•P.O.V. Melissa:
O hospital é perto relativamente da minha casa, então meu pai e minha mãe revezam em cuidar de mim.
Passei a noite com o Chris e meu pai aqui no quarto, já minha mãe voltou para casa a fim de cuidar das minhas irmãs. Confesso que a noite eu não dormi, fiquei morrendo de medo deles durante todo o tempo. Não sei o porquê, não sei o motivo, mas eu tenho muito medo deles. E pior, não consigo falar nada, o que dificultou eu pedir para minha mãe ou a Jessica ficar comigo.
Já são 8:32 e eu não dormi, eu sei a hora, pois tem um relógio bem na minha frente encostado na parede. Eu nem estou com sono para ser sincera.
Eu não compreendo o que aconteceu direito. Foi tudo muito rápido, eu nem consegui falar ainda.
Passei a noite pensando em tudo que vivi naquela casa, foi tudo tão amedrontador, horrível, traumatizante e... solitário. Acho que a pior coisa foi ficar sozinha todo esse tempo, sem sentir afeto e carinho de ninguém. Porém, agora que voltei para a sociedade, é como se não tivesse.
A todo momento, eu me assusto com algo. Desde um aparelho que derrubam no chão, até um apelo de um médico chamando suporte.
Não tiro os olhos do Chris e do meu pai, até que minha a Jessica e minha mãe apareceram no quarto, para revezar com eles. Nesse momento, eu solto um ar que estava preso nos meus pulmões. Um alívio.
Me disseram que provavelmente, se o meu quadro clínico continuar do jeito que está, amanhã receberei alta. Não vejo a hora de sair daqui.
Chris hesitou um pouco em sair, mas foi embora, mesmo sem meus pais pedirem. Acho que ele entendeu o meu estado. Minha irmã vem até mim e eu me sento na cama. Vejo minha mãe e irmã sorrir perante minha atitude. Eu já sofri demais, sabe? Quero voltar a vida, nem que seja aos poucos.
- Você quer falar hoje, mana?
Em resposta ao seu questionamento, eu nego apenas com um balanço de cabeça. Ela me compreende e sorri sem revelar os dentes. Essas atitudes deles me ajudam muito, eles não sabem o quanto. Mas eu ainda vou demorar para me recuperar.
Uma médica chega no quarto e se aproxima da cama, mas sem tocar em mim.
- Já que você não está querendo falar, então me responda com gestos, ok?
É, acho que, assim, é possível. Assinto.
- Você se sente fraca ou tonta?
Sentia, mas não mais. E agora? Bom, de qualquer forma... eu nego.
- Muito bem, então até a noite te tirarei do soro, se assim continuar. As marcas no seu pulso doem?
Eu balanço minha mão aberta inclinando-a de um lado a outro.
- Mais ou menos, não é? Já é um bom avanço. Essas marcas saram sozinhas com o tempo. Eu preciso tocar em você agora, vai ser bem rápido, ok?
Eu assinto com um pouco de hesitação. Ela põe os polegares nas minhas olheiras e pede para eu olhar para cima. Faço isso e ela tira os dedos.
- Está um pouco anêmica. Mas poderia estar muito pior nas condições que estava. Você vai precisa tomar remédios de vitamina D.
A moça vai até um pouco perto da minha mãe e fala algo que eu não consigo ouvir direito, mas está relacionado com um psicólogo. Se for o que estou pensando, eu não quero um. Jessica se aproxima de mim.
- Viu, você está bem. Nem eu sei como, mas você está.
Assinto sem perguntas. Não dou sorrisos mesmo com suas tentativas, não sinto vontade de fazer isso, nem tenho forças.
A médica volta para perto de mim e olha nos meus olhos.
- Você não dormiu hoje, não é? Seus olhos estão lerdos e cansados. - Concordo fazendo todas se olharem.
- Melissa, você precisa dormir. Eu sei que deve ser difícil depois de tudo que passou, mas seu cérebro precisa parar um pouco. Vai ser melhor pra você mesma.
Eu não consigo dormir, não dá. Pode melhorar mesmo, mas tenho medo. Preciso ficar atenta, não dormir.
Tem um lugar que eu quero ir quando sair daqui. Sinto falta de lá, mas falta pouco para eu sair do hospital..
(...)
Agora são 17:54. Chris e meu pai chegaram para trocar com minha mãe e a Jessica. Eu não gosto de ficar perto deles, me dá medo. Mas eu não quero falar.
Chris vem até perto da cama, mas não muito, ele sabe que eu tenho medo.
- Que bom, você já até se sentou na cama.
Eu concordo sem que ele perguntasse algo.
- Eu senti tanto a sua falta nesses anos. Espero realmente que volte a confiar em mim, mas tudo no seu tempo.
Meu pai diz que esqueceu de pegar algo lá fora, e sai do quarto. Ah, não! Eu fiquei sozinha com o Chris!
Eu fico muito nervosa e minha respiração ofegante, ainda respiro com a boca fechada. Encaro ele atentamente. Chris se senta na poltrona que ficava de frente para a cama. Continuo o encarando. Começo a tremer e me dá uma vontade de chorar, mas não me deixo levar pela emoção.
Olho para o teto e estou ficando tonta, em um nível elevado. Meus olhos piscam sem parar e de repente tudo fica preto.
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