“Não encontre defeitos, procure soluções.” – Henry Ford
Acredito que posso respirar aliviado agora, no entanto, o medo ainda é real. Não sei o que enfrentaremos daqui para frente, mas posso garantir que não sairei do lado do meu filho.
Minha mãe tem toda a razão. Cheguei a duvidar que de fato minhas escolhas havia contribuído para tudo aquilo – de certa forma elas têm sua parcela de culpa –, mas se não tivesse optado por Hyomin ou o doador anônimo, não teria aquele anjinho como filho.
A doença ao qual Eunwoo enfrenta pode ser apenas a prova de que preciso ser realmente um pai. Foi exatamente isso que tanto almejei durante a vida, e o papel que devo exercer ainda melhor daqui para frente.
Em conversa com algumas enfermeiras durante o dia, até mesmo um dos médicos responsáveis pelo seu monitoramento, pude descobrir um pouco mais sobre a tal hemofilia.
Descobri também que artigos médicos não são as melhores coisas para se lerem na internet quando se está desesperado. Sempre acabamos vendo pelo lado negativo de tudo afinal, com os avanços da ciência e tecnologia é possível que hemofílicos vivam por longos anos, terem uma vida comum como a de uma pessoa saudável.
Como pai, saber que seu único filho pode sangrar até a morte por uma mísera ferida é realmente algo assustador.
Então apareceu um fio de esperança, doutor Jeon se mostrou disposto a ajudar meu pequeno, mas ainda não sei como devo chamá-lo, anjo ou herói.
Vi nos olhos daquele médico a vontade de ajudar, mesmo quando fui grosseiro e lhe disse coisas no calor do momento. Ele entendeu, compreendeu como qualquer um que aquele era o desespero de um pai.
Novamente passei o dia com Eunwoo, o domingo naquele quarto de hospital parecia tão monótono. Equipe médica reduzida, um silêncio quase perturbador, mas o atendimento continuava o mesmo.
Enfermeiras atenciosas, haviam se apegado a Eunwoo como se o tratassem há muito tempo. Minha mãe tem razão quando disse que é quase impossível não amá-lo, se alguém sente ódio por uma criança como meu pequeno significa falta de amor, essa pessoa nunca teve contato com anjos para pensar desta forma.
Durante a tarde novamente recebemos a visita de sua professora, senhorita Park desta vez veio acompanhada do noivo, alguém muito gentil e atencioso por sinal.
A mulher trouxe consigo um caderno com folhas totalmente em branco, uma caixa de gizes de cera o que despertou completamente o sorriso de meu anjinho. Eunwoo e sua paixão secreta por desenhos, chega até mesmo a nos surpreender por sua inteligência com tão pouca idade.
Senhorita Park questionou sobre o retorno do mais novo para o colégio, lhe disse que apenas o médico saberia informar. No entanto, Eunwoo está restrito a atividades bruscas por um período de seis semanas, todo o cuidado é pouco para alguém que se recupera de uma cirurgia tão delicada.
Após o almoço Eunwoo e eu passamos o resto da tarde assistindo aos seus desenhos, ou melhor, apenas meus olhos estavam focados na televisão, já que o mais novo se distraiu com o caderno e os gizes coloridos.
No fim da tarde me despedi do mesmo, o mais novo estava até conformado com o fato de eu precisar ir dormir em casa. Meu retorno ao trabalho na manhã seguinte depende de uma boa noite de sono, sei que enfrentarei coisas pesadas vindas de pessoas sem o mínimo bom senso.
Minha mãe foi quem veio passar a noite o acompanhando. O sorriso que Eunwoo mostrou ao ver minha mãe deixou claro suas intenções de extrapolar limites, afinal é para isso que as avós servem, exceto a minha, aquela era o demônio em pessoa.
– Sem burlar as regras ouviu, mocinho?
– Sim, papai. – respondeu ele um pouco cabisbaixo.
– Sabe que ainda tem dodói na sua barriginha. Você não quer fazer outra cirurgia ou quer? – indaguei observando ele me encarar com aqueles olhinhos brilhando por lágrimas.
– Não, papai.
– Bom garoto. – deixei um beijo em sua bochecha percebendo sua respiração tranquila. – Amanhã venho te buscar, certo?
– Woo vai para casa amanhã?
– Acredito que sim, anjinho. – respondi sua pergunta não me aguentando em expectativa a espera da mesma notícia positiva. – Tudo vai depender do doutor Jeon.
– O titio é legal. Vai deixar Woo ir com papai.
Crianças e sua aura inocente em achar que tudo se resolve a base de simpatia.
– Se comporte, sim? – ele respondeu com um simples aceno. – Boa noite.
– Boa noite, papai.
Me despedi de minha mãe no corredor, a mais velha prometeu mantê-lo na linha, afinal sentiu na pele o que é ter seu neto adorado sobre a maca de um bloco cirúrgico.
Acredito que sua pose de avó que faz todas as vontades do neto ficou um pouco abalada. Sentindo na pele a culpa de algo que não teve como prever, a mais velha se tornou um pouco mais protetora.
Retornei para a casa sentindo um pouco mais de animação. O trânsito colaborou por não estar tão carregado, e finalmente quando cheguei já conseguia sentir o cheiro o jantar hall de entrada.
Me deixei ser guiado por aquele aroma incrível. Senhora Bang estava atenta preparando uma porção de bibimbap¹, mais uma de suas especialidades que acabava me prendendo pelo estômago.
– Boa noite, senhora Bang. – disse enquanto pegava um copo para beber um pouco de água.
– Boa noite, senhor Park. – respondeu ela com tranquilidade, sem perder a concentração nas panelas em sua frente. – O jantar será servido em alguns minutos.
– Vou tomar um banho primeiro, preciso trocar essas roupas. – deixei o copo vazio sobre a pia, seguindo em direção ao corredor.
– Como está o menino Park? – indagou ela um pouco curiosa. Era de se esperar, todos estivemos apreensivos com o quadro clínico do mais novo.
– Bem melhor. Talvez ele retorne para a casa amanhã. – sorri aliviado por aquela notícia. – A senhora poderia preparar aquele bolo de cenoura? Ele já pode comer normalmente então pensei que...
– Estará pronto assim que chegarem, senhor Park. – respondeu Jiyeon com aquele sorriso terno. – Sabe que são como minha família, certo?
– Obrigado, senhora Bang.
Então segui para o quarto. A cama estava ali milimetricamente arrumada, na certa minha mãe resolveu deixar tudo à sua maneira para me receber.
Meu terno para voltar ao trabalho já estava separado no closet, os documentos organizados sobre a mesa assim como um comprimido para dores de cabeça. Mães e sua mania incrível de pensar sempre no melhor para seus filhos.
Posso ter quase trinta anos, mas sempre serei o eterno bebê de Park Eunji.
Claro, motivo de orgulho desde muito novo. Nunca dei trabalho no colégio, mesmo tendo limitações. Durante o primário apenas consegui bolsa, pois minha mãe dava aula naquela instituição, não havia dinheiro para uma mensalidade tão cara.
Por esse motivo soube valorizar cada gota de suor. Enquanto ela dava aulas o dia todo e ainda pegava aulas particulares, meu pai se matava em uma montadora de automóveis. Hoje sou tudo aquilo que almejaram para mim.
Meu pai se foi há alguns anos, mas deixou seu legado para trás. Ele estava lá quando me formei na universidade, mas não em corpo físico como muitos imaginam, estava em meu coração e jurei sentir seu toque em meu ombro quando encerrei meu discurso agradecendo aos meus pais por todo o esforço.
Se alcancei meus maiores objetivos, devo agradecer aos anjos que sempre me apoiaram. Enfim, minha vida está onde sempre sonhei.
Tudo o que precisava naquele momento era um banho quente e roupas confortáveis, além de um merecido descanso é claro.
Minha vida está voltando aos poucos sua rotina. Saber que Eunwoo voltou a se alimentar normalmente, que seu corpo está se recuperando e que em breve o terei outra vez em casa me deixa mais aliviado.
Sei o quanto a desconfortável um quarto de hospital, ainda que para uma criança os profissionais arrumam mil e uma distrações, nada se compara ao aconchego de casa.
Após o banho desci para jantar, conversei por alguns minutos com senhora Bang e contei a ele sobre o medo que senti nos últimos dias. Foi como um desabafo, como conversar com meu terapeuta, a sabedoria daquela mulher me fez perceber que de fato as coisas não funcionam como eu imaginei.
Quando dependemos dos outra é que passamos a perceber que não somos feitos de ferro. A mais velha ainda explicou que nos tornar pai ou mãe faz com que as perspectivas mudem, carregar o mundo nas costas para trazer um sorriso aquela pequena vida não é tanto esforço como parece.
Por volta das dez da noite me recolhi para dormir. Antes de voltar para minha cama passei novamente pelo quarto de Eunwoo, as coisas no lugar, Blue dormindo em um dos cantos daquele cômodo, ao menos parecia mais confortável ali do que chorando no meio da sala.
– Ei, garotão. – o chamei e logo Blue correu pulando com as patas dianteiras em minhas coxas. – Sei que sente volta dele, mas em breve seu amigão vai retornar.
Fiquei ali por alguns minutos acariciando a pelagem daquele animal, nem sequer parecia o mesmo homem que não queria receber aquele cachorro em casa. Acho que meu coração precisava ser amolecido também.
Então retornei para meu quarto, finalmente pude escovar os dentes e me deita, mas não sem antes ligar para Eunwoo e desejá-lo uma boa noite. É fato que raramente vamos dormir sem nos falarmos, nem que seja pelo celular.
Acabei adormecendo rápido, o cansaço e um pouco da ansiedade para retornar ao trabalho. Pode ser pesada minha rotina, mas confesso que trabalhar com o que amo é realmente a melhor coisa.
Foi uma noite tranquila, não acordei sequer um minuto durante a madrugada. Pude descansar minha mente e meu corpo, deixar a cabeça mais leve para enfrentar um dia que possivelmente começará complicado.
Tenho uma reunião logo nas primeiras horas da manhã, uma conversa com equipe diretiva e os acionistas da empresa. Em seguida senhor Hong e eu teremos de recepcionar a equipe de auditoria.
Acordei por volta das seis da manhã. Minha primeira tarefa foi escovar os dente e em seguida um banho morno. Ajustei o terno em meu corpo, optei por um relógio e meus indispensáveis anéis como acessório.
Senhora Bang não me deixou sair sem antes tomar café da manhã. O milagre foi ter acordado sem dor alguma ou resquícios de cansaço. Estou mais que bem para enfrentar o que o dia está me reservando.
Antes de sair de casa liguei para minha mãe. Eunwoo ainda dormia tranquilamente, mas segundo as palavras da mais velha ele passou bem à noite, ao menos não houve reclamação de desconfortos de sua parte.
Mais aliviado fui em direção a empresa. Como imaginei o trânsito estava bem carregado, é o que se espera de uma manhã de segunda-feira.
Sofri um pequeno atraso por conta de um congestionamento, um acidente logo nas primeiras horas do dia, ao que parece um senhor teve um mal súbito enquanto dirigia pela principal avenida do centro.
Quando finalmente cheguei à empresa senhorita Yoo sorriu a me ver novamente por ali. Agora não teria de conviver com algumas ordens do senhor Shin, o “maldito” vice-presidente.
– Bom dia, senhor Park.
– Bom dia, senhorita. – cumprimentei a mesma passando direto para minha sala. – Senhor Hong está me esperando?
– Ele está no setor de produção. Foi repassar um projeto para um dos engenheiros. – disse ela me acompanhando com a agenda. – Precisa de algo? Um café, água...
– Dois cafés. – falei no mesmo instante que meu chefe passou pela porta da sala. – Senhor Hong e eu temos muito que conversar.
– Enfim retornou, garoto. – disse o mais velho com um sorriso estampado no rosto. – O pequeno Park está bem?
– Sim, na medida do possível. – lhe estendi uma das mãos, logo recebendo um aperto na mesma. – Então, como encontrou seu patrimônio?
– Você está cuidando muito bem de tudo isso, garoto. Os números são impressionantes.
– Sente-se! – apontei para a cadeira em minha frente. – Estou fazendo de tudo para honrar a confiança que foi depositada em mim.
– Isso está além das minhas expectativas, Jimin.
– Fico feliz por estar no caminho certo, afinal tive um ótimo professor. – sorri um pouco constrangido pelo elogio.
Nossa conversa durou por quase uma hora, até senhorita Yoo vim informar sobre a reunião. Os acionistas e o vice-presidente já nos esperavam na sala para dar início. Claro, senhor Shin não fez questão de se juntar a senhor Hong e eu quando soube do meu retorno, queria muito saber sobre essa intolerância do velho em relação a mim.
Com exceção daquele velho, não teve um que não estivesse preocupado com meu filho. Aquilo me deixou mais seguro por achar que senhor Shin havia envenenado os acionistas a respeito de minha ausência, no entanto, suas tentativas de me derrubar foram falhas novamente.
Deve ser por isso que ele estava sentado de expressão fechada em sua cadeira, típico de inimigo que não suporta o brilho alheio.
Senhor Hong deu início a tal reunião, suas palavras foram diretas ao informar sobre o andamento do grupo. Foi então que descobri sobre uma possível nova filial em Zurique².
Caso tal contrato seja firmado por ele, aí se vai mais um carimbo em meu passaporte. Uma nova viagem dentro de três meses, minha presença é crucial já que comando a principal matriz do grupo Hong.
Em seguida a palavra foi passada para mim. Como em toda reunião senhorita Yoo já estava com todo o material pronto para a apresentação. Gráficos cuidadosamente dispostos em pesquisas dentro da própria instituição.
Foram apresentadas fotos de nosso mais importante projeto em andamento, a construção do tal museu de arte na Tailândia. Com toda a certeza é o que nos dará mais visibilidade no continente e fora dele.
Pegar tal projeto foi como aceitar um desafio, Taehyung se mostrou disposto já sabendo do reconhecimento que terá em seu currículo. Tivemos muitas dificuldades nas negociações, a paciência esgotada ao extremo, mas enfim estamos dando vida a um trabalho de meses.
Desde suas fundações com projetos da mais alta engenharia, até os mínimos detalhes de um acabamento arquitetônico. O trabalho está ficando melhor do que o esperado.
Reconheço que não tenho grandes feitos em relação à parte produtiva da empresa. Sou responsável pelas negociações e por atender diretamente ao nosso cliente, mas isso não me torna menos importante.
Apenas divido bem as funções, no final o trabalho de equipe é o que mais se destaca.
Posso ter hoje o título de presidência do grupo, mas não me torna melhor que ninguém. Há uma grande diferença entre chefe e líder.
A tendência de um chefe é comandar e sempre visar os resultados. Algumas vezes autoritário impondo a política do medo.
O líder – como eu me considero – tem a visão de forma diferente. Foca em uma boa relação com as pessoas de sua equipe e acredita sempre que um bom relacionamento é o pivô de ótimos resultados.
Deixei aberto o questionamento a respeito dos resultados de nossa empresa, muitos acionistas confiam plenamente em mim apesar de minha idade. Segundo a maioria, um rosto jovem a frente da empresa costuma atrair mais confiança.
Dando voz aos demais, acabei tendo que aguentar algumas provocações de senhor Shin. Obviamente ele jamais perderia a oportunidade de tentar me oprimir na frente de algumas pessoas, mas como sempre não contava com minha seriedade e paz naquele momento.
– Com ainda confiam em alguém que deixa nas mãos de uma secretária um dos nossos maiores projetos? – indagou ele com certo veneno na voz.
– Confio em minha equipe, senhor Shin. – disse com meu tom sereno. – Tive meus motivos para tal, mas acredito que ainda não tenha sido informado sobre o êxito nas negociações.
– O novo contrato foi firmado então?
– Sim, senhor Ryu. – respondi a outro acionista. – Deixei pronta a nova proposta, senhor Manoban aceitou sem grandes problemas e ainda se mostrou aberto a novas negociações.
– Entende que colocou em risco esse projeto por conta de sua ausência, certo? – indagou o mais velho tendo apenas um aceno como resposta. – No entanto, eu consigo entendê-lo perfeitamente. Teria agido da mesma forma sem pensar duas vezes se um dos meus filhos estivesse em perigo.
– Como pode compactuar com tudo isso, senhor Ryu? – senhor Shin novamente entrou com seus questionamentos sem lógica.
– Existe um motivo para esse garoto ocupar o cargo mais importante desta empresa, senhor Shin. – o homem lhe respondeu ainda sério. – Se Hong confia nele, por que não deveríamos fazer o mesmo?
– Park Jimin foi altamente treinado pelos melhores profissionais na área de gestão, ele é meu maior investimento. – disse senhor Hong me deixando um pouco emocionado. – Se está insatisfeito com minha escolha, sinta-se à vontade para deixar seu cargo, Shin Jiho.
– Estou bem assim, senhor.
– Então guarde suas opiniões baseadas em nada apenas para si. – disparou meu chefe o colocando em seu devido lugar. – Já deveria saber que nunca fiz escolhas sem antes pensar duas vezes.
– Entendemos você, senhor Hong. – outro acionista disse como um sinal digno de seu apoio. – Park é um jovem visionário, ainda é jovem e tem tudo para conquistar o mundo.
– Acredite, senhor Hwang. Todos os meus sonhos foram realizados, tudo o que preciso fazer agora é honrar tamanha confiança.
– Sua carreira no mundo dos negócios está apenas começando, rapaz. Ainda vamos ouvir falar seu nome, será lembrado por grandes feitos. – disse o homem me passando um pouco mais de confiança. – Sabemos como dá seu sangue por essa empresa, e mesmo estando distante por conta dos últimos acontecimentos andou trabalhando para nos trazer resultados.
– Agradeço pela confiança, senhores.
Diante de tanto apoio me vejo ainda mais confiante. É exatamente o que mais precisava naquele momento, manter a confiança de todos eles para seguir firme ao lado de minha equipe.
A reunião ainda durou por algumas horas. Entre conversas formais e informais o clima foi ficando mais leve, porém nada que tirasse a expressão de raiva do rosto daquele velho.
Terminamos aquela manhã recepcionando a equipe de auditores. Ficarão na empresa pelo período de três dias, verificando números e alguns procedimentos.
A primeira checagem foi no meu setor, fiz questão de acompanhar cada segundo mesmo sabendo que não encontrariam erro algum.
Acabei saindo tarde para o almoço, mas valeu à pena. No entanto, como não havia mais refeições disponíveis no restaurante da empresa tive que procurar por outro local, encontrando uma barraquinha de alimentos no fim da avenida.
Meu almoço foi basicamente Hotteok³. Nada saudável, mas é o que costumamos consumir quando não se tem tempo disponível.
Retornei para empresa e passei a tarde inteira acompanhando senhor Hong de setor em setor. Ouvi suas indicações de algumas possíveis melhorias, além de continuar acompanhando boa parte de auditoria no setor financeiro.
Não vi mais senhor Shin durante o resto do dia, um alívio por assim dizer. No fim da tarde me despedi de senhor Hong, ele iria retornar para o país onde reside atualmente, mas antes de ir deixou marcada uma visita para o próximo mês.
Reforçou o que havia dito sobre confiança na reunião, além é claro de me dizer que tenho seu total apoio caso ocorra uma nova emergência com meu pequeno.
Então, poucos minutos antes de encerrar meu dia de trabalho recebi a ligação que tanto queria nos últimos dias. Eunwoo havia sido liberado pelo médico, já poderia ir buscá-lo.
Saí antes do horário que costumo, mas deixei senhorita Yoo sob aviso e responsável por encerrar todas as atividades na recepção. Deixei minha sala trancada como sempre, com a demonstração de desagrado na reunião de hoje não é confiável deixar meus materiais de trabalho sem a devida segurança.
Enfrentei novamente aquele trânsito infernal, mas no fim valeu à pena. Eunwoo havia vencido a fase de testes da medicação, no entanto, a boa notícia foi saber que em casa só precisaremos ter mais cuidado.
De fato foi confirmado o quadro hemofílico, mas sua doença está em uma fase tão leve que será preciso apenas cuidados com a alimentação já que os fatores foram temporariamente repostos pelas injeções.
Quando cheguei ao quarto, me surpreendi ao ver doutor Jeon brincando com o mais novo. A forma como o médico fazia Eunwoo rir realmente me afetou de certo modo, era lindo de se ver.
Claro, também despertou um pouco de ciúmes saber que meu filho se apegou tão bem a um desconhecido.
– Poxa, sentirei saudades. – disse o médico o deixando sobre a maca. – Promete que vem me visitar?
– Woo promete de mindinho.
– Desse jeito vou ficar com ciúmes. – foi à exata forma que anunciei minha presença. – Vamos para casa, anjinho?
– Papai! – o sorriso de Eunwoo me fez ganhar o dia, claramente o que eu precisava depois de tanto estresse naquela reunião.
– Boa tarde, senhor Park. – doutor Jeon deixou evidente aquele sorriso um tanto quanto encantador.
– Boa tarde, doutor. – lhe respondi no mesmo tom, um pouco envergonhado até. Ter sua atenção de alguma forma mexia comigo. – Ele já está liberado, certo?
– Sim, mas... Preciso conversar com você antes. Me acompanha até o corredor?
– Eu termino de arrumá-lo, querido. – minha mãe se referiu a Eunwoo que estava inquieto sobre a maca.
– Certo, vamos. – indiquei o caminho até a porta, observando o médico passar em minha frente. – Papai já volta, meu amor.
Acompanhei doutor Jeon para fora daquele cômodo. O corredor estava calmo, mas ainda havia movimentação de algumas pessoas. Por alguns segundo o médico apenas encarou as folhas em suas mãos, até parecer tomar coragem para dizer tais palavras.
– Bom, a situação de Eunwoo está controlada, mas ainda exige monitoramento. Se não for incômodo, gostaria de vê-lo a cada quinze dias. – disse o homem com um pouco de seriedade.
– Por mim está tudo bem. – concordei sabendo que aquilo seria mesmo necessário, não vou correr o risco de negligenciar algo sério. – Alguma receita de medicação?
– Por enquanto apenas algumas vitaminas, ele perdeu uma quantidade considerável de sangue então é bom ter cuidado.
– Entendo. – disse pegando a receita em suas mãos, junto a ela também havia o documento de alta hospitalar.
– Também deixei meu número, caso precise tirar alguma dúvida ou ocorra alguma emergência. – explicou ele apontando para um número de telefone no fim de uma das folhas.
– Mais uma vez obrigado por cuidar dele e... Desculpe-me se fui grosseiro em algum momento.
– É compreensível, senhor Park. – respondeu me encarando profundamente. – Posso não saber qual é a sensação de ter um filho sobre a maca de um hospital, mas sei o quão ruim é perder um paciente.
– De qualquer forma, obrigado novamente. – lhe estendi uma das mãos para cumprimentá-lo. – Seguirei suas sugestões e terei um pouco mais de cuidado com ele. Bom, não vou tomar mais seu tempo, preciso levar Eunwoo para casa.
Por alguns segundos ele hesitou em dizer algo, e acabou optando por ficar em silêncio. Ao menos até que eu me virasse para entrar novamente no quarto, Jeon parecia ter a mesma sensação quando nossos olhos se encontram. Medo ou simplesmente timidez, não sei dizer ao certo.
– Senhor Park, eu... – voltei a lhe dar atenção, mas o vi desviar o olhar novamente. – Me desculpe, não é nada demais.
– Doutor, se for algo relacionado à Eunwoo diga logo de uma vez.
– Não tem nada haver com ele, eu só... Bom, Hyeri me encheu a paciência, disse que se eu não fizesse isso ela faria por mim. – aquilo me deixou ainda mais curioso. – Gostaria de convidá-lo para uma conversa qualquer dia desses, você escolhe o local.
– Por que exatamente?
– Olha, eu sei que não é ético misturar pessoal com profissional, mas eu gostaria muito de conhecê-lo melhor. – tive uma leve impressão de ver suas bochechas avermelhadas. – Vou entender se não quiser ir, mas...
– Podemos marcar algo, um café talvez. – sorri lhe estendendo meu cartão de visitas. – Ligue para minha assessora, ela encontrará um melhor horário em minha agenda.
– Certo. Farei isto. – então ele sorriu mais confiante desta vez. – Obrigado, Jimin.
Acabei sorrindo instantaneamente ainda sem entender o que havia acontecido ali. Taehyung talvez tenha razão, ou pode ser coisa da minha cabeça. Não devo levar algo assim a sério, possivelmente ele queira apenas conversar sobre coisas bobas.
Não me sentia assim há anos, a sensação de um flerte. O fato é que a adolescência já passou, devo ser um pouco mais firme e não me sujeitar a ilusões, sei perfeitamente como elas podem nos ferir.
No entanto, esse não é o meu foco neste momento. Devo dar atenção à saída de Eunwoo depois de uma semana em um hospital.
Minha mãe tratou logo de vestir o mais novo, arrumou sua bolsa e verificou se havia deixado algum pertence para trás. Uma enfermeira veio buscá-lo de cadeira de rodas, o que deixou Eunwoo todo bobo enquanto era empurrado em direção a saída.
Nunca vi alguém tão comunicativo quanto ele, acenando para cada pessoa que cuidou de seu estado enquanto esteve ali. É realmente um anjo que está entre nós, não há como negar, seu brilho é visível.
Já no carro, o prendi a cadeirinha de segurança e fiz questão de verificar cada lugar onde o cinto foi atado. Minha mãe foi o acompanhando no banco traseiro, tentando acalmar a euforia do pequeno na verdade. Eunwoo falava a todo o momento sobre Blue e o quanto sente saudades de nossa casa, assim como sente falta das refeições de senhora Bang.
Por falar na mais velha, como havia prometido o bolo de cenoura estava sobre a mesa da cozinha quando chegamos. O problema foi controlar Eunwoo já que se dependesse de suas vontades ele estaria atirado no chão da sala, rolando abraçado ao seu amigo, vulgo bichinho de estimação.
– Anjinho, por enquanto você não pode brincar assim com Blue, entende?
– Por causa do dodói na barriguinha de Woo? – indagou ele um pouco entristecido.
– Menino esperto. – atrapalhei levemente seus cabelos lhe ouvindo reclamar baixinho. – Ouviu o doutor Jeon, quanto mais sério levar esse tratamento, mais rápido poderá brincar com seus amiguinhos.
– Está bem, papai. Woo promete se comportar.
– Eu sei, meu pequeno. – deixei um beijo em sua testa, observando atentamente enquanto ele comia um pequeno pedaço do bolo de cenoura. Não é uma receita tradicional, mas senhora Bang aprendeu especialmente para agradar o mais novo. – Termine seu lanche, você precisa tomar banho.
– Outro? Woo tomou banho de manhã, papai. – disse ele tentando se isentar de entrar debaixo do chuveiro.
– Precisa tirar essas roupas e qualquer impureza que trouxe do hospital, meu anjo. – explicou minha mãe, sendo um pouco mais paciente e objetiva que eu. – Ou você quer ficar doente de novo?
– Woo acabou, papai. – o vi bater as mãozinhas para tentar se livrar dos farelos. – Agora é hora do banho.
Sorri percebendo que ele havia entendido o recado, minha mãe sempre teve um jeito sutil de lidar com crianças. Uma espécie de psicologia invertida, o que faz com que mudem de ideia rapidamente.
O acompanhei durante o banho, basicamente apenas lhe vigiando enquanto fez toda à higiene sozinho. Depois apenas o ajudei a se vestir e cobri os pontos com um curativo, exatamente da forma que a enfermeira havia me ensinado.
Como de costume o deixei assistindo alguns desenhos enquanto fui cuidar do meu banho. Por incrível que possa parecer hoje é um daqueles dias em que não senti dor de cabeça ou desconforto no fim do dia, ao contrário, estou animado em ter Eunwoo novamente em casa.
Durante o jantar não insisti que ele comece demais, afinal havia comido um pedaço de bolo e não é bom que exagere. Não quero correr o risco de voltar ao hospital por algo que posso facilmente controlar.
Fazer parte de sua rotina é algo que realmente sentia falta, não apenas acompanhar seus desenhos, mas vê-lo tomar banho sozinho ou escovar seus dentes após cada refeição. É realmente emocionante ver toda sua independência.
O problema foi na hora de dormir. Eunwoo ainda parecia eufórico com o retorno para a casa, queria fazer tudo ao mesmo tempo. Precisei colocar Blue para fora do quarto, já que ele insistia para que eu deixasse o cachorro dormir sobre a cama.
Se não houvesse uma sutura em seu abdômen confesso que poderia pensar no assunto, mas por enquanto prefiro não arriscar.
Depois de uma conversa séria ele acabou adormecendo, mesmo que tenha ficado chateado com as novas regras, no fundo Eunwoo entendeu que apenas queremos o seu bem. É difícil restringir ainda mais suas ações, mas não devo dar o braço a torcer quando o que está em risco é sua vida.
Não consegui retornar para meu quarto, ao menos não para dormir. Fui até lá apenas para escovar os dentes e pegar meu travesseiro, preferi passar a noite no quarto do mais novo. Ficar observando meu pequeno anjo por um tempo, zelando por seu sono e tendo a certeza de que ele finalmente está em casa, que não é fruto de minha imaginação.
{...}
Os dias seguiram com tranquilidade. Eunwoo foi ficando fortalecido a cada dia, e as coisas na empresa ficaram ainda melhores depois que a auditoria confirmou os bons resultados.
Enfim, as coisas parecem ter voltado aos trilhos. Meu pequeno se livrou da sutura, agora precisa apenas ter cuidado com os movimentos bruscos, ainda que às vezes o observo brincando com Blue em todos os cantos, ou em suas conversas calmas com Billy.
Em minha conversa com o terapeuta no meio de semana – finalmente consegui uma consulta – mencionei a doutor Kim sobre a ausência de Billy quando Eunwoo esteve internado por um tempo.
Pode parecer bobeira minha, mas precisava entender essa onde de amigos que aparecem e desaparecem quando bem entender. Nunca tive contato com isso em minha infância, além de ainda achar um pouco assustador essa relação de Eunwoo com seu amigo imaginário.
Namjoon disse claramente que há uma enorme possibilidade de Billy desaparecer agora que Eunwoo encontrou uma amizade no pequeno de quatro patas. Segundo o médico, o amigo imaginário deixará de fazer sentido, já que Blue pode muito bem suprir essa necessidade de atenção.
A sessão também serviu para me aliviar um pouco o estresse e toda a angústia dos últimos dias. Saí mais leve de seu consultório, tendo novamente o êxito daquele atendimento. Kim Namjoon é realmente um ótimo terapeuta, suas respostas sábias e filosóficas me fazem entender que no mundo há explicação para absolutamente tudo.
No entanto, havia algo mais importante no meio da tarde de minha sexta-feira. Não uma reunião ou um novo contrato, senhorita Yoo marcou o tal café da tarde com doutor Jeon. Só que a informação acabou vazando, ou melhor, acidentalmente ela informou meu compromisso a Taehyung, nem preciso dizer o que fui obrigado a suportar.
Um “eu avisei que ele estava afim de você” seguido por um “aproveita para tirar o atraso”. Coisas que sou obrigado a suportar por conta de nossa amizade maluca.
Taehyung é mesmo um louco, mas é o tipo de maluco que quero manter sempre por perto. Apesar de noventa por cento de seus conselhos não terem fundamentos lógicos, alguns deles acabam fazendo sentido em algum momento de minha vida.
Quando eu saí para o tal compromisso dizendo que só retornaria a empresa na segunda, deixei claro à senhoria Yoo para me ligar se fosse necessário. Finalmente posso terminar a semana de uma forma agradável, e me preparar para minha folga onde irei curtir um pouco mais a presença do meu filho.
Ainda dentro do carro avistei doutor Jeon já dentro do estabelecimento escolhido. Não estava atrasado, apenas precisava de um tempo para respirar.
Me sentia um pouco estranho, afinal não é um encontro de negócios. Não iremos tratar de assuntos administrativos e sim uma relação, uma amizade por assim dizer.
Respirei fundo e saí do veículo, ajustei minhas roupas antes de encarar um lado e o outro daquela avenida movimentada. Queria me certificar de que era seguro atravessar a rua e assim o fiz.
Seu sorriso foi evidente a me ver entrando na cafeteria. Ele não parecia ter vindo direto do trabalho como eu, estava elegante de uma forma casual. A camisa branca parecia se encaixar perfeitamente em seu corpo definido, há muito tempo não me permitia apreciar o físico de alguém.
– Boa tarde, Jimin. – disse ele se levantando para puxar a cadeira para mim.
– Boa tarde, doutor. – respondi me sentando. – Obrigado.
– Não estou aqui como médico de seu filho, Jimin. – ele voltou a se sentar usando um tom mais calmo. – Podemos nos tratar sem tantas formalidades, certo?
– Tem razão, Jungkook.
– Assim está melhor. – novamente o sorriso estava presente em seu rosto. – Espero não ter atrapalhado seus planos para hoje. Sua assessora disse que sua agenda estava tranquila.
– Na verdade você me livrou do tédio, consegui sair algumas horas mais cedo. – deixei escapar um sorriso discreto. – Acho que devo te agradecer por isso.
– Não há de que. – respondeu ele parecendo orgulhoso de si. – Como está o pequeno Eunwoo?
– Mais elétrico que o normal.
– Desculpe por interromper, já querem fazer os pedidos? – indagou a atendente parada ao lado da mesa. Sua atenção deveria estar no bloco de papel em suas mãos, mas estava em mim, ou melhor, em meu corpo.
– Sim, por favor. – disse Jeon lhe roubando a atenção. – Um macchiato⁴ e um pedaço de torta de chocolate.
– E o senhor?
– Hum... Pode trazer um cappuccino e alguns macarons*. – lhe respondi ainda incomodado com seu olhar sobre mim.
– Certo. Já trago os pedidos.
– Parece que ganhou uma fã, Jimin. – disse ele em um tom de bem humorado. – De alguma forma não há como culpá-la, impossível fechar os olhos diante de alguém tão belo.
– Você é bem direto, não? – suspirei tentando controlar meu nervosismo. – E imprevisível, nunca se sabe o que vai dizer.
– Perdão. Não queria te ofender com isso.
– Ah, não se desculpe. Me sinto lisonjeado com tamanho elogio. – acabei pensando alto demais, por sorte vi uma saída imediata. – Serve para alimentar meu ego.
– Amor próprio acima de tudo afinal. – disse ele me “matando” com mais um de seus sorrisos. – Achei que isso não fizesse bem o seu perfil, vejo que me enganei.
– Pessoas estão sujeita a erros, Jungkook. Ninguém é perfeito o tempo inteiro.
– Devo concordar com você. Uma opinião sensata se levarmos em consideração o fato de a maioria das pessoas buscarem incessantemente a perfeição. Seja ela física ou comportamental. – completou ele se mostrando bem sábio no final das contas.
– São as imperfeições que nos tornam únicos.
– Gosto de seu modo de ver as coisas. – disse ele interrompendo a conversa enquanto os cafés eram servidos.
Aquela conversa continuou agradável. Ter um encontro depois de anos se mostrou algum relaxante.
Jungkook queria pagar toda a conta sozinho, mas insisti em pagar minha parte. Tal conversa foi o início de uma amizade por assim dizer, pareceu um momento saudável entre amigos de longas datas.
Me distraí tanto a ponto de esquecer até mesmo das horas, ficamos ali até o início da noite, quando ele foi convocado para aparecer no hospital devida a uma emergência com um de seus pacientes.
Então o vi focado em sua profissão, vi nos olhos daquele homem o amor que tem pelo que faz diariamente. Não é como a maioria fazendo medicina por dinheiro ou status, Jungkook parece cuidar das pessoas por amor e isso o torna um grande profissional.
Temos muito mais em comum do que imaginei. A forma de tratar cordialmente as pessoas, momentos onde a emoção fala mais alto que a razão. O modo seguro e completamente focado como levamos a sério nossas profissões e até mesmo nossas vidas.
– Desculpe pelo inconveniente, podemos marcar algo em outra ocasião? – indagou ele me acompanhando até meu carro. – Um jantar talvez, o que você preferir.
– Certo, entrarei em contato com você. – me despedi com um simples aperto de mão. – Obrigado por sua companhia, foi uma tarde agradável.
– O mesmo, Jimin. – disse o mais novo fechando a porta assim que eu entrei no carro. – Vá em segurança. Tenha uma boa noite.
– Boa noite, Jungkook. – deixei um sorriso evidente segundos antes de dar partida no carro.
Ainda pelo retrovisor pude ver ele entrando em seu veículo e seguindo na direção oposta, seu foco agora seria em salvar a vida de um dos seus pacientes. Já o meu com toda certeza será explicar à senhora Park sobre minha demora, sabendo que a mais velha irá sorrir satisfeita quando descobrir sobre quem me acompanhava.
Quando cheguei Eunwoo já havia tomado banho e estava desenhando na mesa de centro da sala, minha mãe sentada em uma das poltronas presa a um de seus livros. O aroma do jantar pairava em todo o ambiente, assim como a tranquilidade dentro daquela casa.
– Boa noite, família.
– Ótima noite, pelo visto. – disse senhora Park me observando por cima das lentes de seus óculos. – Boas notícias na empresa?
– Não, senhora Park. – respondi me sentando ao lado na outra poltrona. – Estava em um compromisso pessoal.
– Isso sim é novidade. – a mais velha logo ajeitou a postura deixando aquele livro de lado. – Quem é o sortudo?
– Alguém que você conhece. – então observei sua expressão pensativa até um sorriso aparecer em seu rosto.
– Sungwoon? Achei que ele estivesse comprometido.
– Não é ele, mamãe. – respondi ainda confiante em sua intuição. – Você o conheceu há pouco tempo.
– Doutor Jeon? – disse ela sorrindo animadamente. – Meu Deus, Park Jimin. Aquele homem é maravilhoso.
– Controla seu fogo, senhor Park. – repreendi a mesma apontando para Eunwoo. – Foi uma tarde agradável.
– Fico feliz, meu filho. Gosto de te ver sorrindo.
A mais velha sabe o quanto aquele apoio e realmente importante para mim. Durante anos não apoiou minha orientação sexual, no entanto, nunca me desrespeitou por conta disto. Hoje senhora Park apenas reconhece onde está a verdadeira felicidade de seu único filho.
– Eunwoo deu trabalho?
– Se comportou como um anjo. – respondeu a mais velha sorrindo orgulhosa.
– Papai! – finalmente o mais novo veio em minha direção, trazendo consigo a folha toda rabiscada. – Pode entregar para o titio Jungkook?
– Claro, meu anjo. – abracei o mais novo, o colocando sentado em uma de minhas pernas logo em seguida. – O que acha de entregá-lo você mesmo? Temos uma consulta na segunda, se esqueceu?
– Está bem, papai. – disse ele circulando seus bracinhos em meu pescoço, me puxando para um abraço bem apertado. – Pode levar Woo para tomar sorvete amanhã?
– Sim, podemos ir onde você quiser.
Então me coloquei a observar a folha em suas mãos. Os desenhos ainda confusos, mas desta vez havia apenas um homem naquela folha. O homem que na percepção de Eunwoo é o seu médico.
De qualquer forma o destino me surpreende um pouco a cada dia, mesmo que seja com algumas lições ou simplesmente momentos como esse, cheios de fofura e muito amor envolvido.
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