Josie deixava a água morna bater sobre seu corpo relaxando seus músculos tensos. O sangue que havia lhe encharcado descia misturado com a água limpa pelo ralo. Aquilo só a deixava pior.
Fechou seus olhos e encostou sua testa na parede fria, respirando o vapor quente gerado pela água que agora batia em suas costas. Tudo passava por sua cabeça novamente. O olhar da ruiva, a mão dela sobre a sua, a dor, o desespero. Sua garganta embrulhou-se e seu peito apertou. Ela queria abraça-la e dizer que tudo ficaria bem, queria tê-la salvo a tempo. Mas não... Ficou parada deixando que a irmã o fizesse e depois se deixou ser pega por homem que parecia ter o dobro do seu tamanho. Ela se culpava, se culpava muito.
- Josie? - Lizzie bateu na porta do banheiro tirando a morena de seus devaneios.
Desligou o chuveiro sentindo o frio se fazer presente e enrolou-se em uma toalha branca.
Caminhou descalça sobre o azulejo gélido em direção a porta, a abrindo em seguida.
- Ah, você está aqui. - A loira disse aliviada.
Josette a encarou confusa com uma das sobrancelhas arqueadas. Como assim "você está aqui"? Onde mais ela estaria aquela hora da noite?
- Tá tudo bem? - Perguntou.
Elisabeth observou-lhe de cima a baixo, desde seus pés até seus cabelos curtos que escorriam o excesso de água por seus ombros.
- Tá. - Respondeu virando as costas.
Definitivamente não estava tudo bem.
. . .
A morena ainda tinha seus cabelos úmidos. Estava se sentindo mais leve depois do banho, mais limpa.
Lizzie mexia em seu celular ignorando a irmã no cômodo, como se a evitasse. Por quê? Essa era a pergunta que deveria ser feita.
Josette foi na direção da gêmea, sentando-se em sua cama de frente para ela que continuava com o olhar fixo no celular. Ela sabia que aquilo era apenas uma tentativa de fingir se ocupar para evitar algo que queria descobrir o que ela.
- Lizzie? - A chamou atraindo sua atenção que já estava sobre si, já que a bruxa apenas fingia ignora-la. - Vai me contar o que tá acontecendo?
A garota suspirou se ajeitando em meio aos travesseiros.
- Não tá acontecendo nada. - Respondeu fingindo e Josie a encarou como se disesse que sabia que ela estava mentindo. - Ok... Eu falo. - Se rendeu. - Depois desse lance da Hope e... Essa história de fusão, eu tenho tido medo de te perder e tenho pensado no quanto seria horrível ter que entrar em uma batalha onde uma de nós vai... - Sua voz falhou. - Você sabe.
Wow. Lizzie estava assim e com razão. Não haviam pensado muito sobre a fusão e nem falado sobre com Alaric, muito menos entre si. Não tiveram tempo para focar na tal tradição que mais deveria ser chamada de show de horrores.
- Eu não pensei sobre isso. - Abaixou a cabeça. - Acha que nosso pai já sabia? - Perguntou ingênua.
- Eu tenho quase certeza. - Elisabeth tinha chateação dominando sua voz. - Não quero fazer isso.
- Acho que ninguém quer. - Suspirou. - Provavelmente somos obrigadas por algum castigo sobrenatural.
- Provavelmente... - Respondeu.
Elas estavam cheias demais, eram informações o suficiente para anestesia-las. O tipo de anestesia que vem quando são tantas informações que seu cérebro não consegue as digerir de uma vez só, retardando todo um processo de sensações, sentimentos e na maioria das vezes consequências psicológicas.
A morena abaixou seu olhar, encarando as próprias mãos agora. Pensava em Hope, na sua preocupação. Por que ela ainda continuava sendo um assunto urgente em sua mente? Ela tinha gene vampiro, mas e se a brecha da natureza aplicada à um tríbido fosse carregar o gene vampirico e mesmo assim não completar a transição? E se algo desse errado? Um colapso místico? Eram tantas possibilidades, e a maioria delas eram simplismente péssimas!
- Ela vai voltar... - A irmã disse. - Vai completar a transição. - Segurou a mão de Josie. - Sei o quanto ela importa pra você, mesmo não entendendo qual é o lance entre vocês duas. - Brincou e a garota riu. - Também sei que não é o que ela queria, mas o importante é que ela vai estar viva.
Josie acentiu concordando com Lizzie e se sentindo mais calma. Não demorou para que a loira a puxasse para um abraço enterrando seu rosto em seu pescoço e sentindo uma onda reconfortante invadir seu peito. Eram tempos difíceis, mas elas tinham uma à outra, eram inseparáveis e se davam força. Talvez fosse a ligação de gêmeos ou só a simples ligação familiar, mas esse detalhe realmente não importava.
. . .
Hope continuava sem pulso, desacordada e literalmente sem vida em seu próprio quarto. Era esquisito para quem visse de fora que a ruiva não respirasse, por mais que parecesse que estivesse dormindo. Sua pele permanecia pálida e gélida. Sua boca havia perdido a tonalidade rosada e estava completamente branca. Ela estava morta e isso era doloroso de se admitir.
Em algum momento por uma pequena fração de tempo, todos os cortes em seu corpo começaram a diminuir. O tecido de sua pele estava regenerando incrivelmente rápido. Movimentações em seu corpo sem vida começaram a acontecer, manifestações diferentes de como ocorriam antes.
Um segundo. Foi o tempo suficiente para que a primeira batida de seu coração fosse dada e suas veias começassem lentamente a trabalhar correndo sangue frio pelas suas veias. Lentamente as bombeadas dadas pelo órgão aumentavam de velocidade e lentamente seu corpo se encaixava nos eixos.
E de repente, sua alma pareceu voltar ao lugar. Ela abriu seus olhos e deu seu primeiro suspiro desesperado, se sentando na cama recolhendo todo o oxigênio que podia. Era o seu primeiro sinal definitivo de vida após a morte.
Não tinha consciência de nada de onde estava, do que havia acontecido e nem do que acontecia agora. Continou respirando e sugando ar desesperadamente tentando viver.
"Josie, Cannon, adaga e... escuridão."
Foram essas as palavras chave para desencadear suas memórias do que aconteceu, de quem era, o que fazia, e o que havia acontecido.
Ela olhou a sua volta assustada vendo que estava em seu quarto, logou retirou sua blusa desesperamente procurando o grande corte feito em seu peito na direção do coração. Nada. Absolutamente nada.
Correu até o espelho analisando-se nua, somente de sutiã. Haviam restado somente as marcas de sangue. Oh céus, ela estava muito suja por sangue seco.
Havia um corte em sua barriga antes, outro em sua coxa. Então analisou também seu abdômen. Novamente nada. Ela estava curada e sentia seu corpo funcionar estranho. Estava fraca e um zumbido que só notara agora tomava conta de toda a sua mente interrompendo seus pensamentos conforme se intessificava. Agora era dor, não mais um zumbido.
Ela arfou um pouco e olhou a sua volta assustada. Seus olhos entraram em contato com a luz fraca acesa contribuindo para que a dor se aumentasse. Agora levou suas duas mãos pressionando sua cabeça como se aquilo fosse amenizar ou fazer a dor parar.
Cada barulho, cada toque, cada sentimento, sensação... cada coisa que lhe envolvia estava maior, amplificada. Aquilo era perturbador, ela sentia como se fosse ficar louca. Talvez já estivesse louca, em colapso.
Colapso... aquilo era algo familiar, mas ela não raciocinou sobre já que a única coisa que estava tomando sua mente agora era seu corpo completamente atordoado.
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