CAPÍTULO 41
KING’S CROSS
‘Histórias como essa não tem finais felizes…’ Lily o havia dito certa vez em uma discussão, ‘…Pois não existem finais felizes para pessoas como você e pessoas como ele, tanto no nosso mundo quanto no mundo dele’.
No momento em que ouviu tais palavras, Harry acreditou que foi apenas uma reação extrema de sua mãe contra o relacionamento dele com Cedric, uma “união proibida” entre um bruxo puro-sangue e um rapaz trouxa; ele também acreditou (ou preferiu acreditar) que ela estava errada e que ele eventualmente provaria que a história dele teria sim um final feliz com suas próprias escolhas e ao lado de quem ele amava.
Mas Harry estava errado.
Errado sobre o que acreditou, errado sobre Cedric e ele, errado sobre tudo: o que Lily o disse se revelou não apenas verdadeiro, mas também profético – histórias como a dele, de pessoas como ele, não tinham finais felizes.
Nunca poderiam ter.
Harry soube disso após ter perdido Cedric e foi “relembrado” ao sair da mansão dos Cullens após sua última tentativa de consertar as coisas com a família de vampiros – não adiantou. Ele voltou para casa e chorou nos braços de seus amigos mais do que poderia ou do que era possível, pois o sofrimento de reviver seu passado traumático e o desespero causado pela decisão final de seu então namorado queimou como fogo o pouco do que restou dele, exceto por um único sentimento cultivado nos últimos meses e que lutou para resistir – esperança.
Mesmo com a visão comprometida pelas lágrimas e falta dos óculos, mesmo com o corpo e mente doendo pela exaustão dos últimos dias e fraco pela fome de não ter se alimentado, Harry se agarrou com força em sua esperança e fez o que poderia fazer – ele esperou: com os olhos fixos na janela do quarto, ele esperou pela chegada do vampiro de cabelos de cobre e olhos dourados... Ele esperou para ser perdoado, esperou para ser salvo, esperou por um milagre, esperou por misericórdia…
Se Edward aparecesse e o perdoasse, Harry faria tudo direito, ele se esforçaria para ser tão bom quanto os Cullens se esforçavam em ser. Ele lutaria até a última fibra de seu ser contra o Senhor das Trevas e os inimigos que os queriam mal. Ele faria de tudo para cuidar do amor que tinha e da felicidade que provou ao longo dos últimos meses, felicidade essa que ele acreditou que jamais pudesse sentir de novo – ele faria tudo isso, pois Edward o havia dado esperança.
Então ele esperou.
Harry esperou por horas, até o dia amanhecer.
Mas Edward não veio.
‘Eu não quero mais ver você!’ a voz dura e fria do vampiro voltou a assombrá-lo, 'Você é um monstro!’.
Um monstro…
Harry era um monstro.
Sim…
Monstros não eram dignos de compaixão, de perdão e muito menos de amor ou de serem amados. Monstros como ele não mereciam segundas chances, muito menos finais felizes – estes eram destinados às pessoas boas, e não para pessoas como ele, já nascidas de forma corrupta e propensas a serem más.
No amanhecer daquele dia frio e escuro de Halloween, a esperança e os sonhos de Harry morreram, deixando-o sem nada tal como quando veio à Forks junto com seu plano inicial: sacrificar-se durante a Lua de Sangue para evitar a vinda de Lúcifer, cabendo a Ron e Hermione a missão de destruírem seu corpo, o receptáculo físico do anjo caído.
Ele deveria morrer.
Não havia mais lágrimas, ele não tinha mais forças, mas ele sabia o que deveria fazer – ele sabia desde o início que era o certo.
E foi assim que sob o céu estrelado e a Lua de Sangue, na campina florida de Edward (uma forma singela de tê-lo “por perto”) e ao lado de seus dois melhores amigos que Harry caminhou para a morte – ele não encontraria paz, sua alma não seria liberta, mas ao menos aquilo traria algum tipo de redenção, pelo menos era o que ele esperava.
“Me perdoem… Por tudo.” ele pensou nos rostos de Ron e Hermione a poucos metros dele, seus irmãos de coração sofrendo por terem de obedecê-lo…
Ele pensou no rosto de seus pais no qual nunca mais veria: ele se lembrou de James carregando-o nos ombros quando criança ao brincar de aviãozinho ou de Lily e o calor de seu abraço maternal, pensou no sofrimento que iria causá-los…
Harry pensou em Cedric, seu eterno primeiro amor no qual ele teve de abrir mão e deixar partir por diversas e dolorosas vezes…
E por fim em Edward Cullen, um inesperado amor no qual o fez ter esperança de que talvez pudesse ser feliz, mas que por sua culpa, não pôde.
– …HARRY!!!
Por um milésimo de segundo Harry pensou ter ouvido o nome dele, pensou ter ouvido a voz de Edward o chamando ao longe.
Mas ele sabia que aquilo devia ser fruto de sua imaginação, uma alucinação – Edward não iria vir. Ele nunca mais queria vê-lo.
“Eu sinto muito...”, ele pensou no vampiro.
Esse foi o último pensamento de Harry em vida antes de ser engolido pela mortal luz verde.
…
…
…
Luz.
Mesmo de olhos fechados, Harry soube que havia luz em sua volta, uma luz tão forte que atravessou suas pálpebras como se fossem feitas de papel.
Apertando os olhos, ele esperou voltar para a escuridão e se desconectar de tudo, mas o esforço foi inútil: ainda era claro como meio-dia; Ele sentiu que estava deitado sobre algo mais duro que o gramado da campina, sua cabeça apoiada no próprio braço e que seu corpo ainda respondia seus comandos mínimos como tentar ficar parado.
Harry então respirou e apreciou a sensação do ar enchendo seus pulmões, um ar menos gélido e úmido do que havia na clareira; Movido pela curiosidade, ele prendeu a respiração e notou também que poderia fazer aquilo por um tempo indeterminado, afinal de contas, ele tecnicamente não precisava mais respirar.
“Então é assim que é estar morto?” ele refletiu após um tempo, ficando quieto.
E enquanto permanecia quieto, ele também notou que não sentia mais exausto ou fraco da fome, nem mesmo o frio que fazia na campina alguns momentos antes; Exaustão, fome, frio… Tudo isso se foi no momento em que ele foi engolido pela luz verde.
Ele sentiu um pouco de alívio e gratidão por isso.
Com uma respiração profunda, Harry instintivamente se preparou para ser cegado pela luz, mas isso não aconteceu: ele abriu os olhos e enxergou o clarão com naturalidade.
Era tudo muito branco, luminoso e etéreo... E para sua surpresa, familiar.
Ele se levantou um pouco tonto e começou a olhar para o lugar onde estava: margeando os dois lados havia fileiras de colunas e arcos enormes que pareciam se estender até o infinito, onde eram engolidos pela luz; As colunas e arcos se erguiam do chão, mas nunca atingiam o teto, pois não havia teto.
Harry encarou as arcadas com curiosidade, sentindo uma enorme sensação de déjà vu, mas não sabia apontar onde tinha visto aquilo – era como se lembrar de um sonho.
– Tem alguém aí? – Harry perguntou receoso, sua voz fraca ecoando até sumir.
Nada.
“Sozinho, ao que parece.” ele suspirou, começando a caminhar em passos lentos, com medo de que aquele piso sob seus pés fosse instável. Ele continuou a observar as arcadas acima tal como uma criança curiosa, parando ao olhar para a luz branca no horizonte.
“Então essa é a luz no fim do túnel no qual as pessoas tanto dizem?” ele pensou, apreciando a sensação de leveza em seu corpo... Ou seria espírito? Isso ainda era confuso para ele: toda a ideia de estar morto...
Harry voltou a caminhar sem rumo, passando por mais uma arcada de colunas, até que do nada duas palavras pularam de sua mente como um ponto de exclamação.
– King’s Cross?! – ele sussurrou incrédulo, encarando as arcadas com atenção.
Sim...
Aquelas arcadas… Ora, era King’s Cross! Ou pelo menos seria, se King’s Cross fosse mais limpa, luminosa, e claro, completamente vazia, algo impossível de acontecer na vida real.
Porque ele estava em King’s Cross? Ou porque, de todos os lugares, era logo King’s Cross que ele havia ido?
Ele continuou a olhar para as colunas e arcos, sua mente flutuando nas memórias daquele lugar, sua mão pousando na coluna branca para se apoiar. Fazia tanto tempo desde que ele esteve naquela estação…
– Harry? – uma voz se propagou através do vazio até onde ele estava, uma voz no qual ele conhecia.
Harry saltou pelo susto, mas depois congelou, sentindo-se rígido e tenso, a garganta e o peito contraindo enquanto seus olhos voltavam a marejar.
Não podia ser.
Não. Não podia!!!
Ele conhecia aquela voz, aquele tom e cadência...
Ele ouviu seu nome ser chamado por aquela voz doce em inúmeras vezes, seu nome soando quase como música, seja por um sussurro íntimo ou em um volume alto, amoroso e humorado.
Não!!!
Com certeza deveria ser um truque, uma armadilha mental criada por ele mesmo... Ou pior: aquele deveria ser a primeira tortura de seu inferno, sua punição por tantos pecados cometidos.
– Harry? – a voz similar a de Cedric o chamou de novo.
Mas ao invés de se virar, Harry apenas se encolheu em seu canto, esperando que talvez fosse o suficiente para afastar seu carrasco ou se proteger: ele não queria ser torturado por alguém se passando por Cedric. Era demais pra ele suportar.
– P-Por favor, vá embora… – Harry suplicou trêmulo, negando com a cabeça – Eu não aguento mais… N-Não aguento…
Ele fechou os olhos, chorando ao ser tomado por suas emoções e sentimentos: sem a exaustão, o frio e a fome sentida no fim de sua vida humana, as emoções e sentimentos como tristeza, desolação e desespero pareciam ainda mais nítidos, mais intensos, afinal, as emoções estavam intimamente ligadas a alma.
Era enlouquecedor.
– P-Por favor... – ele implorou – ...n-não me machuque.
Houve silêncio.
Mas não porque Harry teve seu pedido atendido e fora deixado sozinho, mas sim porque Cedric Diggory estava paralisado e entristecido demais para dizer qualquer coisa naquele momento, seu olhar fixo em seu amado a poucos passos de onde estava: pequenino e frágil ao se encolher em si mesmo, com a cabeça abaixada e os ombros magros trêmulos curvados como se ainda carregasse um peso grande demais para suportar.
Harry, seu amado Harry, o pequeno com coração de leão, antes tão forte, audacioso, corajoso e leal agora estava frágil e machucado: Harry fora maltratado pela vida e por aqueles no qual ele amou, sacrificou-se sem pensar duas vezes e sofreu até a morte – e mesmo após morte ainda sofria, acreditando que apenas estava ali para ser machucado de novo.
Harry estava quebrado.
Cedric não pôde protegê-lo e cuidá-lo como tanto quis e prometeu, não pôde impedir a outra metade dele, Edward, de machucá-lo.
Ver Harry naquele estado o feriu fundo, fazendo-o chorar ao mesmo tempo que o enchia de determinação.
– Eu não vou machucar você, m-meu amor. – Cedric assegurou, lutando contras as lágrimas – E você n-não vai mais ser machucado! Por n-ninguém!
– Está me-mentindo p-para mim! – Harry negou, soluçando ao manter a cabeça baixa.
– H-Harry… – ele deu um passo à frente – Olhe para mim… Sou eu!!!
Harry não se virou, ainda em estado de negação.
Cedric se aproximou mais, tentando manter a calma e tranquilidade mesmo sentindo o oposto disso.
Por um momento, ele pensou em apenas abraçá-lo, seu instinto protetor gritando para que ele o tomasse nos braços e garantisse que estava tudo bem. Mas ele se segurou, pois sabia que Harry estava fragilizado demais por tudo que havia passado e ser abraçado de surpresa não era a melhor ideia.
Ele precisava ter cuidado e paciência, precisava mostrar a Harry que de fato era ele ali e não alguém que o queria mal.
Olhando para sua mão, ele teve uma ideia.
– Algodão-doce… – Cedric murmurou em meio às lágrimas – Foi o que me levou até você no dia em que te vi pela primeira vez, no dia da coroação… Duda Dursley e os amigos dele se aproveitaram do fato de você ser menor que eles para roubarem seu algodão-doce, te fazendo chorar…
Harry não se mexeu.
– Eu... Eu sempre me lembro disso, pois antes mesmo de saber seu nome, eu não quis que você ficasse triste ou que chorasse. Aquilo… Aquilo doía em mim e eu nem sabia o porquê… Apenas sabia que eu deveria te fazer sorrir. Por isso, eu te dei minha coroa de papel que usava… E em troca, você me deu o seu primeiro sorriso.
Silêncio.
– Joe… – Cedric prosseguiu, sorrindo um pouco ao focar na lembrança – Joe foi o nome do passarinho cinza que você curou com suas mãos no dia em que nos tornamos amigos… Naquele dia eu soube que você era especial. Não apenas pela sua magia, mas pela forma que você me fazia sentir quando estava do seu lado… Cada segundo ao seu lado era especial... Mágico.
Harry soluçou pelo choro, escondendo o rosto com as mãos.
– “A Bela Adormecida”... – Cedric citou, suas lágrimas escorrendo pelo rosto – F-Foi o filme que assistimos j-juntos no dia em que me dei conta de que você era a única pessoa no qual eu queria ter um “primeiro beijo de amor”. Foi no dia em que soube que era apaixonado por você… Meu melhor amigo.
Harry se encolheu, se relembrando de cada momento mencionado.
– O chalé em ruínas... – Cedric sussurrou – Foi ali que crescemos em nossas b-brincadeiras de infância. Foi ali que nós tivemos nosso primeiro beijo... O primeiro de muitos, p-pois era o único lugar que tínhamos, o nosso próprio mundo onde podíamos ser nós mesmos, o lugar onde podíamos sonhar com vida que teríamos quando saíssemos de Godric’s Hollow...
O bruxo soluçou ao se recordar dos momentos felizes que passou lá assim como sua dor naquele horrível dia de verão de 1964 quando Cedric fora morto por Riddle; Harry se afundaria mais em sua dor, se não sentisse naquele instante uma mão quente sobre seu ombro, um gesto de conforto no qual o aliviava.
– H-Harry… – Cedric disse com emoção – …foi o nome q-que dei ao meu primeiro filho, pois mesmo tendo tido minhas memórias apagadas, você sempre esteve no meu coração… E sempre c-cuidou de mim… H-Harry, meu anjo da guarda... O g-garoto que eu amei por toda minha v-vida, até o dia de minha m-morte... E que amo além da morte.
Harry arfou, lembrando-se da última vez que viu Cedric, ambos em um hospital, este último já com um idoso.
“Você sempre esteve em minha vida Harry.” ele o havia dito “Você foi meu anjo da guarda: de alguma forma ou outra, sempre esteve comigo.”
– H-Harry... – a voz sussurrou – S-Sou eu!
Mesmo morto (se é que aquilo era estar morto) Harry sentiu a sensação-fantasma de seu coração acelerar e o estômago contorcer, as pernas ficando bambas; mas de alguma forma ele se virou para trás, erguendo sua face para ver o dono daquela voz.
Ele estava vestido de branco, mas ainda irradiava cores nas quais Harry conhecia: o cabelo não era branco-prateado, mas sim dourado como ouro escuro, caindo sobre a testa da maneira que fazia desde que era um menino... Os olhos de um cinzento límpido e brilhante, olhando diretamente para ele, cheios de imenso amor... As bochechas molhadas por lágrimas e lábios rosados no rosto glorioso e jovem, como se não tivesse passado um dia desde a juventude deles no início dos anos 60, como se ele nunca tivesse morrido como um senhor idoso de 70 e poucos anos.
E na mão livre dele destacavam-se o verde pontilhado de azul, fazendo Harry desestabilizar ainda mais: um ramalhete modesto de não-me-esqueças.
– C-Ced? – Harry sussurrou com a voz quebrada, sentindo a dor ao dizer o apelido.
Cedric deu um sorriso doce mesmo ainda chorando.
– Olá… – ele o cumprimentou com sussurro caloroso – M-Meu Harry!
Harry soluçou, chorando ao abaixar a cabeça e fechar os olhos enquanto tremia por inteiro; Cedric, por sua vez, fez aquilo que deveria ser feito: ele envolveu Harry com seus braços em um abraço apertado e seguro, levando a cabeça do menor em seu peito de maneira protetora enquanto seus dedos enterravam no cabelo escuro em uma carícia consoladora.
Era um abraço cheio de saudade, amor, mas também de muita dor: doía a Cedric pois aquele deveria ter sido o abraço que teria salvo a vida de Harry, o abraço no qual Edward, por orgulho, não fora capaz de dar; doía para Harry, pois ao ser segurado daquela maneira, ele sentiu todo o peso que ele carregou durante décadas em seus ombros, todo o sofrimento que lhe havia infligido.
– Vai ficar tudo bem agora, meu amor... Vai ficar tudo bem... – Cedric sussurrou, beijando a cabeça dele da forma que sempre fazia, sentindo o corpo pequeno tremer em seus braços.
Harry chorou, abraçando-o com força pelo medo daquilo ser uma alucinação sua, uma ilusão ou uma forma de tortura.
Mas não era: ele conhecia aquele calor, aquela carícia e suavidade vinda das mãos grandes e gentis... Ele sentia o cheiro e o calor que emanava do peito forte contra sua face, ouvia até mesmo o coração, mesmo os dois estando mortos.
Aquele era Cedric, seu amado Cedric.
Harry se segurou nele com força, com medo dele ir.
– E-Estou tão cansado, t-tão cansado… E tudo d-dói... – ele chorou – F-Foi tudo tão di-difícil, Ced... E-eu não consegui...
Cedric chorou em silêncio, continuando a apertá-lo no abraço ao entender que Harry precisava daquilo.
– Eu sei, meu amor... Eu sei. – ele sussurrou, seus lábios contra o cabelo escuro ao sorrir e chorar – Meu menino valente e corajoso... Você lutou tanto, mais do que qualquer um... Agora... Agora é sua vez de descansar.
Harry se encolheu no abraço, chorando sobre o peito dele enquanto Cedric cantarolava baixinho para acalmá-lo, seus braços fortes sempre o envolvendo com força e gentileza, um porto-seguro no meio da tempestade ou um bálsamo para suas feridas. Demorou um tempo até que Harry começasse a se acalmar e parar de chorar em soluços, um pouco mais de tempo até que sua mente começasse a ficar clara, mas em nenhum momento ele se desvencilhou de Cedric.
– O q-que... – Harry balbuciou, seus olhos fechados – O que está f-fazendo aqui? Esse n-não é o lugar em que v-você deveria estar, Ced... N-não comigo...
Cedric beijou a cabeça dele novamente, e com gentileza se afastou um pouco para que pudesse vê-lo, mas ainda o abraçando; Harry, a muito contragosto se afastou, abrindo os olhos avermelhados pelo choro, vendo o rapaz sorrir para ele de maneira serena.
– Eu vim aqui buscar você. – ele disse, levando a mão até a lateral do rosto de Harry.
O garoto de cabelos escuros, por sua vez, franziu a testa sem entender o que tinha ouvido, negando aos poucos com a cabeça.
– O q-que?
– Eu vim te buscar, Harry. – Cedric sussurrou, sua voz vibrando pela enorme emoção – Vim levar você comigo... Para o Paraíso.
Harry ficou em silêncio, olhando para ele com olhos arregalados pelo choque enquanto uma minúscula fagulha de calor cresceu em seu peito: ir com Cedric? Para o Paraíso? Ele?
Mas antes mesmo que pudesse conceber aquela ideia, Harry sentiu a realidade voltar a batê-lo, seu semblante voltando a ficar miserável.
– Eu... Eu n-não posso… Eu não p-posso ir. – ele abaixou a cabeça com vergonha, tirando a mão de Cedric sobre seu rosto – Não é um lugar para m-mim… Não é um lu-lugar para g-gente como eu.
Cedric sentiu o peito doer, gentilmente levando sua mão até o queixo de Harry e revelando seu rosto manchado por lágrimas; com o polegar, Cedric limpou a lágrima que molhava a bochecha corada, olhando para os olhos verdes dele.
– Há muitos anos... – ele sussurrou, incapaz de conter suas próprias lágrimas – Eu fiz uma promessa a você: eu prometi para você que iríamos para a estação de King’s Cross... E de lá iríamos para o nosso lugar. Um lugar no mundo que fosse apenas nosso.
Harry fechou os olhos ao negar o que estava acontecendo. Aquilo era loucura, não era?
– Nunca seria meu paraíso se você não estivesse lá... Comigo. – ele disse com um sorriso emocionado – Então estou aqui... Com você... Em King’s Cross, para te buscar… E levá-lo para um lugar apenas nosso, como prometi! Como deve ser!
Harry voltou a olhá-lo, lutando com a própria descrença. Seria possível? Não… Não poderia ser.
Não para pessoas como ele.
– M-Mas eu n-não posso ir, Ced... Eu n-não mereço! – ele sussurrou – E-Eu... Eu fui um br-bruxo… Eu sou m-monstro…
Cedric contraiu o maxilar.
Ele sentiu-se furioso e indignado por aquilo: afinal, aquelas palavras haviam sido jogadas injustamente sobre Harry por alguém que era na verdade o verdadeiro monstro – Edward, sua outra metade corrompida, egoísta e orgulhosa.
Harry era incapaz de enxergar seu valor, incapaz de ver o quão bom ele era e isso era revoltante enquanto Edward e os Cullens…
‘Não há mais razão para pensar neles.’ ele pensou, ‘Não mais agora quando eles mesmos selaram seus próprios destinos!’
Cedric suspirou, voltando a acariciar a face de sua alma gêmea com ternura.
– Você não é... E nunca foi um monstro. – ele assegurou com seriedade – Você é o meu Harry. Corajoso... Amoroso... Leal... E acima de tudo, você é bom!
Ele pausou por um momento e continuou.
– O que fizeram com você… Isso sim foi monstruoso. Eles machucaram você sem razão. Eles fizeram você acreditar em coisas que você não é. E ele... Ele quebrou seu coração. – Cedric estremeceu ao recusar falar o nome de Edward, mas voltou a se concentrar em Harry em seus braços – Mas eu estou aqui. E nunca mais irei te deixar... Nunca, nunca mais você irá chorar, nem se sentir triste… Eu estarei com você, como sempre prometi. No nosso próprio lugar...
Harry sentiu o calor aos poucos voltar e aquecer seu peito ao ouvir aquilo, seu coração – ou o que quer que fosse – batendo forte ao ver Cedric pegar o ramalhete de não-me-esqueças e sorrir emocionado para as flores e para ele, colocando em sua mão.
– Fomos forçados a viver separados… – Cedric disse – Mas chegou a hora de ficarmos e vivermos juntos.
Harry sorriu e chorou ao mesmo tempo ao olhar para o ramalhete de flores que segurava e para o rapaz que lhe estendeu a mão em um convite.
– Harry James Potter… Me concederia a honra de me acompanhar para o nosso próprio lugar? De ficar comigo por toda a eternidade?
O bruxo suspirou ao fechar os olhos, acenando um “sim” com a cabeça e pousando sua mão sobre mão de Cedric, que entrelaçou os dedos dos dois da maneira que faziam em vida, quando estavam juntos e sós, seguindo por um beijo muito calmo, casto, cheio de amor e delicadeza – exatamente aquilo que Harry precisava.
Lentamente, os dois começaram a caminhar, Cedric guiando Harry por aquela King’s Cross, do jeito que deveria ter sido feito décadas atrás.
E foi assim que ambos, finalmente, partiram juntos para um lugar somente deles, um lugar onde nunca haveria lágrimas, dor ou tristeza: Cedric, com todo seu amor e paciência iria colar pedacinho por pedacinho do coração partido e alma machucada de Harry, preenchendo-o e curando-o com a felicidade que ele prometeu e o amor que tinha.
Era um lugar só deles por toda a eternidade…
…Um lugar onde eles viveriam, enfim, felizes para sempre.
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