tem nada demais em ter uma ajuda extra. Certo? Tecnicamente eu já sabia que vocês dois eram irmãos porque convenhamos você não sabe disfarçar e... — respirei fundo e molhei os lábios ao desviar o olhar. — Eu não vou contar para ninguém. Eu prometo!
— Você só pode estar de brincadeira. — murmurou com o tom de voz incrédulo.
— Quer parar de ser chato? Relaxa um pouco.
No momento em que pensei que ele finalmente relaxaria, ele deu de costas e jogou os equipamentos no chão ao seguir em direção a saída da academia.
Mordi o lábio com força e baixei o olhar para o chão enquanto pensava em tudo aquilo. O que tinha demais em descobrir que os dois eram irmãos? De primeiro foi realmente um choque para mim, mas eu não iria sair espalhando para todo mundo minha descoberta. Eu apenas queria que eles confiassem em mim a ponto de falar aquilo... Qual é? Eu estava realmente pulando de irmão em irmão.
— E você Every? — a Sra. Parker chamou minha atenção durante o almoço.
Eu nem ao menos sabia o assunto que eles estavam conversando apenas repassava as palavras de Dylan e Henri diversas vezes na minha cabeça. Logo que sai da academia e vesti minha roupa novamente, tentei empurrar Erick para finalmente irmos embora, porém a Sra. Kate não deixou que eu fizesse aquilo.
Eu estava apreensiva por ter que dividir a mesa com Henri, por ter que olhar nos olhos dele depois de tudo. No entanto quando eu e Erick nos direcionamos com ela, descobri que Henri não almoçaria em casa. Cheguei a soltar um suspiro e as palavras “Graças a Deus” recebendo o olhar desconfiado de Sasha e Kate. Mas como sempre, Erick consertou as coisas por mim. Ele apenas começou a falar sobre a louça antiga que a Sra. Parker tinha.
— Desculpe, eu não estava prestando atenção. — murmurei sem jeito. — Não que o assunto esteja chato, não é isso, eu estava pensando no trabalho que tenho para entregar na faculdade e...
— Tudo bem, minha querida. — ela disse com um sorriso doce nos lábios. — Perguntei se você vai nos acompanhar no jantar do hospital.
— Ah. — apenas disse isso ao dar de ombros mexendo com o garfo na minha comida.
— Nós vamos passar o final de semana na praia, minha alma gêmea. O Ryan vai ir comigo e você pode ir com o Dylan. Topa?
Arqueei a sobrancelha e fui obrigada a me inclinar para frente ao analisar minha amiga de forma estranha. Agora ela me queria com o Dylan?
— Pensei que não gostasse de me ver com ele.
— E não gosto! Mas, talvez eu comece a suportar.
Senti alguém bater a perna contra a minha de forma brusca e rapidamente desviei meu olhar para Erick. Ele me analisava com um sorriso forçado nos lábios enquanto mantinha a postura completamente ereta.
— Você não me disse que estava namorando com o irmão do Henri.
— Vocês estão namorando? — a Sra. Kate perguntou completamente surpresa.
— Não?! — fiz uma expressão óbvia analisando Erick e depois ela. — É claro que não!
— Eles se pegam às vezes. — Sasha disse com a boca cheia. Ela tomou um pouco do suco natural e limpou a garganta para continuar a falar. — E ai, você vai ou não?
Soltei o garfo discretamente no prato e me joguei para trás ao suspirar fundo. Sasha já havia conversado comigo a respeito daquele jantar que seria na sexta, porém não dei o mínimo de atenção. Eu ainda não sabia se iria ou não, mas levando em consideração os últimos fatos, eu recusaria com toda certeza.
— Não sei. Tenho que colocar as aulas perdidas na faculdade em dia e provavelmente minha mãe não vai me deixar ir, então..
— Até parece que você liga para o que sua mãe fala. — Erick murmurou dando de ombros. — E ai Sasha, quer dizer que você tem um carinha? Como ele te atura?
Franzi os lábios notando a mudança de humor do meu amigo. Eu o conhecia bem o suficiente para saber que ele estava chateado comigo, no entanto não sabia o porquê. Eu havia falado com ele sobre Dylan no sábado..
— Não precisa sentir inveja Erick. Um dia você encontra alguém para te aturar também.
— Estou precisando encontrar um cara e novos amigos também. — disse em tom baixo.
Eu sabia que ele queria que eu ouvisse aquilo. Por que diabos tudo estava contra mim naquele dia?
— Ei, eu sou sua amiga. — falei ofendida. — Vai me deixar para trás?
Erick nem ao menos respondeu, apenas levantou da cadeira de forma elegante e pegou o prato e talheres na mão, logo fez o mesmo com os meus.
— Não se preocupe meu querido, a Luce faz isso por nós. — Kate disse referindo-se a moça que trabalhava ali na casa, porém nem isso parou Erick.
— Não, tudo bem. Eu gosto de lavar a louça, acalma os ânimos. — ele sorriu para ela. — Vem comigo Sasha, me ajuda com isso!
Minha amiga assim como eu olhamos de forma estranha para ele. O tom de voz que ele usou com Sasha era mais ameaçador do que o normal.
— Tudo bem então. — ela disse levantando-se. — Vou ir antes que eu apareça com um roxo na cara!
Eu e a Sra. Parker permanecemos sentadas analisando os dois indo em direção à cozinha. Confesso que daria tudo para saber o que meu amigo queria conversar com Sasha. Ele tinha mudado de humor tão repentinamente.
— Bom, eu acho que eles querem ficar em particular. — ela disse chamando minha atenção, logo se pôs de pé. — Eu tenho que ir agora, ofereceria uma carona, mas vejo que você não vai deixar seu amigo para trás. Estou certa?
Sorri encolhendo os ombros e assenti devagar. Eu jamais deixaria Erick e Sasha sozinhos longe do meu alcance. Se eu pudesse pelo menos ouvir o grito deles caso começassem uma discussão estava tranquila.
— Por que você não aproveita e vai conversar com o Dylan? Pelo o que percebi vocês brigaram de novo, não é?
Eu estava aparecendo uma criança sem fala, sei lá, o fato de lembrar que Dylan e Zayn eram irmãos por parte de pai me fazia olhar diferente para a Sra. Kate. Pois provavelmente ela tinha traído o Sr. Peter e aquilo me constrangia só de pensar. Eles pareciam um casal tão bem aperfeiçoado.
— Vou sim, obrigada!
Fiquei mais um tempo sentada apenas pensando em tudo que tinha acontecido naquela manhã. No beijo que dei em Zayn, em ver Safaa novamente, nas palavras de Henri, na declaração de Dylan, o modo estranho de Erick me tratar aparentemente sem motivo algum...
E quando finalmente recebi coragem levantei para ir a encontro a Dylan. Eu sabia que ele estava irritado comigo e eu queria pelo menos tentar consertar aquilo. Eu detestava brigar com ele visto que precisava dele por perto, não que eu tive a opção de não querer. Jason provavelmente surtaria se descobrisse que Dylan não estava me perseguindo novamente.
E só de pensar em Jason meu estômago revirou. Nossa amizade havia mudado e muito. Eu nem o reconhecia mais. O Jason brincalhão e de bem com a vida que eu tinha conhecido havia se tornado em um babaca viciado em bebidas e drogas. Um babaca que não dava ouvidos a melhor amiga... Ou ex melhor amiga. O fato é que eu e ele não conversávamos como amigos há muito tempo. No entanto, eu sentia saudade daquele idiota bêbado e drogado!
Bati três vezes na porta do quarto de Dylan enquanto apoiava minha cabeça na madeira esperando ele abrir, porém eu não recebia resposta em troca. A última batida que dei, na verdade não foi com os dedos, mas sim com a testa. Eu não aguentava mais ficar correndo atrás dele. Por que diabos Dylan era tão difícil?
— Você não vai parar? — ele perguntou em tom alto devido à porta fechada.
— Não!
Ouvi um suspiro alto seguido do barulho da fechadura sendo destravada. Revirei os olhos e respirei fundo antes de colocar a mão na maçaneta finalmente olhando para ele. Corri de imediato meu olhar pelo seu peitoral descoberto e pela toalha cobrindo suas partes íntimas. Pelo o que percebi ele tinha acabado de sair do banho. Boa parte dos seus cabelos estavam grudados na testa enquanto algumas gotas de água se mantinham no seu abdômen.
Ele estava...
— Quer tirar uma foto? — perguntou debochado ao me ver como uma idiota o analisando.
Endireitei minha postura e cruzei os braços abaixo do peito tentando parecer segura. Sorri de forma irônica e tombei a cabeça para o lado ao desviar a atenção de seu corpo para seus olhos.
— Se você permitir.
Dylan me olhou ao sorrir e logo analisou com lentidão cada parte do meu corpo. Eu me senti constrangida com o olhar dele, porém permaneci intacta o olhando com deboche. Eu não podia parecer uma idiota em sua frente. Não agora.
— Fecha a porta!
Passei a encarar as costas de Parker enquanto ele se dirigia até o banheiro novamente. Suspirei saindo do meu transe de contemplar o corpo dele e finalmente me virei para fechar a madeira.
— Será que nós podemos conversar?
Dylan demorou poucos segundos no banheiro. Logo que saiu estava terminando de fechar a calça jeans escura deixando amostra sua cueca boxer azul marinho.
Droga! Por que eu estava tão vidrada no corpo dele? Estava parecendo uma garota virgem que nunca tinha visto um peitoral completamente definido, músculos do mesmo jeito e... Respira!
O fato de estar praticamente dois meses sem ter relações sexuais estava fazendo cada parte do meu corpo implorar por aquilo. Meu coração estava tão acelerado de modo que eu ouvia meus batimentos cardíacos. Minha boca estava seca e tudo que eu pensava era em poder tocar em cada centímetro do corpo de Dylan.
Foco, Every Holdings!
— E então? — ele perguntou chamando minha atenção.
Parker desviou o olhar para o chão ao sentar na cama e buscar por seus tênis próximo aos pés. Mordi com força meu lábio inferior tentando cessar de alguma forma todos meus pensamentos obscenos.
— E então o que? — perguntei um pouco perdida.
Ele achou graça daquilo e soltou um riso nasal ao balançar a cabeça. Em seguida, olhou em meus olhos ao terminar de colocar os calçados. Eu havia perdido as contas de quantas vezes suspirei alto apenas analisando cada parte de sua pele. Foquei meus olhos na boca dele enquanto ele mordia — propositalmente, eu diria— o lábio inferior.
— Vem cá! — sussurrou sorrindo de um jeito cafajeste... Merda! Ele ficava tão sexy daquele jeito. — Ainda tenho alguns minutos antes de sair.
Permaneci parada com os braços cruzados quando ele estendeu as mãos em minha direção. Tão perto que se eu desse um passo a frente estaria finalmente onde queria estar... No seu colo.
— Eu quero conversar! — disse com dificuldade tentando manter meu foco. — Eu quero que você me fale sobre Zayn.
Dylan levantou com calma e finalmente acabou com espaço entre nós. Ele parou a centímetros de distância de modo que sua respiração batia contra meu rosto fazendo meu corpo inteiro se arrepiar. O perfume dele emanava naquele pequeno espaço e aquele cheiro era tão bom ..
Parker colocou a mão direita em meu rosto e fez um carinho gostoso com o polegar contra minha bochecha. Aquele sorriso cafajeste continuava em seus lábios convidativos.
— Você quer esquecer o beijo que deu no Zayn? — sussurrou de forma tão tentadora... Eu só podia estar imaginando coisas! — Eu posso te ajudar com isso.
Sua mão esquerda foi para meus braços cruzados e desfez aquela posição. Meus braços caíram para o lado como se eu fosse uma boneca de pano. Eu estava tão vidrada em Dylan que tinha esquecido tudo ao redor até mesmo de como respirar.
— Você é tão gostosa Holdings. — sussurrou novamente roçando levemente os lábios nos meus. — Você não imagina o quanto fica sexy quando está com raiva.
Fechei meus olhos bem devagar quando ele arrastou seus lábios para minha bochecha. Ele depositou um beijo calmo ali e logo colocou a mão direita entre meus fios de cabelos puxando-os um pouco até eu tombar minha cabeça para o trás. Dylan passou o nariz por meu pescoço e o beijou de forma lenta. Soltei um suspiro contra o ouvido dele ao sentir cada parte do meu corpo se arrepiar com aquele toque.
Aproximei-me mais — quando ele continuou a distribuir beijos calmos pela minha pele — envolvendo minhas mãos em suas costas o puxando para mais perto de mim. Eu queria poder tocar meu corpo no dele. Queria poder senti-lo mesmo que para isso eu fosse parecer submissa a seus toques.
Seu corpo quente encostou-se ao meu molhando um pouco minha camisa branca com as gotículas de água que ainda permaneciam em seu peitoral. Mordi o lábio com força quando Parker lambeu meu pescoço e logo puxou com os dentes o lóbulo da minha orelha. Aquilo pareceu ter sido o ápice para mim, sem ao menos pensar direito o empurrei com força levando meu corpo junto consigo. Ele olhou em meus olhos se divertindo com aquilo e envolveu as mãos na minha cintura ao me virar bruscamente para poder me jogar na cama.
No momento em que meu corpo bateu contra o colchão macio puxei Dylan de forma brusca para cima de mim. Ele mordeu meu lábio inferior com força ao se ajeitar e dedilhou a lateral do meu corpo até chegar à minha coxa e aperta-la com força me fazendo abrir as pernas para que ele pudesse se aconchegar melhor.
Ele se inclinou na minha direção e sem aviso tocou sua boca na minha. Seus lábios macios contra os meus fizeram cada célula do meu corpo se arrepiar devido às últimas sensações que estava sentindo. Dylan passou a língua por cada centímetro dos meus lábios e eu entreabri minha boca dando acesso a ele.
Enquanto Parker me beijava de forma desesperada, coloquei minhas mãos em suas costas nuas e arranhei levemente sua pele sentindo o calor se apoderar do meu corpo. Ele afastou nossos lábios quando fiz aquilo apenas por um segundo, logo seu beijo continuou contido de desejo.
Meu corpo inteiro clamava por aquele toque desesperado. Eu estava aproveitando cada segundo sem me importar com qualquer outra coisa. Ter Dylan em cima de mim me beijando de forma agressiva e sexy me fazia esquecer tudo relacionado a problemas. Eu só conseguia me concentrar nos seus lábios famintos contra os meus e em suas mãos apertando com força minha coxa abrindo cada vez mais minhas pernas.
Soltei um gemido abafado quando ele pressionou seu membro ereto — ainda coberto pela calça — contra minha intimidade latejante. Apertei minhas pernas ao redor da cintura dele o puxando cada vez mais pra cima de mim quase fundindo nossos corpos — se aquilo fosse possível. Enrosquei meus dedos entre os fios de cabelo dele e puxei sem dó quando mais uma vez ele pressionou nossos sexos.
— Gostosa! — sussurrou ao morder meu lábio.
— Não me chame desse jeito. — pedi entredentes.
Eu ainda conseguia lembrar quem falava aquilo na mesma situação em que Dylan e eu estávamos...
Espantei rapidamente o último nome que gostaria de lembrar e pressionei o rosto de Parker contra meu pescoço. Enquanto ele mordia minha pele de forma gostosa, sua mão corria em direção a minha camisa. Dylan se afastou quase que imperceptivelmente para poder abrir os botões. Porém, um barulho forte da porta batendo contra a parede o impediu de continuar a fazer aquilo. Meu coração acelerou mais ainda, não por estar excitada, mas por susto.
— E ai cara, nós.. — Ricky parou de falar assim que olhou para nós dois. Logo começou a rir como um idiota. — Acho que cheguei em péssima hora!
Soltei um suspiro ofegante ao relaxar minhas pernas e braços deixando-os livre do corpo de Dylan. Eu não senti vergonha por Ricky nos ver daquele jeito, apenas senti alívio. Quando o barulho da porta soou, por um segundo, imaginei que fosse Henri ou Sasha.
— Isso só pode ser brincadeira. — murmurei contrariada no ouvido de Dylan.
Meu peito subia e descia por causa da minha respiração ofegante e posso dizer que Parker estava do mesmo jeito. Ele escorou a testa acima dos meus peitos enquanto tentava se acalmar.
— Vaza Ricky! — falou frustrado.
— Cara, sinto por ter interrompido esse momento selvagem, mas realmente nós precisamos ir. — falou segurando o riso. — Vou esperar ali fora enquanto vocês se despedem. Por favor, não geme alto Every.
Senti minhas bochechas corarem de vergonha ao ouvir aquilo e devido ao meu constrangimento não direcionei meu olhar para Ricky. Naquele instante, eu podia jurar que estava vermelha a ponto de explodir ainda mais com a risada abafada de Dylan.
Só abri os olhos quando ouvi a porta sendo fechada novamente. Eu permanecia imóvel com o corpo de Dylan sobre o meu. Tudo o que eu sentia naquele momento era frustração por Ricky ter nos interrompido.
— Será que você pode sair de cima de mim?
— Agora quer que eu saia? — perguntou se divertindo, em seguida seu olhar encontrou o meu. — Acredite estou tão decepcionado quanto você.
Esperei Dylan terminar de colocar a camiseta branca para podermos sair de dentro do quarto. Eu estava terrivelmente irritada — algo que jamais pensaria em estar por ser interrompida em um momento como aquele — com Dylan. Ele não podia mandar o Ricky ir à puta que pariu?
Levantei da cama fazendo cara feia enquanto cruzava os braços. Parker pegou a carteira em cima da cômoda e colocou-a no bolso detrás da calça jeans. No momento em que fui abrir a porta, ele segurou meu braço me fazendo virar em sua direção.
— Desfaz esse bico. — pediu tocando com o polegar em meus lábios.
— Não estou fazendo bico.
Ele riu ao puxar meu rosto próximo ao seu e logo encostou nossos lábios em um selinho rápido.
— Relaxa! Você pode passar a noite aqui e..
— Eu vou dormir com o Erick na minha casa. — falei tirando as mãos dele do meu rosto. — Será que agora posso abrir a porta?
♔♔♔
— Para de me ignorar! — pedi em tom baixo enquanto analisava Erick mexendo no celular em mãos. — Por que está assim comigo?
Ele permaneceu em silêncio — como nos últimos 15 minutos dentro daquele maldito táxi — ao franzir os lábios e estreitar os olhos olhando para a imagem de uma tatuagem no celular.
— Erick!
Meu amigo respirou fundo e piscou os olhos antes de direcionar o olhar para os meus. Ele baixou o celular com calma e arqueou a sobrancelha esperando minha fala.
— O que eu fiz pra você? Eu fiz algo de errado? — mais uma vez, seu silêncio permaneceu. — Por Deus, Erick, me responda!
— Você não sabe? — perguntou debochado. — Vai lá e pergunta para sua amiguinha, tenho certeza que ela sabe a resposta dessa sua pergunta estúpida.
Eu ia perguntar pela última vez o que tinha acontecido até que a voz do taxista avisando que tínhamos chegado ao nosso destino me interrompeu. Paguei o táxi juntamente com Erick e descemos na calçada daquela rua desconhecida por mim. Desde que saímos da casa dos Parker’s ele não tinha dirigido a palavra a mim até mesmo quando perguntei onde era o endereço que ele estava pedindo para o moço nos levar.
— Que merda, Every! — ele gritou me assustando. — Será que você não percebe as coisas que faz?
— Do que..
— Desde que eu cheguei aqui você não me dá atenção. — esbravejou. — Você vive saindo com aquele cara, sei lá o nome daquele filho da puta gostoso, e me deixa para trás. No primeiro dia você desapareceu e ‘tá ok, eu procurei sair com a capetinha da sua irmã para poder me divertir. Ai no dia seguinte, ou seja, hoje, você me convida para ir ao shopping e leva a Sasha junto. Você sabe que eu não gosto dela!
— Erick, eu..
— E quando eu finalmente acho que vamos ter um momento só para nós dois, vamos onde? Exato! Na casa da Sasha. É Sasha pra lá, Sasha pra cá. E eu tive que ficar sentado ouvindo o quanto vocês duas vão se divertir no final de semana em uma festa e logo depois ir passar dois dias na praia. — ele bateu palmas e fingiu um sorriso. — Nossa! Parabéns para as namoradinhas do ano!
Eu juro que me segurei parar não rir de todas aquelas palavras, mas foi impossível. Ver Erick praticamente explodindo na minha frente por sentir ciúmes de Sasha me fez sorrir descaradamente. E claro, ele não gostou nenhum pouco daquilo. Meu amigo bateu a mão contra a testa e fechou os olhos buscando por controle.
— Ai meu Deus! — disse sorrindo ao me aproximar dele, logo circulei meus braços ao redor de seu pescoço o puxando pra mim. — Que coisa mais fofa! — o apertei contra meu corpo enquanto segurava o riso.
Depois de um tempo, ele relaxou os ombros e suspirou ao devolver o abraço que estava dando nele. Erick me apertou tanto quanto o apertava. Enchi a bochecha dele de beijos ao tentar me afastar um pouco.
— Eu te amo, sua idiota! — murmurou impaciente. — E odeio quando você me ignora por causa daquela vadia.
— Erick! — o repreendi mordendo o lábio para não rir mais ainda. — Meu Deus, como você é ciumento.
— Eu não ligo. — deu de ombros ao me soltar fazendo bico. — Eu odeio aquela garota. Eu odeio tudo nela.
Beijei sua bochecha com mais força e coloquei minhas mãos em seu peitoral tentando amenizar um pouco a situação. Era tão engraçado ver Erick com ciúmes de mim. Era engraçado ver a carranca que se formava em seu rosto. E principalmente, era engraçado vê-lo ofender Sasha.
— Você sempre será meu melhor amigo. Está bem? — sussurrei colocando minhas mãos em seu rosto. Ele apenas assentiu e deu de ombros murmurando a palavra desculpa. — Eu te amo babaca!
Ele me olhou completamente surpreso de forma que até abriu a boca e arqueou a sobrancelha me analisando. E eu sabia exatamente o porquê daquela expressão. Eu jamais havia devolvido as palavras “eu te amo” para ele. Não porque não sentia aquilo, mas... Na verdade, nem eu mesma sabia explicar o porquê daquilo.
— Ama mesmo? — perguntou se animando, apenas confirmei. — Então posso te pedir um favor? Eu pago!
Franzi o cenho e tirei minhas mãos do rosto dele.
— O quê?
Erick bateu as mãos uma na outra e deu um pulo de alegria.
—Nós dois vamos a um estúdio de tatuagens. — disse ao entrelaçar a mão na minha. — Venha comigo!
— Um estúdio?
O lugar era bem simples, na verdade... Algumas fotografias estavam espalhadas na parede preta contendo todos os tipos de tatuagens ali. Um notebook estava posto em cima da mesa no canto direito e alguns papéis estavam em cima. O cara aparentava ter uns trinta e cinco anos. Era alto e coberto de tatuagens. Ele estava mais no fundo da sala enquanto eu e meu amigo permanecíamos parados na porta como duas estátuas.
— E então... Você quer fazer isso? — Erick perguntou ao franzir o lábio. — Quer dizer, se não quiser, tudo bem. Eu estou com essa ideia há um bom tempo e gostaria de fazer uma, mas não estou te obrigando a fazer. Entende?
Mordi a parte inferior da minha bochecha me perguntando mentalmente se me permitia falar ou não.
— Na verdade... — murmurei me encolhendo um pouco. — Eu já tenho uma tatuagem. Eu fiz uma com o Henri e para ser sincera não doeu tanto assim. É como uma...
— Você tem uma tatuagem? — perguntou em sobressalto. — O quê? Você nunca me disse isso!
Dei de ombros o analisando. Eu não havia contado sobre a tatuagem para quase ninguém, a única que tinha visto era Emily além de Henri, é claro.
— É pequena e em um lugar que não aparece muito, então..
— Opa! — ele me interrompeu com um sorriso malicioso nos lábios. — Como assim em um lugar que não aparece? Onde é essa tatuagem, Every Holdings?
Revirei os olhos rindo e logo senti minhas bochechas corarem de vergonha por conta de sua insinuação.
— Você é muito idiota! — bati meu braço no dele. — É próxima ao quadril... ‘Tá escrito secret com uma chave pequena e delicada ao lado. É...
— Próxima ao quadril na virilha né?
— O quê? Não! — praticamente gritei chamando atenção do homem.
Ele olhou para trás e largou alguns materiais que tinha em mãos. Em seguida, assentiu para que entrássemos no estúdio. Meu amigo praticamente me empurrou para adentrar o recinto. No fundo, eu sabia que ele estava com medo.
— Vocês marcaram para as três horas... — ele se virou por completo para nós. — Certo?
Olhei para Erick — que estava mais branco do que o normal — e dei de ombros. Eu tinha a completa certeza que ele não tinha marcado horário ali.
— É... Sim, fomos nós. — disse depois de um tempo. — Hã, ela vai primeiro. Não parou de falar sobre isso o caminho inteiro.
— Oi? — arqueei a sobrancelha o analisando. — Eu nem sabia sobre isso.
— Tanto faz. — suspirou balançando a cabeça. — Vai você.
Tratei de acompanhar o homem antes que ele perdesse a paciência com nós dois. Sentei na poltrona preta e coloquei meu braço no suporte ali. Erick pediu que eu fizesse um pequeno coração no pulso com a palavra friends. No fundo, eu não queria fazer aquilo, mas sabia que significava muito para ele, então acabei aceitando. Ele faria o mesmo no seu.
Fiquei analisando o rapaz escrever no papel a palavra e fazer o desenho. Logo ele passou álcool no meu pulso e limpou o local para poder colocar o material em cima.
— Pronta? — perguntou, apenas assenti.
— Hã... — Erick chamou nossa atenção para ele. — Antes disso quero fazer uma pergunta.
— Sim, pode fazer. — disse ao pegar a máquina com a agulha e o recipiente com a tinta preta.
— Uma tatuagem próxima ao quadril, porém abaixo é..
— Na virilha? — ele perguntou ao olhar para meu amigo. — Sim. O que tem?
Erick olhou em minha direção ao sorrir vitorioso, no mesmo instante o repreendi com o olhar. Tudo bem, eu sabia o local onde era a tatuagem que havia feito há uns quatro meses atrás, porém era completamente estranho confessar aquilo.
— Não é nada... Só queria confirmar mesmo.
Marcava cinco horas quando eu e Erick chegamos à minha casa. Ele reclamava sem parar da dor que estava sentindo na pele e realmente eu cheguei a pensar que em algum momento dentro do táxi ele fosse desmaiar, no entanto o taxista concordou em parar por um instante para que eu pudesse comprar água para meu amigo.
Eu realmente não entendia o drama de Erick. Fazer uma tatuagem não doía, apenas gerava um incomodo bom.... Uma dormência irritante.. Mas, de fato, não era dor.
— Eu vou morrer Holdings do mau. — ele disse ao se jogar no sofá quando viu Emily saindo de dentro da cozinha.
Ela me olhou confusa enquanto colocava uma boa quantia de sorvete na boca. Travei a porta atrás de mim e puxei com força para me certificar que estava fechada. Meus pais ainda não tinham voltado de Nova York e de certa forma eu tinha receio de ficar sozinha em casa. No entanto, Erick e Emily pareciam me acalmar de alguma forma.
— Nós fizemos uma tatuagem. — avisei minha irmã ao jogar as chaves em cima da mesinha de centro. — E agora ele está fazendo drama!
— Espero que esteja sentindo dor. — ela disse com deboche ao olhar para meu amigo.
Caminhei com passos lentos até ela e peguei a colher de suas mãos para poder pegar um pouco do sorvete no pote também. Eu detestava a mania que Emily tinha de tomar direto dali. Ela não podia pegar uma taça?
— Ei, isso é meu!
Respirei fundo ao colocar as mãos na cintura para observar meu amigo ignorando completamente as palavras da minha irmã. Eu que tinha comprado aquele pote de sorvete. Então, era meu e não dela! No entanto, resolvi não discutir por uma coisa tão ridícula.
— O que vamos comer hoje?
— Eu quero pizza! — Erick resmungou de olhos fechados.
— Eu quero lasanha. — minha irmã disse.
— ‘Tá legal, eu quero lasanha. — ele falou ao abrir os olhos direcionando a minha irmã. — E não é porque você quer, mas porque eu amo a lasanha que a minha Holdings faz.
— É a única comida que ela sabe fazer. — Emily balbuciou. — Me deixa ver essa tatuagem ai!
De fato a única coisa que eu sabia fazer era lasanha. Confesso que era péssima na cozinha, nunca tinha levado jeito para fazer comida, no entanto a minha lasanha sempre ficava boa.
Estiquei meu braço meio contra gosto por conta das palavras de Emily para que ela pudesse ver minha tatuagem. Não havia ficado feia — do jeito que imaginei — ao contrário, ficou delicada e bonita.
— Hum, bonitinha. — deu de ombros ao virar as costas para nós. — Ah irmãzinha, chegou uma coisa para você. Siga-me!
Soltei um suspiro cansado enquanto seguia Emily. Eu estava tão exausta que nem ao menos fiquei empolgada para o ver o que tinha chegado pra mim. Normalmente, eram livros que eu encomendava pela internet ou os papéis da mensalidade da faculdade.
Acomodei-me puxando banco para ficar em frente à bancada de mármore e esperei Emily pegar o que tinha pra mim no meio das cartas que ela revirava.
— Confesso que eu fiquei louca para ler, mas me contive. — disse mordendo o lábio inferior. Fiquei analisando-a ainda procurar pelo papel. — O carinha gostoso me fez prometer que não leria. Então depois dele me dar cem pratas acabei cedendo. — ela suspirou alto e se virou pra mim. — Achei!
Franzi o cenho tentando assimilar aquelas palavras. Carinha gostoso? Pagou para ela não ler? Meu coração começou a acelerar e tudo o que eu consegui pensar foi no anônimo. Simplesmente era isso que rodava nos meus pensamentos.
Anônimo. Anônimo. Anônimo.
Peguei a carta com as mãos trêmulas e sem pensar duas vezes rasguei o envelope tirando depressa o papel que tinha ali. Emily ficou me analisando por um tempo e logo que Erick a chamou deu as costas e caminhou com passos lentos até ele.
Respirei fundo e finalmente abri o papel. E então, meu coração acelerou por outro motivo... Ao ver aquela letra tão familiar... Ao ver meu nome escrito ali em cima!
— O quê.. — murmurei não acreditando no que via.
Holdings..
Eu sei que você já disse milhares de vezes que não quer ouvir minhas desculpas esfarrapadas, falsas e talvez cansativas... (palavras suas) Mas você não disse nada sobre ler. Certo? Eu espero que nesse momento você não esteja amassando esse papel porque vai perder uma grande parte de baboseiras que te farão rir pela vida inteira. Eu aposto isso com você. Não que essas palavras sejam brincadeira, elas são importantes, pelo menos pra mim. Não sei se você percebeu, mas estou tentando enrolar para essa carta ficar um pouco maior e você se impressionar com o fato de eu ter escrito mais de dez linhas, já que nós dois sabemos que eu detesto esse lance de escrever carta. Me parece tão clichê. Por que diabos eu tenho que escrever se posso falar ou digitar uma mensagem? Viu só o que faço por você? Estou gastando tempo (não que eu tenha algo para fazer) para me empenhar nisso... Ok, vamos ao que interessa. Quero constar que eu jamais escrevi uma carta na minha vida e nem ao menos sei como começar. Lá vai..
Você sabe a primeira coisa que pensei quando comecei a escrever todas essas palavras? Nos seus bilhetes... A melhor parte de acordar pela manhã e não ter você ao meu lado era notar que tinha um pequeno papel na cama avisando onde você estava e aonde iria mais tarde. É bobo, mas eu gostava de ler. Gostava de ver sua letra e principalmente sua assinatura sempre contendo deboche ao final.
Eu gostava de ver seu sorriso toda vez que eu fazia algo idiota, como agora. Seu sorriso era a única coisa que me acalmava depois de um dia de merda. Eu não via a hora de esperar você voltar da porcaria daquela faculdade e poder te ver a tarde inteira. Mesmo que eu ficasse por horas apenas observando você fazer seus afazeres com tanta concentração. Era tão engraçado te ver tão empenhada.
Seu sorriso, seu cheiro, sua voz, suas histórias... Tudo em você me fazia sorrir, Every. Seu sorriso era a única coisa que eu guardava em mente até que tudo aconteceu. Até que seu sorriso se desfez.. Se transformou em lágrimas, talvez lágrimas de raiva. Raiva de mim. E eu juro que não tiro sua razão. Eu mesmo tenho raiva de tudo que fiz. Tenho raiva de ter me deixado levar por um plano ridículo pondo em vista sua vida e da sua família. Eu tenho raiva por não ter percebido antes a pessoa maravilhosa que você é, minha Holdings... E eu sinto muito por isso.
Eu sinto muito por ter te afastado de mim, sinto por não estar com você quando mais precisou e sinto mais ainda por ser um canalha. O canalha que te fez duvidar de tudo e te fez perder a confiança em todo mundo. Eu te vejo agora e vejo uma menina perdida, uma menina que não confia na própria sombra. E eu sei quem acordou essa menina... Foi o babaca aqui. E tudo o que eu consigo pedir é desculpa. Desculpa por ser burro o suficiente pra te machucar. Desculpa por não ter percebido o quanto você é maravilhosa. E desculpa por acordar essa Every. Apenas me desculpe.
E eu quero dizer que eu sinto falta da sua risada, do seu cheiro, do seu toque, da sua voz, dos seus bilhetes.... Eu sinto sua falta, minha Holdings. Eu espero o tempo que for para você me perdoar, e se isso não acontecer quero que saiba que cada palavra é verdadeira. Tudo bem? Me desculpe por te machucar tanto... E se você leu até o final sem rasgar ou amassar, obrigado por isso.
E mais uma coisa.. Não desista de mim!
Zayn.
Eu estava completamente em choque com cada palavra escrita ali que nem ao menos conseguia ter uma reação negativa ou positiva. Estava perplexa e abalada de alguma forma. Molhei os lábios com calma e respirei fundo ao descer do banco enquanto Erick e Emily caminhavam em minha direção.
— Aonde você vai? — ele perguntou me olhando de forma estranha.
— Vou me matar. — disse achando graça mentalmente do que tinha acabado de falar.
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