Sakura não conhecia aqueles arredores, não fazia ideia de como se localizar, ou para qual direção teria que ir. Estaria correndo em meio à escuridão, às cegas, sem fonte de luz e sem saber onde se encontrava a saída do lugar, como um labirinto de árvores congeladas.
Pensou em aproveitar o fogo da lareira para acender uma tocha, todavia, isso seria o melhor jeito de chamar atenção lá fora. Suicídio.
Para seu espanto, a cama rangeu, e a velha xamã resmungou entre o sono na mesma hora.
Sakura paralisou por um instante e prendeu a respiração, com medo de que a idosa despertasse. Depois de uns cinco segundos petrificada feito uma estátua, soltou o ar e passou a andar na ponta dos pés para furtar uma capa pendurada perto da porta, desviando dos pés de Rin e de Chiyo.
Colocou a capa sobre os ombros e vestiu o capuz preto, o único agasalho que lhe estava à disposição. Não gostou nada de ter de roubar, porém, como sua própria cabeça recitou, "situações desesperadas exigem medidas desesperadas".
O par de botas que Rin usava estava largado ao lado dela, no chão. Seria o segundo furto da noite, a princesa se inclinou cautelosamente sobre a acastanhada para pegá-los em um ato rápido, e os calçou em seguida, tendo de se equilibrar na porta para não cair. Seus sapatos perolados haviam desaparecido.
O segundo infarto da noite: ao empurrar a porta, emitiu um guincho alto, como se precisasse urgentemente de óleo. Sakura pulou para a rua e fechou-a depressa.
Era como se tudo ficasse mais barulhento justo quando era necessário haver silêncio.
Olhou para o céu, constatando um fato que a fez querer chorar. A lua estava encoberta pelas nuvens, sequer haviam estrelas visíveis. Tudo estava ainda mais escuro.
— Não seja covarde — intimou a si mesma.
Olhou para todos os lados em busca de espiões. Decidida a dar as costas e nunca mais retornar, a rosada saiu em disparada na direção das árvores, para longe das cabanas.
Engoliu o medo e se enfiou no emaranhado de vegetação, apertando os olhos para enxergar e elevando as mãos em frente ao corpo para sentir as árvores à frente e não acabar batendo de cara em algum tronco surpresa. Pisava com cuidado para não tropeçar.
Estava começando a achar que era burrice fazer algo como aquilo, mas que escolha tinha? Era questão de sobrevivência. De todo modo, qualquer fera perigosa estaria hibernando, se continuasse seguindo em frente, hora ou outra teria que chegar a algum lugar.
Iria transitar por aquela floresta por dias se fosse preciso, sem dormir e sem comer, mas iria chegar à saída.
— Concentração, é só andar — cismou, o único jeito de tranquilizar o coração agitado — só andar… E prestar atenção em onde vai pisar… É só andar… Ah!
Não soube o que foi, se foi um animal, um galho ou o vento, entretanto, houve um ruído. Nada alto, mesmo assim, o suficiente para fazê-la soltar um gritinho e pular para ver se tinha alguém a seguindo.
Nada. Era apenas o som da floresta.
Se fosse assim a todo barulhinho, seu coração não iria aguentar até o nascer do sol.
Conforme atravessava o mar de troncos, folhas e rochas escorregadias, seus olhos começavam a se acostumar com a escuridão, e se tornava um pouco mais fácil distinguir as formas das sombras. O céu parecia estar voltando a ser límpido, já deveria fazer quase uma hora que andava sem rumo, seus joelhos já fundos na neve, mas o calor da aventura a impedia de sentir dor nos pés. O frio não era o bastante para pará-la.
Andava mais rápido à medida que tomava confiança, se atentando a cada som que a mata emitia e virando o rosto para olhar para trás a cada cinco minutos, tudo para garantir que não estava sendo seguida e que não haviam perigos por perto.
Uma coruja piava de modo assombroso, Sakura podia sentir os enormes olhos da ave a vigiando.
Se ao menos estivesse com seu arco por perto.
Um grito esganiçado soou pela floresta, a princesa despencou e caiu se segurando nas raízes frágeis ocultas na neve, seus batimentos disparados de nervosismo enquanto alguém berrava.
Ela se manteve agachada no chão, com medo de quem poderia ser. A voz esgoelava gemidos como se sofresse uma tortura intensa, eram gritos longos e agudos, muito altos, cheios de pânico e de raiva, havia choro misturado ao tom.
Parecia uma mulher, mas Sakura não tinha certeza. O ser berrava incansavelmente, a enchia de desespero, a fez se perguntar se deveria sair correndo para ajudar, poderia ser uma pessoa machucada clamando por ajuda, com alguma dor insuportável que a obrigava a gritar aos prantos.
Devagar e tremendo, a princesa ergueu o rosto por cima das raízes de uma enorme árvore para ver, escondida por montes de neve e arbustos mortos. Procurou com os olhos de onde vinha aquela voz descontrolada que parecia se aproximar cada vez mais.
Precisou cobrir a própria boca para não gritar também, porque o que surgiu, flutuando fantasmagoricamente entre as árvores, foi um ser sinistro de aparência podre, um espectro branco que perambulava e berrava sem parar, envolto por correntes enferrujadas que se arrastavam no chão e faziam barulhos arrepiantes.
Sakura implorou mentalmente para que aquilo fosse um pesadelo, lágrimas de terror vindo aos olhos, enquanto a assombração se arrastava pelo ar, berrava, chorava, puxava correntes barulhentas, apertava as mãos esqueléticas e desfigurava a própria feição decomposta. Tinha o corpo inteiramente desconfigurado, se movia de um jeito desumano, girando a cabeça até que o queixo e a testa estivessem trocados, torcendo os braços para as costas, girando as canelas como se fosse um boneco cheio de articulações, dobrando a coluna como uma aberração contorcionista.
Não suportando mais ver, a princesa se jogou de volta ao chão, encolhendo as pernas, duas mãos pressionando à boca para evitar fazer qualquer barulho, sem respirar, sem se mover, de olhos arregalados esperando que aquela anormalidade fosse embora.
Os gritos pareciam aumentar cada vez mais, a floresta inteira deveria estar ouvindo, chegava a doer os ouvidos. A princesa se sentiu do mesmo jeito de quando ouviu os urros do dragão albino, quando pensou que seus ouvidos fossem sangrar.
"Vá embora, vá embora, vá embora, vá embora!"
"Por favor, que seja só um pesadelo! Por favor, que seja só um pesadelo! Por favor, que seja só um pesadelo!"
"Não me machuque! Não me machuque! Não me machuque!"
"Não é real…! Não é real! Não é real!!!"
A ponta de uma corrente rodeou a árvore, entrando em seu campo de visão e se contorcendo em frente aos seus olhos. Os olhos verdes quase saltaram para fora, ela lutou contra a corrente que começou a prendê-la, se enrolando em seus pulsos e em seu pescoço, como uma forca querendo sufocá-la.
A alma penada, em vista dos gemidos apavorados de quem tentava se desvencilhar de suas correntes, emitiu um grito mais agudo e caiu ao chão, se arrastando entre a neve em uma velocidade absurda até se lançar sobre a rosada, com olhos totalmente negros e cabelos brancos e ralos que flutuavam como se estivesse debaixo da água. Sakura berrou e se debateu debaixo do corpo intocável.
A boca pútrida se abriu e mostrou mil dentes negros, esgoelando contra o rosto da jovem e puxando seus cabelos, as correntes tentando enforcá-la a todo custo.
— Não, não, não, não, não, me larga — a princesa berrava o mais alto que conseguia; e emitiu um grito de pavor quando o fantasma esgoelou outra vez, chorando em conjunto com o ser infeliz. — Me deixe ir!!!! Por favor!!!! Socorro!!!! Não! Não! Me solta!
Não importava o quanto socasse e chutasse, seus golpes pareciam atravessar o corpo deteriorado e não causar nenhum efeito, a entidade era incapaz de sentir dor ou pensar racionalmente, continuava berrando como um demônio incontrolável, intocável, urrando, puxando seus cabelos, arranhando seu rosto com as unhas enormes, e investindo suas correntes para estrangulá-la. Sakura tentava agarrar as correntes em seu pescoço e puxá-las, tentava se soltar, mas, como serpentes poderosas, as correntes se apertavam cada vez mais, impossibilitando sua respiração.
Começava a sentir calor, queimação, tossia, gemia, engasgava, sufocava, ofegava, estava morrendo asfixiada, seu rosto estava roxo e sua consciência prestes a se esvair, já não tinha mais forças para lutar.
A alma penada gargalhou loucamente, e as lágrimas de sangue dela caíram sobre o rosto da princesa.
"Sakura!"
Ela reconhecia aquela voz. Reconheceria em qualquer lugar.
"Sakura, mantenha os olhos abertos!"
Gaara.
"Sakura!"
Alguma coisa acertou a árvore em que a princesa e o demônio estavam recostados, chamando a atenção do monstro enroscado em correntes.
Estava muito escuro para que Sakura pudesse ver quem era, mas alguém gritou para o demônio e atirou pedras contra ele, chamando sua atenção.
— Ei, monstrengo feioso! — Um homem berrou, e lançou outra pedra contra a árvore. — Vem cá, vem! Vem atrás de mim, desgraçado!
O espírito choroso jogou a cabeça para trás, dobrando as costas e o pescoço para ver a pessoa que o provocava, e guinchou assombrosamente, saindo de cima da rosada em alta velocidade e se arrastando, quase rolando, pra cima do sujeito.
As correntes soltaram o pescoço da humana, que levou as mãos à pele maculada e respirou em alívio, tomando o fôlego que havia perdido e tossindo bastante, rapidamente erguendo o olhar para ver o indivíduo que a tinha salvo sair correndo, atraindo a entidade para longe.
— Que droga! — Grunhiu, tossindo.
Desnorteada, ficou de pé, sem saber o que fazer.
— Droga! — E desta vez, berrou.
Deu passos confusos para frente, olhando para todas as direções, apavorada.
Catou um galho caído no chão, um bem grande e firme, que não quebraria tão facilmente, e correu na direção para onde seu salvador tinha atraído aquela aberração.
Metros à frente, quando estava furiosa com uma galho na mão para bater no bicho, alguém a agarrou por trás e cobriu sua boca para que fizesse silêncio, a puxando para trás de um grande tronco caído.
Assustada, a princesa o desferiu um tapa e se afastou velozmente, posicionando o galho para golpeá-lo. Antes disso, o homem metade bode balançou as mãos em sinal de paz, de olhos arregalados.
Ouvindo os gritos da assombração recomeçarem, a princesa arfou e se jogou ao chão mais uma vez, escondida ao lado do homem — ele usou o indicador e fez shiu para instigá-la a manter silêncio.
Os dois olharam por cima do tronco, observando a entidade chorar e vasculhar atrás de cada árvore.
O homem indicou para que Sakura ficasse quietinha ali, e vagarosamente, pegou uma pedra ao lado. Assim que o fantasma se virou, ele lançou a pedra para o mais longe que conseguia, fazendo barulho ao se chocar contra os altos galhos de uma árvore ao longe. Com isso, a alma penada gritou e correu naquela direção, ao encontro do barulho.
— Corre! — O sujeito mandou, ficando de pé na velocidade da luz e agarrando a mão de Sakura para fazê-la levantar e correr. — Sebo nas canela!
Aos tropeços, a rosada abandonou o galho e saiu de seu esconderijo, em disparada junto ao desconhecido que a tinha ajudado.
Correram olhando para trás várias vezes, sem tempo para desviar das árvores, batendo os ombros de um contra o do outro, cambaleando e deslizando sobre pedras pelo caminho, até o mais longe que conseguiam, correndo por vários minutos seguidos até ficarem sem ar e incapacitados de dar mais um único passo.
Quando pararam, ele estava com uma das mãos apoiadas em uma árvore para se manter de pé, suado e sem ar, e ela estava com as mãos nos joelhos, tentando recuperar o fôlego.
— Acho… Acho que a despistamos… — Ele falou, ofegante, enquanto olhava para trás. — Não escuto mais os gritos dela…
Sakura tossia tanto que precisou bater no peito para ter algum alívio.
— Dela?... — Indagou, respirando profundamente entre a crise de tosse, ombros subindo e descendo.
O homem ficou em silêncio por alguns segundos, até que tivesse fôlego o suficiente para falar.
— É… É uma mulher… — respondeu, esgotado. — Ou era… Ela morreu já faz muito tempo…
A humana limpou o suor que escorria por sua testa com as costas da mão, inspirando fundo e, finalmente, ficou de pé, com a coluna ereta.
— Era uma alma penada, não é? — Questionou.
O homem assentiu, engolindo em seco.
— Sim, isso mesmo. Ela morreu com contas a pagar aqui na terra, por isso ainda assombra esse plano. Essa floresta é cheia dessas almas de merda, elas gritam a noite toda e tentam enforcar qualquer pessoa que vêem pela frente, são umas filhas da puta mal amadas, a gente sempre tem que tomar cuidado.
Cansado, ele ergueu os braços e os esticou, se alongando.
— Câimbra… — murmurou, e depois emitiu um gemido doloroso. — Câimbra!
Sakura o observou se deitar no chão com os braços para cima, massageando os próprios ombros repetidas vezes.
Finalmente, à luz da lua que enfim tinha sido revelada pelas nuvens cinzentas, ela conseguiu distinguir melhor os traços dele.
Não era humano, nem de longe. E também não se parecia em nada com um lobo.
Era homem apenas da cintura para cima, com chifres na cabeça e orelhas que mais pareciam de asno. As pernas e cintura eram cobertas por pelo marrom escuro, e ao invés de pés, possuía cascos.
Ela umedeceu os lábios e limpou a garganta, sem jeito, enquanto ele gemia e tentava se livrar da dor da câimbra.
— Ah… Eu… Posso fazer algo para te ajudar?... — Perguntou, se agachando ao lado dele.
— Ah… Não… Não, não… — bufou ele, e revirou os olhos. — Isso sempre acontece, essa câimbra chata me pega toda vez que eu tento correr, já tô acostumado, liga não, eu só tenho que descansar um pouquinho. É o que dá ser sedentário.
Ele mexeu os ombros.
— Se bem que sempre que isso me acontece, eu fico dolorido por uns dois dias.
— Ai, meu Deus. Me desculpa!
O homem riu entre a dor.
— Puta merda! Ow, não pede desculpa não, você… tá pedindo desculpa pelo o quê? Ui. — Devagar, ele se sentou.
— Você teve que correr por minha causa. — Respondeu, cheia de culpa. — É por minha culpa que você está sentindo dor.
Ele riu e moveu a cabeça, negando com um sorriso zombeteiro.
— Esquece isso.
Ele sentou-se no chão frio de maneira preguiçosa, e à sua frente, Sakura agachou-se até estar com os joelhos dobrados e apoiada sobre os tornozelos.
O homem era uma criatura curiosa. Não parecia lá muito jovem, certamente já passava dos cinquenta anos. Tinha um tom de pele mais amorenado do que era comum em Cerasus, longo cabelo branco e um corpo forte. Se não fosse pela parte bode, ele certamente poderia ser considerado como um senhor muito bem conservado — diferentemente daquele bando de idosos que babavam em seu baile de quinze anos.
Silenciosa, ela o encarou com atenção, e buscou na memória onde já havia encontrado informações sobre aquela espécie exótica.
No Grande Bestiário da biblioteca, tinha lido alguma coisa sobre centauros, o que, em sua perspectiva, era a espécie que mais possuía características em comum com ele. No entanto, o palpite foi descartado quase na mesma hora — centauros são metade cavalo, com o corpo avantajado excelente até mesmo para montaria. Em outra palavras, são quadrúpedes.
— Que é? — O homem questionou, achando muito esquisito uma garota o olhando fixamente por tanto tempo. — Nunca viu uma fuça na vida?
Ela negou com a cabeça e ocultou um sorriso sem graça ao abaixar a cabeça.
— Me desculpe. Só achei… curioso.
— O que?
— Você — Ergueu a cabeça novamente e pendeu-a para o lado, achando graça em como as grandes orelhas felpudas dele balançavam uma ou duas vezes conforme sua desconfiança. — Me perdoe. Estou sendo rude, muito obrigada por me salvar.
— Não há de quê…
Sakura tomou um susto. Pois, em um instante, aquele mero homem de meia-idade que dizia sentir dor, repentinamente jogou-se para frente, tomando impulso e ficando agachado sobre os cascos, de frente para ela com uma mão no queixo, reflexivo como se estivesse a analisando.
A princesa quase caiu para trás.
— O que foi isso?! — Exclamou.
Ele ficou quieto por um total de três segundos, sem piscar e sem respirar.
O medo de estar frente a frente com um maluco quase eclodiu na jovem.
— Curioso — o velho disse cerca de um segundo antes que Sakura entrasse em desespero, o que foi um alívio, considerando que ela estava prestes a sair correndo e gritando no meio de uma floresta infestada de almas penadas.
Sakura soltou o fôlego com uma risada soprada, percebendo que ele só estava zombando de sua cara — a imitando, encarando-a fixamente em uma profunda análise, da mesma forma que ela própria tinha feito.
— Não tinha parecido tão estranho para mim, sinto muito. — Sussurrou ela, e o homem deu de ombros, ficando de pé com um riso relaxado.
— Você é bem esquisitinha. Primeiro, inventa de andar sozinha pela floresta de noite, sem nenhum amuleto de proteção. Depois, fica encarando um fauno que nem conhece com cara de quem vê assombração. Você não é daqui, é?
Um arrepio. Ela ficou em pé rapidamente, ajustando a saia amassada do vestido.
— Mais ou menos. — não, não era. E isso era claro. — Enfim… Eu estou à procura de uma trilha.
Ele arqueou uma sobrancelha branca.
— Uma trilha?
— É. Uma trilha. — reforçou. — Um caminho. Uma saída. Uma saída… para longe daqui.
E quanto mais ela falava, mais ele girava a cabeça e parecia desconfiado.
— "Daqui", você diz… A floresta?
— Isso! Uma forma de sair desta floresta. Sabe me dizer qual o caminho mais rápido? Ou melhor, qual o caminho para Cerasus?
— Cerasus?
Na floresta tão obscurecida, seria difícil de perceber. Mas, ela estava ficando extremamente rubra.
— O reino de onde venho.
O velho ficou sério por algum tempo. Em seguida, um sorriso de orelha a orelha tomou conta dele, largo, cheio de dentes tortos, mas verdadeiro, e ele se inclinou para frente, travesso.
— Oh! Isso quer dizer que você é uma humana!
O coração dela disparou.
— Está tão na cara assim?
— Claro feito água!
Ela começou a dar passos para trás.
"Organizar os pensamentos. Organizar os fatos."
Frente a uma figura desconhecida. Podia ser flor ou espinho. Benevolente ou malévolo. Tê-la ajudado não era garantia de nada.
— Preciso ir embora — sussurrou ela, forçando um sorriso trêmulo.
Assim que virou-se para trás, a criatura metade bode saltou em sua frente, com as pernas peludas bem abertas e os cascos afundados na neve.
— Sozinha nessa floresta escura? — Brincou.
— Eu… — engoliu em seco.
"Deus, por favor, que esse homem não me faça mal."
— Eu… Eu posso me cuidar sozinha…
— Não foi o que me pareceu mais cedo! E se brotar outro daqueles bichões feiosos, hein? — E deu uma reboladinha ridícula, parecendo atiçado. — É bom ter um fortão igual eu pra te defender!
— Olhe… O-olhe, se isso for um convite para atividades obscenas, saiba que não tenho interesse!
O homem gargalhou alto. Todavia, o som de gritos ao longe o fez fechar a boca na mesma hora, arregalando os olhos.
— A bichona feia tá voltando! — Disse ele, e agarrou o pulso de Sakura. — Vambora, humaninha bonita! A gente quer viver!
E sem esperar por uma resposta, o fauno saiu a arrastando por entre as árvores, descendo por pistas de neve e saltando sobre troncos caídos. Ela gemia e resmungava a cada tropeço que dava, com dificuldades para acompanhá-lo.
Por fim, estavam em um lugar cercado por árvores que inclinavam-se para baixo de maneira a formar um enorme arco, cobrindo o céu com galhos grossos.
Havia um muro de arbustos altos ao final do túnel.
— Cá estamos! — Cantarolou o homem.
E ele não reclamava mais de dor, nem parecia cansado pela corrida, contrariando toda a cena que havia feito minutos atrás.
— Isso é alguma piada? — Ela reclamou.
— Sabe o que eu estava pensando? — O fauno pensou alto, sem prestar muita atenção nas reclamações dela. — "O que uma humana faz aqui, na Floresta dos Lobos?", "Como nossos guardiões permitiram isso?"
Sakura uniu as sobrancelhas. Tinha uma sensação de ameaça.
— "Como ela conseguiu passar pela barreira sem ser vista?"
"Barreira?"
— "Por que o Alfa ainda não tá louquinho de arrancar os cabelos atrás dela?" — E voltou-se para a rosada, cada vez mais sorridente. — Me diga, humaninha bonita! Quem é você?
Um bolo da garganta.
— Por que quer saber?
— Porque eu sou o fauno destas florestas, ora! — Ele gritou como se fosse óbvio, e jogou o enorme cabelo branco para cima. — Eu sou Jiraya! Também conhecido como o maior amante das ninfas de todos os tempos! — E seu sorriso tomou um quê de malícia em seguida, ele chegou mais perto da princesa. — Inclusive, eu estava indo vê-las agora mesmo!
— Ninfas?
Ele beijou as pontas dos dedos.
— Smack! As mais lindas! — Apontou um dedo para ela. — Por isso é que eu estava aqui em plena madrugada. Pelo menos tenho um amuleto. — Puxou um cordão escondido por baixo dos pelos de seu poncho. Tinha um símbolo esculpido em madeira. — E você estava por aqui tentando ir embora. Quer ir embora sem nem ver as ninfas primeiro?
— Não estou entendendo nada!
— Porque pra entender algo, a gente tem que começar do início!
E a encarou no fundo dos olhos.
— Quem… é… você?
Não tinha como ser confiável. Ele tinha o olhar de um maluco.
— Sakura.
Ele a puxou pela cintura.
— Viu? Você não morreu!
Sem dar tempo para oposições, a guiou pelo túnel de troncos perfeitamente inclinados e afastou os arbustos, empurrando-a para que fosse na frente.
Sakura estava pronta para sair correndo. No entanto, antes que pudesse fazer isso, seus olhos foram capturados pela mais bela paisagem de todos os tempos, o brilho da lua refletido no gelo, e centenas de faíscas cintilantes que adejavam pelo ar.
Olhando atentamente, Sakura percebia que não se tratavam de vaga-lumes.
— Fadas — sussurrou para si mesma, encantada.
As pequenas fadinhas dançavam pelo ar, com suas asinhas minúsculas batendo suavemente, e os vestidinhos brancos que se tornavam dourados à luz quente que emanava delas.
O lago estava congelado. No entanto, o frio parecia não ser o suficiente para impedir que roseiras crescessem ao redor dele, esbanjando pétalas brancas que mais pareciam serem feitas de cristal.
Sakura queria registrar tudo em sua mente, cada detalhe daquele paraíso de contos de fadas que havia desvendado, e só foi puxada do torpor ao escutar risadinhas calmas mais adiante.
Ergueu a cabeça na mesma hora, deparando-se com mulheres nuas que saltitavam sobre a água congelada.
Arregalou os olhos e virou-se para ir embora, vermelha de vergonha.
— Vai pra onde? — Jiraya a segurou, obrigando-a a voltar para a mesma posição de antes, de frente para as ninfas. — O espetáculo ainda nem começou! Logo, logo elas começam a cantar!
Ao longe, as ninfas olharam para a dupla e deram sorrisos felizes, acenando.
Os saltos delas mais pareciam indícios de vôo, como se a gravidade não pudesse afetá-las. Elas caíam suavemente de volta ao solo, a ponta dos pés tocando o lago sem emitir um único ruído, como uma pena caindo ao chão. Como se elas não pesassem absolutamente nada.
Os cabelos eram loiros, negros, castanhos, ruivos, prateados. Esvoaçantes, sempre muito longos e cheios.
Pareciam tão macios, enchiam Sakura de excitação e vontade de tocá-los.
Elas eram lindas.
Jiraya sentou-se à beira do lago e deu palmadinhas ao seu lado, indicando que Sakura deveria se sentar também.
— Vem cá! — Ele disse, ajeitado como quem vai assistir a uma apresentação teatral.
A visão das ninfas era tão reconfortante que acalmava o coração agitado da rosada, a causava uma sensação prazerosa de relaxamento. Um efeito que poderia ser até perigoso, considerando que a tirava a capacidade de sentir medo.
Assim, deleitada, a humana se sentou ao lado do fauno, o olhar sempre fixo no espetáculo de mulheres lindas que brincavam umas com as outras a alguns metros dali, no meio do lago, encurraladas por um tronco tortuoso que devia medir muitos metros de largura, tão enorme que as protegia do mundo exterior.
— Eu adoro ficar aqui… olhando pra elas — Jiraya comentou, calmamente. Olhando para elas, tão concentrado e apaixonado, nem parecia mais o maluco que Sakura tinha visto. Como se ele mudasse de personalidade a cada cinco minutos.
Sob o efeito das ninfas, algo sussurrou para Sakura: ele não é confiável.
Mas ela estava impossibilitada de crer naquilo, hipnotizada pela beleza das ninfas.
— As ninfas sempre me acalmam. — O fauno disse, tão absorto quanto a humana. — Elas são tão bonitas, gentis, agradáveis… Tão… Tão perfeitas… Quando olho para elas, é como se meus problemas não existissem. São tão puras. Elas brincam a noite toda, pulam por aí, dançam, cantam, dão risada… Almas penadas nunca se aproximam delas. Me impressiona, na verdade. Ninfas são tão perfeitas que nem uma alma penada deveria ter força pra resistir!
— Elas parecem boas demais para serem de verdade — Sakura sussurrou. Mais para si do que para o outro.
— Sempre penso isso. Eu sou profundamente apaixonado!
Ele pôs os braços atrás da cabeça, desleixado.
— No verão, elas se banham nesse lago. Ficam se alisando, esfregando, jogando água pra cima…
E pela segunda vez na vida, algo queimou entre as pernas da princesa.
— Elas são as filhas da floresta, sabia? — Jiraya se voltou para Sakura como um professor se voltaria. — São a alma da floresta, a melhor coisa da floresta. Sem elas, essa floresta não seria nada. Elas trazem vida pra esse lugarzinho entediante.
— Eu não duvido — um suspiro escapou da rosada.
Jiraya se levantou e foi até uma árvore, arrancando uma maçã dela.
— Quando as ninfas estão por perto, temos fruta até no inverno — e deu uma mordida.
O estômago de Sakura roncou, o que ocasionou um risinho no homem meio bode, que jogou uma maçã para ela também.
— Cuidado ao morder. Tá gelada.
Ela desejou que ele tivesse a dado esse alerta um segundo antes. Sakura enfiou os dentes e quis morrer com o calafrio que seu corpo enfrentou, quase cuspiu o pedaço que havia arrancado.
A melodia de uma harpa chegou aos ouvidos da princesa. Ao olhar para frente, vislumbrou as ninfas se reunirem ao redor do instrumento dourado, dedilhando as cordas com maestria, uma delicadeza que conseguia ser tão ingênua e sedutora ao mesmo tempo, um misto inigualável de inocência e sensualidade.
Uma a uma, elas começavam a cantar baixinho, pouco a pouco elevando suas vozes. A cantoria era tão bela que fazia o coração de Sakura bater mais rápido, aumentava o fogo em seu corpo, a fazia suar, se derreter.
Jiraya mordeu mais um pedaço da maçã, e ergueu a mão para acenar para uma jovem ninfa que dava tchauzinho para ele.
— Então… — estava de boca cheia. — Me diz. O que uma humaninha faz por essas bandas? O coração da floresta é bem protegido, isso é raro.
Ela estava enfeitiçada pelas ninfas.
— Eu… Eu estava indo embora…
— A-hã. Eu sei que tu tava indo embora, você disse que queria achar a saída. Queria ir pra onde mesmo? — Ergueu a cabeça e refletiu. — Cerasus?
— Cerasus. — Concordou ela.
— Aaahh… Cerasus… Seu reino.
Uma fada voou sobre a cabeça de Jiraya, pousando em seu ombro.
— Então… Sakura de Cerasus. — Mordeu um pedaço minúsculo da maçã e o cuspiu na palma da mão em seguida, o entregando para a pequena fada, que brilhou ainda mais, agradecida pelo presente. — Me conte. Como veio parar aqui?
Duas ninfas estavam rolando juntas no chão, entre chamegos e risadinhas travessas.
— Eu… fui trazida por um lobo…
— Uh, isso é novidade! Lobos não costumam salvar seres humanos!
Outra ninfa se juntou àquelas duas, arrastando o nariz arrebitado no pescoço de cada uma delas, inalando o aroma afrodisíaco que só uma ninfa possui.
— Os lobos são os guardiões dessa floresta, sabe? — Com a ponta do mindinho, afagou aquela cabecinha do tamanho de uma bolinha de alfinete. A fada pareceu incomodada, machucada por aquele toque que, apesar de suave para ele, foi violento demais para ela, e por pouco não a esmagou. — Os lobos mandam em tudo por aqui. Se acham os maiorais, na verdade. — Riu um pouco. — Eles controlam tudo… Menos as ninfas, claro. Ninguém controla as ninfas.
E então, mordiscando a própria língua, Jiraya deu um peteleco na pequena fadinha que não tinha nem três centímetros de altura, lançando-a para longe de seu ombro.
A fada com certeza não resistiu aquele golpe fatal, mas como era muito pequena, seu gritinho não foi alto o bastante para que Sakura pudesse reparar enquanto estava fascinada pelas ninfas.
— Os lobos entram e saem quando querem dessa floresta. Eles são os únicos que conseguem abrir a barreira.
— Barreira?
— A barreira que separa os nossos mundos. — Ele respondeu como se fosse a coisa mais normal do mundo. — Sabe. Para que vocês, humanos, não venham nos caçar, como sempre fizeram a vida toda. Como fizeram com os coitados dos dragões, que foram transformados em cachorrinhos de estimação.
Jiraya deu mais algumas gargalhadas.
Sakura estava quase adormecida, caindo sobre o ombro dele. Antes que isso acontecesse, ele a segurou firmemente.
— Ei, não durma ainda! — Segurou o queixo dela, a forçando a mirar as ninfas. — Olhe para elas! Se concentre nelas!
— Tão.bonitas…
— Quem foi o lobo que te trouxe para cá? Você sabe o nome dele?
— Um tal de… Sasuke…
O corpo dela estava ficando molenga, parecia o corpo febril de uma criança após pegar muita chuva. Era difícil controlar os próprios movimentos, era como estar bêbada.
Os olhos verdes mal conseguiam se manter abertos, era necessário muito esforço para erguer as pálpebras pesadas, estas que insistiam em querer ceder.
Jiraya tomou a mão dela e passou a brincar com os dedos finos, fitando um humilde anel prateado no indicador.
— Sasuke, Sasuke, Sasuke… — forçou um pouco sua memória. — Ah! Sasuke! Eu conheço! — A balançou um pouco. — Ele é o próximo Alfa!... Deve ser, pelo menos. O jeito que os lobos escolhem seus líderes é muito esquisito, tem toda uma briga por trás, é muita dureza…
— Eu acho que não estou me sentindo bem…
— E me fala. Por que ele te trouxe para cá?... Hum? Não durma. Lobos não gostam de humanos. Muito menos Sasuke. Sasuke é o maior cabeça dura chato de galocha que eu conheço, ele não deve gostar nem dele mesmo. Por que ele te trouxe?
— Eu… Eu realmente não me sinto bem…
— É o efeito das ninfas, elas são maravilhosas, mas é dureza pra quem não tá acostumado com o efeito delas. Vamos. Por que ele te trouxe pra cá?
— Ele me salvou…
— De quem?
— Sasori…
A maçã escorregou da mão dela. Jiraya pegou a fruta antes que encostasse na água congelada, e sem nenhuma sensibilidade nos dentes, deu uma mordida generosa.
— Sasori? Não conheço ninguém de fora da floresta, mas o nome passa uma coisa estranha. — E jogou a fruta para longe, por pouco não acertando outras fadas. — Que seja. Lobos não salvam humanos.
Sakura se deitou sobre o ombro de Jiraya, sentindo os músculos dormentes.
— Eu fui muito dura com ele… Acho que Sasuke não quis ser tão… estranho… como me pareceu. — Ela começou a sussurrar, e uma lágrima solitária escapou de seu olho. — Me sinto tão perdida. Não sei em quem confiar, não sei para que direção seguir.
— O que aconteceu entre vocês?
— Ele me disse algo sobre… ligação…
Os ombros de Jiraya se tensionaram.
— Eu não sabia o que era, ele começou com uma conversa estranha, depois… Eu fiquei brava, e-eu achei que ele estava tentando… Não sei… Me manipular, me assediar… E agora estou tão confusa… E se estivesse me falando uma coisa importante, e eu que não fui capaz de entender? Mas… Como posso ter certeza… Eu não tenho certeza de nada…!
— Você não tem certeza de nada. — Um sorriso maldoso surgiu nos lábios do homem. — Mas eu tenho.
"Sakura, não feche os olhos!"
As ninfas estavam acariciando os rostos umas das outras, em uma brincadeira libertina de roubar beijinhos e lambidas.
Duas fadas tentaram puxar os cabelos de Sakura, querendo fazê-la despertar e ficar sóbria outra vez, desesperadas para fazê-la abrir os olhos. Ela estava definitivamente inconsciente.
Jiraya espantou as fadas com a mão, e pegou a humana no colo sem dificuldade, a jogando sobre o ombro.
— Então, é verdade o que diziam. Sasuke tem uma companheira destinada. — Ele falava sozinho enquanto atravessava calmamente o túnel, deixando para trás as ninfas brincalhonas e as fadas zangadas. — E essa companheira destinada é nada mais, nada menos que uma humana. Bom! Isso vai ser uma notícia e tanto para Madara!... Madara não sabe sobre isso, certamente. Ele nunca permitiria. Aaah, quando descobrir…
Deu um tapa no traseiro da humana, risonho.
— Vai ser o fim da linha pra você, humaninha bonita.
◇
Um balançar suave, como ser ninada em um berço.
Pouco a pouco, Sakura abria os olhos, sua visão se acostumando com o escuro, deparando-se com o chão cheio de neve e pegadas que eram deixadas para trás. E uma bunda.
— O que é isso?!! — Com um gritinho, ela tentou se livrar do aperto, entre um ombro largo e uma mão forte.
— Relaxa aí! — O fauno de antes disse, segurando-a com as duas mãos sobre o ombro. — Você dormiu e eu fiquei com dó de te acordar!
— Eu dormi? Quando? Onde estamos? Essa visão não é legal! — Estava se referindo ao traseiro peludo e o rabo de bode que era forçada a encarar.
Ele estacou no meio do caminho, e a arrancou de cima de seu ombro. Com um gritinho de susto, Sakura foi colocada de pé.
— Feliz agora?
— Acho que sim.
Ela olhou ao redor.
— O que estamos fazendo aqui?
— Estou te levando de volta para a aldeia dos lobos.
— A aldeia dos lobos? Não! — Virou-se para ele com os olhos arregalados. — Eu preciso ir para casa, quero sair deste lugar!
Jiraya agarrou os ombros dela com urgência.
— Escute! Eu sei que essa é a última coisa que você quer ouvir agora, e que você, humaninha bonita, deve estar assustada. Mas o Sasuke quer você! Ele precisa de você, ele não mentiu sobre nada. Ligação, nada. Ele falou a verdade, e ele não vai te fazer nada de mal, ele quer o seu bem, eu sei que ele quer.
Enquanto ele falava, o coração de Sakura acelerava. Não se recordava de ter dito nada sobre Sasuke a aquele homem.
Na verdade, após ver as ninfas, não se lembrava de mais nada.
— Como você sabe?
Um sorriso acolhedor surgiu no rosto de Jiraya.
— Eu conheço os lobos, e conheço Sasuke. Converse com ele, os dois a sós, de coração e mente aberta, escute ele. Você vai entender.
Ela cerrou as mãos em punhos.
"Era o que eu deveria ter feito desde o começo. Mas… Cerasus…"
— Mas, e quanto ao meu reino?
O fauno pôs um dos dedos calejados sobre os lábios dela, a silenciando.
— Shiiiu. Não pense nisso agora, está muito tarde, e você está cansada, não está?
— Estou, mas…
— Mas nada! — E sem dificuldade alguma, mais uma vez a jogou sobre o ombro feito um saco de batatas. — Vamos nos encontrar com Sasuke logo ali!
— Hein? — Tentou ver sobre o ombro dele.
Após andar mais uns metros (com uma Sakura extasiada e molenga sobre o ombro de Jiraya), o fauno parou repentinamente e colocou a humana no chão.
— É aqui — falou ele. — Sasuke mora aí, é só entrar, pedir desculpas e vai dar tudo certo. Lembre-se: só um lobo pode abrir a barreira que separa nossos mundos! Você precisa dele se quiser voltar pra Cerasus!
Sakura ergueu a cabeça para encará-lo, sem ter certeza de nada, com as sobrancelhas unidas em uma expressão atordoada.
Ao vencer a própria fraqueza, a humana ficou de pé e deu o primeiro passo em direção ao que Jiraya disse ser a morada de Sasuke.
Era uma árvore quase tão grande quanto aquela atrás das ninfas, e tinha um imenso buraco em seu tronco, grande o bastante para que alguém o atravessasse, mas tão escuro quanto o restante da floresta.
— Jiraya… Você está falando a verdade?
— É claro que eu estou! Vai! Pode ir!
"Não… É… Confiável"
Mas ela estava grogue demais para pensar sobre isso.
Adentrou a abertura no tronco oco, descobrindo degraus que a levavam para algum lugar na mais profunda escuridão. Os estímulos de Jiraya lá fora a davam coragem.
— Isso, pode ir! — Ele repetia. Era bom para que ela se lembrasse de que estava tudo bem, que não estava sozinha, que ele estaria bem ali para ajudá-la caso algo desse errado. — Isso! Ótimo! Pode ir…
Conforme descia, a voz dele se tornava mais distante.
Até o momento em que desapareceu.
— Jiraya? — Ela chamou, mas não houve resposta. — Jiraya…?
Ela engoliu em seco, amedrontada.
Distante dali, pôde identificar luz, e sem pensar duas vezes, correu na direção do fogo, aliviada por uma faísca entre a escuridão.
Aquele lugar subterrâneo parecia ser maior do que prometia. Virou em um corredor terroso, e encontrou paredes rochosas, com chamas ardendo no centro, em um círculo de pedras.
Haviam pinturas nas paredes. Não eram como as pinturas do castelo, feitas em quadros de belas molduras que eram penduradas em fileiras perfeitamente retas nas paredes.
Não. Eram pinturas feitas diretamente na rocha, sem capricho, sem decoro. Com certeza feitas sem pincéis, só as pontas dos dedos trabalhando com tintas em tons de vermelho, laranja, marrom e preto, formando figuras simples que pareciam representar uma história.
Ela examinou bem figura por figura.
Dezenas de lobos, com dentes grandes que saltavam da boca, desenhados de perfil. Eles eram atacados por homenzinhos feitos de palito, montados no que mais pareciam cavalos doentes.
A floresta era representada por uma junção de árvores, e mais para cima, tinha montanhas altas. A lua era bem ressaltada, contornada de preto várias vezes, o traço mais grosso que todos os outros, com um lobo negro com seu focinho apontado na direção dela.
Casinhas estavam desenhadas também, e pequenas crianças brincavam ao redor.
Sakura levou os dedos para tocar as asas da maior figura ali representada: um dragão.
Alguém agarrou seu pulso.
— O que faz aqui?!!!
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