POV Camila
Lauren havia se levantado para fazer nossos pedidos. Eu e a Sra. Langdon estávamos sentadas frete a frente na enorme área de alimentação do hospital. Era inacreditável que na noite anterior eu estava na porta da casa dela com Lauren sangrando e quase desmaiada no carro.
- É muita coincidência – falei ainda a olhando admirada – Na verdade uma terrível coincidência. Eu lamento muito pelo seu neto – já era a milésima vez que dizia isto. Quando eu pensava que não era possível, tudo ficou ainda mais... estranho.
- Não acredito em coincidências – ela diz. Apesar da perda e do sofrimento em seu olhos, ela sorria – Acharam um corpo no celeiro em chamas – comenta em seguida. Seu tom, entretanto, era mais de pergunta.
- Sim. Era o meu pai – falei se sentir qualquer peso.
- Foi uma noite bastante difícil – ela diz. Seus olhos em um tom de azul escuro cintilavam – Posso fazer um comentário?
- Claro que pode – respondi me encostando institivamente.
- Eu tenho bastante experiência, especialmente com a morte. Vamos dizer que nós duas somos como melhores amigas, há anos por sinal. Você não parece abalada, me descul...
- Não precisa se desculpar – falei a interrompendo – Não estou abalada, na verdade não sinto nada – conclui sentindo um arrepio subir pela espinha.
- E esta chateada com isso não está? – ela pergunta.
- Chateada nem tanto, mas muito confusa – antes que nossa conversa prosseguisse Lauren volta se sentando próximo a mim.
- Os nossos pedidos já vão ser entregues – Lauren diz sem jeito. Era raro vê-la envergonhada.
- Vocês duas formam um lindo casal – Sra. Langton nos surpreende.
- Obrigada – falei sem saber o que responder.
- Problemas são normais na idade de vocês – ela diz – sinto que estão com um.
- A senhora não imagina o tamanho do problema – Lauren diz com um sorriso sem graça.
- Tudo vai se resolver no momento certo... – mesmo em luto ela passava uma paz que jamais alguém conseguira passar mim.
- Vou lhe contar... – comecei dizendo a ela como eu e Lauren nos conhecemos e, obviamente, cortei varias partes. Durante a narrativa os nossos pedidos chegaram. Tomei um gole do chocolate quente e continuei.
- É uma historia e tanto. Gostei de você Lauren. Faz-me lembrar de meu neto e principalmente de meu falecido marido – ela diz. As bochechas de Lauren pareciam pegar fogo – Às vezes é necessário aceitar algumas coisas e simplesmente viver. Mesmo que sofrendo, tudo uma hora tende a melhorar.
- Era o que eu deveria ter feito não é? Aguentar minhas dores e esperar tudo dar certo? – Lauren pergunta.
- Não sei. Não da pra viver de suposições. Tudo o que podemos fazer é buscar o nosso melhor. Você achou que encontrou seu destino, mas sua vida só estava começando. É completamente compreensível.
- Eu errei muito – Lauren diz. Sua voz era triste e ela agora observava o copo de café que tinha nas mãos.
- Todos nos erramos e, como alguns erros não têm concerto, o melhor é tentar não errar novamente.
- É o que estou tentando – Lauren responde aérea.
Foram minutos intermináveis de silêncio até eu resolver perguntar:
- A enfermeira nos contou que seu neto e a namorada fugiram, pois não aceitavam o relacionamento deles. Sem querer ser intrometida é claro. Não aceitavam por quê?
- Meu filho, pai do Jonh, é um empresário ambicioso e o pai da Hillary um dono de lanchonete. Dois extremos que se cruzaram de forma trágica. Durante a construção de uma das instalações da empresa do meu filho, não se sabe muito bem como aconteceu, mas, parte do local que compreendia a lanchonete vizinha ficou comprometida com a obra e com risco de desabamento. Foi um conflito horrível na época, meu filho abriu um processo a fim de comprovar que não foi culpa da obra, ou seja, se livrar de uma enorme multa. E com uma jogada de advogado, a empresa foi “inocentada”, digamos assim, e ele não arcou com as despesas do reparo ao local. Ai as estruturas não aguentaram e a lanchonete da família da Hillary foi condenada.
- E não fizeram nada? – Lauren pergunta sobressaltada.
- Não. Não precisa dizer o que motivou todo esse descaso não é?
- Dinheiro – Lauren respondeu – É horrível isso. Não sei quem é pior, um advogado que defende uma causa dessa ou a justiça.
- Infelizmente ainda é assim. Se você tem nome e dinheiro. Bom você consegue muita coisa – ela diz tomando o ultimo gole de café.
- E a criança? – Lauren antecipa minha pergunta.
- A família da Hillary, com certeza, não tem condição de cria-la. O pai, agora avô, trabalha o dia todo como empregado em uma rede de fast-foods, a mãe dela faleceu há alguns anos e os irmãos nunca se pareceram interessados. Já da minha parte, eu não seria doida de dar a responsabilidade destas a um bando de irresponsáveis.
- Gosto da senhora – Lauren diz sorrindo e a fazendo sorrir.
- Por favor, me chame de Jessica está bem? – ela diz com um sorriso nos lábios. Era impossível também não sorrir.
- Como quiser, Jessica.
- Meninas. Eu fiquei muito feliz em encontra-las, mesmo diante uma situação tão adversa e triste para ambos os lados. Espero reencontra-las para saber o desfecho da historia de vocês. Sabem onde moro e caso precisarem estarei lá.
- Claro, mas creio que não será preciso. Logo nos veremos novamente – falei. Jessica sorriu cordialmente e se despediu com um aceno de cabeça.
- Ela me lembra de tanto minha abuela – Lauren diz olhando fixamente para a mesa – Ela cuidava de mim... sempre ela quem cuidava de mim.
Ficamos em silencio, cada uma olhando para um extremo completamente perdida nas próprias emoções.
- Vou falar com a Zoey – Lauren se levanta subitamente. Foi quando me dei conta que já poderíamos ver a Natalia. Fomos até a área reservada para acompanhantes e encontramos a Zoey juntamente com uma mulher de meia idade, que aparentemente era mãe da Natalia – Como ela está? – Lauren pergunta se aproximando.
- Está em observação, porém está bem. Teve só alguns aranhões e levou uma pancada na cabeça. Já fizeram todos os exames e ela está bem.
- Não podemos vê-la? – perguntei.
- Ainda não. Eu estou prestes a enlouquecer aqui – Zoey diz se sentando.
- É tudo culpa minha – Lauren murmura.
- Não começa! – Zoey diz olhando firme para Lauren, que ficou em silencio.
- Vamos pra casa – falei tocando em seu braço. Nos despedimos e saímos. Andávamos lado a lado até o estacionamento. Não trocamos nenhuma palavra até ela se atrever a abrir a porta do lado do motorista – Quem disse que você vai dirigir?
- Camila! Eu. Estou. Bem – ela diz. Às vezes eu não queria contraria-la, mas mesmo assim o fazia só para ver sua cara de criança e o jeito infantil como tentava argumentar. Lauren nunca deveria ter cursado direito, seria uma péssima advogada a não ser que seus casos fossem sobre roubos de bonecas.
- Eu dirijo essa... coisa – falei puxando a porta de si. Não tinha animo para sorrir e ela também não. Então só entramos no carro e continuamos em silêncio.
Foram varias vezes em que Lauren suspirou. Ela deveria estar a procura de algum assunto ou sei lá, só queria acabar com o incomodo silêncio. Apesar de não conversamos meus ouvidos estavam irritados com a quantidade de vozes em minha cabeça. Eu pensava na Sofi, nos meus avós. “Eles não tem nada a ver com isso” e então minha imaginação voava ao casal tão jovem que acabara de perder a vida.
- Pra onde estamos indo? – Lauren, enfim, pergunta.
- Para seu apartamento. Não quero ir pra casa – falei a olhando por um instante. Odiei-me, pois acabei deixando escapar o meu medo e confusão.
- Tudo bem – Lauren diz se afundando no banco.
Algumas vezes ela passava a mão sobre o curativo que cobria o corte. Queria entrar na mente dela um pouco. Sei lá, só ver como ela estava lhe dando com tudo isso. Eu estava perdida e não falava, pois não queria que ninguém percebesse por isso tentava até o fim controlar minhas emoções.
Demoramos mais que o normal para chegarmos ao apartamento. Eu agora andava alguns passos a frente de Lauren, minha mente estava tão longe que eu nem me lembrava em que realidade estava. Foi assim até entramos no apartamento.
- Quer comer alguma coisa? – perguntei a Lauren quando a vi tirando a blusa e indo para o banheiro. Ela ainda parecia extremamente magra, o que me deixava aflita.
- Não! – ela responde – Só quero tomar um banho de verdade e poder dormir.
Sai do quarto e fui até a cozinha tomei um copo de água e voltei. Nas gavetas ainda havia algumas calcinhas minhas. Senti meu coração parar ao me lembrar do quanto éramos felizes, sem ninguém saber de nos. Só eu e ela. Lauren saiu do banheiro secando os cabelos em uma toalha. Senti seus olhos sobre mim era como se minha pele estivesse queimando. “Não consigo mentir, muito menos fingir”
- Vou tomar banho – falei antes que ela pudesse dizer alguma coisa ou me colocar na parede novamente.
Entrei no banheiro. O grande espelho da pia estava embaçado. De forma vaga passei a mão por ele e observei meu reflexo. Meus olhos estavam inchados, contornado por olheiras que jamais havia visto, minhas bochechas pareciam terem sido esmagadas. Eu era um zumbi. Até meus lábios haviam perdido a cor.
Abri o chuveiro sem me preocupar com a temperatura. Não fiquei um segundo de baixo da agua e logo encostei-me à parede fria, lentamente fui escorregando até me sentar no chão. Encolhida, chorei sem conseguir definir o motivo. A água morna agora caia sobre minhas costas eu chorava com a cabeça entre os joelhos. Abri os olhos e tudo estava coberto por vapor. Eu suspirava olhando para os lados. Parecia que as paredes iriam se fechar sobre mim. Não sei por mais quanto tempo fiquei na mesma posição até criar forças para me levantar.
Agora já na cama. Lauren dormia jogada de um lado. Eu queria abraça-la, havia chorado tudo o que conseguia e mesmo assim não havia chegado a uma conclusão sobre o que estava sentindo. “Eu vou acabar ficando maluca” minha mente me advertia, mas eu sempre me pegava investigando o que estava acontecendo e analisando tudo. Eu repassava os acontecimentos, eu imaginava todas as cenas nas quais não estive presente. Eu podia ouvir os tiros. Demorei a pegar no sono, em compensação quando ele veio me levou para outro mundo.
Acordei com barulho próximo a mim. Levantei a cabeça de imediato e fraguei Lauren abrindo uma das gavetas do criado-mudo ao lado da cama.
- Me desculpe, Camz. Não queria te acordar – ela diz. Pisquei os olhos e me sentei na cama. Senti o cheiro de sabonete. Lauren estava enrolada uma toalha, seus cabelos novamente estavam úmidos. Ela se sentou na cama e colocou a mão sobre a minha – Está tudo bem?
- Está – respondi tentando rolar para o outro lado e sair da cama, porém Lauren me conteve.
- Eu ia dormir no sofá, mas acabei caindo na cama. Estava morta.
- Eu dormi com você por que quis – respondi com a garganta seca.
- Por que está assim? – ela perguntou novamente. Respirei fundo e procurei me concentrar na minha próxima mentira.
- Não é nada, só estou pensativa e confusa. Nem consigo me lembrar das coisas que aconteceram direito - falei amarrando o cabelo.
- Vai ficar tudo bem, amor – me virei para Lauren. Ela olhava para os lenções. Sentir uma forte vontade de abraça-la, mas eu sabia que choraria muito então apenas me levantei da cama e fui para o banheiro.
Após o banho senti o cheiro bom vindo da cozinha. Sorri, sentindo saudade da sensação de acordar ao lado dela, tomarmos café juntas. Sem qualquer preocupação, sem nada nem ninguém infernizando nossas vidas.
Entrei na cozinha me sentindo estranha e acanhada.
- Eu tentei fazer uma omelete, mas não deu muito certo então fui correndo comprar umas panquecas – Lauren avisa colocando um prato sobre a mesa.
- Está tudo bem – falei me sentando. Empurrei o café da manhã goela a baixo. Não sentia fome, muito menos vontade de comer.
- Camz?
- Sim?!
- Você vai? – Lauren pergunta com as sobrancelhas arqueadas. Eu sabia do que ela se referia, mas preferi fingir confusão:
- Para onde?
- Ao funeral do seu pai – ela responde engolindo em seco.
- Não. Se você quiser pode ir. Eu vou... sei lá, pra qualquer lugar – falei sentindo minha garganta queimar.
- Amor, a Sofi...
- Eu sei, Lauren. Eu sei, mais eu acho que não sou a melhor pessoa para estar ao lado dela agora – a interrompi e me levantei da mesa.
Enquanto me afastava eu sentia o olhar de Lauren sobre mim. Vesti-me rápido. Lauren em poucos minutos também estava pronta. Ela não disse uma palavra, porém eu sabia que ela me acompanharia. Descemos até o estacionamento e não estranhei o fato de Lauren entrar direto no Dodge.
Ela dirigia tão lentamente que era como se o tempo não passasse. Em alguns momentos em que olhava para ela, suas mãos apertavam o volante com força. Ela parecia estar pensando em algo, planejando algo. “É o que eu espero” pensei, pois eu estava completamente perdida. Instintivamente coloquei a mão em sua perna ela apenas inclinou a cabeça sentindo meu toque, mas não me olhou. As coisas estavam estranhas para nós duas. Não consigo identificar qual de nós estava mais distante.
- Você não vai mesmo ao funeral de seu pai? – ela pergunta sem tirar os olhos da pista.
- Sim – respondi. Lauren me olhou e eu entendi seu olhar como confusão – Não vou de forma alguma.
- É tão surreal pra eu acreditar no que aconteceu – Lauren diz suspirando. Concordei e disse não mais nada.
Chegamos ao hospital, pedi para Lauren perguntar na recepção se eles sabiam a onde seria o funeral do casal. Ela voltou com uma resposta negativa.
- Miami é grande demais, não dá simplesmente pra sair por ai tentando adivinhar aonde vai ser– Lauren diz olhando para mim.
- Tudo bem – respondi – Você vai ver a Nata agora?
- Por quê?
- Queria te pedir uma coisa.
- Pode pedir.
- Leve-me para o lugar onde sua avó lhe levava – desviei o olhar não sabia qual resposta viria.
Senti seu sorriso. Em seguida estávamos na estrada novamente. Não sabia muito bem por qual motivo havia pedido para Lauren me levar para lá, mas eu sabia que seria o lugar certo para estar uma hora daquela. Estávamos indo em direção ao centro da Florida. Eu queria ir para um lugar ainda mais longe do que aquele cânion, mas lá já seria o suficiente.
- Eu tenho ciúmes desse lugar – Lauren diz.
- Poucas pessoas o conhecem. Ninguém nunca vai procurar um caminho de terra no meio da estrada.
- Sei lá. De qualquer forma ali é o meu lugar e não quero mais ninguém andando por lá – Lauren diz sorrindo. Não consegui sorrir de volta. O peso do meu coração me atrapalhava.
- Vai ter que dividir o seu lugar comigo hoje – falei. Eu sentia vontade de chorar novamente, mas me segurei o máximo possível.
Em pouco mais de uma hora e meia, Lauren parou o carro em meio às arvores. Não esperei que ela saísse do carro. Saltei e caminhei até a beira da enorme pedra que formava o cânion. Não havia paisagem natural em minha frente, apenas a plana cidade de Miami. Imaginei se alguém lá embaixo conhecia aquele lugar. Cheguei à conclusão que não, a vida nas praias e em todo um mundo de correria é mais interessante.
- Seria tão legal se no lugar de todos esses prédios, estradas e pessoas, houvesse somente a praia – Lauren comenta parecendo ouvir meus pensamentos – É por isso que gosto de vim aqui apenas à noite. Mesmo com as luzes da cidade o mar se mostra mais presente.
- Eu sei – comentei sem me virar. O vento bagunçava meus cabelos, cruzei os braços me protegendo do vento fresco – Lauren?
- Estou aqui – ouvi sua voz próxima à minha nuca.
- Você acha que eu deveria ir? – perguntei fechando os olhos e sentindo uma lagrima descer por minha bochecha.
- Não tenho de achar nada. Se você sente que não deve ir. Não vá – ela responde.
- Ele era meu pai. Mesmo com tudo isso, era meu pai – falei controlando minha voz.
- Eu sei, Camz. É um sentimento estranho não é?
- Sim. Eu não consigo sentir nada – agora já não conseguia mais segurar o choro.
- Você não precisa sentir nada. Temos que arcar com as consequências do que fazemos. Essa sua falta de compaixão por seu pai é consequência das atitudes dele. Não é culpa sua.
- A Sofi deve estar sofrendo – falei agora me virando pra ela.
- Com certeza. Tudo vai se resolver. Sei que você espera que eu diga mais, porém não sei o que posso dizer pra te confortar – Lauren diz olhando em meus olhos.
- Não diga nada. Acho que vou viver pra sempre com essa culpa – falei sentindo minha voz falhar.
- Você não tem culpa de nada. Quem vai sofrer eternamente é a Diana. Jamais imaginei que ela seria capaz de tal loucura.
- Cheguei até em me esquecer dela – falei andando até uma enorme arvore próxima ao carro.
- Eu queria poder fazer o mesmo – Lauren diz sentando no chão próximo a mim – Taylor me ligou mais cedo está tudo bem com meu irmão, tirando o fato que minha mãe quer matar a mim e a ele.
- Nossa! Desculpe-me por não ter... – meu coração saltava no peito. Eu havia me esquecido do resto do mundo.
- Está tudo bem – Lauren diz amarrando os cabelos.
- Seu braço não dói? – perguntei me sentindo culpada por não ter demonstrado preocupação. Ou melhor, ter me esquecido completamente de tudo, inclusive do seu machucado.
- Dói um pouco – ela respondeu agora se deitando no chão.
Lauren olhava fixamente para o céu. Fiz o mesmo. Alguns raios de sol se infiltravam pelas longas folhas e galhos da arvore em que estávamos debaixo. Ficamos em silêncio por longos minutos até Lauren falar.
- Queria poder voltar atrás e fazer um monte de coisa diferente.
- Voltar atrás e nunca ter me conhecido? – falei procurando seus olhos. Ela se sentou, olhou para mim. Senti todo o calor de seu olhar se irradiar pelo meu corpo.
- É estranho, mas eu tenho certeza que de uma forma ou de outra nos encontraríamos – ela diz seria.
- Acredita nessas coisas? – perguntei cética.
- Depois que me apaixonei por você sou capaz de acreditar em tudo.
- Então você acredita que vamos ter paz para ficarmos juntas? – perguntei. Lauren se aproximou. Mesmo ainda me sentindo estranha, desta vez, não me afastei. Deixei ela me envolver e quando dei por mim já estava com o rosto em seu pescoço.
- Eu vou fazer de tudo para isso. Sei que já causei desgraça demais em sua vida. Não posso simplesmente te deixar depois de toda bagunça que te arrumei. Você sabe que fui eu quem causou todo esse inferno. Eu queria poder desaparecer com toda essa dor e te deixar em paz. Te deixaria para você ser plenamente feliz, ainda que eu morresse a cada segundo longe de você.
- Você sabe que se um dia me deixar novamente eu nunca te perdoaria não é?
- Não corro esse risco – Lauren diz me puxando para mais próximo.
Meus olhos estavam pesados eu continuava a me segurar para não chorar. Estava cansada, me sentindo completamente esgotada mesmo tendo dormindo como uma pedra por apenas umas 3 horas. Nada parecia acalmar meu coração. Nem o cheiro de Lauren me tranquilizava.
- Não consigo... – sussurrei para mim mesma contra o ombro dela.
- Tente dormir, eu estou aqui com você. O tempo todo. Feche os olhos e relaxa. Vai ficar tudo bem...
Não contra argumentei. Relaxei os músculos e fechei os olhos, me concentrei no barulho baixo dos pássaros, do vento balançando as folhas e na respiração do amor da minha vida. Fiquei mais de meia hora tentando manter-me firme. Quando sentia a mão de Lauren acariciar meus cabelos, acabei enfim, adormecendo.
Acordei já era fim de tarde. Lauren havia me cobrido com a manta que guardava no fundo do Dodge. Me sentei a sua procura, então a vi sentada no chão olhando para o horizonte enquanto fumava. Ela havia retirado a jaqueta, expondo o enorme curativo que cobria seu corte. Ela não olhava pra a cidade abaixo de nós e sim para o céu.
Pensei em chama-la ou em ir até ela, porém optei por apenas observa-la. Minha cabeça parecia estar dentro de um furacão. Eu pensava no sofrimento de minha família, da Sofi, na louca da Diana, na Lauren, no bebê, em tudo. Eu me sentia como um computador antigo tentando processar arquivos em velocidade maior do que possível. Eu não sabia para onde iriamos depois dali, o que iriamos fazer...
- Camz? – ouvi a voz da Lauren – Não te vi acordar.
- Tudo bem. Você estava concentrada e não quis te atrapalhar – minha voz saia baixa e mais triste do que imaginara.
- Quer ir para casa? – Lauren pergunta.
- Não sei – respondi sentindo meu coração acelerar.
- Não da pra fugir, você sabe disso não é?
- Sei. Só não consigo decidir do que realmente estou fugindo. Você viu a quantidade de coisa que aconteceu em tão pouco tempo.
- Eu sei que não posso fazer tudo ficar bem, mas eu vou tentar te devolver pelo menos um terço de sua paz. Eu não...
- Por favor – a interrompi – Já conversamos sobre isso – Lauren relaxou o corpo e esfregou os olhos, respirando fundo.
- Mesmo com toda essa loucura – ela falava se levantando e vindo até mim – Por favor, não esqueça que te amo de verdade. Eu sei que está tudo confuso dentro da sua cabeça e de seu coração, mais tudo o que te peço é que não esqueça que te amo.
- Eu também te amo – falei evitando olhar em seus olhos. Queria perguntar, de novo, se iriamos ficar juntas quando tudo ficasse bem. Mas nenhuma de nós tinha certeza que tudo realmente ficaria bem.
- Vamos, já está tarde.
Entramos no carro, durante o caminho até a cidade pedi para Lauren que me levasse para o apartamento dela. Liguei para Dinah assim que consegui rede e pedi para que ela cuidasse de minha mãe e da Sofi, falasse que eu estava bem e que precisava de um tempo. Dinah apenas me ouviu, não perguntou como eu estava, pois ela me conhece o suficiente para saber quando eu não tinha respostas.
- Eu não consigo pensar em nada – falei para Lauren assim que ela para no estacionamento do prédio.
- Eu também – ela diz – Você sabe que a polícia vai procurar por nos não é?
- Já devem estar fazendo isso agora – falei buscando pelo celular – Eles vão achar super estranho o fato de eu não me importar com a morte dele.
- Vamos só dizer a verdade – Lauren fala. Com o carro estacionado, permanecemos paradas cada uma perdida em sua própria mente. Eu tentava organizar os acontecimentos em minha cabeça e Lauren? Eu daria qualquer coisa pra saber em que ela estava pensando – Vamos subir!
Ela corta interminável silêncio entre nós. Dentro do elevador continuei em silêncio, eu começava a me sentir incomodada. Coloquei a mão no bolso e não encontrei o celular.
- Droga! – murmurei.
- O que foi? – Lauren pergunta.
- Esqueci meu celular no carro... Que horas são agora?
- São quase oito da noite. Ficamos o dia todo fora, eu não estava com fome até olhar no relógio – Lauren diz passando a mão no cabelo.
- Não estou com muita fome – respondi aérea.
- Eu também não. Acho que é só vontade de comer ou então de fingir que esta tudo bem – Lauren diz. Seu olhar procurava o meu e assim que nossos olhos se encontraram as portas do elevador se abriram – Vem!
Ela segura em minha mão, entrelaçando nossos dedos. Eu respirei fundo, o ar parecia estranhamente pesado. Entramos no apartamento, Lauren acendeu as luzes e antes que ela pudesse largar minha mão a puxei.
- Não aguento mais isso... – falei contra seu pescoço.
- Aguenta só mais um pouco, Camz – ela diz colocando as mãos em minha cintura – Esta perto de tudo isso acabar.
- Você não vai me deixar não é? – perguntei instintivamente. Lauren respirou fundo e eu não quis olha-la, mais uma vez, tinha medo da resposta.
- Nunca – ela respondeu com a voz fraca. Uma de suas mãos subiu até me nuca apertando mais o nosso abraço – Vai ficar tudo bem...
Ela diz baixinho. Eu quase não a escutava, apenas respirava o seu cheiro buscando forças para aguentar o que ainda estava por vim. Eu queria muito chorar, mas me contive de novo. Respirando fundo me soltei de seus braços e caminhei, de cabeça baixa em direção à cozinha. Enchi um copo de água e o bebi de uma vez.
- Está tudo bem, Camz? – Lauren pergunta mantendo certa distancia.
- Está – respondi permanecendo de costas para ela. Minha respiração se tornara mais rápida do que as batidas do meu coração. E eu me sentia estranha.
- Eu estou com você e sempre vou estar – Lauren diz, mais uma vez. Não havia muito o que dizer. Antes que eu pudesse me virar, senti o calor do seu corpo atrás do meu. Ela me abraçou e beijou meu ombro carinhosamente.
- Eu quero ficar com você – falei olhando para suas mãos entrelaçadas às minhas novamente.
- Eu também quero. E vou fazer de tudo para ficarmos juntas – enquanto ela falava sentia o calor de sua boca próxima à minha nuca. Respirei fundo e não fui capaz de segurar algumas poucas lágrimas.
- Acho... acho que vou tomar banho e deitar um pouco – falei engolindo em seco e secando as poucas lágrimas.
- Nem pensar! Vou pegar uma pizza bem grande para a gente. Não comemos nada o dia todo – Lauren diz já me soltando e indo em direção à sala.
- Não estou com fome – falei. E realmente não estava. Minha garganta parecia estar bloqueada.
- Não importa! Volto logo – Lauren diz com um sorriso nos lábios. Seus olhos estavam marejados. Ela não queria comprar uma pizza, muito menos sentia fome. Ela só queria chorar sozinha.
POV Lauren
Sai sem dizer mais nada a Camila. Já não estava mais aguentando o peso de minhas mentiras. Tudo o que passava na minha cabeça era o tempo que iriamos ficar longe uma da outra. Ela jamais ira me perdoar, mas eu não tenho alternativa. Encostei-me à parede fria do elevador. Eu daria qualquer coisa pra ter uma chance de voltar a traz e mudar tudo. Mudar tudo, sem exceções. Mesmo que isso fizesse com que nós nunca tivéssemos nos conhecido.
Agora em consequência de minha insanidade eu vejo o mundo se despedaçar em minhas mãos. Quanto mais eu penso mais eu tenho certeza que nosso destino nos quer longe uma da outra. “Ela precisa que eu fique longe para poder ser feliz” eu repetia a mim mesma na expectativa de aceitar o fato e não sofrer com a verdade.
As portas do elevador se abriram. Meus passos eram curtos e calmos, eu não tinha pressa para voltar para casa. Seria a ultima vez que eu voltaria para lá e a encontraria me esperando. O Dodge ainda tinha o cheiro dela. Fiquei alguns minutos apenas parada olhando para o volante. Minha mente só corria para os meses que passamos juntas. Chorei em silêncio. Enfim, não importa meu sofrimento.
Uma de nós têm de ser corajosa por nós duas.
Sobre o painel do carro vi o celular de Camila. Fechei os olhos e pensei no quanto nossos momentos juntas iriam me matar durante todo esse tempo que ficaríamos afastadas. Respirei fundo e peguei seu celular o colocando sobre o banco do carona. Dirigi por menos de 20 minutos até uma pizzaria, enquanto esperava sai do carro e fiquei observando a rua enquanto fumava. Não sei quanto tempo se passou até voltar para o carro. Antes de colocar a pizza sobre o banco carona vi o celular de Camila tocar. O peguei e vi o nome da Dinah então resolvi atender.
- Onde você está? – Dinah grita do outro lado da linha.
- Calma, Dinah! Sou eu, Lauren.
- Lauren! Onde você está? Onde a Camila está?
- A Camila está no meu apartamento. Dinah você tá me assustando! O que...
- Lauren, por favor, volta pra lá agora eu to indo pra ai...
POV Camila
Assim que Lauren saiu tomei um banho rápido e logo voltei para cozinha. Comecei arrumando a pequena bagunça do café da manhã. Assim que coloquei os pratos sobre a pia ouvi o barulho da porta se fechando.
- Lauren? – chamei e quando que ouvi o som de seus passos chegando á cozinha completei já me virando – Estava pensado em irmos visitar a Jessica e o bebê. O que você ach...
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.