Emily's P.O.V
— Vocês vão querer comer alguma coisa? - minha mãe abriu a porta de repente.
— Eu estou com fome, como qualquer coisa - respondi e olhei para Shawn esperando sua resposta.
— Pode ser, tanto faz. Não estou com muita fome.
— Vou pedir uma pizza, tudo bem? - ela disse e nós concordamos - Bom trabalho.
Agradecemos e voltamos nossa atenção para a letra.
— Eu não mudaria nada. - eu disse relendo - Qual o ritmo?
— Lento, bem, foi como eu imaginei ela quando escrevi.
— Tudo bem. Alguma coisa em mente? - disse me levantando.
— Sim, você tem violão? - assenti com a cabeça e subi para o meu quarto.
Destranquei a porta e entrei. A janela estava aberta, dava para ver a noite estrelada, o céu estava lindo. Abaixei um pouco o olhar e pude enxergar a tia do Shawn me observando pela janela.
Acenei com a mão e ela se virou, saindo do cômodo. Pelo visto não é muito simpática.
Peguei o violão e desci para a sala de cinema novamente.
— Vamos para o quintal, aqui está começando a ficar abafado. - eu disse quando entrei na sala e pude sentir a mudança de temperatura.
Ele não disse nada, apenas se levantou e me seguiu. Abri as portas de vidro e fomos para a varanda.
Sentamos cada um em uma poltrona e eu o entreguei o violão.
— Acho que precisa afinar, faz muito tempo que não toco. - ele passou os dedos pelas cordas e por sorte, estava afinado.
— Está bom. - ele disse ajeitando o violão em sua perna e começando a tocar algumas notas. – I'll promise that one day I'll be around, I'll keep you safe, I'll keep you sound - ele começou - Right now is pretty crazy and don't know how to stop or slow it down. - sua voz era perfeita. Suave e potente ao mesmo tempo. A intensidade com que cantava a música, parecia que estava a vivendo. Ele estava literalmente sentindo a música, e aquilo era simplesmente maravilhoso- Hey, I know there are somethings we need to talk about. And I can't stay, just let me hold you for a little longer now. Take a piece of my heart, and make it all your own, so when we are apart you'll never be alone. You'll never be alone. You'll never be alone.
— Uou! - eu disse batendo palmas - Acho que temos o próximo cantor da geração. - continuei e ele riu.
— Obrigado. Acho que a gente ganha isso.
— Eu tenho certeza. Está preparado pra ser visto por milhões de pessoas quando for gravar isso com a Island?
— Não estou preparado nem para cantar na frente de todos no baile de primavera. - ele disse e nós rimos - Mas é sério, não estou preparado.
— Só fingir que está cantando no seu quarto ou sei lá onde você costuma fazer isso. - eu disse me ajeitando na poltrona e cruzando as pernas em forma de "índio" - Você não disse que tem um canal do YouTube? - ele assentiu - Então já deve estar acostumado com público.
— Isso não tem nada a ver. É totalmente diferente do que cantar ao vivo para a escola inteira.
— Para de ser dramático, não deve ser tão ruim assim.
Shawn's P.O.V
Emily era até que legal, eu estava gostando do tempo que estávamos passando, mesmo o foco sendo o trabalho.
Quero a conhecer melhor, não para contrariar Annie ou coisa do tipo, mas sim porque acho que por trás dessa barreira que ela criou, tem uma garota divertida.
Algo me diz que ela é mais do que aparenta. Ela não é apenas um rostinho bonito.
Sim, tenho de admitir, ela é bonita. Ela continua sendo uma Anderson, mas ela não deve nem saber de toda a história, pois se soubesse eu não estaria aqui hoje.
— Cheguei, perdi muita coisa? - Cameron passou pela porta interrompendo nossa conversa - Interrompi?
— Não. Sem problemas. - Emily disse calmamente - Achei que você não viesse.
— E eu não vinha - ele disse sentando na poltrona restante - mas eu fiquei entediado.
— Achei que você estivesse com a Chloe. - eu disse e pus o violão no chão.
— E eu estava, mas terminei. Ela é muito chatinha.
— Você está com ela a menos de 2 semanas Cameron. Que tipo de garoto é você. - Emily disse debochando de Cameron - Antes que você venham falar, é impossível não ouvir o que falam dos "populares" da escola. A escolha não é minha. - ela levantou aos mãos em forma de rendição.
— Só estava com ela por sexo. - ele disse e pôs as pernas na mesa de centro, Emily prestava atenção em tudo que ele dizia - Ela começou a ficar melosa e grudenta então é melhor terminar.
— Não somos brinquedos, Cameron. Você é um babaca. - ela disse entrando novamente em casa.
Cameron me olhou e começou a rir, balancei a cabeça negativamente e fui atrás dela.
— Ei! Onde você está indo? - perguntei quando vi ela com a mão na maçaneta da porta da frente.
— Pegar um ar. Cameron me irrita com apenas duas frases. Acho que isso foi um record. - ela disse rindo forçadamente.
— Já está tarde, acho que tem ar no quintal. - eu disse na tentativa de a convencer a não ir - Tudo bem, cuidado.
Por que eu estava mandando ela tomar cuidado? Ela é apenas mais uma menina. Ela assentiu com a cabeça dando um sorriso fraco e saiu da casa.
Voltei para a varanda onde Cameron se encontrava na mesma posição que estava quando deixei o local.
— O que te deu? - perguntei sentando na cadeira novamente.
— Deixar ela irritada é legal - ele disse rindo. - Mas é tudo verdade, não suporto garota grudenta.
— Você é um idiota, não se faz comentários desse tipo na frente das garotas. - eu disse inconformado.
(...)
Não discuti com Cameron, apenas o adverti já que foi uma tremenda falta de respeito.
Emily ainda não tinha voltado, e aquilo estava me preocupando.
Milhares de coisas passaram na minha cabeça, como por exemplo que Annie podia ter falado sobre Emily com Karen e John já estivesse tendo que fazer seu trabalho.
Estremeci ao pensar nessa possibilidade. Cameron mexia no celular, nem estava ligando para o sumiço de Emily.
— Shawn, onde está Emily? - Marie chegou na porta me perguntando.
— Ela disse que sairia para pegar um ar e até agora não voltou. - disse receoso esperando por um "Por que não a impediu? Você sabe que horas são?" Mas não foi o que ouvi.
— Posso falar com você um instante? - hesitei por um segundo mas acabei a seguindo para dentro da casa. - Ela não é quem você pensa.
— Como assim? - perguntei pondo as mãos no bolso e encostando na parede do corredor.
— Emily é adotada. Seu sobrenome verdadeiro não é Anderson. Deixe ela fora disso. - ela suspirou e continuou - Eu sei sobre tudo, sei porquê perdi meu marido e meu filho também. Não vou me envolver com isso, eu apenas quero que isso acabe, não quero ela envolvida em nada dessa maldita rixa familiar.
— Você sabe que não tenho controle sobre nada disso, muito menos posso opinar. Karen leva isso muito a sério. - não conseguia a chamar de mãe. Eu sei que ela me afastou por segurança, mas parecia que ela não ligava para mim.
Nunca retornava nenhuma das minhas ligações e o máximo que eu recebia em meu aniversário era uma mensagem escrito "Parabéns". Mas eu a temia.
Ela era uma mulher muito respeitada por todo o Canadá por carregar o sobrenome Mendes com ela. Todos a temiam, até seus familiares.
— Mas ela não precisa saber disso. Você pode a proteger Shawn, eu sei que pode.
— Por que você acha que eu faria isso? Ou pelo menos, por que você acha que eu faria isso sem receber nada em troca? - ela estava confiando demais em mim, e isso não me agradava.
Por mais que não pareça, odeio desapontar as pessoas.
— Você também não gosta disso, dá pra ver pela sua expressão ao tocar no assunto. Você é a nova geração, você tem mais "poder" do que imagina. Você pode por um fim nisso e selar a paz entre as duas famílias. - ela disse esperançosa.
Eu não conseguiria selar a paz, nunca. Sou apenas um garoto que ainda nem sabe o porquê dessa rixa ter começado a anos atrás.
— Não acho que seja possível. - eu disse e vi sua expressão mudar de esperançosa para desapontada em questão de segundos - Annie já sabe quem vocês são.
— Quem é Annie?
— Minha tia, irmã da Karen. - ela estremeceu e ficou pálida - Você está bem?
— Eu preciso falar com essa tal de Annie, não quero minha pequena Emily envolvida nisso. Por favor Shawn eu te imploro, faça o que conseguir para a proteção dela. - dava para sentir o desespero em sua voz. Uma pontada de culpa assumiu meu corpo. Culpa por ter contado de Emily para Annie e culpa por ter contado de Annie para Marie - Eu não posso te dar nada em troca, não somos ricos assim.
— Pode ficar tranquila - comecei na tentativa de a tranquilizar - eu vou fazer o que for preciso pra manter Emily fora dessa, tudo bem?
O que eu estava fazendo? Estava em uma emboscada com certeza. Virar amigo do inimigo, isso faz algum sentido?
Emily's P.O.V
Eu já tinha dado a volta no quarteirão umas cinco vezes e não sentia vontade de voltar para casa.
Não estava cansada nem com dor nos pés. Eu estava me sentindo bem, leve e com uma sensação de liberdade que nunca tinha sentido antes.
Eu nunca tinha saído de casa sem antes avisar minha mãe, essa era a primeira vez e acho que vou repetir mais vezes.
Havia apenas uma coisa me incomodando. Toda vez que passava pela casa de Shawn sua tia me encarava, com um olhar um tanto quanto assustador.
Decidi que essa seria minha última volta. Minha mãe já deve estar preocupada com a minha ausência e a única resposta que tinha era que eu tinha saído para pegar ar.
Ela sempre foi protetora ao extremo, querendo saber aonde eu ia, com quem, a que horas ia voltar e se eu corria algum perigo. E nesse caso ela não tinha nenhuma das 4 respostas.
Apressei o passo pensando em como ela deveria estar preocupada. Mas senti uma mão segurando meu braço, estremeci. Estava com medo de olhar para trás e ver quem era. Estava paralisada no meio da calçada, eu e mais alguém.
Tomei coragem e me virei, dando de cara com quem suponho que deve ser a tia de Shawn, já que só havia a visto de longe.
— Oi, você é a Emily, não é? - ela perguntou com o tom mais calmo que deve ter conseguido na hora. A raiva era presente em sua voz e qualquer um podia notar isso. Assenti com a cabeça levemente e continuei a encarando - Meu nome é Annie e sou a tia do Shawn. Bem seu sobrenome é Anderson certo? - assenti mais uma vez, quem era essa mulher e por quê sabia tanto sobre mim?
— Por que tantas perguntas? - respondi soltando meu braço de sua mão.
— Bem, deve saber que somos da família Mendes. - assenti mais uma vez. Ela falava como se fosse uma ameaça - Você sabe que não estamos seguros uns perto dos outros não é mesmo? - aquela mulher era completamente esquisita. Ela me encarava e era como se seus olhos gravassem cada parte do meu rosto, como se fosse a última vez que o veria.
— E posso saber o por quê?
— Não sabe? - ela perguntou espantada levantando as duas sobrancelhas, neguei com a cabeça - Oh - sua voz mudou de intensidade - então me desculpe por te assustar de tal modo. Você parece ser adorável.
Sorri forçadamente e corri de volta para a minha casa. Será que bipolaridade é de família?
Abri a porta da frente e pude ver Shawn e minha mãe conversando no corredor.
— Oi, voltei. - disse fechando a porta atrás de mim. Os dois me encararam e minha mãe veio até mim.
— Onde você estava? Sair sem minha permissão, você está maluca? Tem noção de quão preocupada eu fiquei? - ela começou a falar - lê-se gritar - comigo.
Shawn observava tudo sem dizer uma palavra.
— Eu estou nem, mãe. Tá tudo bem. Me desculpe, eu precisava sair. - disse desviando e indo até Shawn. - Sua tia é meio maluca, não é mesmo?
Ele deu um sorriso de lado - estava mais para um sorriso nervoso - e nós seguimos de volta para o quintal.
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