•P.O.V. Melissa:
Hoje eu saio desse hospital! A médica está prestes a me liberar. Eu acordei e não tinha ninguém no quarto e
Estranhei, mas foi até melhor assim. Levantei da cama e parei em pé, virada de frente para a janela, admirando a cidade que não para.
De braços cruzados, fui tomada pela emoção e uma lágrima caiu do meu olho. Dessa vez, eu deixei ela descer. Não dava para segurá-la por muito mais tempo.
Ouço um barulho de porta se abrindo, atrás de mim, e rapidamente me viro de costas, revelando para mim quem estava entrando no quarto.
- Preparada para sair do quarto? - Chris pergunta num tom de animação.
Eu descruzo meus braços e o admiro de cima a baixo.
- Calme, não vou fazer nada. Eu saio da porta depois você vem, ok? - É que assim é possível. Assinto.
- Aproveite que está de manhã, e não tem muita gente circulando pelo hospital.
Ele sai do quarto, deixando a porta aberta, para facilitar minha passagem. Eu saio do quarto.
Vou andando pelo corredor e seguindo o Chris, que estava a poucos metros à minha frente. Os médicos me olham e sorriem para mim, eu os encaro com o canto dos olhos. Giro minha visão para baixo, mas só um pouco, senão não vejo o Chris e posso esbarrar em alguém.
Passo pela porta do hospital e dou de cara com uma claridade muito forte, consequência da luz do Sol.
Depois de algumas piscadas, noto um carro à minha frente. Minha mãe está esperando por mim com a porta traseira do veículo aberta.
Chris está no banco do motorista e minha irmã Jessica sentada ao lado dele. Minha mãe estava no banco traseiro.
- Entre, Melissa. Vamos para casa. - Minha mãe me chama, porém tem muitas pessoas nesse carro.
Eu nego com a cabeça.
- Mel, é sua família. Não vai acontecer nada com você. - Chris acaba me convencendo.
Eu respiro fundo e entro no carro. Fecho a porta e encosto a cabeça na janela. Chris dá a partida e algumas lágrimas caem dos meus olhos.
Depois de alguns minutos com o carro em movimento, e um silêncio instalado entre nós, Chris para o automóvel no semáforo.
Eu lembro das montanhas. Abro a porta e saio do carro.
- Mel?! O que você tá fazendo? - Julie exclama. Como se ela não me conhecesse mais.
- Se acalme, tia. Eu sei onde ela vai. Ela vai voltar pra casa, não se preocupe. - Pelo menos o Chris me conhece ainda.
Vou andando até que chego num penhasco. É meu lugar aqui, sabe? É uma montanha relativamente pequena, coberta de grama, que fica de frente para o mar.
Me sento na grama e admiro o mar. Está um vento fresco e não está muito quente, acho que é porque uma nuvem cobriu o Sol.
Algumas imagens do local onde fiquei todo esse tempo, vêm à minha mente. Era horrível aquele lugar. Não tinha sons de pessoas, era solitário, amedrontador. Eles testaram várias coisas em mim, uma séria delas, até agora não entendi.
Passo um tempo nas montanhas e volto para casa. Foi bom passar um tempo sozinha.
Abro a porta de casa e me dá uma nostalgia enorme. Não mudou quase nada! Minha irmãzinha cresceu bastante, quando a vi da última vez tinha 12 anos, agora, pelas minhas contas, tem 15. A Jessica tem 23.
Fecho a porta e vou para a sala. Encontro minha mãe e meu pai, sentados na sala, juntamente com minhas irmãs. Me encosto na parede.
- Você está bem? - Não sei se ficarei completamente bem por algum tempo. Mas, na medida do possível, sim. Assinto.
- Mel, se você quiser conversar, fale comigo, ok? - É, eu sei que posso, Jessica.
Eu me viro e subo as escadas para ir ao meu quarto. Vou andando, passando a mão levemente na parede e olhando tudo ao redor. É tudo tão antigo, mas, ao mesmo tempo, tão novo. É estanho.
Paro em frente a porta do meu quarto e giro a maçaneta. Me deparo com aquele cômodo todo limpo, do jeito que eu deixei.
Me sento sobre minha cama e olho pela janela. Tudo está da mesma forma, nada mudou, isso é tão estranho. Eu ainda divido esse quarto com a Jessica, pelo visto.
Será que eu ainda tenho meu celular? Me levanto e abro uma gaveta da cômoda. Só roupas. A onde eu deixaria um celular de uma garota desaparecida? Hm... já sei! Abro meu guarda-roupa e pego a caixa de lembranças. Achei! Eu sabia!
Tento ligá-lo. Está carregado?! Como assim? Alguém deve ter carregado ele e mexido, de vez em quando.
Está com 14%, mas tem bateria. Vou nos meus contatos e tem várias mensagens de pessoas que se arrependeram por ter feito mal a mim. Tem mensagens do Chris. Muitas! 12468 para ser exata. Ele deve ter mandando elas durante todos esses anos.
Vou lendo-as. Uma a uma. Ele é muito fofo, por sinal. Me jogo na cama e continuo lendo. Deparo-me rindo à toa com o que ele disse. Basicamente, as primeiras foram dele muito triste e falando o quanto eu fazia falta. Depois, foram dele conversando comigo mesmo, como se eu fosse respondê-lo.
Minha irmã abre a porta do quarto e se senta na cama ao meu lado.
- Mel, eu senti muito sua falta, sabia? - Também senti a dela. Só que eu acabei aprendendo que, se alguém encosta em você, ele quer seu mal. Desculpe, Kristina.
- Bom, vou te deixar sozinha. Se quiser falar comigo, já sabe.
Ela se levanta e sai do quarto. Eu fico deitada lendo as mensagens do Chris por bastante tempo.
(...)
Decido sair pra algum lugar, não aguento mais ficar presa. Vou para o lado de fora da casa e começo a andar para a praça daqui. Está anoitecendo, ainda tenho medo, mas eu preciso sair.
Chego na praça. Encontro o Chris, sentado em um banco, com fones de ouvido e com os olhos fechados.
Tento passar por ele despercebida, mas piso em um galho que estava caído no chão. Ele abre os olhos, retira o fone e desencosta as costas do banco.
- Espere, não vá embora!
Eu paro em pé de braços cruzados olhando para ele. Chris se levanta e vem até perto de mim. Eu dou um passo para trás.
- Não vou fazer nada, relaxe. - Ele tira uma caixinha embrulhada do bolso e estende a mão para eu pegar o presente. - Pegue, é só um presente.
Eu pego a caixinha de mão dele e a abro. É um bloco de notas, mas por quê?
- Bom, como você não está querendo falar, eu pensei que poderia escrever.
Eu sorrio sem revelar os dentes. Isso foi fofo demais, não me aguentei.
- Mel? Você sorriu! Quanto tempo eu não vejo você sorrir... Dane-se que não foi um sorrisão, mas valeu.
Ele sorri.
- Queria tanto poder te abraçar... Vou respeitar seu tempo. É só que… eu não sou eles, sabe?
Encolho os ombros.
- Eu só espero, que um dia, você volte a confiar em mim.
Não dá, pelo menos, agora não. Eu vou voltar para casa, já deu tudo que tinha que dar na rua hoje. Pego meu caderninho e com a caneta que tinha dentro da espiral, escrevo: "Preciso ir embora".
- Mas já? Ok, né? Faça o que achar melhor pra você. Até mais, Mel.
Eu volto para casa deixando Chris na praça. Chego no meu quarto, deito na cama e adormeço. Minha irmã ainda não tinha ido dormir, ou seja, eu estou sozinha no quarto.
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