Oh Sehun estava mais do que feliz ao finamente poder respirar aliviado. Havia pago o boleto que oficializava sua matrícula na faculdade que tanto almejava — ainda podia sentir os vestígios das lágrimas que ameaçavam escorrer pela sua bochecha, lágrimas estas que serviam para demonstrar além da sua alegria, a dor por ter gasto tanto dinheiro de uma vez só.
Como um calouro de biomedicina, a única coisa que o ruivo sabia era que não sabia era de nada, apenas que precisava fazer serviços comunitários para compensar a bolsa de 50% que havia descolado, e, ainda assim, não sabia sequer como faria para achar o serviço, se teria que mandar currículo como quando para conseguir um emprego ou fazer alguma magia de invocação para se auto-invocar no local indicado desconhecido.
Mas pensaria nisso depois, primeiro iria gastar um pouco mais do dinheiro dos pais comprando luvas, óculos, máscaras e um jaleco. Só em pensar em ser chamado de Sr. Oh já fazia seus pêlos se eriçarem, mandaria bordar desse jeitinho mesmo em seu lindo e novinho jaleco de algodão — como haviam especificado.
Sua mente se inundava com devaneios fantasiados e idealistas de como seria sua rotina universitária, e foi com um grande sorriso no rosto que o garoto de fios alaranjados depositou a caixa com luvas e máscaras descartáveis sobre o balcão da pequena farmácia que residia no próprio campus. Já estava até mesmo tirando o dinheiro do bolso quando o baque forte da lata contra o mármore do balcão se fez presente, dispersando completamente suas fantasias.
A latinha preta e longa reluzia à sua frente, “ultra forte e com o dobro de café”, era o que dizia no rótulo. Subiu o olhar pela mão que segurava com uma firmeza desnecessária o energético, passando pelos dedos manchados de preto e os braços cobertos por um moletom, com punhos também sujos, até o um par de olhos grandes e negros com fundas olheiras, quase que cobertos por uma franja espessa e desgrenhada.
— São 3,60. — Avisou o garoto para o atendente que, sorridente, lhe deu bom dia e passou o produto pela máquina tirando um bufar seguido de um revirar de olhos do mais baixo. “São 3,60” o homem atrás do balcão contatou estendendo a mão, provavelmente ignorando a grosseria do outro, e prontamente recebeu o dinheiro contado. O moreno puxou novamente a lata e se virou para sair sem ao menos esperar que o pagamento fosse conferido. Mas antes, ao passar novamente pelo Oh, o encarou tão profundamente que fez os pêlos do outro novamente se arrepiarem, não de um jeito bom, enquanto o moreno desaparecia pela porta.
— Feiíssimo, ogrou todo, quer um tapa? eu te dou — sussurrou o calouro de postura exemplar antes de voltar sua atenção ao gigante sorridente atrás do balcão.
***
A franja composta pelos fios negros agora se encontravam mais alinhados e limpos, as olheiras haviam dado uma trégua e invés de pretas agora se encontravam levemente arroxeadas, destacando-se na pele um pouco menos pálida, assim como a dor nas costas e nas mãos aos poucos estavam lhe deixando dormir melhor. Seu artigo finalmente estava andando na direção correta o que, de certa forma, quase compensava todas as noites não dormidas, as dores em todos os lugares inimagináveis, os quilos que perdera por puro estresse e a singular e inclinada pilha de livros chatos que havia se formado ao lado do computador.
O formulário que precisava preencher para ocupar mais uma vaga no serviço praticamente obrigatório lhe encarava de volta. Seria besteira continuar pensando em desistir mesmo faltando tão pouco? Com certeza, mas ele não pararia de o fazer. E foi assim, encarando mais um dos seus problemas com preguiça de resolvê-los, que avistou um vulto alto e colorido passar por si.
Havia, com certeza, algo de familiar naquele garoto, sua mente se esforçava para tentar lembrar daquela cabeleira alaranjada, mas, de qualquer forma, já estava perto do local quase escondido onde ficava a secretaria, então aquele ruivo estranho teria que virar para ir a qualquer outro lugar e seria esquecido completamente pelo menor. Mas não, indo contra todas as expectativas do Do, o centro de sua atenção continuou indo reto até a porta dupla de vidro a qual abriu e rapidamente se curvou, em seguida praticamente correndo até a cadeira dura de plástico azul em frente ao único secretário que teve o azar de pegar férias fora de época.
O veterano riu soprado observando ao longe o pobre coitado na área dos bolsistas, provavelmente agendando seu serviço voluntário também. O calouro, já sentado, engoliu em seco com as mãos suando de nervosismo e a mente divagando entre todos os tipos de entrevista de emprego possíveis ou alguma vaga louca nas aulas comunitárias de yoga para senhora ou limpador de banheiros do hospital universitário quando o garoto a sua frente sorriu e calmamente lhe mandou pegar uma senha apenas para cumprir o procedimento padrão. Sehun ainda perdeu um tempo ali encarando o secretário — que agora sabia se chamar Byun pois estava bordado na frente da camisa azul — tentando processar a informação. O moreno não parecia tão assustador, era menor do que ele e tinha olhos grandes e um sorriso fofo, não parecia do tipo que faz o papel de carrasco em entrevistas de emprego, mesmo que isso não o aliviasse tanto.
Mas okay, ele podia fazer isso. Levantou sob o olhar estranho do secretário e virou-se a procura das senhas, se deparando com uma pessoa fechando a porta de vidro e o reconheceu como o garoto grosso da farmácia, e como era talvez só um pouquinho vingativo, resolveu roubar seu lugar assim como o outro havia feito consigo. Respirou fundo e voltou o caminho que havia percorrido, parou do lado do garoto que não parecia mais velho que ele — apesar de pelo jeito acabado que o outro se encontrava anteriormente indicar isso — e puxou o papelzinho azul que o estudante de Relações Internacionais estava prestes a pegar.
— Hey, o que pensa que está fazendo, não tem educação não, pirralho? — fuzilou aquele projeto de cenoura intrometido sem pensar muito, já contendo a mão que tomava a forma de punho de arrebentar aquela cara sem expressão.
— Isso é tão triste — falou com uma falsa voz de pena olhando brevemente para o outro antes de voltar sua atenção para o atendente. — Alexa, toque Unfair do EXO — disse empinando levemente o nariz antes de voltar à cadeira de antes e começar a fazer as perguntas que gostaria para ao menino à sua frente, este que exibia uma careta confusa enquanto sussurrava inutilmente que seu nome nem mesmo se parecia com “Alexa” e, pior do que isso, que era uma garoto.
— Tá’ me dizendo que tudo que preciso fazer é preencher esse formulário colocando meu nome, telefone pra contato e primeira e segunda opção sendo que elas podem nem mesmo ser levadas em conta?! — O ruivo bateu sua mão sobre a mesa pequena de madeira após repetir em um tom quase indignado as instruções dadas, fazendo o secretário Byun olhar dela para o rosto normalmente inexpressivo que agora parecia levemente irritado. Ora, suas noites insones por causa desse bendito trabalho voluntário poderiam ser poupadas se alguém tivesse escrito isso no edital.
— É sim — respondeu simples, dando de ombros vendo a mão do outro ser retirada da madeira. O ruivo levantou ainda encarando o garoto menor que ele e ergueu levemente o queixo.
— Muito obrigado. — recolheu o formulário indo preenchê-lo no cantinho dando seu lugar para o próximo da fila, ou, em outras palavras, o anão irritadinho de antes que passou como um raio por ele com o papel já preenchido na mão e sentou-se no lugar que havia sido ocupado por si anteriormente.
Suspirou e sentou também, agora em uma das cadeiras de espera, e pôs-se a escrever. Não era nada difícil principalmente agora que já estava mais tranquilo, e foi mais rápido do que imaginava também. Passou rapidamente os olhos tendo certeza que escreveu tudo e foi devolver o formulário em silêncio, não era tão babaca assim a ponto de atrapalhar a vez do outro.
— Por que nunca me disse que se chama Alexa? Eu achava que fosse um nome coreano. — Se curvou em direção ao mais velho na sala e sussurrou, as sobrancelhas unidas em estranhamento e um beicinho engraçado nos lábios.
— Não, meu nome é Baekhyun, Alexa nem é um nome masculino! — reclamou indignado jogando as mechas onduladas para trás com o tom de voz tão baixo quanto o do estudante.
— Huh? Sério? Eu tinha certeza que…
Aquilo era demais, ele realmente acha que o nome do pobre garoto é Alexa? Não pôde segurar as gargalhadas que subiram arranhando sua garganta e cortando subitamente os sussurros dos dois menores. Com a mão estrategicamente depositada sobre os lábios pressionados, o ruivo saiu apressadamente da sala para não chamar mais atenção para si do que o desejado, já fora das portas de vidro não pode mais segurar a risada estridente que contrastava com sua aparência de gente fina e rica, os braços ao redor do estômago e o corpo curvado que tremia e se remexia pode ser claramente visto por todos de dentro.
Sair da sala de vidro não foi tão útil afinal.
Por fim, ainda curvado e com o rosto vermelho, o garoto tentava recuperar o fôlego e soltava as últimas risadinhas, agora mais baixas, ao relembrar o acontecido. Respirou fundo e abriu os olhos dando de cara com um par de sapatos pretos perto demais de si.
Ergueu-se num rompante logo tendo que abaixar novamente a cabeça para encarar o garoto de antes com um olhar que lhe arrepiou dos pés à cabeça.
— Ah… olá, você quer… me p-perguntar alguma coisa? — o ruivo fez um esforço maior para não deixar o riso solto que sempre teve sair facilmente, dessa vez devido ao olhar extremamente sério do outro. — Talvez queira saber quem é Alexa? — não pode conter a língua afiada e mal educada assim como logo desatou a rir ainda mais alto ao notar as vestes do outro. O que ele poderia fazer? Dar um soco em si?
Entre engasgadas com saliva o mais alto foi interrompido de seu êxtase ao sentir mãos pesadas serem depositadas sobre seus braços nem tão musculosos assim. Arregalou um tantinho os olhos que costumavam se manter em meia lua, deixando que seu queixo tombasse enquanto olhava o moreno um tanto chocado com tal audácia.
— Não me diga que além de me bater ainda vai vir com aquele papinho de que devemos respeitar os mais velhos? — arqueou uma das sobrancelhas bem feitas tendo como resposta o arquear das duas grossinhas do mais baixo, era a primeira vez que não zoavam Do dizendo o quanto ele parecia novo demais para frequentar o campus como aluno.
— Não se preocupe — continuou o mais novo. — Seria impossível te confundir com alguém mais novo quando se veste pior que meu avô e ainda não domina a maravilhosa língua “memistica”. — empinou o nariz e o queixo demonstrando sua superioridade.
Kyungsoo piscou os seus olhinhos grandes demais algumas vezes sem entender nada. Ele havia lido seus pensamentos por acaso? E aquilo fora realmente ofensivo, suas roupas eram confortáveis, não precisava se vestir como um delinquente para ser jovem, mas o que é essa língua dele? E ele também não respondeu quem era Alexa.
Bufou ruidosamente prestes a bater novamente naquele pirralho para que aprendesse a respeitar os mais velhos.
O garoto de queixo fino se afastou alguns passos com a mão sobre o local antes atingido formando uma barreira contra os socos doloridos do baixinho.
— Não entendeu nada mesmo? Vejamos… — colocou a mão sobre o queixo pensativo, tinha que pensar em algo mais fácil e popular. — Ata! — apontou os dedos para o moreno como se fossem arminhas, um sorriso no rosto esperando a reação de reconhecimento que iria aparecer no garoto de lábios grossos, mas nada veio. — Iti malia…? Não? Nada? — bufou já impaciente colocando uma mão na cintura, deixando a palma da mão livre virada para cima. — Que tipo de jovem é esse? — falou fazendo referência a famosa imagem de um homem de óculos que olhava para uma borboleta amarela. — Ah! Espera, aquele é o ônibus que vai pro centro, não é?! — apontou exasperado para o automóvel coletivo que já partia, nem esperou pela resposta do outro antes de colocar suas pernas longas e bonitas para trabalhar, correu o mais rápido que conseguiu, balançou os braços compridos nem ligando se pareceria com um boneco de posto.
Amaldiçoou o motorista por não olhar pelo retrovisor, quem não notaria um cara de cabelo laranja chamativo gritando desesperado por aí?! Apenas ele, pois todos os que passavam por ele não apenas o encaravam como riam sem nem disfarçar.
Cansado da humilhação e com o rosto já bem vermelho - tanto pelo esforço quanto pela vergonha - o calouro colorido resolveu fazer o caminho de volta enquanto resmungava algumas maldições e dizia que iria tentar cozinhar quando chegasse em casa pra ver se acabava invocando um demônio pra mandar aquele serzinho sem misericórdia pro inferno com ele. Deu mais alguns passos até avistar os sapatos pretos novamente, ergueu vagarosamente o queixo até que seus olhos batessem em algo que sua visão agradeceria por dias e até ofereceria oferendas aos céus por tamanha preciosidade que estava acabando de presenciar, uma arfada deixou seus lábios rosados, os olhos ficaram tão arregalados quanto possíveis, a mão foi levada ao peito que se sentia ser flechado.
Seu agressor exibia nos lábios grandinhos o sorriso mais magnífico que já teve o prazer de presenciar. A risada melodiosa o dava uma melhor noção de como a voz normalmente baixinha se parecia. Foi incapaz de se negar a espelhar o ato, mas logo acabou fechando a cara ao se dar conta que realmente tinha perdido o ônibus, não era novo apenas no campus, mas na cidade também. Estava completamente perdido e tudo isso era culpa de apenas uma pessoa.
— Você! Seu velho em corpo de jovem! Se não tivesse me distraído com toda essa leigueza eu já estaria com a minha bela bunda sentadinha no estofado barato daquele ônibus a caminho do meu apartamento inundado de caixas fechadas!
O garoto de sorriso de coração continuou a rir até entender a nova ofensa.
— Yaaaah! — o punho pequeno mas pesado se fechou e as sobrancelhas se uniram formando uma ruga entre elas. — Desde quando eu tenho culpa da sua burrice? Bote essa sua bunda magrela no banco do ponto de ônibus e espere — ele fala alto cruzando os braços para então bufar e virar as costas em direção à própria casa.
Sehun franziu o cenho virando levemente o corpo para trás, espalmou a palma em uma das bandas e olhou novamente para o outro.
— Magrela aonde?! Você usa óculos por acaso? Aliás, esqueça. — suspirou desanimado. — Até alguém quase cego poderia ver que ela é tudo menos magra.
O menor solta um risinho debochado enquanto anda até perto da saída, mas uma coisa ainda lhe incomodava, então ele vira a cabeça para trás vendo aquele projeto de laranja e suspira voltando.
— Afinal, quem é Alexa? O nome dele é Baekhyun, e o meu é Kyungsoo. Do. Kyung. Soo. — repete pausadamente como que explicando a uma criança consideravelmente burra.
— Tá bom, panicked gay, relaxa. — balançou a mão fazendo pouco caso. — Tudo que vou te dizer é que: Alexa não é uma pessoa. — sorriu confiante ao notar a expressão do outro se tornar cada vez mais confusa e desgostosa.
— Isso não faz sentido algum! — Ele bufa cruzando os braços em frente ao peito cada vez mais irritado com aquele calouro, mas aliás, por que ele estava perdendo tempo com isso? Virou-se novamente para ir embora — Espera, panicked… gay? — inspirou fundo algumas vezes e olhou novamente para aquele garoto estranho apertando os olhos numa tentativa inútil de reconhecer qualquer coisa na expressão dele, ou melhor, na falta de expressão.
— Gostou? Como não conhece os memes antigos tentei um mais atual. — os lábios curvaram-se sutilmente, estava realmente se divertindo com o estranho desconectado ao mundo do twitter, que era onde ele passava a maior parte do seu tempo aprendendo memes que muitas vezes não fazia realmente ideia de como usar, mas acabava usando mesmo assim. Mas com aquele garoto era melhor ainda, ele não entendia nada, podia se fazer de expert o quanto quisesse e ainda o assistir com aquela ruga entre as sobrancelhas e a expressão confusa.
Ou não, já que o jovem idoso o encarava mortalmente, os olhos naturalmente grandes parecendo ainda maiores quando vistos daquele ângulo.
— Se te faz sentir melhor, eu sou um confident gay — esclareceu colocando a mão sobre o peito com um sorriso galanteador. — Kyungsoo, certo? — colocou a mão que antes estava sobre si sobre o ombro estreito do moreno. — Para onde vamos agora? Sua casa é perto? Estou morrendo de fome! — um biquinho adornou seus lábios em uma clara expressão de sofrência.
— Vamos? Ahn. — estapeou a mão pálida pra longe de si e olhou em volta fingindo pensar. — Você vai para o ponto de ônibus, e eu vou para a minha casa descansar e comer. — Sorriu acenando pronto para parar de uma vez de dar atenção àquele estranho.
Do mal piscou e o braço esguio já estava sobre seus ombros, com o ruivo o acompanhando na caminhada ignorando totalmente não somente o espaço pessoal do outro, mas também sua tentativa de chutá-lo para fora de sua vida.
— Eu não me apresentei ainda, não é? Oh Sehun. — sorriu mas logo o encarou sério. — Não faça piadas com meu sobrenome, sério já tá super brega. O último que me mandou cantada eu fiz soltar um “Oh” com o soco surpresa que ele ganhou. — franziu o nariz demonstrando seu descontentamento.
— Por que está me seguindo? Seu ponto é para o outro lado, 'Oh’. — apontou com uma das sobrancelha densas erguida.
— Não deixei claro? Foi mal baixinho, ficarei com você até conseguir arranjar outro ônibus. — apertou carinhosamente seu braço o pressionando contra seu corpo de forma amigável.
O menor arregalou os olhos indignado com aquele pirralho intrometido.
— Yaah! — soltou um bufar desacreditado. — Eu não vou ficar com você até a noite quando o próximo ônibus passar aqui!
— Noite?! Mas eu só tenho dinheiro pro ônibus! — choramingou manhosamente antes de começar a fazer um aegyo forçado e vergonhoso. — Me compra um lanche, hyung~
— Hey, nós não temos intimidade nenhuma, então não me chame desse jeito Oh! — tentou se livrar dos braços inutilmente grandes.
Sehun grudou no braço do mais velho batendo os pés no chão enquanto andavam chamando atenção estrategicamente já que o baixinho parecia gostar de passar despercebido.
— É por não termos que estou respeitosamente te chamando de hyung, hyung! — a voz banhada de fofura ainda continuava. O ruivo não costumava desistir facilmente, ainda mais quando o assunto era comida.
— Sunbaenim! Você não teve educação em casa não? — suspirou olhando para informática e lembrando do restinho da sua cota de impressão. — Que tal você ir jogar um joguinho ali então enquanto eu imprimo meu trabalho, saeng. — deu ênfase na última palavra sorrindo sem vontade.
O sorriso forçado foi retribuído com um imenso e verdadeiro. O ruivo até mesmo esqueceu momentaneamente da comida, batendo as mãos de forma feliz e rindo.
— Pode me chamar de Sehun, Kyungsoo hyung! — voltou a caminhar do seu lado de forma descontraída. — Ou Hunnie, é fofo, como eu. Hey! Podemos jogar juntos, já jogou foguinho e aguinha? Eu sou o foguinho! — ergueu a mão rapidamente e de forma meio desesperada.
— Qual a sua idade mesmo? Quatro anos? — como assim esse petulante ousa querer ser o foguinho? Ele deveria ser realmente muito burro para ter toda essa audácia.
— Eu tenho carinha de bebê mesmo — comentou distraidamente observando o novo cômodo.
O Do suspirou balançando negativamente a cabeça e foi até um computador perto da impressora ignorando completamente o outro e, sem muita cerimônia, começou a logar em seu email para poder imprimir pela milésima vez o segundo capítulo do seu artigo.
Mal pode sentir os ombros relaxarem e logo a respiração quente foi projetada contra sua nuca, fazendo com que a sensação de talvez alguns minutinhos de folga ir para o inferno.
— Você gosta de Sugar Rush? Eu acho incrível como os participantes são criativos na hora de fazer cupcakes, um mais lindo que o outro, babo só de olhar. E os bolos então? Se eu tivesse um bolo bonito e grande como aqueles eu ficaria dividido entre me esbaldar e admirar até ele derreter e estragar. Mas eu acabaria caindo de boca, é claro. — sorriu olhando por cima do seu ombro — Eu até tentei aprender a fazer alguns, particularmente os de cérebro de zumbi ficaram uma delícia. Ei, onde fica sua sala? Eu posso trazer uns pra você experimentar, gosto de cozinhar doces!
O tormento do garoto tagarela que de longe parecia quieto continuou por alguns minutos que pareciam passar mais lentos do que o próprio Soo para entender piadas.
— Hey, é sério o que eu tô lendo? [email protected]? — gargalhou sem se conter ganhando olhares curiosos e alguns um pouco irritados para a dupla estranha composta por um garoto muito alto e de cabelos quase neon e um baixinho com as mãos tremendo de tanto ódio.
O veterano bateu com o punho fechado contra a mesa de madeira tão forte que causou um estrondo que fez todos na sala pularem em suas cadeiras pelo susto. Agora ofegante e com o rosto vermelho de raiva o menor se virou encarando fixamente os olho do ruivo que dava pequenos passos assustados para trás tentando fugir da ira recém desperta.
— Hey seus punks! Façam silêncio, aqui é um lugar de estudo. — gritou o monitor fazendo os alunos soltarem muxoxos pela quantidade de gritos em um ambiente normalmente calmo e assustando ainda mais o novato que bateu a costas contra uma das cadeiras vazias atrás de si.
O estudante de RI por sua vez não pareceu se importar e sorriu murmurando um pedido de desculpas discretamente beliscando o braço exposto do branquelo e torcendo.
O garoto de cabelos alaranjados soltou um gemido sôfrego se afastando das mãos pequenas e com dedos grossos.
— K-Kyungsoo hyung… — voltou a se aproximar fazendo uma carinha de filhotinho. — Então quer dizer que não gosta de zumbis? Eu posso tentar fazer um bolo erótico, gosta de tangas? — voltou a sorrir como se a pele do bíceps não fosse ganhar tons arroxeados mais tarde. Péssima ideia já que ganhou outro beliscão, dessa vez na barriga.
O gongo então soou e sua pobre pele foi solta. O gongo, por sinal, era apenas o apito da impressora avisando que havia terminado de imprimir a grossa pilha de folhas roubando a atenção do garoto que quase correu para o seu amado trabalho grampeando e prendendo com os dois braços em frente ao corpo com muito cuidado para não amassar, mesmo que ele fosse com certeza ser riscado impiedosamente pela maldita caneta rosa da sua orientadora, mais uma vez.
— Eu tenho que entregar isso pra professora, você pode ir comigo se ficar de boca calada.
— Quer usar minha beleza pra professora te dar mais dicas? — espiou o papel que estava sendo abraçado. — Acho que pode funcionar, as mais velhas dizem que sou charmoso. — arqueou as sobrancelhas feliz. — Ei… Hyung, se eu ficar quietinho, vai me alimentar…? Minha barriga está doendo pelo beliscão e pela fome. — e lá estava novamente o beicinho nos lábios.
— Você é algum tipo de mendigo por acaso? Se tem tanta fome compre algo você mesmo. — apertou mais as folhas para que não pudesse ver nada e saiu andando todo durinho para não derrubar nada, quase como um pinguinzinho andando.
— Eu já disse que só tenho dinheiro pro ônibus… Paguei minha matrícula hoje, tô duro, e não do jeito bom. — suspirou tristemente.
— Yaaaah! Não fique falando essas coisas — ralhou exasperado. — certo, te pago um hot dog se não me encher mais o saco, que tal?
Sehun parou de andar, foi capaz de ver tudo ao redor escurecer e uma luz forte e branca brotar sobre o serzinho rabugento. Aquilo eram asas?! O ruivo só poderia estar delirando de fome. Sem pensar duas vezes jogou os braços ao redor do corpo do outro quase o escondendo com seu corpo de ombros largos, enquanto agradecia sem parar.
— Kyungsoo-ah!! Eu sabia que você no fundinho era uma boa pessoa! Você vai ver, vou fazer a tanga mais bonita que você já viu! Você tem cara de quem gosta de estampa de tigre, mas e ai? Prefere zebra?
— Eu ainda posso mudar de ideia então que tal ficar quietinho? — parou de falar ao avistar a professora ao longe indo embora, se amaldiçoou por ter demorado tanto e amaldiçoou milhares de vezes a mais aquela criatura estranha antes de sair correndo, tão lentamente que parecia apenas andar rápido para quem visse de fora, mas na verdade estava realmente se esforçando para alcançar o carro sport vermelho comprado às custas da dor e do sofrimento dos pobres alunos.
O ruivo facilmente o alcançou, as pernas longas se movendo e até mesmo passando o baixinho.
— Você tá indo pra onde? Ah! Quer chamar a atenção daquele carro? Eu posso ajudar! Sou bom nisso.
— Sim, você é. — O Do parou subitamente. — Seja um bom garoto e entregue a ela para mim sim? — estendeu as folhas perfeitamente lisas ao ruivo. — se amassar você morre, okay?
— Vou querer salsicha dupla com purê extra! — sorriu brilhantemente com os olhinhos em meia lua se tratando praticamente de riquinhos curvados.
O maior pegou as folhas com cuidado mas de forma firme, começou a correr e acenar enquanto chamava pela professora que nem ao menos sabia o nome. Seu cabelo colorido deveria o ajudar agora.
Foi fácil, apesar de poder sentir até agora o olhar de desprezo daquela senhora praticamente toda vestida de rosa ao ver seu cabelo, ela pelo menos parou e o esperou.
Oh não se deixou intimidar, entregou as folhas para a senhora e ainda lhe prometeu alguns cupcakes rosas deliciosos com o sorriso ainda no rosto, e o cachorro quente na mente.
Ao se virar deu de cara com um Soo sentadinho e muito bem descansado em um dos banquinhos de madeira na sombra, rindo para sabe-se lá o que pessoas da idade mental dele veem no celular. Se aproximou ofegando de leve e espiou a telinha onde ele admirava seu artigo quase pronto quase que o venerando.
— Eu vou querer um refrigerante de 500ml pela corrida.
— Ah, você quer comer agora? — o ruivo assente freneticamente agradecendo aos céus por finalmente poder comer alguma coisa, já até podia sentir o cheiro do purê enquanto seguia seu novo colega a passos enervantemente lentos por tantos corredores diferentes que, se o perguntassem, não saberia responder como voltar para a secretária nem mesmo com a ajuda de um mapa, até que finalmente pôde realmente sentir o cheiro gostoso da comida. Teve certeza que não era apenas mais uma pegadinha de mal gosto pregada pela sua mente quando viu o outro garoto estendendo o cartão para alguém tão baixinho quanto ele que sorriu docemente lhe entregando uma ficha.
Aquele pequeno anão enviado pelos céus — um céu um tanto questionável, ele diria — lhe encarou com as duas sobrancelhas erguidas e o papel na mão antes de rumar ao lugar onde eram montados os cachorros quentes. Se apressou e correu até ele quase batendo em suas costas ao ler a cruel notícia: “não temos purê”.
Os braços caíram rentes ao tronco. O sorriso murchou. Como poderia ter purê extra se nem mesmo purê havia? Seu mundo havia se tornado um pouco menos colorido, seus cabelos já estariam castanhos agora, pelos seus cálculos. Com olhos chorosos e algumas fungadas, Oh entregou o papel, botando tudo mais o que o cachorro quente tinha direito dentro — menos o bendito purê. A moça pareceu se compadecer dele, pois até colocou um pouco de bacon, carne essa que não estava inclusa no lanche pago.
Por fim Sehun caiu de boca, como gostava de dizer, nem se importou em lambuzar os lábios, bochechas e até a pontinha do nariz. Estava muito satisfeito agora.
— Hyung, eu continuo duro, mas pelo menos agora estou satisfeito e bem alimentado. — lambeu os lábios ainda meio extasiado pelo delicioso lanche com salsichas frias e uma batata palha tão velha que era quase mole.
— Ótimo, agora vá embora. — Fez um “xispa” com as mãos para o colorido.
— Não me trate como um vira lata! Tenho sentimentos… Ah! Meu ônibus! Hyung, me acompanhe até o ponto, tô mais perdido que sêmen em c- — foi interrompido pelas mãos cheias de calos e dedos ainda grossos e pesados que fizeram questão de o calar de forma mais efetiva que apenas usando palavras.
— Okay, eu levo, só cale a boca!
— Você é muito gentil! — sorriu amavelmente sendo acompanhado pelo outro. Ficou o enchendo voltando a falar sobre estampa de tangas feitas de massa americana.
Quando finalmente chegaram no ponto logo o ônibus do ruivo chegou, ele se despediu mandando vários beijinhos e corações com os dedos sendo ignorado pelo mais velho com sucesso. Não se afetou, estava feliz, não precisaria comprar janta naquele dia.
***
O tingido suspirou enfim sozinho, jogando o corpo pesado no sofá não muito grande. Depois de ter passado a tarde toda acompanhado, agora se sentia solitário. Havia gostado da companhia do outro, apesar dos beliscões, mas não fazia ideia do que o outro cursava, sua sala, ou número. Apenas sabia seu nome. Bufou desanimado agora levantando e tomando uma ducha antes de colocar seu pijama quentinho e confortável, indo se deitar novamente no sofá que por agora serviria como cama.
Junto ao baque surdo do seu corpo contra o estofado, a lembrança do pequeno mexendo em seu email invadiu-o a cabeça. Tinha certeza que não era tão difícil, kyungsoo_do? Do_kyungsoo? Talvez soodoo_kyung? Doo_kyungs? Adicionando vários emails alternativos como remetentes, o garoto adicionou algumas fotos de memes novinhos e cheirosos que ele andava amando, por último acrescentou uma imagem da Dora Aventureira em coma como forma de se desculpar com todos os endereços errados que ele havia adicionado e mandado aquelas mensagens estranhas. Riu sapeca e esperou ansioso pela resposta.
Precisava fazer amigos logo, não só para ter mais gente a quem incomodar com seus memes, mas também para ajudá-lo a achar os locais onde precisaria comprar os materiais necessários para seu curso.
Boa noite,
Peço desculpas mas acredito que você digitou incorretamente o endereço de email pois não lembro de lhe “alimentar” como você sugere que eu tenha feito.
De qualquer forma, sinta-se livre para retornar e explicar o mal entendido,
Atenciosamente
Do Kyung Soo
Essa foi a primeira resposta, claramente não era o que o ruivo esperava já que, abaixo do nome vinha uma mini apresentação digna de cartão de visitas lhe avisando esse era o destinatário de um médico.
Isso é algum tipo novo de golpe? Ou isso é um vírus? Por favor não me mande mais mensagens, vírus.
Definitivamente não, o garoto de antes parecia um velho mas não era para tanto, certo?
Como você descobriu meu endereço de email seu pirralho estranho?
Era esse, definitivamente era esse e a vários quilômetros dali o pobre Do se martirizava internamente por ter respondido aquela criança.
Hyuuuung~~~
A base de tentativas e erros, hyung, mais erros e tentativas do que outra coisa. Mas isso não importa, você me respondeu!!
Eu queria sua ajuda, sabe? Tenho que comprar materiais e não faço a mínima ideia de onde fica cada coisinha. Sou novo na cidade, preciso da ajuda do meu veterano favorito!
Irei te recompensar, juro
Xoxo, Hunnie.
Sehun respondeu o email todo feliz, sem nem ao menos perceber que não havia respondido apenas o Do certo. Enquanto esperava seu novo amigo responder, voltou a navegar na internet, vendo algumas notícias em sua conta do twitter. Amém Kim Jongdae, seu cientista favorito que além de inteligente era bonitão.
Por favor pare de me incomodar! Eu não vou te ajudar e não gosto de desenhos.
Atenciosamente
Do Kyung Soo
E novamente as notas de rodapé lhe avisaram que aquele era o médico e não seu salvador baixinho, idoso e rabugento.
Tsk, veterano favorito? Ele era provavelmente o único veterano que aquele punk conhecia. Aliás, que adulto em sã consciência andaria com uma praga como aquelas se não fosse à força como ele mesmo fora, pensava Kyungsoo ainda se martirizando por ter respondido ao primeiro e-mail e debatendo consigo mesmo sobre responder o segundo.
Nós podemos sair se você me recompensar com jeitinho depois babyboy, mas primeiro responda para o papai se esse na foto de perfil é mesmo você okay? Depois posso comprar para você tudo que quiser e te alimentar muito bem com o que você desejar.
Você é maior certo?
Uma quarta pessoa lhe respondeu, esse não tinha foto de perfil apesar de também se chamar Do Kyungsoo, mas o que lhe chamou realmente a atenção era que este agia como um perfeito pervertido tentando atrair crianças inocentes e imaculadas para brincar de cavalinho em seu colo.
De: De: [email protected]
Por favor pare de bagunçar minha caixa de entrada Oh.
Eu até te paguei um cachorro quente então procure outro para te ajudar.
Finalmente o Kyungsoo certo voltou a lhe dar o ar de sua graça. Voltou a sorrir depois de desfazer uma careta confusa, sua mente já estava virando um ninho de tantos Kyungsoos o respondendo.
É claro que sou eu na foto, bobinho
E sou bem maior que você, do que está falando?
Acha que eu não aguento mais do que um cachorro quente com duas salsichas frias? Na próxima vez eu quero uma pizza!
Onde podemos nos encontrar? Você podia me passar seu número, seria mais fácil de conversarmos~
O ruivo voltou a se dirigir ao Do certo, mesmo que respondendo a perguntas do outro junto, parecia confuso. Talvez estivesse.
Nossa, gosto de garotinhos decididos como você.
Que tal nos encontrarmos à noite em algum lugar e depois podemos ir à minha casa e nos divertimos hmn?
Já que é gulosinho posso levar um amigo comigo?
Meu número é 994X-XXXX
Novamente o maníaco do parque respondeu, bem que seu veterano poderia responder rápido assim também, se continuasse se arriscando nesse plano improvisado acabaria tendo alguns pesadelos sobre como o estranho usaria sua foto de perfil.
Do que VOCÊ está falando Oh Sehun? não vou te pagar uma pizza e nem te dar meu número então esqueça!
Quem são esses outros caras e porque tem um pervertido mandando o número dele? Sehun por favor pare de mandar mensagens encaminhadas, isso está sujando toda a minha caixa de entrada!
O estudante de RI respondeu e, logo em seguida mandou outra mensagem fazendo o Oh sorrir animadamente por finalmente estar recebendo atenção do senpai.
Olha que eu vou meter a minha mão na tua cara se isso continuar
Mal podia acreditar no que seus olhos estavam lendo, seu novo hyung realmente acreditou que ele não percebeu que estava falando com mais de uma pessoa e que o outro é um pervertido barra pseudo maníaco do parque? Mais empolgado do que nunca voltou a responder mantendo a farsa.
Você é meio indeciso, não é? Fala que não vai passar seu número mesmo já tendo passado.
Pronto, te adicionei no kakao~
Não adicione ele Sehun! É um pervertido!
Okay podemos sair amanhã. Me encontre na faculdade e leve dinheiro dessa vez. E exclui o número dele!
Sehun não pode evitar o sorrisinho que brotara em seus lábios, era bom se sentir cuidado pelo outro, admitia que tinha sido muito cômico todo o desespero do moreno, ele até mesmo acreditara tão facilmente em si. Era tão inocente, ele é quem precisava ser protegido. Agora que já havia conseguido seu encontro marcado, se remexeu ajeitando o corpo grande demais para o sofá afim de ficar mais confortável. Antes de largar o celular e fechar os olhos mandou apenas mais um email.
Kyungsoo-ah! Até amanhã ~
Te espero na secretaria às 13:00
Xoxo, Hunnie
A conclusão foi que, mesmo após gritar consigo mesmo e amaldiçoar todas as gerações antigas e futuras do Oh, às 12:59 do dia seguinte o Do já estava parado em frente às portas de vidro do dia anterior com um suéter amarelo pastel e sem nenhuma única bolinha ou pelinho e os cabelos bem penteados como um bom nerd.
Oh Sehun por sua vez chegou alguns minutos atrasado, ainda se perdia muito fácil. Os cabelos dessa vez estavam com um pouco de pomada, o dando um ar mais descolado, vestia uma calça jeans rasgada num tom bonito de azul, all star cano alto amarelo e por cima da blusa branca sem estampas vestia uma jaqueta de couro sintético que parecia mais leve do que realmente era.
— Está atrasado.
— Sabe como é, esses labirintos do campus, fui parar na biblioteca tentando vir pra cá. — sorriu de forma simples enquanto continuava se aproximando até ter seu corpo colado ao do menor. — Você estava chamando quem de pervertido ontem, huh? Pois saiba que sou muito respeitoso!
— Ah! — exclamou o moreno enquanto tratava de o empurrar para o mais longe possível. — Como você pode ser tão inocente? Você praticamente criou um chat com mais três pessoas estranhas e um deles era um pervertido! Me diga que não falou mais com ele e excluiu o número, piralho. — Cruzou os braços como uma mãe.
O mais novo piscou os olhos e inclinou a cabeça levemente pro lado levantando o celular, exibindo sua tela apagada.
— Está falando do número que me passou e depois fingiu que não? — fez um careta. — Eu até estranhei aquelas fotos que você me mandou, mas deixei pra lá sabe, na brotheragem.
— Não era eu seu idiota! Ai meu deus ele te mandou coisas estranhas? Por favor bloqueie ele.
— É considerado coisa estranha quando é algo que todo cara tem? — franziu o cenho em dúvida.
— Claro que é. — Ele respira fundo e estende a mão. — Me dê seu celular, vou salvar meu número pra você, só não fale mais com aquele pervertido.
O mais alto estendeu de forma hesitante o celular desbloqueado. Não conseguiu conter por muito tempo a alegria dentro de si.
— Salve como Soo hyung! E coloque corações coloridos do lado! — O menor assente sem dar atenção e salva depois de ter certeza de bloquear os outros três Kyungsoos do e-mail do ruivo e procurar pelo pervertido na lista de contatos e conversas do Kakao, sorrindo aliviado ao não encontrar nada e devolvendo com o seu contato salvo como “Do Kyungsoo Sunbaenim”.
Com um bico nos lábios o mais novo fez questão de mudar seu nome na mesma hora, caprichando nos corações se certificando que havia um de cada cor sem faltar nenhum.
— Perfeito! Agora podemos ir. — circundou os ombros pequenos e se pôs a andar levando o outro consigo como havia se acostumado a fazer até sentir o soco certeiro e pesado na sua sofrida barriga. Com um choramingo e umas alisadas na área atingida o tingido se pôs a resmungar. — O pervertido pelo menos não me daria socos. — empinou o nariz cruzando os braços e andando mais afastado do menor, exibindo seu semblante emburrado.
— Então compre seu material com ele. — o menor dá mais um de seus sorrisos de coração mesmo que dessa vez um pouco maldoso, mas ainda sim lindo.
Após soltar um “hunf” audível o outro buscou o celular começando a mexer nele com suas sobrancelhas bonitas franzidas.
— Afinal o que você quer comprar? Eu preciso ir pra casa logo, pirralho.
— Huum, o principal são luvas, máscaras, óculos de proteção e, claro, um jaleco de algodão. — enumerou nos dedos. — Eu vou ficar bonitão de jaleco, não vou? — sorriu de lado.
— Não — ele fala curto e sem te dar muita atenção indo em direção às lojas da universidade.
Com a mão sobre o peito ferido, o soldado de cabelos raspados nas laterais solta um muxoxo descontente.
— Como pode ser tão mau com um jovem cheio de sonhos?
— O jaleco não é uma peça de moda. — Ele olha de cima a baixo claramente desgostoso. — Você por acaso só veste roupa para impressionar?
— Está falando isso depois de me olhar porque ficou impressionado? — sorriu sacana logo continuando. — Mas se quiser ficar impressionado de verdade, tem que me ver sem elas. — soltou uma risadinha soprada.
— Nah, só estava pensando se era esse o motivo para você se vestir como… um punk — deu de ombros como se não ligasse muito e entrou na farmácia
Ainda chocado com a resposta o garoto com aparência facilmente confundida com a de um modelo adentrou o local seguindo a criaturinha perversa que parecia o odiar.
— Sinto te informar, mas punks não se vestem assim. — ralhou de mau humor pela primeira vez.
— Claro que não, eles se vestem melhor. — parou no meio do recinto e riu soprado se erguendo nas pontas dos pés e esticou o braço até tocar o topete agora um pouco desarrumado pelo vento. — Viu? Chega a estar duro. — Sorriu quase fechando os olhos arrumando os fios soltos. — Onde já se viu um punk tão mal vestido?
Os olhos negros se encontraram com os castanhos que ainda estavam concentrados em seus fios laranjas, os lábios foram levemente separados, as palavras saíram em tom extremamente baixo, quase um suspiro com letras.
— Se continuar tão perto assim não garanto que é só meu cabelo que vai estar. — o beliscão veio tão rápido e tão forte que mal pode perceber quando o mais baixo o fez.
O grito agonizante veio rápido também. Poxa, o baixinho podia entender que ele falava aquilo apenas brincando. Com uma fungada baixa o mais novo ergueu levemente a borda da blusa tentando ver os antigos e futuros hematomas que já tinham marcado moradia ali na pele pálida, a pintando como um quadro branco sendo colorido aos poucos, mas o outro parece interpretar de maneira completamente diferente e desfere um novo soco na parte exposta da barriga do Oh.
— O que você acha que está fazendo seu pervertido? — Ele vira as costas com o rosto avermelhado e vai procurar o bendito óculos para poder ir logo para casa e se livrar daquele maluco.
O Oh é deixado ajoelhado para trás rezando pela sua dignidade descansar em paz, pois morta ela já estava. Além de apanhar ainda era visto como um pervertido, o que havia feito de tão mau para ser castigado de tal maneira?
Após se recuperar, andou até o balcão e pediu pelo jaleco e óculos de proteção apenas, pois havia recordado anteriormente que já havia comprado os outros dois itens, coincidentemente quando conheceu o projeto de lutador de boxe.
O gigante orelhudo o olhou realmente assustado pelo que acabou de acontecer, mas entregou o que pediu mesmo assim praticamente largando em cima do balcão e logo encolhendo as mãos contra o corpo novamente. Havia ouvido claramente a palavra punk, e considerando o modo como eles haviam “brigado” quase decidiu chamar a segurança da universidade.
Com uma expressão séria o calouro vestiu o jaleco e colocou os óculos transparentes se virando até ficar de frente para o seu veterano, este que, por acaso, já segurava outro par de óculos que ele mesmo havia procurado pelas prateleiras e por isso ostentava também um beicinho irritado por ter tido todo aquele trabalho atoa. O ruivo andou até ele, pegando delicadamente os óculos de suas mãos e colocando em seu rosto, prendendo uma risada em seguida.
— Tá… Fofo! — e assim, com esse simples par de palavras, qualquer resquício do biquinho de antes magicamente sumiu dando lugar a uma expressão de pura ira.
Dessa vez o Oh não foi nem louco de ficar perto do moreno, tratou logo de andar rápido para o outro lado da farmácia subindo sobre a balança fingindo se pesar e nunca ter dito nada para o mais velho, que, surpreendido com a atitude inesperada do mais novo começa a rir alto e sem se conter muito como fez na hora em que o ruivo perdera o ônibus.
Se escondendo levemente atrás de uma estante, Sehun abaixa vagarosamente o óculos pelo nariz, como se o objeto não fosse transparente e escondesse algo do seu rosto. Lá estava ela de novo, a risada angelical que pensou ter sido apenas uma miragem auditiva. Seu coração se contraía e tornava a pulsar incessantemente. Era aquilo a tão famosa palavra que começava com “A”? Sim… estava certo de que era. Aquilo só poderia ser… Adrenalina.
O moreno veio rapidinho até ele socando o ar sem parar de rir esperando ver a reação do seu calouro deixando o pobre vendedor ainda mais confuso sobre chamar a segurança ou não.
O mais novo voltou a empurrar rapidamente o óculos pelo nariz, fechando o jaleco como se fosse um agente secreto e se pôs a andar rapidinho para qualquer lugar que o outro não estivesse.
— O-O preço, por favor — perguntou meio desesperado para o atendente maior que si que os encarava apreensivo. O Park — como estava bordado em sua camiseta — respirou fundo e falou o preço alto, se esforçando para não gaguejar.
Apoiando o corpo sobre o balcão, levemente cansado pela perseguição, o garoto de postura invejável entregou o dinheiro nas mãos do atendente bonitinho.
— Pode ficar com o troco. — sorriu galanteador fazendo o gigante deixar de lado o olhar hesitante de antes e sorrir extremamente animado antes de contar o dinheiro.
— Mas moço, não sobra troco. Aliás, faltam dois reais.
— Então por que não me dá o seu número e nós acertamos depois? — O maior cora escondendo o rosto com as duas mãos tão grandes quanto o corpo. O moreno tira os óculos e balança a cabeça largando os dois reais sobre o balcão.
— Vamos Oh, eu tenho mais o que fazer.
— Mas eu pego o número rapidinho, te pago uma pizza. — aponta para o castanho de cachinhos.
— E-eu tenho namorado! — ele fala tentando se esconder ainda mais atrás das mãos.
— Agora tem dois — disse piscando e fazendo o Do suspirar novamente e o puxar pela mão para fora. Ao fechar a porta o grandão senta no banquinho alto com a mão sobre o peito e os olhinhos arregalados.
— Ah… você me fez perder um namorado e agora vai se voluntariar? Tudo bem, até que sua mão não é tão áspera. — apertou levemente a mão do outro a sentindo melhor.
— O que pensa que está fazendo? — ele puxa a mão e em seguida joga o segundo par de óculos na cara do outro.
— Soo! Não estrague meu material! Eu sou falido! — ajuntou o óculos jogado e colocou novamente no outro. — Já que estamos assim, vamos tirar uma foto juntos!
— Recuso.
— E eu rejeito sua rejeição ao meu amor. — puxou o pequeno para perto já posicionando o celular em uma mão e os dedos em “V” na outra, mas o estudante de humanas foi mais rápido e tampou o rosto.
Segurando a mão dele o mais novo tirou outra foto.
— Parecemos um casalzinho assim, somos fofos~
— Você tá querendo morrer?
— Só se invés dos punhos você usar sua boca na minha. — O menor se afastou com olhos arregalados e o deu vários tapas seguidos.
Rindo alto o mais novo volta a se aproximar com os braços abertos e a boca pronta em um biquinho de um jeito brincalhão logo sendo ameaçado por um par de punhos prontos. O ruivo ergue os braços rendido desfazendo o sorriso e se apoiando em um dos troncos das várias árvores que o campus possuía.
O Do se aproxima e se ergue nas pontinhas dos pés novamente.
Dessa vez o calouro não se move, não querendo assustar o gatinho arisco que simplesmente leva a mão até o óculos do mais novo e tenta arrancar a película sem perder o equilíbrio.
O ruivo acaba fechando os olhos e se inclinando pra frente esperando um beijo que não vem até que ele mesmo acabe findando a distância entre os dois. O beijo foi rápido, mas incrível e o ruivo quase soltou fogos de artifício internamente ao sentir a textura daqueles lábios macios e fofinhos. Quando finalmente tomou coragem e abriu os olhos novamente pode ver o menor, mas não como ele esperava, corado e envergonhado, mas completamente pasmo e, gradativamente, ficando irritado.
— Quer me explicar o que pensa que está fazendo seu punk idiota!?
— V-Você… — limpando a garganta e se afastando colocando ambas as mãos sobre os lábios beijados, Sehun pôs uma expressão chorosa no rosto. — Você roubou meu primeiro beijo!
— Huh!? Mas eu fui o beijado da história! — Ele bate o pé indignado sem se comover sequer minimamente com o choro alheio.
— Como você pode provar, huh?! Eu estava aqui parado e você veio abusar dos meus lábios, assediador.
O menor bufa completamente desacreditado, como aquele infeliz chegou a esse tipo de conclusão afinal? Ele só tentou ajudar e saiu como assediador.
— Devia me pagar uma pizza como desculpas por me tirar algo tão importante quanto o meu primeiro beijo. — virou a cara com um biquinho nos lábios recém beijados.
— Você devia parar de ser cara de pau antes que eu te bata! E termine de arrancar essa maldita película que era o que eu estava tentando fazer.
— Você fala bastante de pau pra quem não ta interessado no meu — resmungou tirando a película e se afastando. O outro suspira e tira uma foto ainda com o oculus mandando para o mais alto pelo kakao.
— Para usar no meu contato… — falou sem jeito vendo que o ruivo pareceu realmente triste.
— ...Vai tirar uma foto comigo também? — Kyungsoo assentiu rapidamente trazendo o sorriso brilhante de volta ao rosto do maior, que voltou a se aproximar de forma fofa.
— S-só uma!
— Única e mais preciosa — sorriu mirando o celular nos dois esperando o moreno sorrir também. Ele demora mas por fim sorri meio envergonhado. O barulho de captura soa e o ruivo afobadamente trás a tela mais pra perto pra ver como ficou.
— É, não ficou ruim.
— Ficou perfeita, só falta me pagar a pizza agora~
— Nego. — Ele vira a cara mas logo sorri. — mas posso jogar uma partida de foguinho e aguinha com você, contanto que eu seja o fogo.
— Mas eu amo ser o foguinho, hyuung! — usou do seu aegyo para convencer o outro, mas foi completamente inútil, já que o menor parecia determinado.
— Tudo bem. — suspirou. — Se for você hyung, eu aceito. — O mais velho sorriu enorme todo feliz por ter conseguido o que queria, puxando aquele ruivo irritante e importuno pela manga da blusa para fazer algo que não fazia desde o ensino médio, jogar. Teriam que se esconder exatamente no mesmo lugar onde ele sempre via aqueles alunos preguiçoso sentados para não serem vistos pelo professor e acessar um site infantil de joguinhos e tudo isso por causa daquele garoto inconveniente, tudo para que ele não ficasse triste. Não fazia sentido, e sentia vontade de socá-lo por isso até formar alguma expressão decente naquele rosto, mas por agora se contentaria em zerar a porcaria do jogo.
— Estamos chegando? — os corredores ainda eram um mistério para o calouro, então o Do apenas apontou para a salinha onde ficava a informática do seu prédio logo a frente. Sehun, animado por finalmente estar chegando, apressou o passo agora praticamente puxando seu guia que se limitava a rir da afobação do maior.
Todos, principalmente o monitor que o Do sabia se chamar Kim Junmyeon, os olhavam estranhamente, como se internamente — e externamente e em alguns casos — desejassem que os dois evaporassem dali ou que estivessem completamente mudos ou dopados de ritalina a ponto de não fazer mais bagunça. De qualquer maneira, já estava ali e suas pernas lindas não mereciam esse tipo de afronta, andara até ali e ia ficar, então rumou até um computador qualquer sendo parado pelo menor que o puxou novamente pela manga que, só agora notou, ele não havia largado até então.
— Lá atrás. — apontou com a cabeça um computador vazio. — Daqui em diante sua única profissão será ser estudante, então se você quer jogar não faça isso na frente do chefe.
— Minha única profissão vai é ser sofrer. — sentou na cadeira indicada ficando no lado onde poderia jogar com a aguinha — Espera, chefe? — fez uma careta. — Achei que na faculdade os professores não se importassem com a gente, então somos nossos próprios chefes! E eu, como meu próprio chefe, me autorizo a jogar bastante! — sorriu feliz.
— Huh? Se quiser levar esporro leve sozinho, não me carregue com você aguinha idiota.
— Respeita a água que sem ela você não passa de fase!! — falou alto indignado.
***
— Soo-ah, nós vamos continuar nos encontrando enquanto as aulas não começam? — perguntou com os olhos brilhando, estavam sentados novamente no ponto onde o ruivo pegaria seu ônibus, o laranja mesclado com rosa claro pintavam o céu que ameaçava escurecer, o vento fresco soprava em seus rostos de forma tranquila.
— Você não desiste, não?
— Bom, o não eu já tenho, agora vou atrás da humilhação.
— Humilhação sou eu que estou passando te tendo do meu lado — resmungou o moreno enquanto virava o rosto para o outro lado.
— Eu até mandaria o famoso “haviam boatos de que você estava na pior” mas pequenino do jeito que é, só eu pra te notar e fazer boatos. Você pode até escolher~ Não, espera! Eu escolho, o boato é que você é meu namorado.
— Não tem coisa pior que essa, não é? — deixou um sorrisinho levemente debochado adornar seus lábios cheinhos.
— Quando toda essa judiação virar amor, eu vou rir por último. Usando a maior quantidade possível de memes. — cruzou as pernas junto dos braços, sua postura ereta.
— E eu vou estar lá, pra negar, não entender nada, e te dar uns tapas — falou em um tom baixo, o olhar sempre mirando a frente, um pequeno sorriso e um tamborilar dos dedos no banco de madeira.
Com um sorriso feliz e sapeca, o ruivo se atreveu a fazer com que seus dedos caminhassem até a mão pequena e quentinha, mesmo depois de ganhar um tapa que a afastou, não desmanchou o sorriso, que desde que conheceu o mais velho só andava crescendo e crescendo.
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